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ISSN 1517-4964
Dezembro, 2002
Passo Fundo, RS
 

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Necrose híbrida em populações F1 de cruzamentos de trigo na Embrapa Trigo: resultados de 2001 e de 2002

Cantídio Nicolau Alves de Sousa1


Introdução

A ferrugem da folha, causada pelo fungo Puccinia triticina, é uma doença prejudicial para a cultura de trigo no Brasil. É importante conhecer a composição de genes de resistência dos genótipos indicados para cultivo e a dos que são usados em planos de cruzamento visando à criação de novas cultivares. Mais de 40 genes de resistência presentes em trigo foram catalogados por McIntosh et al. (1995). Entre os genes de resistência já conhecidos está o gene Lr13 que, isoladamente, não apresenta boa reação ao conjunto de raças do fungo em campo no Brasil, mas que, em combinação com outros genes, pode contribuir para a resistência de planta adulta de um genótipo à doença.

A necrose híbrida é a morte gradual prematura de folhas e de plantas em certos híbridos de trigo. Quando um genótipo possuidor do gene Ne1 é cruzado com outro que possua o gene Ne2, a necrose híbrida ocorre na geração F1. Existe associação entre o gene Lr13 e a presença do gene Ne2 para necrose híbrida. Hawthorn (1981) não teve êxito em recombinar os genes Lr13 e Ne2, mostrando ligação entre esse dois genes. Entretanto, Singh & Rajaram (1991) apresentaram informação sobre 50 cultivares mexicanas, 24 com indicação da presença de Lr13 e de Ne2 e duas cultivares (Penjamo 62 e Siete Cerros 66) com presença de Ne2 e ausência do gene Lr13, o que indicou recombinação entre os dois genes. Dessa maneira, a presença de Ne2 não garante a presença de Lr13.

Informações obtidas anteriormente na Embrapa Trigo em relação à necrose híbrida foram apresentadas por Sousa (1994), por Sousa & Barcellos (1999) e por Sousa & Barcellos (2001).

O objetivo do presente estudo foi detectar a presença ou ausência do gene Ne2 e, por extensão indicar, com reserva, a presença do gene Lr13 em genótipos de trigo por meio do teste de necrose híbrida.

Material e Métodos

Em 2001 e em 2002, foram testadas, para presença do gene Ne2, populações F1 descendentes de genótipos de trigo, incluindo 16 cultivares comerciais brasileiras, nove linhagens brasileiras e três genótipos estrangeiros. Em oito dos 28 genótipos estudados, já tinham sido realizados testes para necrose híbrida em anos anteriores, sendo os resultados obtidos incluídos no presente trabalho. Os genótipos em estudo foram cruzados com genótipos portadores do gene Ne1, incluindo as cultivares de trigo duro Hercules (Canadá), IAC 1003 (Brasil), Karim (Tunísia), Kyle (Canadá), Sacaba 81 (Bolívia) e Sord 1 (México), as linhagens de trigo sintético introduzidas do México IPF 71392 e IPF 71433, a cultivar de trigo comum Spica (Austrália) e a linhagem de trigo comum PF 89419 (Brasil).

Foram realizados um ou mais cruzamentos com cada genótipo alvo do estudo. As populações F1 dos cruzamentos realizados foram semeadas em vasos (dois vasos por cruzamento) e mantidas em telado. Após um mês, foi feita a avaliação da presença ou não da necrose híbrida. O material foi acompanhado até o fim do ciclo para confirmação da origem dos cruzamentos realizados nos casos em que as evidências são fáceis de verificar, como na situação do híbrido entre Triticum aestivum e Triticum durum, no caso de não ocorrer a necrose híbrida.

Resultados e Discussão

O número de plantas com e sem necrose híbrida por cruzamento nas populações F1 é apresentado na Tabela 1. Aos resultados obtidos em 2001 e em 2002 de populações F1 descendentes de 28 genótipos de trigo, foram adicionados os dados coletados em anos anteriores referentes a esses genótipos, totalizando 113 populações.

