Dezembro, 2006
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Passo Fundo, RS
Avaliação de giberela em genótipos de trigo do Ensaio Estadual de Cultivares, na região do Planalto Médio do Rio Grande do Sul, em 2005
Maria Imaculada Pontes Moreira Lima1
Márcio Só e Silva1
Eduardo Caierão1
Pedro Luiz Scheeren1
Leo de Jesus Antunes Del Duca2
Alfredo do Nascimento Junior1
João Leonardo Pires1

A giberela, conhecida também por fusariose, é causada principalmente pelo fungo Fusarium graminearum Schwabe [teleomorfa Gibberella zeae (Schwein.) Petch]. Afeta espigas de cereais de inverno como trigo (Triticum aestivum L.) provocando perdas em rendimento e em qualidade de grãos, devido à produção de micotoxinas. Os sintomas característicos são espiguetas despigmentadas, de coloração esbranquiçada que contrastam com a coloração verde normal das espiguetas sadias. Os grãos afetados são chochos, enrugados e de coloração branco-rosada a pardo-clara (Reis, 1988; Parry et al., 1995). Precipitação pluvial de, no mínimo, 48 horas consecutivas e temperatura entre 20 e 25 °C são favoráveis à doença. A ocorrência de giberela é comum na região sul do Brasil, caracterizada por eventos de chuva freqüentes. As espigas de trigo podem ser afetadas a partir do estádio de espigamento (Lima, 2003; Reunião, 2005). Lima et al. (2002) relataram grande efeito da interação genótipo x ambiente em relação à giberela em trigo.

O objetivo desse trabalho foi avaliar o nível de ocorrência de giberela nos genótipos de trigo componentes do Ensaio Estadual de Cultivares (EEC), na região do Planalto Médio do Rio Grande do Sul, em duas épocas de semeadura, em 2005.

O Ensaio Estadual de Cultivares foi instalado na região do Planalto Médio do Rio Grande do Sul, na área experimental da Embrapa Trigo, no município de Coxilha, em 2005, constituindo-se de 37 cultivares de trigo (Tabela 1). O delineamento experimental foi de blocos ao acaso com quatro repetições, semeadas em duas épocas, sendo a primeira época em 08/06/2005 e a segunda, em 25/06/2005. As parcelas foram compostas de cinco fileiras de 5 m de comprimento, sendo o espaçamento entre fileiras de 20 cm. Seguiram-se as indicações técnicas para a cultura de trigo em 2005 (Reunião, 2005), exceto quanto à realização de controle químico de doenças na quarta repetição do ensaio. Registrou-se a data em que cada cultivar atingiu 50% do espigamento pois, sob condições climáticas favoráveis, gibrerela pode ocorrer a partir do espigamento. Para a avaliação de giberela, foram amostradas as parcelas da repetição do ensaio que não receberam tratamento químico para controle de doenças. Coletaram-se 100 espigas nos estádios 11.2 e 11.4 da escala de Feekes & Large (Large, 1954), denominadas “Espigas Verdes” e “Espigas Secas”, respectivamente, conforme metodologia descrita por Lima et al. (1999), nas linhas externas da parcela. Foram determinadas a incidência e a severidade da doença em espigas verdes e a porcentagem de grãos com sintomas causados por giberela (grãos GB) em espigas secas. A severidade foi determinada visualmente conforme escala de Stack & McMullen (1995) e a porcentagem de grãos GB, em amostra de mil grãos. Calculou-se o índice de doença (ID) multiplicando-se a incidência pela severidade e dividindo-se o resultado por 100.

Os resultados são mostrados na Tabela 1. Na primeira época, os valores de ID variaram de 1,78 (Jaspe) a 26,47 (CDFAPA 116) e o GB, de 5,2% (Ônix) a 42,9% (CD 103). Na segunda época, registrou-se, na cultivar BRS 194, o maior valor de ID (54,01) e, em Fundacep 46 Nova Era, o menor (4,72) enquanto que o percentual de grãos GB variou de 7,2 (Pampeano) a 42,6% (CD 111). Os IDs com valores inferiores não necessariamente são devidos à resistência genética da cultivar, sendo, geralmente, atribuídos ao escape da doença (condições climáticas desfavoráveis). Na primeira época de semeadura, 75,7% das cultivares apresentaram 50% de espigamento entre os dias nove e 19/09. Nesse período, não ocorreu precipitação pluvial favorável à doença. Na segunda época, 100% dos genótipos apresentaram 50% de espigamento entre os dias 28/09 a 13/10. Nesse período, a precipitação pluvial foi favorável à giberela, assim como nos quatro dias consecutivos (Fig.1). Considerando-se a diferença entre os valores de ID da primeira e segunda épocas de semeadura, apenas Fundacep 46 Nova Era apresentou maior ID na primeira época. As cultivares BRS 194 (-43,91), CD 105 (-32,17), CD 111 (-30,38) e Ônix (-30,68), apresentaram as maiores diferenças de ID entre as épocas de semeadura. As cultivares BRS 177 (-3,45), BRS Canela (-4,64), BRS Umbu (-5,44), CD 115 (-4,02), Fundacep 47 (-3,00), Fundacep 50 (-5,45), Fundacep 51 (-4,76) e Fundacep 52 (-3,86) apresentaram as menores diferenças.

Os maiores valores médios de ID foram observados nos genótipos BR 23 (31,09), BRS 194 (32,06), BRS Guabiju (28,78), CD 105 (30,80), CD 111 (28,20) e CDFAPA 116 (32,98). A cultivar Fundacep 50 (4,90) apresentou o menor valor médio de ID. Na segunda época de semeadura, o valor médio do ID (23,48) e o valor médio da percentagem de grãos GB (17,3%) foram superiores ao da primeira (9,02 e 14,7%, respectivamente), demonstrando ocorrência de maior intensidade de giberela na segunda época de semeadura, na qual as cultivares BRS Angico (30,2%), BRS Camboatá (32,6%), CD 105 (32,3%) e CD 111 (42,6%), foram as mais afetadas por giberela, em relação à percentagem de grãos com sintomas.

Considerando-se as condições climáticas do ano e o local de instalação dos experimentos conclui-se que:

- a ocorrência de giberela foi registrada em todas as cultivares de trigo, no Ensaio Estadual de Cultivares em 2005;
- a época de semeadura influenciou a intensidade de ocorrência de giberela;
- a ocorrência de giberela foi mais intensa na segunda época de semeadura;
- houve diferença entre cultivares para ID e GB, em valores absolutos.


1 Pesquisador da Embrapa Trigo. Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS. E-mail: imac@cnpt.embrapa.br; soesilva@cnpt.embrapa.br; caierao@cnpt.embrapa.br; scheeren@cnpt.embrapa.br; alfredo@cnpt.embrapa.br; pires@cnpt.embrapa.br
2 Pesquisador da Embrapa Trigo, aposentado.

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