Embrapa Trigo Boletim de Pesquisa Online Nº 6, jun./01

Introdução

As culturas de inverno que podem fazer parte de sistemas de rotação, no Sul do Brasil, são relativamente numerosas (Santos, 1991; Santos et al., 1993). Entre elas, incluem-se trigo, triticale, cevada, aveias (branca e preta), colza, centeio, linho, ervilhaca, serradela e nabo-forrageiro, como as mais importantes. Os cereais de inverno (trigo, aveia branca, aveia preta, triticale, centeio e cevada) são as culturas de maior interesse econômico. Ervilhaca, serradela e nabo-forrageiro são opções para melhoramento de solo e para incorporação de nitrogênio ao solo.

O cultivo de colza padrão "canola" (Canola, 1993) tem sido fomentado nos estados do Rio Grande do Sul e do Paraná, pela qualidade de óleo comestível, em especial devido ao baixo índice de gordura saturada. Além de constituir ótima opção para compor sistemas de rotação com cereais de inverno, por não ser suscetível às mesmas doenças, a canola tem ainda a capacidade de se desenvolver em solo com baixa disponibilidade de fósforo (Hoffland et al., 1989). Contudo, efeitos deletérios poderão surgir, se soja for cultivada sobre resíduos de colza/canola sob condições de estresse hídrico.

De acordo com o Conselho de Canola do Canadá, a canola foi desenvolvida a partir da colza para ter qualidades nutritivas superiores (Consejo, 2000). A exigência oficial para ser canola é: o óleo deve conter menos de 2 % de ácido erúcico e os componentes sólidos livre de óleo da semente devem conter menos de 30 micromoles de glucosinolato por grama de sólido seco ao ar. Há uma demanda no mercado por grãos de canola para produção de óleo comestível. Esse óleo, por sua vez, tem aceitação no mercado por suas qualidades saudáveis na alimentação humana, ou seja, baixo índice de gordura saturada (Canola, 1993). Além disso, esse óleo tem elevado teor de gorduras insaturadas, que pode, preventivamente, reduzir os riscos de doenças circulatórias e coronarianas. Existem, também, algumas empresas que estão fomentando o cultivo de canola nos estados do Rio Grande do Sul e do Paraná. No inverno de 1997, foram cultivados 3.500 hectares dessa espécie no Planalto Médio e nas Missões do RS, com o híbrido precoce Hyola 401. Em 1998, foram semeados 13.000 hectares no RS, tendo em vista que a comercialização da produção tem sido assegurada pela empresa interessada no refino e na comercialização do óleo de colza padrão "canola". Em 1999 e 2000, foram semeados 17.000 hectares da cultura.

Nos últimos cinco anos, o interesse na cultura tem se mantido, e até renovado, com investimentos em importação e comercialização de sementes, assistência técnica e fomento realizado por cooperativas e empresas, no Paraná e no Rio Grande do Sul (Tomm, 2000; Martino, 2000).

Os trabalhos de pesquisa com a cultura de colza nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina foram iniciados em 1974, tendo sido centrados em adaptação e seleção de novas cultivares (Barni, 1980). A expansão dessa cultura, no Rio Grande do Sul, deu-se de forma rápida em dois anos, seguida de queda drástica em 1982, estabilizando-se nos dez anos seguintes (Dias, 1992). A redução da área de cultivo em 1982 deveu-se à dificuldade de comercialização, pois o produto colhido em novembro/dezembro deveria ter sido comercializado imediatamente, o que só se realizou no mês de março do ano subseqüente, causando desestímulo ao cultivo da oleaginosa e, como conseqüência, redução da área plantada nas safras posteriores.

Com a criação do Comitê da Colza em 1980, foi implementada, na época, uma rede de pesquisa para essa oleaginosa (Barni, 1980). Nesse esforço para expandir a área cultivada, foram contempladas várias atividades de pesquisa e de assistência técnica para essa cultura.

Entre as atividades de pesquisa, foram desenvolvidos trabalhos de avaliação de cultivares de colza para recomendação aos agricultores. De 1980 a 1986, vários germoplasmas foram testados no Instituto de Pesquisas Agronômicas (Ipagro), hoje Fepagro, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Centro de Experimentação e Pesquisa (CEP-Fecotrigo), hoje Fundacep Fecotrigo, na Cooperativa Regional Tritícola Serrana Ltda. (Cotrijuí), na Embrapa Trigo e na Embrapa Clima Temperado (Silva et al., 1984; Bonetti & Tragnago, 1985; Barni et al., 1987; Santos, 1987; Viau & Carbonera, 1987; Dias, 1992). Os germoplasmas de colza semeados de 1980 a 1986 eram de ciclo tardio; conseqüentemente, na maioria dos anos, completavam ciclo (Barni et al., 1987; Santos, 1987; Viau & Carbonera, 1987) após a época preferencial para semeadura de soja nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, ou seja, fim de novembro (Reunião, 1997). Em decorrência desses trabalhos, recomendou-se como melhor época de semeadura o período de 15/5 a 15/6, para o estado do Rio Grande do Sul (Comitê, 1985).

De 1987 a 1990, a maioria dos trabalhos de pesquisa com a cultura de colza foram desativados. Em 1991, iniciou-se nova rede de pesquisa somente com avaliação de germoplasmas (Carraro & Balbino, 1993). Nessa oportunidade, foram introduzidos os híbridos de canola no Brasil. Além disso, a denominação canola foi liberada, para substituir a denominação "colza" por todos os materiais criados fora do Canadá. No país, numerosos germoplasmas anteriormente testados foram substituídos por novos materiais ou por germoplasmas resselecionados.

O cultivo de canola pode tornar-se realidade, principalmente com a introdução de novos germoplasmas (híbridos), que apresentam ciclo mais curto do que os germoplasmas semeados atualmente e com capacidade produtiva igual ou superior. Nesse caso, esse material poderia ter ciclo mais curto que o de cereais de inverno. Dessa forma, o resíduo de canola teria mais tempo para se decompor, mesmo em anos com períodos secos. Isso, por sua vez, poderia evitar os efeitos negativos do resíduo de canola em soja, sob sistema plantio direto, conforme registrado anteriormente por Santos & Reis (1991).

O presente trabalho teve por objetivo verificar a adaptabilidade e o rendimento de grãos de germoplasmas de colza padrão "canola" destinados à extração de óleo para consumo humano.


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