Quando foi observada a presença de necrose híbrida, ela ocorreu com muita nitidez e predominantemente no grau máximo 8 da escala de Hermsen (Hermsen, 1963), com as plantas apresentando necrose a partir do estádio de 1-2 folhas e com a morte da planta antes do espigamento. Em nenhuma população F1 com sintomas de necrose híbrida, a planta chegou ao estádio de espigamento. Em 2001, foram observadas em determinadas parcelas algumas plantas com necrose híbrida que apresentaram dois ou três afilhos, fato que não foi observado nas condições de avaliação dos testes realizados em Passo Fundo nos anos anteriores ou em 2002. O processo de deterioração de plantas com necrose híbrida foi drástico em 2001 e em 2002, mesmo nas plantas que perfilharam em 2001.

Possuem o gene Ne2, em função dos resultados obtidos, os seguintes genótipos: BRS 209, CD 104, Fronteira, IPF 57121 (linhagem introduzida da Argentina), IPF 71327 (linhagem introduzida do México), PF 813, PF 8550, PF 940110, PF 950400, PF 980078 e Sonora 64 (cultivar introduzida do México).

Não apresentaram necrose híbrida as populações F1 envolvendo os seguintes genótipos: BRS 179, BRS 192, BRS 194, CEP 14-Tapes, Embrapa 21, Embrapa 22, Fundacep 30, IAS 50-Alvorada, Nobre, PF 83899, PF 93188, PF 950351, PF 960156 e Trigo BR 32.

Apesar de alguns dados discrepantes, as cultivares Cotiporã, IAS 54 e OCEPAR 11-Juriti parecem ter o gene Ne2, embora ele possa estar na população descendente da cultivar de maneira heterogênea. Testes em amostras de outras origens poderão esclarecer a situação real da cultivar. Avaliações feitas anteriormente (Gomes et al., 1974) mostraram que IAS 54 era desuniforme para resistência à ferrugem do colmo e ao vírus do mosaico do trigo, além de mostrar variação para estatura de plantas.

Em alguns genótipos, pela genealogia e pela informação já disponível dos genitores, é possível deduzir a origem provável de onde o gene Ne2 foi incorporado.

A presença do gene Ne2 em BRS 209 deve ser proveniente da cultivar Embrapa 16, postulada como tendo o gene Ne2 (Sousa, 1994) e um dos genitores de BRS 209.

A cultivar CD 104 é proveniente do cruzamento PFAU/IAPAR 17. PFAU possui o gene Lr13, segundo Pfeiffer et al. (1988), e deve ser o doador do gene Ne2 em CD 104.

A cultivar Cotiporã é descendente de retrocruzamento que tem como cultivar recorrente Veranópolis, da qual o gene Ne2, provavelmente, foi transferido. A cultivar Veranópolis possui o gene Lr13, segundo Latter et al. (1981).

De acordo com os testes realizados em 2001 e em 2002 em Passo Fundo, a cultivar Fronteira, inicialmente indicada para cultivo no Brasil em 1932, tem o gene Ne2. Roelfs (1988) postulou a presença do gene Lr13 em Fronteira. A cultivar Frontana é um dos descendentes de Fronteira e também possui os genes Ne2 e Lr13.

A presença de Ne2 na linhagem introduzida do México, e nomeada na Embrapa Trigo de IPF 71327, deve ter sido incorporada do genótipo Bagula Sib, que possui o gene Lr13 (Pfeiffer et al., 1988) e é um dos genitores de IPF 71327.

Segundo os testes feitos, a linhagem PF 8550 possui o gene Ne2. O gene deve ter sido incorporado pelos dois genitores da linhagem, isto é, PF 772003 (purificação feita em CNT 8 que possui o gene Ne2) e PF 813, na qual foi postulada a presença do gene no presente trabalho.

Conclusão

A necrose híbrida foi detectada em populações F1 descendentes de 14 dos 28 genótipos de trigo estudados em 2001 e em 2002, na Embrapa Trigo. Pode-se concluir que nesses genótipos está presente o gene Ne2, possivelmente associado ao gene Lr13 para resistência à ferrugem da folha. Em 14 dos genótipos estudados não foi detectada a presença do gene Ne2.

 


1Eng. Agrôn., Pesquisador da Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, 99001-970 Passo Fundo, RS. E-mail: cantidio@cnpt.embrapa.br


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