Embrapa Trigo Boletim de Pesquisa Online Nº 5, dez./2000

Resultados e Discussão

 
A caracterização bioclimática de trigos brasileiros começou com o estudo realizado por Pascale & Mota (1966), que enquadraram os trigos cultivados na época, no Rio Grande do Sul, em dois grupos bioclimáticos: semiprecoce e semitardio. Estas denominações, segundo os autores citados, foram escolhidas para evitar confusão com os trigos cultivados no Hemisfério Norte, os tipos de primavera e de inverno; uma vez que suas exigências bioclimáticas e a duração de ciclos são diferentes. Em outras palavras, os trigos cultivados tanto na Argentina como no Brasil, não seriam nem tão precoces e nem tão tardios: seriam semiprecoces e semitardios.
Pascale & Mota (1966) classificaram como trigos brasileiros semiprecoces, ordenados por precocidade decrescente: BH 546, Trapeano, Frontana, Prelúdio, Carazinho, IAS 13 e São Borja. Neste grupo, alguns cultivares mostraram certa exigência em vernalização para espigar, encurtando em até 5 dias o subperíodo emergência-espigamento, quando vernalizados. As variedades mais sensíveis à vernalização, em ordem decrescente foram: Carazinho, Prelúdio, IAS 13, Frontana, BH 546, Trapeano e São Borja; ainda que com pouca diferença entre elas. Também, os trigos deste grupo, mostraram-se indiferentes às variações de comprimento do dia (fotoperíodo). Resumindo, os trigos brasileiros do grupo semiprecoce apresentam ciclo curto, decorrente da resposta às temperaturas crescentes, indiferença ao comprimento do dia e requerem certa dose de frio nas primeiras etapas do seu desenvolvimento.
Os trigos incluídos no grupo semitardio por Pascale & Mota (1966) foram: IAS 14, Colônias, Trintecinco, H 40-33-23, Fortaleza, Piratini, Trintani e Camacrânia. Este ordenamento corresponde, em termos aproximados, a uma crescente exigência em comprimento do dia para espigar. Exceto para Trintani e Camacrânia que têm um comportamento algo diferente a este respeito, porém foram incluídos neste grupo por seguirem a modalidade geral dos trigos semitardios brasileiros.
Conforme Pascale & Mota (1966) o ordenamento de precocidade decrescente efetuado para os trigos semiprecoces foi mais evidente que o crescente de exigências em dias longos para os semitardios. Isto pode ser devido ao fato de não existir tanta semelhança bioclimática entre as cultivares semitardias, uma vez que cada uma tem certa particularidade, embora apresentem a mesma modalidade geral de comportamento. Este grupo apresentou uma maior heterogeneidade bioclimática, dificultando a escolha de um cultivar tipo. Em termos de necessidade de frio, embora em um nível inferior a dos trigos semiprecoces (reação à vernalização da ordem de 2 a 3 dias apenas), destacaram-se em ordem decrescente de resposta, H 40-33-23, Trintecinco, Colônias e Fortaleza. IAS 14 pode representar um cultivar de ligação com o grupo dos trigos semiprecoces e integrar um grupo intermediário, junto com São Borja e IAS 13, diferenciando-se destas por uma maior exigência no comprimento do dia para espigar e por uma menor necessidade de baixas temperaturas. Em síntese: os trigos semitardios brasileiros não requerem frio, reagem às temperaturas crescentes e exigem fotoperíodos relativamente longos.
Em um segundo trabalho sobre bioclimatologia de trigos brasileiros, Mota & Goedert (1969) classificaram os trigos cultivados no sul do país em superprecoce, precoce, intermediário e tardio. Conforme estes autores, as principais características destes grupos bioclimáticos são as seguintes:
  • Grupo Tardio: trigos de ciclo longo, exigem dias longos para espigar, não respodem à vernalização e reagem às temperaturas crescentes.
Posteriormente, Mota & Acosta (1974) complementaram a descrição dos grupos bioclimáticos intermediário e tardio, como trigos que requerem vernalização nas zonas mais quentes.
Mota & Goedert (1969) classificaram os genótipos de trigo conforme segue:
Os genótipos S-31, C-17, S-12, Pel A 407-61 e Pel 11319-61 foram caracterizadas por Mota & Goedert (1969) como integrantes de um grupo de transição entre os trigos superprecoces e precoces.
