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Dezembro, 2002
Passo Fundo, RS

Resultados e Discussão

Para maior embasamento das discussões e de suas implicações no potencial de rendimento de grãos da cultura de trigo no Rio Grande do Sul, será apresentado e discutido, inicialmente, o zoneamento de riscos climáticos para esse cereal ora vigente no estado.

 

1- Zoneamento de riscos climáticos para a cultura de trigo no Rio Grande do Sul

A semeadura de trigo, no Rio Grande do Sul, dá-se entre maio e julho, dependendo da região, começando pela região mais quente do estado, fronteira noroeste, e terminando na região mais fria, Campos de Cima da Serra.

Os dois riscos climáticos considerados neste estudo – geada na floração e excesso de chuva na colheita – apresentam magnitudes diferentes em âmbito regional, dependendo da época de semeadura, conforme ilustram as figuras 2, 3 e 4, para semeadura de trigo em maio, junho e julho, respectivamente.

Na Figura 2 (semeadura em maio) constata-se que os riscos de geada na floração são altos (superior a 20%) em duas regiões, particularmente quando a semeadura é realizada no começo de maio, em especial no nordeste do estado (Campos de Cima da Serra e Planalto Médio) e sudeste do estado (Campanha, região de fronteira com o Uruguai e com a Argentina). Gradativamente, com a semeadura a partir de meados de maio, os riscos de geada na floração diminuem sua abrangência, permanecendo ainda altos nas regiões citadas. Na Figura 3 (semeadura em junho), os riscos de geada na floração considerados altos (maiores que 20 %) diminuem ainda mais sua zona de abrangência, tornando-se restrito para semeadura de julho, quando desaparecem a partir de semeadura após a metade desse mês (Figura 4).

De modo geral, para os riscos de chuva na colheita, observa-se nas figuras 2, 3 e 4 (parte à direita), que a probabilidade de se ter problema na época de colheita é mais acentuada na metade norte do estado. Isso porque chove mais na parte norte do Rio Grande do Sul (Berlato, 1992), quando, na primavera, passam a atuar os complexos de meso-escala que se formam no Paraguai e se deslocam para o Sul, atingindo com chuva de elevada intensidade a região da fronteira noroeste do RS.

Através do cruzamento das cartas de risco de geada na floração e de excesso de chuva no período que precede à colheita, foi possível definir, para cada local do estado, períodos para a semeadura de trigo em que os níveis de risco, em 80 % dos anos, ficassem abaixo da situação de alto risco e fossem minimizados, conforme constam na Tabela 1. Esses resultados, desde 1996, passaram a integrar as indicações da Comissão Sul-Brasileira de Pesquisa de Trigo.

 

2- Variabilidade temporal e espacial do quociente fototermal no Rio Grande do Sul e suas implicações para o potencial de rendimento de grãos de trigo

As cartas de quocientes fototermais (Q) para ocorrências de antese em trigo nos meses de julho (Figura 5), agosto (Figura 6), setembro (Figura 7) e outubro (Figura 8) no ,RS, mostram bem definida variabilidade temporal e espacial. De forma genérica, em termos de variabilidade espacial, destaca-se que valores mais elevados de quocientes fototermais, sistematicamente, concentraram-se no nordeste do estado, envolvendo parte do Planalto, Campos de Cima da Serra e Serra do Nordeste. Também ficou evidenciada, embora com magnitudes inferiores relativamente à parte nordeste, uma área localizada no sudoeste do território rio-grandense, Região da Campanha, com valores de Q maiores do que em outras regiões do RS.

A variabilidade espacial dos valores de quociente fototermal (figuras 5, 6, 7 e 8) possibilita inferir que as limitações para a expressão do potencial de rendimento de grãos em trigo, impostas pelas disponibilidades de radiação solar e de temperatura, independentemente de manejo da cultura, são diferentes em cada região, refletindo-se, por essa razão, em potencial de rendimento de trigo também diferentes.

