Ministério da Agricultura e do Abastecimento
Embrapa Trigo ISSN 1517-4964
Comunicado Técnico Online
Nº 11, dez./99

Cevada, uma alternativa de inverno
Gerardo N. Arias 1

A cevada é uma excelente opção de inverno para o sistema produtivo agropecuário do Sul do Brasil, devido a sua precocidade, que permite semear e colher antes do trigo, liberando as áreas mais cedo para plantio de culturas de verão. Sua comercialização é garantida, dentro dos padrões fixados nos contratos pelas indústrias fabricantes de malte cervejeiro, proporcionando entrada de recursos para o agricultor já em novembro.

A cevada é cultivada exclusivamente sob contrato com as maltarias, da Companhia Cervejaria Brahma, em Porto Alegre, da Companhia Antarctica Paulista em São Paulo e da Cooperativa Agrária de Mista Entre Rios, Guarapuava. A cultura se realiza 71 % no Rio Grande do Sul, 27 % no sul do Paraná e 2 % em Santa Catarina.

A cultura de cevada teve diversas alternativas (Tabela 1) e a área estava diminuindo, quando a cultivar Cevada BR 2 da Embrapa Trigo foi lançada no mercado, alcançando 64 % da superfície em 1994, 82 % em 1985 e superando 90 % da lavoura a partir de 1996.

A cultivar BR 2, é resistente a doença mais destrutiva da cevada que é a mancha em rede, ocasionada pelo fungo Pyrenophora teres, o que permitiu a recuperação e expansão do cultivo.

1 Antecedentes

A primeira referência à cultura de cevada no Brasil é em São Paulo em 1583, e em 1854, se menciona como "um cultivo estabelecido nas colônias alemãs do Rio Grande do Sul". Os primeiros experimentos com cevada foram feitos em 1919, juntamente com os de trigo na Estação Experimental Alfredo Chavez, em Veranópolis, Rio Grande do Sul e por Z. Gaier em Araucária, Paraná.

Em 1941, a Cervejaria Continental de Porto Alegre, instalou um Campo Experimental de Cevada no Rio Grande do Sul. Em 1950, esta empresa foi adquirida pela Companhia Cervejaria Brahma, que continuou as pesquisas até hoje em Encruzilhada do Sul, RS.

A Companhia Antarctica Paulista, que tinha continuado as pesquisas de Z. Gaier em Araucária, realizou uma ação decisiva, para a viabilização da cultura de cevada no Brasil, contratando a renomeada empresa sueca Weibull, para intensificar o melhoramento varietal. Também estabeleceu um convênio com o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) para selecionar linhagens resistentes ao fungo que ocasiona a mancha marrom das folhas e ponta preta dos grãos (Bipolaris sorokiniana). A Weibull do Brasil trabalhou durante 20 anos numa granja de Carazinho, introduzindo variedades e material segregante de seu programa da Europa. Posteriormente a Companhia Brahma integrou-se a este trabalho de melhoramento. Como o material da Weibull tenha alguma resistência ao alumínio, estes vinte anos foram decisivos para a obtenção de variedades adaptadas.

Em 1970 a Weibull do Brasil encerrou suas atividades distribuindo o material genético entre as Companhias Cervejeiras Antarctica e Brahma, que continuaram o melhoramento e fomentaram o cultivo com variedades adaptadas nas suas Estações Experimentais.

Em 1977 a Embrapa Trigo iniciou programa de pesquisa e melhoramento de cevada cervejeira em estreita colaboração com as duas cervejarias mencionadas, que conduziram parte dos ensaios cooperativos nas suas Estações Experimentais e na sua área de ação e contribuíram com avaliação anual da qualidade industrial de cultivares e linhagens e de resultados de ensaios de fertilização. Neste grupo de trabalho se integrou o Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) e a Cooperativa Agrária Mista de Entre Rios, Guarapuava, PR.

A Embrapa Trigo iniciou pesquisas de fertilização, especialmente em adubação nitrogenada, rotação de culturas, doenças e controle das mesmas, herbicidas, inseticidas, práticas culturais, agrometeorologia e lançou cinco cultivares, todas resistentes a mancha em rede.

A partir de 1979 iniciaram-se as Reuniões Anuais de Pesquisa de Cevada, geralmente no mês de abril. Nesta reunião todas as empresas apresentam os resultados dos seus ensaios e são debatidas novas recomendações para a cultura de cevada cervejeira.

Desde 1981, a Comissão de Pesquisa de Cevada edita as Recomendações para o Cultivo da Cevada Cervejeira, que representa o consenso de todas as empresas que participam de pesquisa e de fomento de cevada no Brasil. A cada dois anos as recomendações são atualizadas pelos novos resultados de pesquisa. A partir de 1994 este trabalho em equipe se concretizou num convênio entre as Cervejarias Antarctica, Brahma e Kaiser, para evitar duplicação de esforços e colaborar mais estreitamente em pesquisa.

