Embrapa Trigo Boletim de Pesquisa Online Nº 3, out./2000

Resultados e Discussão

        Os resumos da análise estatística de estimativa de ETm de alfafa, nos níveis de representatividade temporal diário, qüinqüidial, decendial e mensal, encontram-se nas Tabelas 3, 4, 5 e 6, respectivamente. Nessas tabelas, os métodos são apresentados em ordem decrescente de eficiência, em virtude do erro padrão de estimativa de ETm não ajustada por regressão (SEE).
        A amplitude para SEE, obtida pela diferença entre os métodos de pior e melhor desempenho, foi de 0,56 mm/dia, 0,79 mm/dia, 0,96 mm/dia e 1,23 mm/dia, nos níveis de representatividade temporal diário, qüinqüidial, decendial e mensal, respectivamente.
        O ajuste por meio de modelos de regressão linear, com intercepto e passando pela origem, resultou em menores valores de erro padrão de estimativa de ETm ajustada (ASEE) ("adjusted error of estimate"), quando comparados com o erro padrão de estimativa de ETm não ajustada (SEE). Os modelos com intecepto foram melhores estimadores de ETm, apresentando menores valores para ASEE e maiores para o coeficiente de determinação (r2), implicando amplitudes para ASEE e diferenças, entre os métodos de pior e de melhor desempenho, de 0,17 mm/dia, 0,09 mm/dia, 0,12 mm/dia e 0,12 mm/dia, para os níveis de representatividade temporal diário, qüinqüidial, decendial e mensal, respectivamente.
        Os diagramas de dispersão de pontos, relacionando ETm de alfafa e a evapotranspiração obtida pelos diferentes métodos, em nível diário, qüinqüidial, decendial e mensal, são apresentados nas Figuras 1, 2, 3 e 4, seguindo-se a ordenação dos métodos das Tabelas 3, 4, 5 e 6.
        A partir dos resultados apresentados nas Tabelas 3, 4, 5 e 6, verifica-se que, com o aumento da representatividade temporal das estimativas, do nível diário para o nível mensal, há uma redução na magnitude dos erros padrões de estimativa (SEE e ASEE), bem como maior discriminação entre os métodos quanto ao desempenho, evidenciada pela maior amplitude de variação de SEE entre os métodos de melhor e pior desempenho. De acordo com Allen et al. (1989), esse comportamento deve-se ao fato de que, em nível diário, há maior número de combinações extremas de elementos meteorológicos, quando comparado com os demais períodos, cuja variabilidade vai sendo reduzida nas médias em intervalos de tempo cada vez maiores.
        Confrontando-se as Figuras 1, 2, 3 e 4, percebe-se o efeito da redução de variabilidade das combinações de elementos meteorológicos sobre a concordância das estimativas de ETm com os valores observados. Passando-se do nível diário para o nível qüinqüidial e, sucessivamente, para os níveis decendial e mensal, observa-se menor dispersão de pontos em torno da linha 1:1, indicando maior concordância entre as estimativas e as medições lisimétricas. Esse aspecto é corroborado pelos modelos lineares ajustados, que apresentam maiores coeficientes de determinação (r2) para a maior representatividade temporal (mensal).
        O ajuste por meio de modelos lineares, particularmente o modelo com intercepto, que foi melhor estimador do que o modelo que passa pela origem, evidenciou que a remoção das tendências lineares de sub ou superestimativa aperfeiçoam as estimativas de ETm, resultando em menores valores de ASEE, bem como aproximam o desempenho dos métodos de estimativa, pois a amplitude de variação de ASEE entre os métodos de melhor e pior desempenho, em todos os níveis de representatividade temporal testados, foi igual ou inferior a 0,17 mm/dia.
        Considerando-se a estimativa de ETm não ajustada pelos modelos lineares, observa-se que, nos métodos que necessitam de informação do saldo de radiação (Rn), o desempenho foi superior nas variantes que contemplaram Rn estimado para a superfície de alfafa (Rna) (Tabelas 3, 4, 5 e 6). Esse fato demonstra a importância das características da superfície da cultura nas trocas de energia radiante, obtendo-se melhores informações quando empregam-se modelos de estimativa de saldo de radiação específicos para a cultura em questão, em vez de modelos genéricos, geralmente calibrados para superfície gramada, conforme foi salientado anteriormente por Fontana (1987) e por Cunha (1988).
