O cultivo de triticale, no Brasil, vem aumentando progressivamente em área cultivada, volume de produção e produtividade. Os principais estados produtores em 2001, relativamente à área cultivada, foram: Paraná (86.545 hectares), Rio Grande do Sul (21.762 hectares), São Paulo (10.000 hectares), Santa Catarina (9.831 hectares) e Mato Grosso do Sul (sem informação), correspondendo, aproximadamente, a 130.000 hectares.

A Embrapa Trigo, através de trabalho de melhoramento genético, tem buscado o desenvolvimento de genótipos de triticale mais bem adaptados às condições de cultivo e adequados aos fins de uso. Por apresentar características consideradas vantajosas, a cultivar de triticale BRS 203, inicialmente indicada para cultivo nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, em razão de resultados agronômicos apresentados, foi indicada, a partir de 2002, também para o Estado do Paraná.

Origem da cultivar

A cultivar foi obtida mediante cruzamento entre os genótipos de triticale LT-1 (hábito invernal) e Rhino (hábito primaveril) de origem em germoplasma mexicano, realizado no Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo - CIMMYT, no México, em 1984. As populações segregantes foram conduzidas na forma de plantas selecionadas de F2 a F7, com alternância no vale do Yaqui, no noroeste do México, e em El Batan, no altiplano, próximo à cidade do México.

A introdução no Brasil ocorreu em 1990, em geração F8. Na Embrapa Trigo, em Passo Fundo, a parcela IMO4927 foi selecionada, recebendo identificação de nova linhagem (PFT 222). Nessa linhagem, em 1991, em trinta espigas escolhidas ao acaso na parcela durante a antese (florescimento), foram inoculados esporos de Fusarium sp., destas, 24 foram selecionadas, por serem menos suscetíveis à fusariose e foram multiplicadas mediante espiga por fileira, entre 1992 a 1994. Uma dessas populações foi selecionada e reunida como linhagem, em 1995, recebendo a designação de PFT 222a.

Em 1997, 1998 e 1999, essa linhagem foi testada na coleção de triticale em Passo Fundo e no Ensaio Brasileiro de Triticale, conduzidos nos estados do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná. A multiplicação de semente genética foi realizada a partir de 1996, na Embrapa Trigo.

Principais características morfológicas, biológicas e/ou fisiológicas que tornam possível a identificação da cultivar:

As características descritas são de médias obtidas de plantas conduzidas em parcelas instaladas no município de Passo Fundo, Planalto Médio do RS, altitude de 687 m, latitude 28º 16’S, em LATOSSOLO VERMELHO Distrófico típico (Passo Fundo), em semeaduras durante o mês de junho. As parcelas foram tratadas com fungicidas e conduzidas em semeadura convencional nos anos de 1997 a 1999.

Altura média de planta: alta (114 cm), ligeiramente superior à de Embrapa 53 (110 cm) e à de Triticale BR 4 (112 cm).

Características da folha

- Coloração das aurículas: incolor, ocorrendo em baixa freqüência plantas com aurículas coloridas e pouco coloridas

- Posição da folha bandeira: ereta

- Comprimento médio da bainha da folha bandeira: 19,8 cm

- Cerosidade da bainha da folha bandeira: forte

Características do colmo:

- Forma do nó superior: comprido 60% e quadrado 40%

- Comprimento médio do pedúnculo: 45,3 cm

- Cerosidade do pedúnculo: forte

- Diâmetro do colmo: fino

- Espessura das paredes: - Abaixo do nó superior – delgadas

- Abaixo do terceiro nó superior – semi-espessas 90% e espessas 10%

Características da espiga e de seus componentes:

- Arista: aristada

- Forma: fusiforme

- Comprimento: longa (96,5 mm)

- Densidade: densa (35,9 mm)

- Número médio de grãos por espigueta: 2,9

- Número médio de espiguetas por espiga: 27,3

Características da gluma:

- Pubescência: glabra

- Coloração na maturação: clara

- Comprimento: longa (9,92 mm)

- Largura: estreita (2,3 mm)

- Forma do ombro: inclinado

- Forma da quilha: reta

- Comprimento do dente: médio (3,6 mm)

Características do grão:

- Forma: alongado

- Comprimento: longo (7,7 mm)

- Coloração: vermelho

Características agronômicas:

- Grupo bioclimático: triticale de primavera

- Subperíodo emergência-espigamento: precoce (75 dias), semelhante ao das testemunhas: Embrapa 53 (75 dias) e Triticale BR 4 (77 dias).

- Ciclo da emergência-maturação: precoce (141 dias), semelhante ao das testemunhas: Embrapa 53 (138 dias) e Triticale BR 4 (142 dias).

- Comportamento da cultivar ante a ocorrência de geada na fase vegetativa: resistente

- Comportamento da cultivar em relação ao acamamento: moderadamente resistente

- Comportamento da cultivar em relação à debulha natural: resistente

- Comportamento da cultivar em relação à germinação pré-colheita: moderadamente suscetível

Variação morfológica e/ou biológica:

Triticale BRS 203 apresenta proporção inferior a 0,2% de tipos fora de padrão, com ciclo mais tardio e/ou com estatura mais alta. Na maioria das vezes, trata-se de aneuplóides com baixa fertilidade, em razão do triticale ser um híbrido entre centeio e trigo, carregando cromossomos das duas espécies, e, durante a divisão celular, pode haver falhas no processo. A freqüência dessa anomalia depende das condições edafoclimáticas prevalentes durante a fase reprodutiva de plantas na geração anterior.

Além disso, ocorrem, nessa mesma proporção, plantas com aurículas coloridas e plantas com aurículas pouco coloridas.

Comportamento ou reação às principais doenças, em condições de campo:

- Ferrugem da folha: resistente

- Ferrugem do colmo: resistente

- Oídio: resistente

- Manchas foliares: moderadamente resistente

- Septoriose das glumas: moderadamente resistente

- Giberela ou fusariose: moderadamente suscetível

- Bacteriose ou mancha estriada da folha: resistente

- Vírus do nanismo amarelo da cevada: moderadamente suscetível

- Vírus do mosaico do trigo: moderadamente suscetível

- Carvão (Ustilago sp.): resistente

Avaliação da cultivar

No Estado do Paraná, a cultivar foi avaliada nos seguintes locais e nas épocas de semeadura:

Os dados de rendimento de grãos (kg/ha) e de peso do hectolitro (PH) obtidos em alguns locais no Estado do Paraná podem ser observados na Tabela 1.

Região indicada

A cultivar de triticale BRS 203 está indicada para todas as regiões aptas ao cultivo de trigo do Paraná.

Produção de semente

A produção de semente da cultivar BRS 203 foi realizada por produtores credenciados no Rio Grande do Sul, havendo 176 t e 603 t de semente disponível, respectivamente para as safras de 2001 e 2002.