Ministério da Agricultura e do Abastecimento
Embrapa Trigo ISSN 1517-4964
Comunicado Técnico Online
Nº 17, dez./99

Resistência de plantas de trigo ao pulgão verde dos cereais
Gabriela L. Tonet 1

A resistência de plantas a insetos foi definida por Painter (1968), como sendo a soma relativa de qualidades hereditárias possuídas pela planta, as quais influenciam o resultado do grau de dano que o inseto causa, ou seja, a capacidade que possuem certas plantas de atingirem altas produções de ótima qualidade em relação a outras cultivares da mesma espécie, em igualdade de condições. Rosseto (1973) resumiu este conceito, como "planta resistente é aquela que devido a sua constituição genotípica é menos danificada que uma outra, em igualdade de condições."

As progênies de uma planta resistente devem se comportar da mesma forma quando testadas nas condições em que foi constatada a resistência, além desse fator é necessário que haja a repetibilidade, isto é, todas vezes que se testar a cultivar resistente em comparação com as mesmas cultivares testadas, esta característica deve permanecer. Caso isto não ocorra, a cultivar não pode ser considerada como resistente, sendo que o resultado inicial esteve provavelmente sob a influência de algum outro fator que provocou a manifestação da falsa resistência (Lara, 1979).

Foram determinados três mecanismos de resistência, antibiose, não-preferência e tolerância. Observando-se como uma planta pode resistir ao ataque de um inseto, percebe-se que na maioria das vezes, isto implica em alterações no comportamento ou na biologia do inseto, ou ainda da simples reação da própria planta que em nada afeta o inseto que nela se alimenta. O efeito adverso que uma planta exerce sobre a biologia do inseto, pode ser devido à presença de substâncias tóxicas e/ou inibidoras de desenvolvimento (denominadas de antibióticas), ou ainda, devido a um desequilíbrio nutricional e/ou ausência de nutrientes essenciais ou não, este tipo de resistência é denominada de antibiose. Esta é o tipo de resistência mais desejável, porque geralmente reduz o número de indivíduos da próxima geração, mantendo a praga em níveis populacionais abaixo do nível crítico. A tolerância é o mecanismo mais difícil de ser quantificado, porque, basicamente envolve comparação de um certo número de insetos e o dano subseqüente na planta. E, a não-preferência usualmente é determinada permitindo-se que a praga escolha entre diferentes genótipos, a planta mais favorável para seu abrigo, alimentação e desenvolvimento.

O pulgão verde dos cereais, Schizaphis graminum (Rondani, 1852) ocorre nas regiões mais quentes do estado do Rio Grande do Sul e nos estados do Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e sul de Minas Gerais. Atualmente é a única espécie que atinge níveis populacionais elevados na cultura de trigo, devido a sua grande capacidade de proliferação, (aproximadamente 40 ninfas/fêmea). O seu ataque geralmente ocorre no início de desenvolvimento das plantas, que associado a injeção de toxinas durante o processo de sucção de seiva resulta no amarelecimento e na posterior morte das plântulas. Apesar da eficiência do controle biológico sobre as outras espécies de pulgões, esta espécie devido as suas características, continuou sendo uma preocupação como praga.

Em 1979, foram iniciados trabalhos para incorporação de resistência ao pulgão verde dos cereais, em cultivares de trigo com destacada adaptação às regiões produtoras do Brasil. Inicialmente, as fontes utilizadas foram a cultivar Amigo e algumas seleções precoces desta cultivar, por possuirem um gene simples dominante que confere resistência ao pulgão, sendo derivada da cultivar de centeio Insave FA, apresentam resistência efetiva para os biótipos A, B e C. lançadas nos Estados Unidos por Sebesta e Wood (1978). A seleção, após forte infestação das plântulas, considera as diferenças entre genótipos resistentes e suscetíveis em relação a sobrevivência das plantas, a área foliar amarelada, o número de perfilhos, o número de espigas e a produção de grãos (Tonet, 1989). Em 1993, foi lançada a primeira cultivar de trigo resistente ao biótipo C de S. graminum, BR 36-Ianomani, para a região Centro-Sul do Brasil, sendo o mecanismo mais envolvido na resistência deste genótipo, a antibiose (reduz em 85 % o número de ninfas/fêmea), seguido pela tolerância das plantas ao dano causado pelo inseto e em menor grau a não-preferência (Tonet, 1993, Tonet e Silva, 1994, Tonet e Silva, 1995).

Através de coletas realizadas nos últimos anos, foram identificados, por região, os biótipos presentes nas lavouras de cereais de inverno (Tonet,1997). Os resultados obtidos em 1995, indicam que houve alteração em relação ao biótipo, sendo a partir deste ano o biótipo E mais freqüente que o biótipo C. Esta mudança de biótipo, resultou na susceptibilidade da cultivar BR 36, nestas áreas. A incorporação do gene de resistência ao novo biótipo, da cultivar de trigo Largo e da linhagem de trigo CI 17959, tem proporcionado seleção de genótipos promissores, com esta característica. Resultados de pesquisa, indicam que a cultivar de trigo EMBRAPA 16, apresenta efeito de antibiose para ambos os biótipos identificados, reduzindo em aproximadamente 35%, o período total de vida do pulgão e em aproximadamente 72% o número de ninfas/fêmea, quando comparados aos valores obtidos com pulgões alimentados na cultivar de trigo Jupateco (cultivar suscetível). A integração de qualquer método de controle, como por exemplo o controle biológico com cultivares resistentes é altamente desejável, porque além de elevar a eficiência dos agentes benéficos, não polui o meio ambiente e não aumenta custos de produção para o agricultor.


1 Pesquisadora da Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS. gabriela@cnpt.embrapa.br
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