        A estimativa de ETm de alfafa em nível diário, independente de a estimativa ser ou não ajustada pelos modelos lineares, em decorrência dos valores relativamente altos de SEE e de ASEE e baixos de r2, implica alto grau de incerteza, particularmente em condições de baixa demanda evaporativa (inferior a 2,31 mm/dia), quando a magnitude do erro de estimativa pode ser equivalente ao valor da evapotranspiração objeto de estimativa ou mesmo superá-lo.
        A baixa eficiência dos métodos na estimativa de ETm de alfafa em nível diário pode ser atribuída às pressuposições simplificadoras subjacentes às metodologias, que não permitem que se contemplem todas as condições meteorológicas e suas variações durante o intervalo de um dia.
        Uma fonte importante de variabilidade nas estimativas de ETm de alfafa em nível diário diz respeito ao desenvolvimento da cultura, particularmente no período de primavera-verão, em que, após os cortes, a ETm medida no lisímetro caiu a valores bem aquém dos imediatamente anteriores aos mesmos, em virtude da baixa área foliar residual e da pouca cobertura do solo pelas plantas. Tendo em vista o rápido rebrote de alfafa no período de primavera-verão, essa fonte de variabilidade é atenuada à medida que se consideram os valores médios em intervalos de tempo crescentes.
        Com relação às variantes testadas do método combinado, pode-se considerar como limitante a própria pressuposição de Penman (1948) da não existência de gradiente vertical de temperatura e, conseqüentemente, de pressão de saturação d’água no ar, a fim de se usarem variáveis obtidas em um só nível. Além disso, salienta-se a não universalidade da função empírica do vento, que foi derivada originalmente para uma superfície livre da água e aqui usada para alfafa, podendo ser influenciada pela rugosidade da superfície ou mesmo alterada na magnitude e na forma, segundo Cuenca e Nicholson (1982), pelo próprio método de se computar o déficit de saturação de vapor d’água no ar.
        A evapotranspiração de equilíbrio, função da temperatura do ar que determina a razão [(s/(s + g )] e do saldo de radiação, contempla a condição de evapotranspiração mínima, isto é, quando (es - e) é igual a zero. Para um sistema cultivado, essa condição deve ocorrer em determinados instantes do dia apenas e/ou em condições de alta umidade no ar, não refletindo a realidade do ambiente físico da cultura na maior parte do tempo. Nem mesmo o ajuste de um fator de proporcionalidade empírico, nos moldes da proposição de Priestley e Taylor (1972), possibilitou que essa metodologia fosse eficiente nas estimativas em nível diário.
        Quanto ao método da radiação/FAO, embora empiricamente envolva aspectos de efeito do vento, por não ter um embasamento físico no âmbito do método combinado, não se poderia esperar que tivesse eficiência em estimativas para intervalos de tempo da ordem de um dia.
        Com relação às estimativas baseadas em evaporação de uma superfície de água livremente exposta, embora esta seja boa integradora da ação dos elementos meteorológicos que determinem a evapotranspiração de culturas, aspectos relacionados com a plena disponibilidade de água, com diferenças aerodinâmicas e com a falta de resposta biológica impedem a concordância de respostas a curto prazo. No entanto, por efeitos compensatórios, em intervalos superiores a um dia, talvez possa ser um bom estimador.
        Com relação ao método de Penman modificado pela FAO (Penman/FAO), que apresentou o pior desempenho em todos os níveis de representatividade temporal testados, pode-se atribuir tal comportamento ao grau de empirismo associado ao fator de correção "c". Um fraco desempenho desse método como estimador da evapotranspiração de alfafa também foi observado por Allen et al. (1989).
        Pelo exposto, infere-se que o grau de incerteza de uma estimativa de ETm de alfafa está atrelado à representavidade temporal da avaliação e à magnitude do valor real de ETm, determinada pela demanda evaporativa da atmosfera, sendo as estimativas para situações de baixa demanda e em intervalos de tempo de um dia caracterizados por alta incerteza.


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