Embrapa Trigo

Dezembro, 2005
Passo Fundo, RS

51

Resultados e discussão

O presente estudo obteve dados referentes a 527.881 hectares de trigo, semeados por 12.799 produtores tecnicamente assistidos, distribuídos em 135 municípios pertencentes a nove zonas tritícolas do estado do Paraná (Figura 1) (Iapar, 2002). A região tritícola B, com 122.501 hectares incluídos no levantamento, foi a que teve a maior contribuição em área levantada (Tabela 1).

A produtividade média das lavouras de trigo variou entre 2.036 e 2.900 kg/ha nas zonas tritícolas avaliadas e foi de 2.401 kg/ha na área total abrangida pelo levantamento (Tabela 1). As maiores médias de produtividade foram obtidas nas zonas tritícolas H e G, com 2.900 e 2.825 kg/ha, respectivamente, e a menor, na zona C, com 2.036 kg/ha.

As informações obtidas sobre o tipo de preparo do solo ou sistema de plantio utilizado nas culturas que antecederam trigo abrangeram 491.243 hectares, o que corresponde a 93,1% da área total levantada (Tabela 2). Na área com informação, a semeadura direta sobre palha predominou, como método de manejo nas culturas, em 94,1% da área. Com exceção da zona tritícola A1, em que a utilização desta tecnologia ocorreu em apenas 69,9% da área, nas demais regiões o uso abrangeu de 89,5 a 98,0% da área. As regiões A1, E e D foram as que apresentaram os maiores percentuais de área com plantio convencional, respectivamente, 20,6%, 6,3% e 5,4% da área. O cultivo mínimo, por sua vez, teve alguma expressão nas regiões A1, A2 e D, com utilização em 9,5%, 5,6% e 5,1% da área, respectivamente.

Na cultura de trigo, obteve-se informação sobre o tipo de preparo de solo ou sistema de plantio utilizado em 506.230 hectares, equivalente a 95,9% da área estudada (Tabela 3). No geral, a tecnologia Plantio Direto ocupou 91,0% da área informada. Dentro das zonas tritícolas, a utilização da tecnologia variou de 87,0%, na região E, até 95,5%, na região G, com exceção da zona A1, em que a utilização ficou em 78,1% da área. O plantio convencional foi utilizado em 18,1%, 10,2%, 8,8% e 7,0% da área, nas regiões A1, E, A2 e B, respectivamente. O preparo mínimo teve maior utilização na lavoura de trigo na zona D, com 7,0% da área.

É importante observar que a região A1, com relação ao uso de plantio direto, se diferencia das demais regiões tritícolas, tanto no caso das culturas antecedentes como no caso da lavoura de trigo, por apresentar menores índices de utilização desta tecnologia.

Na Tabela 4, observa-se que a adoção do monitoramento da compactação de solo foi realizado em 48,9% da área abrangida pelo levantamento, com destaque para as regiões A1 e D, em que a prática foi utilizada em mais de 60% da área e a região H, em que apenas 35% da área foi monitorada.

Na Tabela 5, observa-se que a prática de calagem é utilizada em 94,2% da área com informação no total do estado e que a aplicação de calcário a lanço, característico da adoção do sistema plantio direto, foi utilizado em 97,4% da área em que houve informação sobre esta tecnologia. Na zona tritícola A1, a prática de calagem foi utilizada em 43,8% da área e o sistema de aplicação a lanço, ficou restrito a 40,8% da área informada. É importante ressaltar que para este último ítem, método de aplicação de calcário, o percentual de área com informação foi muito baixo, abrangendo apenas 41,1% da área estudada na região. Nas demais regiões, a utilização das duas práticas alcançaram percentuais que variaram de 89,3 a 100% e de 95,0 a 100% das áreas com informação, respectivamente, para uso de calagem e método de aplicação.

Ainda na Tabela 5, vê-se que, em 57,8% da área geral com informação, a quantidade de calcário aplicada foi de até 2 t/ha e em 37,5% da área, de 2 a 4 t/ha. Apenas 4,6% da área recebeu mais de 4 t/ha de calcário. Nas regiões G, A2, H e E prevaleceram as aplicações de até 2 t de calcário por hectare, enquanto que, nas regiões D, B e F, as aplicações concentraram-se na faixa de 2 a 4 t/ha, na região A1, nas faixas de "até 2 t/ha" e de "mais de 4 t/ha" e na região C, em quantidades que vão até 4 ton/ha.

