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Dezembro, 2002
Passo Fundo, RS

Introdução

No RS, a época recomendada como preferencial para semeadura de soja é estabelecida em função do desenvolvimento de um período de crescimento vegetativo adequado para produzir massa foliar (dossel) visando a máxima interceptação da radiação solar incidente, nas atuais recomendações de manejo. No entanto, em função do sistema de cultivo em que a soja está inserida, em algumas situações a época preferencial de semeadura não pode ser utilizada, o que provoca reduções na produtividade. Semeaduras tardias (após a época preferencial) são freqüentes no RS, em razão de condições adversas de clima e de colheita tardia das culturas de inverno. Soja semeada após a cultura de trigo, no sistema trigo-soja no RS, e especialmente em regiões mais frias, é um exemplo marcante dessa situação. A limitada disponibilidade de equipamento de semeadura, em relação ao tamanho da área a ser semeada, é outro fator que contribui para semeaduras tardias. Ainda, semeaduras tardias de soja podem ocorrer, esporadicamente, em função da elevada valorização, sendo a perda de produtividade pelo atraso na semeadura compensada pelo aumento do valor do produto. Nesse sentido, em algumas regiões, o sistema de sucessão milho-soja pode se constituir em prática freqüente e viável.

Cultivares de soja (precoces e tardias) e o sistema de manejo, recomendado nas semeaduras tardias, são geralmente os mesmos utilizados em épocas preferenciais de semeadura. Nessa situação as cultivares tardias apesar de possuírem maior potencial de rendimento, pois possuem maior tempo para crescimento vegetativo, nas semeaduras tardias não conseguem expressar tal potencial, em função da reduzida disponibilidade de radiação durante o enchimento das vagens. Assim, o baixo nível de radiação solar acumulado durante o período reprodutivo tem sido apontado como causa principal da perda de rendimento de soja, em semeadura tardia. Por outro lado, como as cultivares precoces possuem duração do período até a floração mais curto e o período de enchimento de grãos praticamente o mesmo das tardias, semeaduras tardias (dezembro) com cultivares precoces, poderiam antecipar o crescimento reprodutivo para um período mais favorável, quando os dias são mais longos e com maior disponibilidade de radiação. Assim, seria possível que a antecipação da fase de crescimento reprodutivo de cultivares precoces pudesse minimizar perdas de produção associadas a semeadura tardia. Ainda, como vantagem adicional, a utilização de cultivares precoces permitiria a antecipação da colheita sem risco de perdas por geadas, como ocorre em semeadura tardia de cultivares de ciclo longo, nas condições do RS. Por outro lado, se mantidas as mesmas condições de cultivo na utilização de cultivares precoces nas épocas tardias, as plantas apresentariam menor estatura pois o período de desenvolvimento vegetativo seria menor, determinando inadequada área foliar para máxima utilização da radiação disponível durante o florescimento e enchimento de grãos (Board et al.,1992).

A produção de grãos de soja é função da taxa fotossintética do dossel e esta, por sua vez, depende da máxima quantidade de radiação solar interceptada, o que gira em torno de 95 %(Well,1991). Para essa interceptação, a área foliar mínima por unidade de área de solo (IAF) é de 3,5 a 4,0 no estádio R1(Board & Harville,1992). Assim, a obtenção desse IAF (3,5 a 4,0) o mais rápido possível, constitui indicativo de adequação das plantas no tempo e no espaço, o que permite à cultura o máxima aproveitamento dos recursos de ambiente e, por conseqüência, maior rendimento de grãos. Fatores de ambiente, como temperatura e fotoperíodo, condicionam o IAF, e essa resposta é dependente da latitude, da época de semeadura e de características dos genótipos. Fotoperíodo curto, provoca indução precoce à floração (Board & Hall,1984), limitando o número de nós, o IAF, o estabelecimento dos destinos e o acúmulo de reserva nos grãos (Board & Settimi,1986; Hanson,1985).

A completa interceptação de luz, maximiza o potencial de fotossíntese diária (Shibles & Weber, 1966) e a fotossíntese por unidade de área é proporcional a produção de grãos (Wells et al.,1982). Portanto, para cultivares precoces (pequeno período de crescimento) o desenvolvimento de dossel para interceptação máxima da radiação pode se constituir em estratégia para aumentar a produção de grãos. Redução no espaçamento entre linhas da cultura (Board e Hall,1984), mantendo a mesma população de plantas por área (reduzindo a competição entre plantas nas linhas) são opções de manejo que reduzem o tempo necessário para a completa interceptação de radiação (Weber et al.,1966; Rosalind et al.,2000). O mais rápido fechamento do dossel, para um mesmo IAF, provoca aumento dos destinos reprodutivos (Shibles & Weber,1966; Board et al.,1990). Taylor et al.,(1982) atribuem o aumento da produção, em espaçamentos reduzidos nas fileiras, à grande interceptação de radiação durante o crescimento dos grãos. Por outro lado, Board et al.,(1990) e Board et al.,(1992) apontam o aumento do número de vagens como causa principal do aumento do rendimento de grãos em espaçamentos estreitos. Nesse aspecto, Board & Harville (1992) citam que características relacionadas com a produção de grãos em espaçamentos estreitos e largos são diferentes. Assim os arranjos de plantas no tempo e no espaço devem lconsiderar a morfologia da cultivar para que se consiga produzir uma estrutura de dossel para obter maior eficiência de uso da radiação para a produção de biomassa. A maximização da produção de biomassa pode se constituir em estratégia para otimizar o rendimento de grãos, uma vez que o mesmo é determinado pelo produto da biomassa x índice de colheita (IC)( Sinclair,1986; Board et al.,1990) e o IC tem se mostrado pouco variável na maioria das circunstâncias (Spaeth et al.,1984). Assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar o aumento da densidade populacional como estratégia de manejo para aumentar o rendimento de soja, usando cultivares de ciclo de maturação precoce semeadas tardiamente.

Para atingir tal objetivo, foram estabelecidos dois experimentos na área experimental do Centro Nacional de Pesquisa de Trigo - Embrapa Trigo, em Passo Fundo (Lat 28o15’S, 52o24’W e 687 m de altitude),RS. O primeiro experimento foi instalado em dezembro (18/12/2000), e o segundo, em janeiro (19/1/2001). Em cada experimento, foram estudadas três cultivares de soja: FT-Cometa (ciclo precoce), BRS 205 (ciclo precoce) e Fepagro RS-10 (ciclo tardio). A semeadura foi realizada mecanicamente em sistema plantio direto. Estudaram-se duas populações de plantas (30 e 60 plantas/m2) em dois espaçamentos entre fileiras (25 e 50 cm), em arranjo fatorial. O delineamento usado foi de blocos ao acaso, com quatro repetições. A adubação de P e K foi realizada com 200 kg/ha da fórmula 0-25-25, conforme indicação técnica para a cultura. Durante o período de desenvolvimento da cultura, em semeadura de dezembro, foi realizada uma irrigação de 11 mm, em 21 de dezembro. Foram realizadas aplicações de inseticida para controle de pragas. No estádio R8, foram avaliados, em 6 m2 de parcela útil, rendimento de grãos e componentes do rendimento.


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