cnpt2.gif (2276 bytes)

bptec_g.jpg (26034 bytes)

02

Dezembro, 2002
Passo Fundo, RS

Introdução

O molibdênio é um elemento essencial nos processos de obtenção de N pela soja. Ele catalisa a redução de nitrogênio, na forma de nitrato, no complexo enzimático nitrato redutases, e a redução do nitrogênio, na forma gasosa (N2), na enzima nitrogenase (MARSCHNER, 1990). Com as nitrato redutases, produzidas pelas plantas, o nitrato absorvido é transformado em amônio, e assim o nitrogênio é assimilado nas vias biossintéticas, indo fazer parte dos aminoácidos e proteínas. A nitrogenase é enzima de elevado peso molecular produzida por algumas espécies de bactérias, por algas cianofíceas e por algumas espécies de actinomicetos, que as habilita a utilizar o nitrogênio atmosférico, no processo chamado de fixação biológica de nitrogênio (HOLT et al., (1994); MILLER, 1991). Em soja, planta com elevado teor de proteínas, a necessidade de nitrogênio é atendida principalmente pela fixação biológica, através da associação com a bactéria bradirrizóbio. Deficiência de Mo traduz-se em deficiência de N. Por isso, em locais com deficiência acentuada de Mo, as respostas são elevadas. Adicionando 12 g de Mo a sementes de soja, VOSS e PÖTTKER, (2001), em Passo Fundo, RS, em solo com pH 5,0, obtiveram rendimento de grãos de 2.650 kg/ha, enquanto a testemunha sem Mo produziu apenas 750 kg/ha.

A suficiência desse micronutriente para esses processos na planta depende da disponibilidade do elemento na semente ou no solo. Observou-se que as leguminosas são capazes de acumular Mo nas sementes, podendo atingir os níveis necessários para adequado funcionamento da nitrogenase (MARSCHNER, 1990). Sementes ricas em Mo dispensam adubação com Mo. Foram feitas determinações do teor de Mo de sementes produzidas no Rio Grande do Sul, tradicional produtor de sementes, por SANTOS (1999) e por VOSS et al., (1994). Em ambos os trabalhos não se encontrou quantidade de Mo considerada auto-suficiente. No trabalho de VOSS et al. (1994), foram analisadas 88 amostras de sementes de soja das cultivares FT-Abyara e BR-16, de 36 municípios do Estado do Rio Grande do Sul. As amostras de sementes foram obtidas de cooperativas dessas regiões, da Associação dos Produtores e Comerciantes de Sementes do Rio Grande do Sul (APASSUL) e do Serviço de Produção de Sementes Básicas (atual SNT), da Embrapa, escritório de Passo Fundo. As amostras analisadas representaram ampla gama de condições edafoclimáticas, especialmente da Zona I (preferencial) e da Zona II (tolerada), conforme zoneamento climático para a cultura de soja no Rio Grande do Sul. As amostras analisadas revelaram teor de Mo que variou de 0,1 a 3,5 mg/kg, com a seguinte distribuição: de 0,1 a 1,2 mg Mo/kg de semente = 51 amostras (58%); de 1,2 a 2,4 mg/kg = 31 amostras (35,2%); de 2,4 a 3,6 mg/kg = 5 amostras (5,7%); e acima de 3,6 mg/kg = 1 amostra (1,1%). Esses teores de Mo são insuficientes, significando a necessidade de adição desse micronutriente na adubação quando o solo apresentar disponibilidade insuficiente de molibdênio para as plantas.

Além disso, mesmo estando presente no solo, o Mo tem sua disponibilidade reduzida para as plantas em solos com pH baixo (FRANCO e DAY, 1980). Barber (1984) encontrou, em solos do Colorado, nos EUA, diminuição de 10 vezes na atividade de molibdato na solução do solo com a diminuição de cada unidade de pH do solo. Portanto, a correção da acidez pode proporcionar aumento da quantidade de Mo disponível. No sistema plantio direto, o calcário é aplicado à superfície do solo, havendo pouco deslocamento no perfil do solo nos dois anos subseqüentes (BEN et al., 1997). VOSS e PÖTTKER (2001) testaram esse tipo de manejo em solo argiloso de Passo Fundo, RS, comparando a calagem com aplicação de 12 g de Mo/ha em tratamento de semente ou 30 g de Mo/ha via foliar. A calagem superficial proporcionou aumento de rendimento de grãos em relação à testemunha sem calagem, mas estatisticamente abaixo dos tratamentos com Mo. Esses autores atribuíram o fato à correção do solo restringir-se aos primeiros dois a três centímetros da superfície, sabendo-se que a quase totalidade das raízes situa-se abaixo dessa profundidade (MITCHELL e RUSSEL, 1971).

A disponibilidade de Mo nos solos não é determinada rotineiramente por análise química, em virtude da concentração extremamente baixa. Assim, as recomendações de adubação com Mo são feitas de forma generalizada, baseadas em ensaios instalados em diversos locais pela pesquisa. A recomendação de Mo para soja no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina esteve restrita, até 1997, a solos arenosos, da unidade de mapeamento São Pedro (Argissolo Vermelho Distrófico arênico), predominante na região da Depressão Central do Rio Grande do Sul, em razão de ensaios conduzidos entre 1982 e 1985 pela Universidade Federal de Santa Maria, com apoio da EMATER-RS (SANTOS, 1999). Evidências de que, mesmo em solos argilosos, estaria havendo respostas a Mo começaram a ser levantadas por agricultores no estado. A EMATER-RS realizou algumas unidades de observação, sem repetição, e constatou em alguns solos argilosos a resposta de soja a Mo (JACOBSEN, comunicação pessoal). No Paraná, a Embrapa Soja encontrou resposta a Mo em solos argilosos considerados de alta fertilidade, com longo histórico de cultivo de café (SFREDO et al., 1994). Essas ocorrências foram atribuídas a perdas por erosão durante um longo período e à exportação desse micronutriente por grãos. Em 1994, a Embrapa Trigo associou-se à EMATER-RS com objetivo de testar em diversas condições edafoclimáticas do Rio Grande do Sul, com ênfase na Região do Planalto Médio, a resposta de soja à adubação com Mo. O projeto teve apoio da UFRGS, na determinação de Mo em sementes.


Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento Online Nº 2Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento Online Nº 2 Publicações OnlinePublicações Online

Copyright © 2002, Embrapa Trigo