Wendt (1982), com base em resultados de quatro anos de experimentação (1978 a 1981) agrupou os genótipos de trigos sul-brasileiros em superprecoce, precoce, semitardio e tardio; conforme segue:
Segundo Wendt (1982), independentemente do grupo em que foram classificados os genótipos, a duração das fases de desenvolvimento diminuiu à medida que os plantios foram retardados. Destacou também que a resposta ao frio depende mais da cultivar do que propriamente do grupo bioclimático. Salientando, ainda, que os genótipos do grupo precoce foram os mais responsivos às temperaturas baixas na fase vegetativa e que os grupos semitardio e tardio são os que apresentaram as menores exigências em frio na fase inicial.
A classificação proposta por Wendt (1982), em termos de denominações dos grupos bioclimáticos, foi também usada por Cunha et al. (1997) na caracterizaçào bioclimática de trigos nacionais e introduzidos. No entanto, Cunha et al. (1997) usaram a classificação de semitardio para agrupar os genótipos de ciclos mais longos (emergência-espigamento) e que apresentaram uma maior resposta à vernalização, comparativamente aos representantes do grupo precoce.
Com base nas curvas do Índice Heliotérmico de Geslin (IHG), subperíodo emergência-espigamento, os genótipos de trigo foram enquadrados nos grupos bioclimáticos superprecoce (SP), precoce (P), semitardio (ST) e tardio (T). As curvas de IHG características dos grupos bioclimáticos SP, P, ST e T, tendo como padrões as cultivares Sonora 64, BRS 119, Coker 762 e Toropi, respectivamente, podem ser vistas na Figura 1. Estas cultivares foram escolhidas como padrões por apresentarem curvas de IHG similares às curvas das cultivares previamente definidas por Mota & Goedert (1969) e Wendt (1982) como representativas desses grupos bioclimáticos. Mota & Goedert (1969) usaram como cultivares tipo dos grupos bioclimáticos superprecoce, precoce, intermediário e tardio, as seguintes: IAS 55 (Pel A-506-62), IAS 20-Iassul, IAS 50-Alvorada e Toropi (S-1). Por sua vez, Wendt (1982) utilizou CEP 7596, Frontana, Mascarenhas e Hulha Negra, como padrões para os grupos bioclimáticos superprecoce, precoce, semitardio e tardio, respectivamente.
Na Tabela 2 encontra-se o resultado da classificação dos genótipos de trigo testados em cinco anos de experimentação, incluindo os resultados previamente publicados por Cunha et al. (1997) e os dos experimentos conduzidos para essa finalidade em 1999 e 2000, com o seu correspondente enquadramento nos respectivos grupos bioclimáticos.
Alguns trigos classificados como SP/P (superprecoce/precoce), por exemplo o CEP 11 e o Cotrirosa 3-78 podem ser considerados como integrantes de um grupo de transição, entre SP e P, por apresentarem uma resposta mais acentuada à vernalização, nas épocas de semeaduras tardias, em comparação com os demais integrantes do grupo SP.
Os trigos Embrapa 16, Embrapa 52 e BRS 176 embora enquadrados no grupo precoce (P), pela sua maior exigência em frio, evidenciaram comportamento algo similar aos do grupo semitardio (ST). Estes últimos, no entanto, são mais exigentes em frio, podendo, até mesmo, não espigar ou apresentar um espigamento desuniforme em épocas de semeadura tardias ou em regiões quentes, pela sua necessidade de vernalização. Por esta razão, Embrapa 16, Embrapa 52 e BRS 176 podem, em alguns anos, dependendo da época de semeadura, e em locais mais quentes, terem seu desenvolvimento limitado pelo não atendimento das suas necessidades em vernalização. A limitação ao espigamento de alguns trigos por falta de frio no sul do Brasil foi observada anteriormente por Westphalen & Gandolfi (1983) e Cunha et al. (1994, 1998).
A diferença básica entre os genótipos do grupo Superprecoce (SP) e Precoce (P), está na resposta à vernalização (mais evidenciadas pelo confronto das curvas de IHG com e sem vernalização, ver Figura 1) dos que pelos valores de IHG propriamente ou pela duração do subperíodo emergência-espigamento. O mesmo não ocorre com os genótipos caracterizados como Tardios (T) e Semitardio/Tardio (ST/T), cuja resposta principal se dá por efeito de fotoperíodo e não por vernalização, que mostram-se perfeitamente discriminados em relação aos demais.
A cultivar Jacui foi classificada como Precoce, mesmo com um ciclo um pouco mais longo que os trigos deste grupo, pois não se comportou como os representantes típicos do grupo ST, classificados previamente por Cunha et al. (1997) por apresentarem uma exigência maior em relação à vernalização, tipo o Coker 762 que consta na Figura 1 como representante deste grupo, quando comparados aos trigos brasileiros Precoces (P) típicos. E o cultivar Jacui, pelas curvas de IHG, não apresentou resposta à vernalização artificial.
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