Valendo-se do critério de quociente fototermal (Q) como indicativo exclusivo de potencial de rendimento de trigo (figuras 5, 6, 7 e 8), poder-se-á especular que as áreas de maior potencial de rendimento para trigo no Rio Grande do Sul estão localizadas no nordeste do estado (Planalto, Campos de Cima da Serra e Serra do Nordeste). E, na metade sul do RS, se destacaria uma parte da região da Campanha (fronteira com o Uruguai). Também expresso nas figuras 5, 6, 7 e 8 que, na metade norte do estado, em que se concentra, atualmente, a maior área de cultivo de trigo, a existência de um gradiente nos valores de Q, com diminuição sistemática nos valores no sentido leste para oeste. O que implicaria, também, que seja esperada uma diminuição nos valores de potencial de rendimento de trigo, por razões de ambiente, à medida que se desloca dos Campos de Cima da Serra para a Região da Missões.

As estatísticas de rendimento médio de trigo (kg/ha) no Rio Grande do Sul, agregadas por região tríticola (IPEAS, 1971), no período 1990 a 2000 (IBGE, 2001), apesar de sua variabilidade interanual, tendem a corroborar, em linhas gerais, os mapas de quociente fototermal (figuras 5, 6, 7 e 8) e suas possíveis implicações para o potencial de rendimento de grãos de trigo. Esse aspecto pode ser constatado na Tabela 2 e visualizado de forma mais clara na Figura 9, que mostra nos valores médios regionais de rendimento de trigo, no período 1999-2000, os possíveis reflexos do ambiente sobre os potenciais de rendimento de trigo e, conseqüentemente, o impacto sobre rendimento real obtido nas lavouras gaúchas.

Também os dados do Ensaio Estadual de Cultivares de Trigo, apresentados por Moreira et al. (1998 e 2001), para o período 1992 a 2000, tanto para os valores médios de rendimento (kg/ha) de todas as cultivares (Tabela 3) como para os valores máximos (Tabela 4), reforçam as inferências extraíveis a partir do mapeamento regional de quociente fototermal e, de certa forma, alinham-se com as estatísticas oficiais do IBGE de rendimento de lavoura; exceto nas regiões VII, VIII e IX, que, nos dados experimentais, comportam-se diferentemente (inverso) do que mostram as estatísticas de lavoura.

No tocante à variabilidade temporal dos valores de quociente fototermal (figuras 5, 6, 7 e 8), embora seja mantido um padrão coerente de variabilidade espacial, observa-se a tendência de aumento nos valores de Q com o retardamento da data de antese. Evidentemente, isso se deve ao maior aumento da radiação solar com a proximidade do solstício de verão no Hemisfério Sul, comparativamente aos aumentos de temperatura no mesmo período. De qualquer forma, não se pode pensar em benefícios para o potencial de rendimento de grãos pelo atraso da data de antese, uma vez que os aumentos observados são de poucas unidades de Q. Além do mais, a temperatura mais elevada na semeadura do tarde, como destacaram Fischer (1985) e Magrin et al. (1993), poderia acelerar o crescimento da espiga, atenuando o efeito da maior disponibilidade de energia, e diminuir o período de enchimento de grãos, formando grãos menores.

A definição do período de semeadura e a escolha da cultivar acabam influenciando a data de antese, que, por sua vez, em razão das disponibilidades de ambiente, regula a formação do número potencial de grãos, e, conseqüentemente, influem no potencial de rendimento da cultura de trigo. Como regra geral, a data de semeadura escolhida tem de assegurar, primeiramente, a formação de um número suficiente de grãos e, em segundo lugar, um período adequado para o enchimento desses grãos. Destaca-se que certo nível de risco de geada na antese tem de ser aceito quando se quer maximizar rendimento.

A variabilidade de quocientes fototermais no Rio Grande do Sul, e suas conseqüências para a expressão do potencial de rendimento de trigo, sugere a necessidade de definição de tecnologia de produção diferenciada para cada ambiente, visando a otimizar a exploração das potencialidades regionais para produzir essa cultura no estado.


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