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Dezembro, 2002
Passo Fundo, RS

Introdução

O nível de tecnologia adotado e a variabilidade climática explicam grande parte das flutuações no rendimento de grãos das culturas, que ocorrem em diferentes anos e entre locais. No caso de soja no Rio Grande do Sul (RS), esse efeito é evidenciado por safras como a de 1990/1991, quando o rendimento médio do estado foi de 712 kg/ha (Berlato & Fontana, 2001) e pela de 2000/2001, com rendimento médio estimado, conforme Bisotto & Farias (2001), em 2.339 kg/ha.

Os estudos sobre zoneamento climático para a cultura de soja, no Brasil, têm incluído, como principais variáveis limitantes, a deficiência hídrica, a insuficiência térmica e a falta de uma estação seca na época de colheita (Mota, 1983). Especificamente para o Rio Grande do Sul, Mota et al. (1974), considerando fotoperíodo, temperatura e umidade, diagnosticaram a possibilidade de cultivo de soja em praticamente todo o estado, com exceção, por razões de natureza térmica, de uma pequena área no nordeste do território rio-grandense.

De maneira geral, o regime térmico não é limitante para o rendimento de grãos, nas principais regiões de produção de soja no Rio Grande do Sul. Tanto para temperatura do ar (Berlato et al., 1992; Barni, 1999) quanto para temperatura do solo, que, no período de semeadura atualmente indicado (outubro a dezembro), superam o valor mínimo de 18 ºC, indicado por Costa (1996) como suficiente para permitir uma emergência rápida e uniforme de plântulas.

A precipitação pluvial foi identificada como a principal variável meteorológica determinante de oscilações no rendimento de grãos de soja no Rio Grande do Sul, tanto interanual quanto entre as diferentes regiões (Mota, 1983; Cunha et al., 1999; Barni & Matzenauer, 2000). A precipitação pluvial de dezembro a março, conforme resultados obtidos por Berlato & Fontana (1999), explica cerca de 80% da variação interanual do rendimento de soja no RS. A importância dessa variável fica evidente nos prejuízos causados por falta de chuva nas safras gaúchas de soja em 1977/1978, 1978/1979, 1981/1982, 1985/1986, 1987/1988, 1990/1991, 1995/1996, 1996/1997, 1998/1999 e 1999/2000 (Berlato, 1992; Berlato & Fontana, 1997; Berlato & Fontana, 2001).

Os efeitos da deficiência hídrica sobre o potencial de rendimento da soja vão depender da intensidade, duração, época de ocorrência e interação com outros fatores determinantes do rendimento de grãos. Influi, principalmente, sobre fotossíntese, respiração, crescimento, absorção e transporte de nutrientes, além de provocar modificações enzimáticas e alterações hormonais que afetam outros processos na planta.

As duas etapas críticas da cultura de soja, em relação à disponibilidade hídrica, são da germinação à emergência e no pós-florescimento (Doss et al., 1974; Berlato et al., 1992; Câmara & Heiffig, 2000). A deficiência no início do ciclo dificulta a embebição da semente e, conseqüentemente, sua germinação, além de promover a formação de crostas superficiais em determinados tipos de solo, que atrasam ou impedem a emergência das plântulas (Câmara & Heiffig, 2000).

A soja pode ser considerada uma cultura tolerante à deficiência hídrica, por possuir período de florescimento longo, permitindo que escape de secas de curta duração, compensando a perda de flores ou legumes com o aparecimento de flores tardias por ocasião de condições mais adequadas de umidade no solo (Mota, 1983). No entanto, a deficiência hídrica submete a planta de soja a um estresse que se manifesta na forma de baixa estatura, folhas pequenas e murchas, entrenós curtos, redução na taxa de crescimento da cultura, menor índice de área foliar, menor taxa de expansão foliar, menor duração da área foliar, atividade fotossintética menos intensa, prejuízos à fixação de nitrogênio e, por influir no metabolismo geral da planta, acaba afetando negativamente o rendimento de grãos (Confalone et al., 1998; Desclaux et al., 2000; Neumaier et al., 2000). Secas durante o período reprodutivo (pós-florescimento) causam reduções drásticas no rendimento de grãos, devido ao maior abortamento de flores e de legumes, menor período de florescimento, menor número de grãos por legume, menor período de enchimento de grãos, diminuição da qualidade de grãos e aceleração da senescência foliar. Estas perdas, em algumas ocasiões, acabam não sendo compensadas pelo número de grãos por legume e pelo peso do grão, pois esses componentes do rendimento possuem limites máximos determinados geneticamente (Sionit & Kramer, 1977; De Souza et al., 1997; Confalone & Dujmovich, 1999; Desclaux et al., 2000; Neumaier et al., 2000).

Dentre as técnicas de manejo capazes de sobrepujar total ou parcialmente a deficiência hídrica, pode-se destacar a escolha da cultivar, a época de semeadura, o aumento da matéria orgânica, o sistema plantio direto, a irrigação, o uso de quebra-ventos e o menor espaçamento entre linhas. É fundamental também que se evite semear em épocas de risco indicadas por estudos de zoneamento agroclimático (Mota, 1983; Neumaier et al., 2000).

A irrigação apresenta-se como a solução principal para o problema de deficiência hídrica em soja. A demanda em investimentos, além de falta de condições adequadas da área e problemas de disponibilidade de mananciais hídricos em anos críticos, tem limitado sua utilização no sul do Brasil. Outra forma de enfrentar o problema é via uso de cultivares mais tolerantes ao estresse hídrico, de forma que, mesmo em anos secos, o rendimento fosse mantido em níveis aceitáveis. Para isso, todavia, há necessidade de melhor caracterização das cultivares indicadas para cultivo quanto ao seu nível de tolerância ao estresse hídrico.

A escolha da época de semeadura destaca-se no controle da deficiência hídrica valendo-se de mecanismos de escape, pois pode ser ajustada para evitar períodos de baixa precipitação durante estádios críticos e fazer coincidir as etapas de florescimento e fixação de legumes com períodos favoráveis de disponibilidade hídrica (Mota, 1983). Além do escalonamento de épocas de semeadura, recomenda-se também a diversificação de cultivares, para reduzir riscos de prejuízos por seca. Por exemplo, em uma propriedade, pode-se utilizar 1/3 de cultivares de ciclos semiprecoce e precoce, 1/3 de cultivares de ciclo médio e 1/3 de cultivares de ciclos semitardio e tardio. Com isso, está se reduzindo os riscos de insucesso total da área cultivada, pois as plantas das diferentes cultivares apresentarão defasagens de seus subperíodos críticos de desenvolvimento, em relação à deficiência hídrica (Barni, 1999).

O objetivo deste boletim de pesquisa é apresentar um mapeamento de riscos de deficiência hídrica para a cultura de soja no Rio Grande do Sul, considerando época de semeadura, tipo de solo e ciclo de cultivares como principais variáveis de definição.


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