Dezembro, 2007
85
Passo Fundo, RS
Citogenética vegetal: da era clássica à molecular
Sandra Patussi Brammer1
Maira Zanotto2
Andréia Caverzan3
Histórico da Citogenética

As primeiras atividades envolvendo a citologia datam de 1591-1608 em que Sachariassen e Jansen desenvolveram o primeiro microscópio composto (aumento de 10 vezes). Contudo, o marco inicial foi quando em 1663 Hooke, matemático e microscopista, estudando cortiça em microscópio com aumento de apenas 100 a 200 vezes, observou que esta era constituída por inúmeras pequenas caixas que chamou de células. Seguiram-se dois séculos de observações e experimentações para que fosse formulada a Teoria Celular, ou seja: “a célula é a unidade da organização biológica; todos os seres vivos são constituídos por células, as menores unidades capazes de vida independente”. Muitos anos posteriores de pesquisa foram necessários para o conhecimento exato dos mecanismos celulares e a compreensão da hereditariedade.

Desde a época de Mendel, a Citologia e a Genética passaram a colocar seus conhecimentos numa área comum, mais tarde denominada citogenética. A partir disso, a citogenética expandiu-se enormemente, se inserindo em vários outros campos da Biologia, como a Taxonomia, a Bioquímica, a Medicina Clínica e o Melhoramento Animal e Vegetal (Guerra, 1988). Além do mencionado, as observações sobre o comportamento dos cromossomos na mitose, meiose e fertilização, principalmente na Alemanha, no período de 1870 a 1890, forneceram um quadro geral quanto à transmissão, de geração à geração, das estruturas fundamentais responsáveis pela herança.

Sendo a citogenética o estudo da genética por meio da citologia, esta área da ciência engloba todo e qualquer estudo relacionado com o cromossomo, isolado ou em conjunto, condensado ou distendido, tanto no que diz respeito à sua morfologia, organização, função e replicação, quanto à sua variação e evolução. É uma das fontes geradoras de questionamentos que impulsionaram a genética molecular, embasando a tecnologia de ponta, como a biotecnologia e a engenharia genética, permanecendo junto às mesmas, como um dos recursos de avaliação em várias pesquisas dessa natureza (Sacchet, 1999). A citogenética clássica desenvolveu-se principalmente a partir do início do século passado e seu crescente progresso acompanhou o aprimoramento de técnicas e equipamentos de microscopia.

A análise cromossômica sempre foi um dos campos estimulantes da Citologia e da Genética, tendo relação entre estudos taxonômicos e evolutivos, bem como no melhoramento genético e na caracterização de germoplasma. Apesar da revolução provocada pela Genética Molecular, a análise cromossômica continua sendo a única maneira de observar o genoma de um eucarioto na forma de blocos individualizados de material genético, fáceis de serem mensurados, diferenciados em sub-unidades e manipulados de diferentes formas, pois de nenhuma outra forma o material genético é tão claramente observado.

Com a introdução das técnicas moleculares, os então chamados “corpos corados” da Citologia estão cada vez mais “brilhantemente corados”, em cores e pseudo-cores das mais variadas. A obtenção de bons resultados depende do perfeito domínio de diferentes técnicas de coloração. Sendo assim, a citogenética reúne informações obtidas sobre o material genético, estampada em uma simples foto, a uma estética própria da área, capaz de impressionar iniciantes e profissionais experientes (Guerra & Souza, 2002).

Na citogenética molecular, a análise cromossômica tem sido de grande importância para o entendimento da evolução, genética e estabilidade cariotípica dos materiais estudados. Por muito tempo, a caracterização cromossômica foi baseada especialmente em parâmetros morfológicos, como o tamanho dos braços, posição dos centrômeros e localização das constrições secundárias. Com a implantação de técnicas de bandeamento, que permitem a visualização de blocos de coloração diferenciada (bandas), a caracterização cromossômica foi melhorada significativamente (Brasileiro-Vidal & Guerra, 2002).


1 Pesquisadora Embrapa Trigo, caixa postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo RS, sandra@cnpt.embrapa.br. Núcleo de Biotecnologia Aplicada a Cereais de Inverno - Área de Citogenética e Genética Molecular.
2 Bióloga – Universidade de Passo Fundo, UPF
3 Bióloga, UPF. Mestranda em Biologia Celular e Molecular, Centro de Biotecnologia da UFRGS.

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