Ministério da Agricultura e do Abastecimento
Embrapa Trigo ISSN 1517-4964
Comunicado Técnico Online
Nº 19, dez./99

Análise econômica de seis sistemas de produção, sob sistema plantio direto
Henrique Pereira dos Santos 1
Ivo Ambrosi 2

A adoção de sistemas de manejo conservacionistas (plantio direto), que visam manter ou aumentar a produtividade de solos, podem reduzir os efeitos do risco de ambiente, enquanto o uso de rotação de culturas mais diversificadas podem diminuir o risco econômico. O objetivo deste trabalho foi avaliar economicamente seis sistemas de produção de grãos, envolvendo pastagens anuais de inverno e de verão, sob sistema plantio direto.

Os dados usados neste trabalho foram obtidos no experimento de sistemas de produção de grãos, envolvendo pastagens anuais de inverno e de verão, instalado na Embrapa Trigo, em Passo Fundo, RS, de 1995 a 1997, em solo classificado como Latossolo Vermelho distrófico típico. A área vinha sendo cultivada com trigo, no inverno, e com milho e com soja, no verão.

Os tratamentos consistiram em seis sistemas de produção de grãos, integrando pastagens anuais de inverno (aveia preta, ervilhaca e azevém) e de verão (milheto): sistema I (trigo/soja e aveia preta + ervilhaca pastejadas/milho), sistema II (trigo/soja e aveia preta + ervilhaca + azevém pastejados/milho), sistema III (trigo/soja e aveia preta + ervilhaca pastejadas/milheto pastejado), sistema IV (trigo/soja e aveia preta + ervilhaca + azevém pastejados/milheto pastejado), sistema V (trigo/soja, aveia branca/soja e aveia preta + ervilhaca pastejadas/milheto pastejado) e sistema VI (trigo/soja, aveia branca/soja e aveia preta + ervilhaca + azevém pastejados/milheto pastejado) (Tabela 1). As culturas, tanto no inverno como no verão, foram estabelecidas sob sistema plantio direto.

A adubação de manutenção foi realizada de acordo com a recomendação para cada cultura e baseada nos resultados da análise de solo. As amostras de solo foram coletadas anualmente após as culturas de verão.

As épocas de semeadura, o controle de plantas daninhas e os tratamentos fitossanitários foram realizados de acordo com a recomendação para cada cultura, e a colheita foi realizada com colhedora especial para parcelas. O milho foi colhido manualmente. O rendimento de grãos (aveia branca, milho, soja e trigo) foi determinado a partir da colheita de 1/3 da parcela, ajustando-se para umidade de 13 %.

A produção animal foi estimada por meio do peso de matéria seca consumida. A conversão considerada foi de 10 kg de forragem seca consumida para 1 kg de ganho de peso vivo dos animais. O ganho de peso animal foi analisado de acordo com o período das culturas de inverno ou de verão, ou seja, a avaliação foi acompanhando o ciclo das espécies em estudo.

O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, com quatro repetições, e as parcelas totalizaram 200 m2 (10 m de largura x 20 m de comprimento).

A análise econômica foi determinada, nos seis sistemas de produção estudados, pelo cálculo da receita líquida. Entende-se por receita líquida a diferença entre receita bruta (rendimento de grãos das espécies em estudo e/ou rendimento de carne x preço de venda como produto comercial) e custos totais [custos variáveis (custos de insumos + custos de operações de campo) e custos fixos (exemplo: depreciação de máquinas e equipamentos e juros sobre o capital)]. Os custos com insumos, com operações de campo e com venda de produtos foram levantados em dezembro de 1998.

Os sistemas foram avaliados anualmente (inverno + verão) e na média conjunta dos anos. Nas análises de variância, anuais e conjunta, consideraram-se como tratamentos as parcelas individuais (culturas e ganho de peso animal) componentes dos sistemas em estudo. A avaliação dos sistemas de produção, em todas as análises, foi realizada pelo teste F, usando-se contrastes que incluem os diferentes tratamentos dos sistemas de produção envolvidos em cada comparação. Essa metodologia de contrastes compara os sistemas dois a dois em uma unidade de base homogênea.

Os rendimentos de grãos de cada espécie e o ganho de peso animal obtidos nos três anos de estudos, nos diferentes sistemas de produção estudados, podem ser observados na Tabela 2.

As receitas líquidas médias, por hectare, proporcionadas pelos seis sistemas de produção de grãos, envolvendo pastagens anuais de inverno e de verão, podem ser observadas na Tabela 3.

Levando-se em conta a receita líquida anual (inverno + verão) de 1995 a 1997, houve diferenças significativas apenas no ano de 1995 (Tabela 3). O sistema I mostrou maior retorno econômico (R$ 211,78) do que os sistemas V (R$123,12) e VI (R$ 94,60). Nos demais anos estudados (1996 e 1997), não houve diferenças significativas para receita líquida entre sistemas.

Na média conjunta de 1995 a 1997, somente o sistema I (R$ 188,93) foi superior ao sistema VI (R$ 124,48) quanto à receita líquida (Tabela 3). Por outro lado, o sistema I não diferiu significativamente dos sistemas II (R$168,15), III (R$172,30, IV (R$ 147,34) e V (R$136,42).

Nesse período de estudo, trigo apresentou rendimento médio de grãos em torno de 1.847 kg/ha, em 1995; de 2.223 kg/ha em 1996; e de 1.650 kg/ha em 1997, porém com peso hectolítrico baixo, 72 kg/hl, 73 kg/hl e, 65 kg/hl, respetivamente, o que diminuiu a receita líquida em todos sistemas estudados (Tabela 2). A cultura de soja mostrou rendimento médio de grãos relativamente estável em todos sistemas (2.479 kg/ha em 1995, 2.308 kg/ha em 1996 e 2628 kg/ha em 1997). As culturas que se destacaram quanto ao retorno da receita líquida foram milho e milheto, que nesse período renderam 6.363 kg/ha e 549 kg/ha, em 1995; 6.368 kg/ha e 817 kg/ha em 1996; e 8.096 kg/ha e 869 kg/ha 1997, respectivamente.

Deve ser levado em consideração que milho faz parte dos sistemas I e II, enquanto milheto foi incluído nos sistemas III, IV, V e VI (Tabela 2). Isso igualmente tornou os sistemas equilibrados.

O sistema I (trigo/soja e aveia preta + ervilhaca pastejadas/milho), que já foi destaque em outro estudo, é portanto alternativa de menor risco e de maior lucratividade, quando comparado a outros sistemas de produção que envolvem sistemas integrados lavoura + pecuária ou somente de produção de grãos. Para ser pastejado no inverno e no verão, pode-se recomendar o sistema III (trigo/soja e aveia preta + ervilhaca pastejadas/milheto). Em todos sistemas estudados, ficou evidente que a lavoura (sistema de produção de grãos) pode ser usada com a pecuária (pastagens consorciadas, no inverno e no verão, para engorda de animais) para aumentar a rentabilidade da propriedade agrícola como um todo.


1 Pesquisador da Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS. hpsantos@cnpt.embrapa.br
2 Pesquisador da Embrapa Trigo. ambrosi@cnpt.embrapa.br
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