Ministério da Agricultura e do Abastecimento
Embrapa Trigo ISSN 1517-4964
Comunicado Técnico Online
Nº 6, fev./99
Resultados do 26º Elite Durum Wheat Yield Trial,
Passo Fundo, RS, em 1996
1
João Carlos Soares Moreira 2
Cantídio Nicolau Alves de Sousa 3

Introdução

O trigo é um dos cereais mais cultivados e importantes no mundo. Esse cereal abrange diversas espécies do gênero Triticum, sendo constituído por três grupos distintos: diplóides, tetraplóides e hexaplóides, com 7, 14 e 21 pares, respectivamente, de cromossomos em suas células. É empregado na fabricação de pães, de bolos, de pastéis, de bolachas, de espaguetes e macarrões, além de outros usos. O trigo duro (Triticum durum Desf.) supera todas as outras espécies de trigo na qualidade para a fabricação de pastas para a produção de espaguetes e macarrões, sendo essa a razão principal da sua demanda e da sua valorização. Em alguns países produtores, o trigo duro é muito usado na fabricação de pães mais compactos do que o produzido com trigo comum (Jordânia, Turquia, Irã e Afeganistão), de chapatis (Índia) ou de cuscuz (Argélia e Tunísia) (Scarascia Mugnozza, 1976).

O trigo duro é, atualmente, a mais importante espécie de trigo tetraplóide (2n = 28 cromossomos), sendo a segunda espécie de trigo em importância, vindo após o trigo comum ou de panificação (Triticum aestivum (L.) Thell.), que é um trigo hexaplóide (2n = 42 cromossomos). O trigo duro ocupa cerca de 8 % da área de trigo no mundo.

Este tipo de trigo não tem mostrado boa adaptação às condições de cultivo do Rio Grande do Sul, principalmente porque os genótipos dessa espécie não são tolerantes à presença de alumínio tóxico no solo (Al +++), condição essa comum nestes solos. São suscetíveis às doenças que ocorrem na região tritícola sul-brasileira e, principalmente em relação à giberela, são mais suscetíveis do que o trigo comum.

O Centro Internacional de Mejoramiento de Maíz y Trigo (CIMMYT), com sede no México, mantém nesse país um diversificado programa de melhoramento genético com diversos objetivos, tais como potencial de rendimento, resistência à seca, precocidade, resistência às doenças e melhoria da qualidade industrial (Brajcich et al., 1986a e 1986b). O CIMMYT tem realizado intercâmbio com várias instituições de pesquisa de trigo no Brasil.

O Centro Nacional de Pesquisa de Trigo (Embrapa Trigo), unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), instituição vinculada ao Ministério da Agricultura e do Abastecimento, mantém em Passo Fundo, RS, no Banco Ativo de Germoplasma, uma coleção de 475 cultivares de trigo duro de variadas origens. A Embrapa Trigo, em alguns anos, tem conduzido, em Passo Fundo, RS, coleção de trigos duros recebida do CIMMYT. Cultivares de espécies afins do trigo comum, incluindo o trigo duro, foram estudadas por vários anos em Passo Fundo. Por meio de cruzamentos de trigo duro com Aegilops squarrosa, foi possível desenvolver em Passo Fundo algumas linhagens sintéticas de trigo hexaplóide (Moraes Fernandes et al., 1988).

Avaliações realizadas no Rio Grande do Sul mostraram que o rendimento obtido pelo germoplasma de trigo duro é inferior ao dos trigos comuns cultivados no estado.

Em 1974, foi conduzido no Centro de Experimentação e Pesquisa Fecotrigo - Fundacep Fecotrigo, em Cruz Alta, o 4º Elite Durum Wheat Yield Trial, organizado pelo CIMMYT. Os trigos duros testados, no ensaio, apresentaram rendimento entre 170 e 1.198 kg/ha; nesse ensaio, a cultivar de triticale Cinnamon rendeu 1.319 kg/ha, e a testemunha local de trigo comum, IAS 54, rendeu 2.565 kg/ha (Mor, 1975).

Em 1985, foi conduzido na Embrapa Trigo, em Passo Fundo, o 14º Elite Durum Wheat Yield Trial. As cultivares de trigo duro, desse ensaio, apresentaram rendimentos entre 1.342 e 2.243 kg/ha, enquanto o triticale Alamo 83 rendeu 3.520 kg/ha e as testemunhas de trigo comum Seri 82 e CNT 8 renderam, respectivamente, 2.944 e 2.547 kg/ha (Brajcich et al., 1985).

