Embrapa Trigo Boletim de Pesquisa Online Nº 2, dez./99

Introdução

O Ministério da Agricultura e do Abastecimento implementou o Programa de Zoneamento Agrícola para dar subsídio operacional às políticas de crédito e de securidade agrícola no Brasil, a partir da safra de inverno de 1996. Assim sendo, efetivamente começou com o desenvolvimento de trabalhos de zoneamento de riscos climáticos para a cultura de trigo no Sul do país.

Os zoneamentos de riscos climáticos são sistemas de suporte à tomada de decisões que definem, a partir da escolha da cultura e da cultivar, o nível de riscos de natureza climática para cada época de semeadura, em dado local.

A variabilidade climática - espacial e temporal - é um dos principais determinantes de incertezas na atividade agrícola. Neste particular, a cultura de trigo, apesar de sua adaptação a regiões climaticamente muito diferentes em nível mundial (Pascale, 1974), tem seu rendimento afetado, tanto em quantidade como em qualidade, por variações meteorológicas durante o período de cultivo.

No Brasil, como adversidades climáticas para a cultura de trigo, citam-se desde geadas, elevada umidade relativa do ar e excesso de chuvas na colheita, a situações opostas, como elevada temperatura do ar e ocorrência de deficiência hídrica, dependendo da região (Mota, 1989).

Em termos de riscos climáticos para a cultura de trigo no Sul do Brasil, destacam-se como principais a ocorrência de geada, em particular na floração (antese), e o excesso de chuva por ocasião da colheita. Segundo Scheeren (1982), a geada causa queima de folhas e estrangulamento de colmos e, atingindo os primórdios florais, impede a formação de grãos. Por sua vez, excesso de chuvas no período de maturação e de colheita, além de diminuir o rendimento (Luz, 1982), afeta negativamente as características de qualidade dos grãos (Guarienti, 1993 e Mandarino, 1993).

Danos por geada em trigo no Brasil foram amplamente discutidos por Wendt & Teixeira (1989), especificamente quando ocorrem por ocasião do espigamento. Esses autores destacaram que temperaturas menores ou iguais a - 3,0 °C podem ser letais à espiga de trigo. Também salientam que, abaixo de -2,0 °C, embora não necessariamente haja dano nos tecidos vegetativos, essa temperatura é letal aos órgãos reprodutivos.

Prejuízos à cultura de trigo, particularmente qualitativos, são determinados por excesso de chuva no período de colheita. Belderok (1968) e Schrödter & Grahl (1974) destacam o risco de germinação na espiga em trigo, decorrente de chuvas no período de colheita, desde que tenha havido quebra de dormência, por efeitos térmicos, durante a fase de enchimento de grãos.

Atualmente, o desenvolvimento alcançado na área da informática aplicada à agricultura e no conhecimento da fisiologia da produção tem proporcionado o surgimento de modelos de simulação de crescimento e desenvolvimento de culturas que se destacam pelo potencial de ligação a sistemas de suporte à tomada de decisões na agricultura e possibilitam definir riscos e conseqüências entre alternativas. Um exemplo, amplamente citado sobre a aplicação do enfoque sistêmico na pesquisa agropecuária, via técnicas de modelagem e simulação, tem sido o projeto IBSNAT (Uehara & Tsuji, 1998), que resultou no desenvolvimento do sistema DSSAT (Decision Support System for Agrotechnology Transfer), descrito em Jones et al. (1998). O potencial desse tipo de ferramenta na indicação de práticas de manejo de culturas que reduzam riscos para níveis considerados aceitáveis é destacado e exemplificado por Jame & Cutforth (1996).

O desenvolvimento de sistemas de suporte à tomada de decisões na agricultura, via aplicativos para microcomputadores pessoais, envolvendo clima, pode ser encontrado nos programas ClimProb (Meyer et al., 1996), TACT (Abrecht & Robinsosn, 1996), SELECT (Lauer, 1995) e ZonTrigo (Cunha et al., 1998), entre outros.

Para o Rio Grande do Sul, em termos de trabalhos de zoneamento agroclimático para a cultura de trigo, destacam-se o de Mota et al. (1968), particularizado à região do Planalto Rio-grandense, e o de Mota et al. (1974), para todo o estado. Esses estudos definem a aptidão para a cultura de trigo sem especificar quantitativamente os níveis de risco à triticultura gaúcha, conforme a época de semeadura escolhida.

Desde 1996, a Comissão Sul-brasileira de Pesquisa de Trigo tem referendado, como recomendação de épocas de semeadura para trigo no Rio Grande do Sul, as atualizações anuais do zoneamento agrícola publicadas pelo Ministério da Agricultura e do Abastecimento.

Este trabalho define, para cada município do RS, o período de semeadura de menor risco de natureza climática, especificamente com relação à ocorrência de geada no período de floração e de excesso de chuva no período de colheita.


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