Embrapa Trigo

Setembro, 2006
Passo Fundo, RS

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Competição pelos recursos

A água é um recurso simples, escasso em quase todas as regiões, e a presença de espécies daninhas altamente eficientes no seu uso a torna fator limitante de produção na maioria das regiões (Griffin et al., 1989).

A umidade do solo afeta a intensidade da competição e os efeitos sobre a cultura de soja, pois as espécies daninhas apresentam comportamento competitivo diferente quando ocorre variação no nível de umidade. Os danos de Xanthium strumarium (carrapichão) e Sorghum halepense (sorgo de alepo) sobre a cultura de soja são maiores em condições de baixa umidade (Griffin et al., 1989). O Xanthium strumarium reduziu a produção de soja em 29%, em condições de baixa umidade, e reduziu em 12%, em condições de elevada umidade (Mortensem e Coble, 1989). Isso demonstra que a capacidade competitiva dessa espécie é aumentada em condições de baixa umidade, o que é atribuído à maior eficiência no uso e na absorção da água (Mortensem e Coble, 1989), sendo também observado para Amaranthus retroflexus (Legere e Schreiber, 1989). Por outro lado, as plantas daninhas Ambrosia artemisiifolia L. e Ipomoea hederacea apresentam maior dano à cultura de soja em condições de elevada umidade (Griffin et al., 1989; Mosier e Oliver, 1995).

A falta de água limita o crescimento da planta e também reduz a eficiência fotossintética pelo fechamento dos estômatos, fazendo com que a produtividade seja reduzida.

A eficiência de uso da água é de grande importância em situações de deficiência. Certas espécies de plantas são capazes de usar menos água por unidade de matéria seca produzida do que outras, ou seja, apresentam maior eficiência no uso de água. Nesse sentido, a planta de milho, por apresentar rota fotossintética C4 (mais eficiente no uso de água), leva vantagem sobre aquelas com rota fotossintética C3 (menos eficientes no uso de água), mas não sobre aquelas espécies que possuem igual rota fotossintética, como é o caso das plantas daninhas tiririca (Cyperus rotundus), capim-carrapicho (Cenchrus echinatus), grama-seda (Cynodon dactylon), capim-marmelada (Brachiaria plantaginea), capim-colchão (Digitaria horizontalis), caruru (Amaranthus retroflexus) entre outras.

Dessa forma, a competição por água entre a cultura econômica e as plantas daninhas pode causar significativa redução do rendimento de soja, principalmente quando as plantas daninhas existentes na área possuem elevada agressividade na competição por esse recurso, como é o caso das espécies anteriormente citadas. Para controlar adequadamente as espécies daninhas é necessário conhecer o comportamento de cada espécie em cada nível de umidade de solo, pois uma espécie que não causa danos em situação de elevada umidade, pode ser altamente prejudicial em condições de baixa umidade.

A competição por nutrientes é outro fator importante, pois algumas plantas daninhas são mais eficientes do que soja na absorção desses elementos. Nesse tipo de competição devem-se levar em consideração a eficiência e o potencial de absorção, uma vez que algumas plantas daninhas podem ser altamente eficientes em absorver nutrientes, entretanto, devido ao seu pequeno tamanho, a quantidade total absorvida não é significativa (Van Acker et al., 1993).

O uso da adubação para superar a competição por nutrientes pode ser eficiente em alguns casos e agravar o problema em outros. As adubações pesadas aumentam o crescimento, tanto de plantas daninhas quanto da cultura econômica. Na verdade, em alguns casos a competição estará se intensificando e a espécie mais capaz irá sobressair-se (Fleck, 1992). Na maioria dos casos, as plantas daninhas beneficiam-se mais das adubações do que as espécies cultivadas, por absorverem os nutrientes com maior eficiência e em maior quantidade. Assim, a adubação pode estimular o maior crescimento de plantas daninhas, reduzindo ainda mais a produtividade da cultura econômica. Entretanto, em casos em que a cultura apresenta maior absorção de nutrientes, a adubação proporcionará maior benefício a esta. Dessa forma, essa prática poderá ser eficiente, como no caso de competição entre soja e a planta daninha Sesbania exaltata, na qual a aplicação de nitrogênio favorece mais a cultura de soja do que a planta daninha (King & Purcell, 1997). Portanto, antes de usar adubação deve-se ter conhecimento do efeito desta sobre a capacidade competitiva da população de plantas daninhas existentes na área.

