A caracterização bioclimática de trigos brasileiros começou com o estudo realizado
por Pascale & Mota (1966), que enquadraram os trigos
cultivados na época, no Rio Grande do Sul, em dois grupos bioclimáticos: semiprecoce e
semitardio. Estas denominações, segundo os autores citados, foram escolhidas para evitar
confusão com os trigos cultivados no Hemisfério Norte, os tipos de primavera e de
inverno; uma vez que suas exigências bioclimáticas e a duração de ciclos são
diferentes. Em outras palavras, os trigos cultivados tanto na Argentina como no Brasil,
não seriam nem tão precoces e nem tão tardios: seriam semiprecoces e semitardios.
Pascale & Mota (1966) classificaram
como trigos brasileiros semiprecoces, ordenados por precocidade decrescente: BH 546,
Trapeano, Frontana, Prelúdio, Carazinho, IAS 13 e São Borja. Neste grupo, alguns
cultivares mostraram certa exigência em vernalização para espigar, encurtando em até 5
dias o subperíodo emergência-espigamento, quando vernalizados. As variedades mais
sensíveis à vernalização, em ordem decrescente foram: Carazinho, Prelúdio, IAS 13,
Frontana, BH 546, Trapeano e São Borja; ainda que com pouca diferença entre elas.
Também, os trigos deste grupo, mostraram-se indiferentes às variações de comprimento
do dia (fotoperíodo). Resumindo, os trigos brasileiros do grupo semiprecoce apresentam
ciclo curto, decorrente da resposta às temperaturas crescentes, indiferença ao
comprimento do dia e requerem certa dose de frio nas primeiras etapas do seu
desenvolvimento.
Os trigos incluídos no grupo semitardio por Pascale
& Mota (1966) foram: IAS 14, Colônias, Trintecinco, H 40-33-23, Fortaleza,
Piratini, Trintani e Camacrânia. Este ordenamento corresponde, em termos aproximados, a
uma crescente exigência em comprimento do dia para espigar. Exceto para Trintani e
Camacrânia que têm um comportamento algo diferente a este respeito, porém foram
incluídos neste grupo por seguirem a modalidade geral dos trigos semitardios brasileiros.
Conforme Pascale & Mota (1966) o ordenamento de
precocidade decrescente efetuado para os trigos semiprecoces foi mais evidente que o
crescente de exigências em dias longos para os semitardios. Isto pode ser devido ao fato
de não existir tanta semelhança bioclimática entre as cultivares semitardias, uma vez
que cada uma tem certa particularidade, embora apresentem a mesma modalidade geral de
comportamento. Este grupo apresentou uma maior heterogeneidade bioclimática, dificultando
a escolha de um cultivar tipo. Em termos de necessidade de frio, embora em um nível
inferior a dos trigos semiprecoces (reação à vernalização da ordem de 2 a 3 dias
apenas), destacaram-se em ordem decrescente de resposta, H 40-33-23, Trintecinco,
Colônias e Fortaleza. IAS 14 pode representar um cultivar de ligação com o grupo dos
trigos semiprecoces e integrar um grupo intermediário, junto com São Borja e IAS 13,
diferenciando-se destas por uma maior exigência no comprimento do dia para espigar e por
uma menor necessidade de baixas temperaturas. Em síntese: os trigos semitardios
brasileiros não requerem frio, reagem às temperaturas crescentes e exigem fotoperíodos
relativamente longos.
Em um segundo trabalho sobre bioclimatologia de trigos brasileiros, Mota & Goedert (1969) classificaram os trigos cultivados no
sul do país em superprecoce, precoce, intermediário e tardio. Conforme estes autores, as
principais características destes grupos bioclimáticos são as seguintes:
- Grupo superprecoce: trigos muito precoces, indiferentes ao
comprimento do dia, não respondem à vernalização e requerem temperaturas relativamente
altas no subperíodo encanamento-espigamento.
- Grupo precoce: trigos precoces, indiferentes ao comprimento do dia, respondem à
vernalização (necessitam de certa dose de frio) e às temperaturas crescentes.