O Instituto Agronômico de Campinas, em São Paulo, é a instituição que realiza, atualmente, o maior volume de trabalho com essa espécie no Brasil. Atualmente, estão recomendadas, para cultivo em São Paulo, as cultivares de trigo duro IAC 1001-Guil, IAC 1002-Graal e IAC 1003-Gallareta (Reunião..., 1996), e IAC 1002-Graal está, também, em recomendação na região Noroeste de Minas Gerais.

Entre os ensaios organizados pelo CIMMYT está o 26º Elite Durum Wheat Yield Trial (EDUYT). Esse ensaio tem por objetivo geral avaliar os potenciais de rendimento e de adaptação de um conjunto de novos genótipos em vários países dos cinco continentes. Especificamente, a condução do ensaio em Passo Fundo, RS, teve por objetivo a introdução de novas cultivares de trigo duro no Banco Ativo de Germoplasma da Embrapa Trigo e a posterior avaliação em outras regiões tritícolas do Brasil, além de avaliar a adaptação dessas novas linhagens às condições locais de cultivo.

Material e Métodos

O 26º EDUYT foi instalado na área experimental II do Centro Nacional de Pesquisa de Trigo, num solo classificado como Latossolo Vermelho Escuro distrófico. A adubação usada foi de 250 kg/ha da fórmula 5-20-20 de N-P2O5-K2O e 30 kg/ha de N em cobertura.

Fazem parte desse ensaio 112 genótipos não repetidos e duas cultivares testemunhas, Altar 84 e Yavaros 79, em oito parcelas cada, totalizando 128 tratamentos (Tabela 1). O desenho experimental é de um bloco, com 8 linhas e 16 colunas; em cada linha, aparecem duas parcelas testemunhas distribuídas de forma sistemática, de maneira que sempre haverá uma testemunha por coluna, com a finalidade de evidenciar as variações existentes na área experimental. De acordo com o planejado, foi incluída a cultivar de trigo comum Embrapa 16 (Hulha Negra/CNT 7//Amigo/CNT 7) como testemunha local.

As práticas culturais seguiram as recomendações da Comissão Sul-Brasileira de Pesquisa de Trigo (Reunião..., 1997), a densidade de semeadura foi de 300 sementes aptas por m2 e o tamanho da parcela foi de 5 linhas de 5 m de comprimento, espaçadas de 0,20 m, e a área útil foi de 3 m2 (3 filas centrais). Não foi aplicado fungicida, visando a permitir uma avaliação dos genótipos em relação às doenças que ocorrem em trigo.

Foram efetuadas as seguintes observações: ciclo (número de dias do plantio ao espigamento), altura de planta, peso do hectolitro, peso de mil sementes, reação à geada, nota de cultivar e rendimento.

Resultados

Na Tabela 1 são mostrados o cruzamento, o desenvolvimento da seleção, o número de dias do plantio ao espigamento, a altura de planta (cm), o peso do hectolitro (kg/hl), o peso de mil sementes (g), uma nota de cultivar (1 - fraca...; 9 - muito boa), uma avaliação visual em relação ao dano causado por geadas ocorridas na fase de florescimento (0 - espiga sem dano ...; 9 - 80 % ou mais das espigas com dano), o rendimento de grãos (kg/ha) e a percentagem de rendimento em relação à cultivar Embrapa 16.

Durante o período vegetativo (julho a novembro), foi constatada a ocorrência de 724 mm de chuva, enquanto a precipitação pluvial normal do período é de 806 mm.

Apenas 8,5 % das linhagens de trigo duro apresentaram o número de dias do plantio ao espigamento igual ou superior ao de Embrapa 16 e nenhuma se igualou a essa testemunha em relação à altura. Quanto ao peso de mil sementes, várias linhagens superaram a testemunha, com valores superiores a 45 g. A avaliação do peso do hectolitro mostrou que os valores, em geral, foram baixos e nenhum foi superior ao da testemunha local.

Foi pequena a ocorrência de doenças. O oídio (Blumeria graminis) foi detectado em algumas cultivares e com baixa incidência. Apesar de ser um ano em que foi constatada elevada ocorrência de giberela (Gibberella zeae), no campo experimental, em plantios efetuados em início de junho, o material deste ensaio apresentou pouco sintoma da doença, uma vez que o plantio foi realizado em julho, propiciando o escape a essa moléstia.

Em relação ao rendimento de grãos, como era esperado, uma vez que os trigos duros não apresentam boa adaptação às condições de cultivo e climáticas do RS, verificaram-se rendimentos de 568 kg/ha (16 %) até 1.813 kg/ha (53 %), em relação à cultivar Embrapa 16, que produziu 3.448 kg/ha.


1 Versão digital do Comunicado Técnico Nº 6, nov./97.
2 Pesquisador da Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo
moreira@cnpt.embrapa.br
3 Pesquisador da Embrapa Trigo. cantidio@cnpt.embrapa.br
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