A adubação de base mais utilizada foi na faixa de 200 a 250 kg/ha de adubo, a qual foi aplicada em 59,6% da área total levantada e ocupou percentual maior que 50% da área com trigo em cinco regiões tritícolas. Destacam-se as zonas tritícolas D e H, em que o nível de aplicação de mais de 250 kg/ha de adubo predominou, abrangendo 82,6% e 60% de suas áreas, respectivamente (Tabela 6). Do ponto de vista do nível de adubação de base utilizada, poderia-se agrupar as regiões A1 e E, em que predominou a adubação na faixa de 150 a 250 kg/ha, as regiões C, B, A2 e F, com predominância de adubação na faixa 200 a 250 kg/ha, as regiões G e H, nas quais predominaram as faixas de adubação de 200 a 250 kg/ha e "mais de 250 kg/ha", e a região D, em que 82% da área recebeu mais de 250 kg/ha de adubo.

Na Tabela 7 são apresentados os percentuais de área tritícola ocupados pelas cultivares de trigo plantadas na área total de abrangência do levantamento. Em 2004, as cultivares mais utilizadas foram a CD 104, com 35,0% da área cultivada, a BRS 208 com 8,5%, IPR 85 com 7,8%, Ônix com 6,3%, CD 105 com 6,1% e IAPAR 78 com 5,1%. A cultivar CD 104 só não foi a mais cultivada nas zonas tritícolas G e H, em que predominaram as cultivares Ônix e CD 105, na região G, e as cultivares Ônix, Embrapa 16, CD 105 e BRS 176, na região H. A concentração do plantio em torno de poucas cultivares foi maior nas regiões A2, B, A1, E e D, onde, além da cultivar mais plantada ocupar percentual de área que variou de 42,4% a 60,0%, as 4 cultivares mais plantadas corresponderam a mais de 80% da área cultivada com trigo. Essa concentração foi menor nas regiões C, H, F e G, nas quais a cultivar mais plantada não ultrapassou 28,5% da área cultivada e foi necessário somar as áreas ocupadas pelas seis cultivares mais plantadas para se obter 80% da área total cultivada nas duas primeiras regiões e das sete principais cultivares, nas duas últimas.

Do ponto de vista institucional, considerando a área total avaliada (Tabela 8), as cultivares de trigo da COODETEC ocuparam 44,8% da área, as da Embrapa, 17,1%, as do IAPAR, 14,7% e as da OR Sementes, 13,8%. Os restantes 9,6% da área foram ocupados com cultivares não identificadas, mais as cultivares de instituições que somaram percentuais de área próximos a zero. A cultivar de trigo da COODETEC com maior destaque foi a CD 104 seguida da CD 105, respectivamente, com 35,0 e 6,1% da área. Da Embrapa, destacaram-se as cultivares BRS 208 e Embrapa 16, com 8,5 e 2,4% da área, respectivamente; do IAPAR, as cultivares IPR 85 e IAPAR 78, com 7,8 e 5,1% da área tritícola, e da OR Sementes, as cultivares Ônix e Alcover, respectivamente, com 6,3 e 3,3% da área.

Na Tabela 9, constata-se que a semeadura com sementes de trigo tratadas foi realizada em 47,7% da área total e variou, entre as regiões estudadas, de 23,2% da área tritícola da região, nas zonas A2 e B, a 87,1% na zona H.

Ainda na Tabela 9, observa-se que no uso da adubação de cobertura, destacaram-se as zonas H, G e D, nas quais a adoção da tecnologia ocorreu em 94,1%, 91,2% e 88,1% da área cultivada com trigo, respectivamente. As zonas com menores índices de utilização da adubação nitrogenada de cobertura foram as C e B, com 44,9 e 37,7% da área adubada, respectivamente. Na área total avaliada, a tecnologia foi utilizada em 61,2% da área.

Na Tabela 10 são apresentados os percentuais de área, nas regiões e no geral, que tiveram incidência de pulgões, de lagartas e de outras pragas. O percentual de área com ocorrência de pulgões foi baixo nas regiões H e G, 11,2% e 26,1%, respectivamente, médio nas regiões F e A2, 56,8 e 62,1%, e acima de 70%, nas regiões A1, B, C, D e E. A região A1 foi a que apresentou a maior incidência de ataque de pulgões, abrangendo 90,6% da área de trigo. Houve ataque de lagarta em 65,3% da área total estudada. A zona tritícola E registrou a ocorrência de lagartas em 27,5% da área de trigo, no entanto, a ocorrência desta praga abrangeu mais de 58% da área de trigo nas demais regiões, com destaque para a região H, em que ela chegou a 87,4% da área. Outras pragas, principalmente percevejo, atingiram percentuais relevantes de área de lavoura, entre 14,8 a 24,3%, nas regiões A1, C, B e A2 e de 12,1% do total da área estudada.