- Grupo intermediário: trigos de ciclo médio, necessitam de dias longos para espigar,
não respondem à vernalização e reagem às temperaturas altas no subperíodo
encanamento-espigamento.
- Grupo Tardio: trigos de ciclo longo, exigem dias longos para espigar, não respodem à
vernalização e reagem às temperaturas crescentes.
Posteriormente, Mota & Acosta (1974) complementaram a
descrição dos grupos bioclimáticos intermediário e tardio, como trigos que requerem
vernalização nas zonas mais quentes.
Mota & Goedert (1969) classificaram os genótipos de
trigo conforme segue:
- Grupo Superprecoce: IAS 49 - Pioneiro, Pel A-506-62, Pel A-509-64 e S
31.
- Grupo Precoce: B - 4, C - 17, Carazinho, Cotiporã (C3), Frontana, Giruá (S3), IAS 13 -
Passo Fundo, IAS 16 - Cruz Alta, IAS 20 - Iassul, IAS 22 - Tibagi, IAS 24, IAS 27 -
Itapeva, IAS 28 - Ijuí, IAS 29 - Nortista, IAS 3 - São Borja, IAS 30 - São Sepé, IAS
32 - Sudeste, IAS 36 - Jarau, IAS 41, IAS 43, Nova Prata (C 2), Pel 11319-61, Pel A
407-61, PF 11-1001-62, Prelúdio, S - 12, S 8 e Trapeano.
- Grupo Intermediário: IAS 50 Alvorada e IAS 51 Albatroz.
- Grupo Tardio: Camacrânia, Colônias, Fortaleza, IAS 14 - Contestado, IAS 39, IAS 8 -
Piratini, IAS C 45 - Vila Velha, IAS-C 46 - Curitiba, IAS-C 47 - Floresta, IAS-C 48 -
Guarapuava, Patriarca, PF 11-1000/62, PF 11-121/62, Toropi, Trintani e Trintecinco.
Os genótipos S-31, C-17, S-12, Pel A 407-61 e Pel 11319-61 foram caracterizadas por Mota & Goedert (1969) como integrantes de um grupo de
transição entre os trigos superprecoces e precoces.
Wendt (1982), com base em resultados de quatro anos de
experimentação (1978 a 1981) agrupou os genótipos de trigos sul-brasileiros em
superprecoce, precoce, semitardio e tardio; conforme segue:
- Grupo Superprecoce: Cep 74177, Cotrimaio, Cotrirosa, E 7414, IAS 58,
Pat 7219, Pel 74267, CEP 7596, IAC 5 Maringá e SB 75129. Os trigo CEP 7596, IAC 5
Maringá e SB 75129 podem ser considerados materiais de transição entre os grupos
superprecoce e precoce.
- Grupo Precoce: BR 1, BR 2, BR 5, Cep 745, CNT 1, CNT 7, CNT 9,
Cotiporã (C3), Coxilha, Frontana, Glória, IAS 54, IAS 55, Jacui, MR 74044,
Multiplicación, Nobre, Pat 7392, Pel 72393 e PF 75171.
- Grupo semitardio: CNT 8, Mascarenhas, Tifton, BR 7 e Pel 72390. Os
trigos BR 7 e Pel 72390 podem ser considerados materiais de transição entre os grupos
semitardio e precoce.
- Grupo tardio: BR 6, Encruzilhada, Hulha Negra, MR 74175, Pel 74142 e
Toropi.
Segundo Wendt (1982), independentemente do grupo em que foram
classificados os genótipos, a duração das fases de desenvolvimento diminuiu à medida
que os plantios foram retardados. Destacou também que a resposta ao frio depende mais da
cultivar do que propriamente do grupo bioclimático. Salientando, ainda, que os genótipos
do grupo precoce foram os mais responsivos às temperaturas baixas na fase vegetativa e
que os grupos semitardio e tardio são os que apresentaram as menores exigências em frio
na fase inicial.
A classificação proposta por Wendt (1982), em termos de
denominações dos grupos bioclimáticos, foi também usada por Cunha
et al. (1997) na caracterizaçào bioclimática de trigos nacionais e introduzidos. No
entanto, Cunha et al. (1997) usaram a classificação de
semitardio para agrupar os genótipos de ciclos mais longos (emergência-espigamento) e
que apresentaram uma maior resposta à vernalização, comparativamente aos representantes
do grupo precoce.
