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Dezembro, 2002
Passo Fundo, RS

Introdução

De modo geral, para qualquer cultura, os períodos de semeadura são definidos e as cultivares selecionadas de forma que o ciclo de desenvolvimento possa ser completado sob condições climáticas relativamente favoráveis. Muitos fatores interferem nesse processo. Desde as características climáticas locais e, principalmente, até os sistemas de produção agrícola da região. Todavia, devem-se sempre considerar os períodos críticos das culturas em relação ao seu ciclo de desenvolvimento e as possíveis ocorrências de adversidades meteorológicas.

A semeadura de trigo, no Rio Grande do Sul, dá-se entre maio e julho, dependendo da região, começando pela região mais quente do estado, fronteira noroeste, e terminando na região mais fria, Campos de Cima da Serra (Cunha et al., 1999a e 1999b). Essa definição regional de períodos de semeadura visou ao escape de dois riscos climáticos: geada na floração e excesso de chuva no período de colheita.

O ciclo de desenvolvimento da cultura de trigo pode ser dividido em três fases principais, que ocorrem em seqüência: vegetativa, reprodutiva e de enchimento de grãos. Conforme Slafer & Rawson (1994), a fase vegetativa estende-se da semeadura, envolvendo germinação de sementes e emergência de plantas, até o estádio de duplo-anel, e compreende etapa em que, no ponto de crescimento são diferenciadas somente estruturas foliares. Por sua vez, a fase reprodutiva, que engloba o período que vai do estádio de duplo anel até a antese (floração), abrange dois subperíodos importantes para a definição do rendimento potencial, que estão delimitados pelos estádios de duplo-anel e de início de formação da espigueta terminal, no primeiro caso, seguindo-se pela etapa compreendida entre o estádio de início de formação da espigueta terminal até a antese propriamente dita. Nessa fase ocorre a diferenciação de estruturas florais e o número de flores férteis (virtualmente número de grãos) é determinado. Por último, a fase de enchimento de grãos, que vai da antese até a maturação fisiológica, definindo a massa final de cada grão. Resumidamente: antes da antese o número de grãos é determinado e após esse estádio os grãos são de fato enchidos e é estabelecida a sua massa seca final no momento da maturação fisiológica. A compreensão desses aspectos relacionados com o desenvolvimento da planta de trigo, embora descritos superficialmente (detalhes podem ser encontrados em Rodrigues, 2000), é fundamental para o entendimento da formação do rendimento de grãos em trigo e das possíveis limitações causadas pelo ambiente.

O rendimento de grãos de trigo, matematicamente, pode ser obtido pelo produto entre número de grãos por unidade de superfície e valor médio da massa de um grão. Nesse particular, vários estudos (Fischer, 1985, e Savin & Slafer, 1991, por exemplo) têm demonstrado que o número de grãos por unidade de superfície é o componente dominante para explicar variações de rendimento em trigo. Outro aspecto fundamental para o entendimento da formação do rendimento em trigo foi a identificação da existência de um período crítico concentrado em curto espaço de tempo que antecede a antese (Fischer, 1985); mais propriamente no subperíodo delimitado pelos estádios de início de formação da espigueta terminal e de antese.

O período crítico para a definição do rendimento potencial em trigo (espigueta terminal-antese) caracteriza-se como a etapa de crescimento da espiga no interior do colmo (pré-espigamento). Em lavoura, o começo desse importante subperíodo quase que invariavelmente coincide com o início da elongação dos colmos, na ocasião em que há elevação do ponto de crescimento acima da superfície do solo. Ainda cabe destacar que grande parte dos avanços obtidos no aumento do rendimento potencial de trigo, mundialmente, via programas de melhoramento genético, foram alcançados graças às mudanças ocorridas nessa etapa de crescimento da espiga, principalmente envolvendo modificações no padrão de partição de assimilados fotossintéticos, com maior direcionamento para as espigas (Slafer et al., 2000). Atualmente, com as previsíveis dificuldades em se continuar aumentando a partição para as espigas, via redução da altura de planta por exemplo, Slafer et al. (2000) indicam a possibilidade de se aumentar a duração do período de crescimento da espiga, valendo-se de controles relacionados com respostas ao fotoperíodo. Sempre usando a lógica de aumento no número de grão para se obter elevação de rendimento potencial.

O calendário de semeadura de trigo praticado no Rio Grande do Sul faz com que a data de antese possa ocorrer, dependendo da região, entre os meses de julho e outubro. Este fato, por si só, determina que o período crítico de formação de rendimento potencial em trigo (fase de crescimento da espiga em pré-espigamento) acabe submetido a diferentes disponibilidades de ambiente, com possíveis conseqüências para a expressão do potencial de rendimento de grãos da cultura, por razões atreladas às variações de radiação solar e de temperatura.

A teoria exposta anteriormente e os fundamentos teórico-experimentais do clássico trabalho de Fischer (1985), que definiu, para trigo de primavera, sob condições potenciais de manejo, a existência de estreita relação entre quociente fototermal (valor médio para 30 dias precedentes à antese) e número de grãos por unidade de superfície, têm sido usados como ferramenta de avaliação das disponibilidades de ambiente em termos de potencial de rendimento para trigo. Nesse contexto, usando como referencial o trabalho de Magrin et al. (1993) para a Argentina, esse estudo apresenta o mapeamento da variabilidade temporal e espacial do quociente fototermal no Rio Grande do Sul e discute as possíveis implicações para o potencial de rendimento de grãos de trigo via inter-relações com o zoneamento de riscos climáticos para a cultura de trigo ora vigente.


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