A aplicação de fungicidas com base nos parâmetros determinados pela pesquisa predominou em sete zonas tritícolas (A1, A2, B, C, D, G e H), variando o percentual de área de trigo com a utilização de 51,6%, na região C, a 86,8%, na região H (Tabela 11). Nas zonas E e F, a aplicação preventiva de fungicidas foi mais utilizada. No geral da área de trigo estudada, a aplicação de fungicidas seguindo os parâmetros indicados pela pesquisa ocorreu em 55,8% da área, a aplicação preventiva em 22,2% e a aplicação com base na prática de monitoramento da incidência de doenças, em 19,7%.

Na Tabela 12 são apresentados os percentuais de área estudada ocupada pelas diferentes seqüências de culturas, por zona tritícola e no geral. Observa-se, na tabela, que a seqüência de culturas predominante nas regiões D, A2, E, B, C e F foi soja/trigo, variando de 80,5 a 23,6% da área; na região A1, soja/milho safrinha (24,4%); na região H, milho/trigo/soja/cevada (50,7%); e na região G, as seqüências milho/trigo/soja/cevada e trigo/milho/soja/aveia/soja/trigo/soja, com 36,6 e 30,8% da área, respectivamente. No geral do levantamento, a seqüência soja/trigo abrangeu 34,4% da área, milho/trigo/soja/cevada, 10,1%, soja/milho safrinha, 5,9%, milho/trigo/soja/aveia e trigo/milho/soja/aveia/soja/trigo/soja, ambas com 4,3% e soja/trigo/soja/milho safrinha, com 4,1%. A zona D apresentou maior concentração de área em torno de uma seqüência de culturas, enquanto as zonas A1 e F apresentaram maior diversificação neste ítem. É importante alertar para que os dados desta tabela sejam usados com certa cautela, pois deve-se aprimorar e uniformizar o período que a resposta deve abranger. No caso presente, há a possibilidade de que uma seqüência de culturas curta (ex: milho/trigo) indicada num formulário, em outro seja considerada dentro de uma seqüência maior (ex: milho/trigo/soja/aveia), visto as informações não terem sido fornecidas pela mesma pessoa.

As culturas de inverno mais utilizadas na área estudada, em 2004, foram milho safrinha, trigo, aveia preta e aveia branca que ocuparam, respectivamente, 34,8%, 32,3%, 13,7% e 10,7% da área cultivada no inverno (Tabela 13). No entanto, a cultura que teve presença significativa em todas as regiões, com percentuais de área variando de 23,1%, na região A1, a 59,1%, na região F, foi trigo. O milho safrinha, que ocupou o maior percentual de área de inverno no geral, esteve presente em cinco das nove regiões, ocupando percentuais de área que variaram de 29,4%, na região E, a 61,3% na região A1. Fazendo-se a análise dos dados dentro de cada região estudada, observa-se que nas regiões A1, A2, B e C a cultura de milho safrinha ocupou maior área de inverno, seguida das culturas de trigo e aveia. Destaque para o fato de milho safrinha ter ocupado, nas tres primeiras regiões, mais de 50% da área de inverno. Na região E, prevaleceram as mesmas culturas no inverno, apenas em ordem diferente pois trigo foi a mais plantada, com 38,9% da área, seguida de milho safrinha e de aveia branca, com 29,4 e 25,2%, respectivamente. Na região D houve predominância da cultura de aveia preta, que ocupou 54,8% da área, seguida de trigo (26,8%) e de aveia branca (13,2%). A cultura de trigo foi a mais cultivada na região F, com 59,1% da área de inverno, seguida de aveia preta e de aveia branca, com 20,5 e 9,2% da área, respectivamente. Nas regiões G e H, houve o predomínio das culturas de aveia preta, com 34,1% e 38,3% da área, nas respectivas regiões, de trigo, com 34,1 e 34,0% e de cevada, com 14,6 e 16,7%. A cultura de triticale apareceu com alguma relevância nas regiões F, D, H e G, ocupando percentuais de área que variaram de 5,9% a 3,9%. A cultura de azevém ocupou 9,1 % da área na região G.

O binômio preço/comercialização de trigo foi citado como problema em todas as regiões, com maiores percentuais de citação nas regiões D, H e C (Tabela 14). As doenças de trigo foram apontadas como problema em oito das nove regiões e os maiores percentuais de citação ocorreram nas regiões G e F. Das doenças, destaca-se a brusone nas regiões A2 e A1, citada em 51% e 47% dos formulários, respectivamente.

Na Tabela 15 são indicadas as sugestões feitas à pesquisa pelos técnicos e produtores colaboradores no trabalho. A criação de cultivares resistentes às doenças foi a sugestão que apresentou maior índice de citação.


Documentos Online Nº 51Documentos Online Nº 51 Publicações OnlinePublicações Online

Copyright © 2005, Embrapa Trigo