2 Cultivo

Para cultivar cevada cervejeira, é indispensável que a lavoura esteja situada dentro da região recomendada e seja conduzida sob contrato com uma das empresas mencionadas. As companhias fornecem a semente e os técnicos das empresas ou das cooperativas credenciadas, dão assistência técnica e visitam as lavouras.

Como as cultivares de cevada são menos tolerantes à acidez nociva do solo que as de trigo, é indispensável, que o solo tenha sido devidamente corrigido e que a fertilidade seja adequada, evitando-se solos compactados, devendo-se utilizar o conjunto de técnicas básicas para obtenção de alta produtividade:

1. Seguir uma rotação adequada. A cevada não deverá ser cultivada na mesma área após cevada, nem após milho. O ideal é cultivar cevada cervejeira depois de soja cultivada na resteva de aveia manejada.
2. Realizar balanceada fertilização de fósforo e potássio e cuidadosa fertilização nitrogenada.
3. Utilizar sementes, fiscalizada ou certificada, tratada com fungicidas recomendados
4. Semear na época recomendada
5. Controlar as ervas daninhas.
6. Controlar adequada e oportunamente as pragas e moléstias.

O cultivo de cevada cervejeira pode ser comparado ao cultivo de trigo para semente, porém, com maiores exigências. Devem ser produzidos grãos de uma variedade pura, que tenha poder germinativo mais elevado que o requerido para fins de semente, superior a 95 %. Para isto deve-se processar a colheita em dias secos, quando o teor de umidade estiver próximo a 13 % para evitar a secagem, evitando-se as primeiras horas da manhã. No caso de secar o produto, o agricultor deverá seguir as orientações dos agrônomos da Companhia ou das Cooperativas, enviando o produto imediatamente depois de colhido. Se tiver condições de secar, deve-se realizar uma secagem cuidadosa, não passando de 45 ºC na massa. Lotes com mais de 16 % de umidade deverão ser secados em duas etapas, retirando 3 % por vez.

Os grãos produzidos deverão estar livres de impurezas e doenças, podendo ser recusados lotes que apresentam mais de 5 % dos grãos manchados ou com ponta preta ocasionada pelas doenças que ocasionam manchas foliares já mencionadas, bem como pela Gibberella.

A cevada cervejeira não deverá ter teor em proteína superior a 12 %. Para não superar esse limite, os agricultores deverão seguir as recomendações de data de semeadura e de adubação, conforme resultados da análise de solo.

3 Controle de doenças

Para controlar as principais doenças que ocasionam manchas foliares e ponta preta nos grãos (Bipolaris sorokiniana), a mancha em rede (Pyrenophora teres) e a Gibberella das espigas é necessário um conjunto de medidas que começa por seguir uma rotação adequada e usar semente de qualidade com tratamento fúngicas.

Quando as plantas nas lavouras encontram-se com 10 % da superfície foliar infectada por estas doenças ou por oídio (Blumeria graminis) ou ferrugem da folha (Puccinia hordei) recomenda-se um tratamento fungicida na parte aérea. Uma segunda aplicação será necessária quando o nível crítico seja atingido novamente, até o estado de grão em massa mole. Uma aplicação de fungicida sistêmico após espigamento diminui as doenças de espiga.

4 Cultivares

As cultivares recomendadas são: BR 2, Embrapa 43, Embrapa 127, Embrapa 128, Embrapa 129 e as cultivares da Companhia Brahma: MN 682, MN 684 e MN 698.

5 Perspectivas

Com a instalação de nova maltaria, em Taubaté, SP e a ampliação das existentes, estima-se que a cultura poderá atingir 200.000 hectares na próxima década, contribuindo para a sustentabilidade do sistema de produção e para a redução de custos.

Dentro da região recomendada para cevada cervejeira, cultivam-se no Rio Grande do Sul 3.200.000 hectares de soja no verão, dos quais somente metade pode ser semeada com trigo, cevada ou triticale, atentando à recomendação de não repetir estas culturas por causa das doenças radiculares. No inverno cultivam-se apenas 400.000 hectares de trigo, 130.000 hectares com cevada, 60.000 hectares com triticale e o resto com aveia para cobertura do solo.

Isso significa que 900.000 hectares poderiam ser cultivados com cevada ou trigo, existindo espaço para expandir a lavoura de cevada e de trigo com rotação adequada, proporcionando retorno econômico para o agricultor. O Programa de Melhoramento de Cevada de Embrapa, está dirigido a aumentar a resistência às doenças, maior tolerância a solos ácidos, utilizando métodos tradicionais de melhoramento, conduzindo várias gerações por ano, para acelerar os resultados que permitirão a expansão da cultura nos próximos anos.


1 Pesquisador da Embrapa Trigo. Caixa Postal 451. CEP 99001-970 Passo Fundo, RS. arias@cnpt.embrapa.br
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