A competição por luz é outro fator que pode afetar grandemente a produtividade de soja. As plantas necessitam de luz em quantidade suficiente para realizar fotossíntese. A habilidade competitiva da planta por luz depende da sua capacidade de assimilar C02 e utilizá-lo na fotossíntese, aumentando a área foliar e/ou o tamanho (Black et al., 1969). Na competição por luz, espécies como Abutilon theophrasti, Datura stramonium, Senna obtusifolia e Ipomoea spp levam vantagem por posicionarem suas folhas acima das folhas de soja. Já o Xanthium strumarium possui maior capacidade de realizar fotossíntese acima e abaixo do dossel, apresentando elevada capacidade de provocar redução do rendimento de soja, podendo reduzir em até 80% em casos extremos (Regnier & Stoller, 1989). Além disso, a maioria dessas plantas possui rota fotossintética C4 e, assim, têm ponto de compensação luminoso elevado, que lhe confere ampla adaptabilidade às condições tropicais. O Xanthium strumarium possui elevada capacidade de dano devido a fatores como alelopatia, elevada capacidade de absorver água e nutrientes e elevada capacidade competitiva por luz e espaço (Regnier & Stoller, 1989). A falta de luz, provocada pelo sombreamento de plantas daninhas que crescem mais que a cultura de soja, diminui a produção de fotoassimilados e em conseqüência disto, ocorre redução do crescimento da cultura afetando o número de flores e vagens, diminuindo a produção (Legere & Schreiber, 1989).

A cultura de soja apresenta elevada cobertura de solo, assim, as plantas daninhas que se desenvolvem entre suas fileiras recebem menor quantidade de luz e crescem menos, do que em culturas com baixa cobertura de solo, como milho. No manejo de plantas daninhas deve-se explorar ao máximo a capacidade competitiva da cultura sobre as plantas daninhas. Desse modo, as práticas culturais devem favorecer sempre a cultura. O aumento do número de plantas por área e a distribuição adequada dessas no terreno podem proporcionar maior cobertura do solo e, portanto, maior sucesso na competição com plantas daninhas.

O espaçamento entre as linhas da cultura econômica merece grande atenção, pois quanto menor o espaçamento adotado, menor será o tempo necessário para que a cultura cubra a superfície do solo, reduzindo o espaço e sombreando as plantas daninhas. A adoção de menor espaçamento significa melhor distribuição das plantas no terreno, maior aproveitamento do espaço e da luz do sol e maior sombreamento, evitando novos fluxos germinativos de plantas daninhas. O espaçamento entre linhas recomendado para soja é de 35 a 50 cm, mantendo-se o número de plantas por área recomendado. O uso de espaçamento menor aumenta a capacidade competitiva de soja sobre as plantas daninhas devido à melhor distribuição do sistema radicular e à rápida cobertura do solo, provocando sombreamento das plantas daninhas (Legere & Schreiber, 1989).

A competição por água, nutrientes e luz é difícil de ser separada, já que esses estão interligados, pois a deficiência em um desses recursos afeta a capacidade competitiva da planta pelos demais (Fleck, 1992).

A capacidade competitiva da cultura de soja é uma característica que deve ser explorada para auxiliar o controle de plantas daninhas. A escolha de cultivares de estabelecimento rápido e uniforme de plântulas e crescimento vegetativo vigoroso, para obter cobertura do terreno em curto espaço de tempo, é de grande importância para reduzir os efeitos da competição das espécies daninhas sobre a cultura econômica. Para obter uma lavoura uniforme e com rápido estabelecimento, deve-se escolher cultivares adaptadas para a região, usar número de plantas adequado por área, com ampla distribuição (reduzir, de acordo com as possibilidades, ao máximo o espaçamento entre fileiras), o solo deve ser fértil e a nutrição adequada.

As plantas que emergem e se estabelecem primeiro em uma área tendem a levar vantagem em situação de competição. Desse modo, devemos adotar todas as práticas possíveis para que a espécie cultivada obtenha essa vantagem sobre as plantas daninhas.

Portanto, fica claro que a redução do rendimento de soja devido à competição é dependente da espécie daninha, do número de espécies de plantas daninhas existentes na área, da densidade dessas plantas, do tempo de competição e das condições climáticas, principalmente chuva e temperatura, sendo que o controle deve ser feito levando em consideração todos esses fatores.


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