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ISSN 1517-4964
Dezembro, 2002
Passo Fundo, RS
 

Avaliação da necessidade de inoculação de rizóbio em trevo vesiculoso, em um Latossolo do Planalto Médio do RS

Marcio Voss1
Renato Serena Fontaneli1

Foto: Renato S. Fontanelli


Introdução

Trevo vesiculoso (Trifolium vesiculosum Savi) é leguminosa anual de ciclo longo, cujo florescimento e produção de semente ocorrem no fim da primavera e início de verão (BALL et al., 1991). É usado para compor pastagens ou para feno e apresenta boa ressemeadura natural (HOVELAND & EVERS, 1995).

Trevo vesiculoso estabelece simbiose com Rhizobium leguminosarum, bv. trifolii, obtendo a maior parte do nitrogênio de que precisa para seu desenvolvimento através da fixação biológica de nitrogênio. Os nódulos, como os dos demais tipos de trevo e de alfafa, são do tipo indeterminado, formato alongado, em virtude de meristema que continua a se dividir e a produzir novo tecido infectado durante a vida do nódulo (SPRENT, 1989). Essa característica habilita-os a regenerar a atividade em estruturas afetadas por estresse hídrico, o que lhes confere maior persistência do que os nódulos determinados, esféricos, como os encontrados em raízes de feijão e de soja (BORDELEAU & PRÉVOST, (1994).

Por ser espécie introduzida no Brasil, há baixa probabilidade de se encontrar no solo raças de rizóbio capazes de provocar nodulação em trevo vesiculoso, ou, mesmo que ocorram, podem se tratar de estirpes inespecíficas, pouco eficientes e/ou presentes em número muito baixo para nodulação rápida e eficiente. Por isso é necessário prover estirpes eficientes, através de inoculação. Seleção de estirpes realizada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em conjunto com a Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (FEPAGRO), permitiu recomendar as estirpes Semia 2050 e Semia 2051 para inoculação em trevo vesiculoso, com base em experimento em vasos de Leonard, com areia e solução nutritiva, em casa de vegetação (SIMPÓSIO, 1995). Testes em areia e solução nutritiva permitem recomendação apenas em caráter provisório. É necessário experimentar em condições de campo para maior embasamento na indicação desse insumo para os agricultores.

O objetivo do presente trabalho foi verificar a resposta de trevo vesiculoso à inoculação com as estirpes recomendadas, em campo, em um Latossolo Vermelho Distrófico típico, do Planalto Médio do Rio Grande do Sul, usando teste específico, preconizado pelo NIFTAL (1984).

Material e Métodos

Ensaio de avaliação da necessidade de inoculação de trevo vesiculoso, foi instalado em 28/4/1994, em Passo Fundo, nos campos experimentais da Embrapa Trigo, em área que não havia histórico de plantio de nenhum tipo de trevo, comparando-se os seguintes tratamentos:

  1. Sem inoculação.
  2. Com inoculação.
  3. Sem inoculação e com 40 kg N/ha.
  4. Com inoculação e com 40 kg N/ha.

O delineamento experimental foi blocos ao acaso, com quatro repetições. As parcelas, de 2 x 5 m, eram constituídas de 10 linhas espaçadas em 20 cm. As sementes usadas tinham cerca de 70% de poder germinativo e foram semeadas na quantidade de 5,0 kg/ha. A inoculação de semente, conforme o tratamento, foi realizada no dia da semeadura, com o equivalente a 400 g/ha de formulado comercial turfoso aderido com polvilho a 5% e com cobertura (peletização) de fosfato de Patos de Minas, finamente moído. O inoculante continha as estirpes recomendadas Semia 2050 e Semia 2051.

A semeadura foi realizada manualmente em sulcos abertos por semeadora para plantio direto, sobre resteva de milheto. A abertura dos sulcos foi acompanhada de adubação de P e de K.

As amostragens para avaliação da biomassa de nódulos foram realizadas aos 90 dias e aos 186 dias após semeadura, em raízes coletadas em área de 21 x 21 cm, da superfície até 15 cm de profundidade, em dois pontos por parcela. Os nódulos foram destacados, lavados, secados até peso constante. A biomassa da parte aérea, secada em estufa até peso constante, foi determinada em amostra coletada em 1m2 aos 186 dias após semeadura, à época da floração. Sub-amostra dessa biomassa teve o conteúdo de nitrogênio determinado pelo método semi-micro Kjeldahl.

O solo, da Unidade de Mapeamento Passo Fundo (Latossolo Vermelho Distrófico, típico, apresentou a seguinte análise química (Tabela 1):

Resultados e Discussão

Os resultados obtidos são mostrados na Tabela 2. O peso da parte aérea e do N total foram estatisticamente superiores nos tratamentos inoculados. No tratamento Com inoculação, (sem N adicionado), a matéria seca da parte aérea pesou 2,15 vezes mais que o tratamento Sem inoculação. Até 90 dias após a semeadura, no tratamento Sem inoculação, o desenvolvimento da parte aérea foi muito menor, em contraste com o tratamento Com inoculação (observação visual). Daí em diante ocorreu incremento da nodulação nos tratamentos sem inoculação, diminuindo a diferença entre esses tratamentos.

A biomassa nodular aos 90 e aos 186 dias após a semeadura foi estatísticamente superior nos tratamentos inoculados em comparação com o tratamento testemunha (Sem inoculação). A nodulação observada nas parcelas não inoculadas pode ser proveniente de população rizobiana nativa ou de contaminação entre parcelas.

A maior produção de matéria seca e de N total da parte aérea nos dois tratamentos com inoculação, em relação ao tratamento Sem inoculação+N, indica que a contribuição da fixação biológica de nitrogênio proporcionada pela inoculação das estirpes recomendadas de rizóbio em trevo vesiculoso foi superior a 40 kg de N/ha. Além disso, as diferenças obtidas seriam maiores se não houvesse nodulação no tratamento com nitrogênio mineral. Scholl et al. (1976) compararam, na Depressão Central do RS, a introdução de aveia + 90 kg N/ha ou aveia + trevo vesiculoso e obtiveram a mesma resposta em ganho de peso vivo de bovinos, de 467 kg/ha ao ano, aproximadamente 5 vezes maior que o ganho proporcionado pelo campo nativo, ou seja, a leguminosa foi equivalente a aplicação de 90 kg N/ha.

Apesar da ocorrência de nodulação nas parcelas não inoculadas, demonstrou-se estatisticamente o efeito benéfico da inoculação do trevo vesiculoso com as estirpes recomendadas, Semia 2050 e Semia 2051, em condições de campo.

Conclusão

Constataram-se, em condições de campo, a capacidade de nodulação e a eficiência na fixação biológica de nitrogênio das estirpes de Rhizobium leguminosarum, bv. trifolii, Semia 2050 e Semia 2051, em trevo vesiculoso, em um Latossolo Vermelho distrófico típico, no Planalto Médio do Rio Grande do Sul.


1Pesquisador da Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, 99001-970 Passo Fundo, RS.Fone: 0xx54 311-3444 - Fax: 0xx54 311-3617. E-mail: voss@cnpt.embrapa.br, renatof@cnpt.embrapa.br,


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