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Dezembro, 2002
Passo Fundo, RS

Introdução

Embora o Brasil, em 1987, tenha praticamente chegado à auto-suficiência de trigo, o setor produtivo sofreu desestruturação gradual quando, em 1990, a abertura do mercado nacional (8 milhões de toneladas), sem as salvaguardas necessárias, tornou-o dependente em mais de 80% de importações. Com a redução na produção nacional, deixaram de circular 1,3 bilhão de dólares nos elos da cadeia produtiva, com gasto similar em importação e perda de 280.000 empregos diretos e indiretos. Das três regiões tritícolas brasileiras, a região sul abrange Rio Grande do Sul, Santa Catarina e centro-sul do Paraná. Chuva excessiva no inverno e início da primavera e na colheita e geada no espigamento são fatores de riscos que têm de ser enfrentados. A região sul apresenta alumínio tóxico no solo e requer calagem e genótipos de trigo tolerantes à acidez. A sucessão trigo-soja é o sistema de produção predominante. Com a redução da área de trigo, aumentou a da aveia preta para cobrir solo, como adubação verde e como suplementação de forragens. Manter atividades no inverno gera empregos e recursos e torna as culturas de verão mais competitivas, ao reduzir custos fixos de produção. Entre as demandas para a região, vinculadas ao melhoramento genético, podem-se citar: a) Criação de genótipos adaptados à diversidade dos ecossistemas da região tritícola sul-brasileira, atendendo às exigências da agroindústria e do produtor, como incremento da produtividade e estabilidade genética, da qualidade tecnológica e da tolerância/resistência a estresses bióticos e abióticos; b) Obtenção de genótipos de trigo que reduzam a sazonalidade de infra-estrutura, com cultivos em áreas e épocas não convencionais; c) Desenvolvimento de trigos visando à maior sustentabilidade dos agroecossistemas, relativamente a perdas de solo e ambientais, necessidade de cobertura verde permanente e de alternativas de inverno no plantio direto, redução de riscos e custos, diversificação de renda e integração lavoura-pecuária.

O melhoramento genético é atividade permanente, em razão de mudanças na patogenicidade dos agentes causadores de doenças, nas tecnologias de produção e nas diferentes exigências para qualidade tecnológica pela indústria e pelo consumidor. Segundo Rosito (1976), o tempo médio de utilização de uma cultivar no RS era de quatro anos. O melhoramento genético, sem custo adicional, pode promover a competitividade, reativando a cultura. Nas diferentes instituições, usam-se preferentemente os métodos genealógico e massal, que têm vantagens e limitações (Silva, 1966; Heyne & Smith, 1973; Del Duca, 1991). Nas regiões tradicionais, é atividade contínua, pelas mudanças nas doenças, nas tecnologias de produção e nas demandas para qualidade industrial. Progressos na resistência a doenças, ao pulgão e à germinação na espiga são relatados em Rosa et al. (1982, 1986a, 1986 b) e em Rosa & Tonet (1986). Araújo (1953) mostrou a importância do alumínio tóxico do solo na ocorrência do crestamento, que causa atrofia da planta e queda no rendimento de grãos. Por meio do melhoramento, criaram-se muitos genótipos resistentes ao crestamento. Dos genótipos de trigo cultivados no RS, em 1993, a maioria era resistente ou moderadamente resistente (Reunião,1993). O acamamento prejudica o rendimento e a qualidade do grão (Pinthus, 1973) e ocorre com freqüência no RS, onde criaram-se genótipos com resistência a este fator. Nas planícies do RS, mais de 11.000 km2 são cultivados com arroz irrigado, ficando essa infra-estrutura ociosa no inverno por falta de alternativas, que poderiam, em parte, ser preenchidas por trigo. Além dos problemas identificados em áreas e épocas tradicionais de cultivo e em solos de arroz irrigado, há os de sustentação dos agroecossistemas. A adequação do ciclo de trigo, para permitir o cultivo de soja, é outro aspecto importante no trabalho. Quanto à qualidade industrial, há limitações a superar, principalmente em trigo para pão. A aptidão para os vários usos é derivada de características do grão e da farinha, por sua vez dependentes do ambiente (clima, solo, etc.) e do genótipo (Bequette, 1989). No desenvolvimento de genótipos de trigo adaptados ao plantio antecipado e ao duplo propósito, busca-se ecoideotipo alternativo de trigo (Del Duca & Fontaneli,1996), tardio-precoce, visando a sistemas de produção sustentáveis, em uma visão holística que contemple: 1) conservação do solo - as perdas de solo por erosão, em preparo convencional, situam-se acima de 20 t/ha/ano. Ao sul do paralelo 24, na cultura de soja, há 50% dessas perdas, e o restante nas culturas de inverno (Denardin et al., 1991); 2) perdas de fertilidade do solo - determinando perda de nutrientes, Wiethölter (1990) constatou ser menor durante o ciclo de soja e maior um mês após a colheita, sugerindo que o pousio seja reduzido ao mínimo; 3) época de semeadura e geada - dados obtidos no RS e PR, por Wendt et al. (1991), por Dotto et al. (1997) e por Brunetta et al. (1997), sinalizam o potencial maior de rendimento, ao se antecipar a semeadura. Mas, como os genótipos de trigo em cultivo têm ciclo curto, pode ocorrer perda pelo florescimento em épocas de risco de geada, conduzindo a plantios mais tardios, que reduzem o potencial produtivo e expõem a maior probabilidade de chuva na colheita (Del Duca et al., 1998); 4) ciclo adequado - para Dionigi (1962), uma das limitações ao maior rendimento nos genótipos de trigo brasileiros deve-se à fase vegetativa curta, e a solução seria o alongamento, para dar tempo ao nitrogênio de atuar e elevar a produtividade. Para esse autor, genótipos de trigo tardio-precoces (fase vegetativa longa e reprodutiva curta) seriam um tipo bioagronômico ideal para a região; 5) duplo propósito: pastagem e grão - plantas novas de trigo têm elevado teor de proteína e constituintes minerais, constituindo pastagem ou feno de elevado valor nutritivo. Nos EUA, há muitos anos, o pastoreio de trigo de inverno tem sido importante fonte de lucro (Schlehuber & Tucker, 1967). Para Rocha & Schlehuber (1972), na região triticola IX do RS, podem-se usar genótipos de trigo para pastoreio em mais de 500.000 hectares. A semeadura de pastagens associadas ao trigo é prática difundida no Uruguai, com interesse crescente por genótipos de semeadura antecipada (Altier & Garcia, 1986).

É objetivo geral deste trabalho a obtenção de cultivares de trigo que atendam às demandas descritas para a região tritícola sul-brasileira, tendo como características principais: a) adaptação às tecnologias em uso; b) maior potencial de rendimento e estabilidade de produção; c) características agronômicas adequadas às diversas condições de cultivo: resistência ao acamamento e desgrane, ciclo precoce para semeadura em época normal, adaptação a solos hidromórficos e ciclo tardio-precoce com adaptação a plantio antecipado para cobertura de solo e duplo propósito; d) resistência específica ou parcial às principais doenças; e) tolerância aos estresses ambientais, como excesso de chuva na maturação (germinação na espiga); e f) qualidade industrial adequada às demandas da indústria e aos diferentes usos.


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