cnpt2.gif (2276 bytes)

cirtec_g.jpg (25724 bytes)

06

Dezembro, 2001
Passo Fundo, RS

Resultados e Discussão

Os resultados dos experimentos 1 e 2 estão nas tabelas 1 e 2, respectivamente.

O rendimento de grãos e o teor de nitrogênio nos grãos não mostraram efeito da inoculação. O fato de que a testemunha teve rendimento de grãos e teor de nitrogênio nos grãos semelhante aos demais tratamentos inoculados sugere que as estirpes inoculadas não foram suficientemente competitivas e/ou que as estirpes já estabelecidas tiveram eficiência semelhante à das inoculadas. No primeiro ano, a análise sorológica mostrou que a inoculação não alterou a composição das estirpes ocorrentes nos nódulos (resultados não mostrados). Como nesses locais houve inoculação todas as vezes em que foi semeada anteriormente a lavoura de soja, é possível que as estirpes recomendadas tenham se estabelecido no solo e que sua eficiência não tenha sido perdida, pois o rendimento de grãos nas parcelas inoculadas foi semelhante, estatisticamente, ao da testemunha nitrogenada, que, no primeiro experimento, recebeu 328 kg N/ha e no segundo, 200 kg/ha. Embora não tenha havido resposta estatística, o tratamento com nitrogênio mineral, no experimento 2 (Tabela 2), apresentou tendência de maior produção, que pode ser justificada pela deficiência de Mo, que afeta mais a fixação biológica de nitrogênio do que a assimilação de nitrogênio mineral. Embora tenha sido aplicado Mo via foliar, pode ter sido tarde para evitar alguma perda no rendimento de grãos.

A nodulação de soja, mostrada nas tabelas 1 e 2, não pode ser comparada, pois a avaliação no primeiro ensaio foi feita em período mais tardio do que aquela feita no segundo ensaio, e por isso tem valores muito maiores. Mas, em ambos os ensaios, a nodulação foi elevada, superando a quantidade de nódulos considerada suficiente para uma adequada fixação de nitrogênio (Vargas e Suhet, 1980). Todos os tratamentos apresentaram peso de nódulos estatisticamente iguais, exceto na testemunha nitrogênio mineral, em que ocorreu o conhecido efeito de depressão da nodulação por nitrogênio (Munns, 1977).

No experimento de Marau, os resultados de rendimento de grãos e de peso de 100 grãos, mostrados na tabela 3, também indicaram ausência de respostas estatisticamente significativas à inoculação. Verificou-se que a produção de soja foi relativamente elevada e equivalente nos diversos tratamentos. O número de nódulos na testemunha não inoculada foi semelhante ao dos tratamentos inoculados, indicando a presença de Bradyrhizobium no solo do local do ensaio. A adição de nitrogênio mostrou efeito negativo no número de nódulos. O número de nódulos pode ser considerado dentro dos valores normalmente encontrados nesse período de desenvolvimento da planta (Vargas et al., 1994).

Comparando o rendimento de grãos da testemunha, as estirpes naturalizadas mostraram-se eficientes, indicando que o resultado da unidade de observação conduzida dois anos antes, sem repetição, pode ser atribuído a erro experimental.

A ausência de resposta à inoculação de soja em plantio direto, com inoculação na cultura anterior da soja, também foi observada em Cruz Alta, RS, em experimentos com os mesmos tratamentos adotados nos dois primeiros experimentos, pertencentes à rede nacional de inoculação em soja com Bradyrhizobium (Campos, 1996 e 1997) e em experimento conduzido na Cotrisa, em Santo Ângelo, RS usando-se inoculantes comerciais, (Becker et al., 1996).

De forma geral, os dados obtidos nos três locais, todos sob sistema plantio direto, com a superfície do solo recoberta de palha, indicaram que a resposta à inoculação com as atuais estirpes de Bradyrhizobium não foi estatisticamente significativa quando a soja cultivada dois anos antes fora inoculada. O fato de que entre as duas semeaduras de soja ter sido estabelecido aveia preta, no inverno, e milho ou milheto, no verão, não diminuiu o efeito da população de rizóbio que se estabeleceu no solo. Diversos estudos têm mostrado que o rizóbio se desenvolve na rizosfera de outras plantas, como arroz, no Cerrado (Peres et al., 1989), trigo e aveia branca (Domit et al. 1990) e aveia preta (Voss & Ben, 1997), comprovando a grande capacidade saprofítica dessa bactéria. Por outro lado, deve-se ressaltar que os resultados foram obtidos sob sistema plantio direto, que favorecem a nodulação e a sobrevivência de Bradyrhizobium (Voss & Sidiras, 1985; Andrade et al.1993).

Atualmente a indicação para inoculação de soja com Bradyrhizobium em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul ressalva a baixa probabilidade de se ter resposta à inoculação em lavouras sob sistema plantio direto já estabelecido há mais de 3-4 anos em local onde já houvera inoculação de soja anteriormente, e deixa a critério da assistência técnica a decisão de interromper essa prática (Reunião de Pesquisa de Soja, 1996). Essa indicação é vaga e pode gerar dúvidas em técnicos sobre a melhor decisão. Os resultados aqui relatados podem balizar provisoriamente a decisão sobre a reinoculação de Bradyrhizobium em soja, em solo sob plantio direto, com adequada cobertura de palha, no Planalto Médio, pois estabelece claramente que não há resposta a essa prática, quando no cultivo anterior de soja esta foi inoculada. Assim, com as estirpes atualmente recomendadas de Bradyrhizobium, e enquanto não se obtêm informações sobre períodos mais longos sem inoculação, a indicação para a assistência técnica é a de se omitir a inoculação em soja em área sob sistema plantio direto, com palhada que cubra todo o solo, onde se fez inoculação na soja, no ano anterior, ou dois anos antes, no caso de rotação de cultura com milho ou milheto.


Circular Técnica Online Nº 06Circular Técnica Online Nº 06 Publicações OnlinePublicações Online

Copyright © 2001, Embrapa Trigo