Embrapa Trigo Circular Técnica Online Nº 2, dez./99

Análise da temperatura do solo desnudo a 5 cm de profundidade visando antecipação da semeadura de culturas de verão no estado do Rio Grande do Sul
Jaime Ricardo Tavares Maluf 1
Ronaldo Matzenauer 2
Márcia Rodrigues Caiaffo 3

Introdução

Nas regiões de clima temperado e subtropical, para semeadura de culturas de verão no cedo, a temperatura do solo é um fator importante. O Rio Grande do Sul, enquadrado nesta condição climática, apresenta uma considerável variabilidade em seu regime térmico. Das regiões mais quentes para as mais frias, é possível haver diferenças de até 60 dias para inicio da semeadura.

Vários autores têm demonstrado a possibilidade de estimar-se a duração do subperíodo semeadura-emergência pelo conhecimento da temperatura do solo. MATZENAUER, et al. (1982) realizaram trabalho com milho na região da Depressão Central do estado (Região Agroecológica 1c) (Figura 1) visando a avaliar o efeito da temperatura do solo na duração do subperíodo semeadura-emergência, empregando semeaduras contínuas de 15 em 15 dias com e sem irrigação, durante o período de julho de 1981 a abril de 1983. Verificaram, no trabalho em campo, que não ocorreram registros de emergência com temperaturas de solo, a 5 cm de profundidade, inferiores a 16 ºC e superiores a 31 ºC. Observaram que, a medida que aumentou a temperatura do solo, diminuiu a duração do subperíodo semeadura-emergência, e a maioria dos registros de emergência de plantas encontrava-se na faixa de temperatura do solo de 26 ºC a 30 ºC. Foram elaboradas correlações entre a temperatura do solo durante o subperíodo semeadura - 75% de emergência e a duração em dias do subperíodo. Concluíram que os coeficientes de determinação foram muito significativos, indicando elevado grau de associação entre as duas variáveis e mostrando a possibilidade de se estimar a duração da fase fenológica emergência a partir da temperatura do solo.

Outro fator importante para as culturas de verão é a regularidade do regime pluvial. O estado caracteriza-se por apresentar um regime pluvial com grande variabilidade, tanto em quantidade como em distribuição, principalmente nos meses de primavera e verão (INSTITUTO DE PESQUISAS AGRONÔMICAS, 1989).

Em geral, a precipitação pluvial ocorrida neste período é insuficiente para atender às necessidades hídricas das culturas, o que pode ser verificado através do balanço hídrico da normal climatológica 1912-75 (MALUF et al., 1981).

Em análise estatística da precipitação anual do Rio Grande do Sul, BERLATO (1992) mostra que, na média de todo o estado, a freqüência de anos considerados secos é maior que a de anos considerados chuvosos, na proporção de 14% e 10% respectivamente, e em algumas regiões do estado, como o Baixo Vale do Rio Uruguai (Região Agroecológica 9 e parte da 10a) e a parte oeste da Campanha (parte da Região Agroecológica 10a e 10b) (Figura 1), a freqüência média de anos secos atinge 20%.

Baseado na análise das séries, esse autor constata que é grande a variabilidade da precipitação mensal de um ano para outro. Verificou, ainda, que a estiagem nos meses de janeiro e fevereiro é um fenômeno meteorológico adverso que faz parte das características do estado, pois ocorreu ao longo do período de 77 anos de observações analisadas.

Segundo ÁVILA (1994) a probabilidade de a precipitação pluvial superar a evapotranspiração potencial nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, em praticamente todo o estado, é inferior a 60%, determinando, com isto, uma alta freqüência de ocorrência de deficiências hídricas. Dessa maneira, a coincidência do período crítico das culturas (floração e enchimento de grãos) com o período de menor precipitação pluvial, e conseqüentemente de maior deficiência hídrica, principalmente nas regiões mais quentes do estado, onde é mais acentuada e ainda agravada pela alta demanda evaporativa da atmosfera, acarretará necessariamente uma queda da produtividade, e até mesmo rendimentos nulos em alguns anos.

O trabalho teve como objetivo identificar regiões do estado do Rio Grande do Sul, que apresentem condições favoráveis de temperatura do solo desnudo, a 5 cm de profundidade, para início da semeadura de culturas de verão nos meses de julho, agosto e setembro.


1 Pesquisador da Embrapa Trigo. Caixa Postal 451. CEP 99001-970 Passo Fundo, RS. maluf@cnpt.embrapa.br
2 Pesquisador da Fepagro
3 Bolsista da UnB-Finatec

Circular Técnica Online Nº 2Circular Técnica Online Nº 2 Publicações OnlinePublicações Online

Copyright © 1999, Embrapa Trigo