Com base nas curvas do Índice Heliotérmico de Geslin (IHG), subperíodo
emergência-espigamento, os genótipos de trigo foram enquadrados nos grupos
bioclimáticos superprecoce (SP), precoce (P), semitardio (ST) e tardio (T). As curvas de
IHG características dos grupos bioclimáticos SP, P, ST e T, tendo como padrões as
cultivares Sonora 64, BRS 119, Coker 762 e Toropi, respectivamente, podem ser vistas na Figura 1. Estas cultivares foram escolhidas como padrões por
apresentarem curvas de IHG similares às curvas das cultivares previamente definidas por Mota & Goedert (1969) e Wendt (1982)
como representativas desses grupos bioclimáticos. Mota &
Goedert (1969) usaram como cultivares tipo dos grupos bioclimáticos superprecoce,
precoce, intermediário e tardio, as seguintes: IAS 55 (Pel A-506-62), IAS 20-Iassul, IAS
50-Alvorada e Toropi (S-1). Por sua vez, Wendt (1982) utilizou
CEP 7596, Frontana, Mascarenhas e Hulha Negra, como padrões para os grupos bioclimáticos
superprecoce, precoce, semitardio e tardio, respectivamente.
Na Tabela 2 encontra-se o resultado da classificação dos
genótipos de trigo testados em cinco anos de experimentação, incluindo os resultados
previamente publicados por Cunha et al. (1997) e os dos
experimentos conduzidos para essa finalidade em 1999 e 2000, com o seu correspondente
enquadramento nos respectivos grupos bioclimáticos.
Alguns trigos classificados como SP/P (superprecoce/precoce), por exemplo o CEP 11 e o
Cotrirosa 3-78 podem ser considerados como integrantes de um grupo de transição, entre
SP e P, por apresentarem uma resposta mais acentuada à vernalização, nas épocas de
semeaduras tardias, em comparação com os demais integrantes do grupo SP.
Os trigos Embrapa 16, Embrapa 52 e BRS 176 embora enquadrados no grupo precoce (P), pela
sua maior exigência em frio, evidenciaram comportamento algo similar aos do grupo
semitardio (ST). Estes últimos, no entanto, são mais exigentes em frio, podendo, até
mesmo, não espigar ou apresentar um espigamento desuniforme em épocas de semeadura
tardias ou em regiões quentes, pela sua necessidade de vernalização. Por esta razão,
Embrapa 16, Embrapa 52 e BRS 176 podem, em alguns anos, dependendo da época de semeadura,
e em locais mais quentes, terem seu desenvolvimento limitado pelo não atendimento das
suas necessidades em vernalização. A limitação ao espigamento de alguns trigos por
falta de frio no sul do Brasil foi observada anteriormente por Westphalen
& Gandolfi (1983) e Cunha et al. (1994, 1998).
A diferença básica entre os genótipos do grupo Superprecoce (SP) e Precoce (P), está
na resposta à vernalização (mais evidenciadas pelo confronto das curvas de IHG com e
sem vernalização, ver Figura 1) dos que pelos valores de IHG
propriamente ou pela duração do subperíodo emergência-espigamento. O mesmo não ocorre
com os genótipos caracterizados como Tardios (T) e Semitardio/Tardio (ST/T), cuja
resposta principal se dá por efeito de fotoperíodo e não por vernalização, que
mostram-se perfeitamente discriminados em relação aos demais.
A cultivar Jacui foi classificada como Precoce, mesmo com um ciclo um pouco mais longo
que os trigos deste grupo, pois não se comportou como os representantes típicos do grupo
ST, classificados previamente por Cunha et al. (1997) por
apresentarem uma exigência maior em relação à vernalização, tipo o Coker 762 que
consta na Figura 1 como representante deste grupo, quando
comparados aos trigos brasileiros Precoces (P) típicos. E o cultivar Jacui, pelas curvas
de IHG, não apresentou resposta à vernalização artificial.
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