Embrapa Trigo

Dezembro, 2004
Passo Fundo, RS

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Teria outro cientista conseguido desvendar a estrutura do DNA?

Sem a amostra do DNA obtido por Rudolf Signer, nenhum dos pesquisadores mencionados teria conseguido cristalizar o DNA e produzir difrações de raios X, portanto não teriam tido condições de fazer a descoberta. Sem a foto da difração de raios X e as medições de Rosalind Franklin, também teria sido protelada a descoberta. Não é possível aventar quando e como teria sido desvendada a estrutura do DNA, e a descoberta do código genético teria sido postergada, por dois ou três anos, de acordo com Crick.

Wilkins, em seu livro, afirma ter-se arrependido de haver entregado a totalidade da amostra de DNA de Signer a Rosalind Franklin e não poder continuar usando esse material. Ele afirma ter feito uma ligação telefônica para Signer e com ele se encontrado em Berna, mas Signer dissera-lhe que não tinha mais DNA e não estava trabalhando mais nisso. Mesmo assim, poderiam ter enviado um estudante para ser treinado por Signer em Berna ou na Suécia por Caspersson. Hans Schwander, que fez seu doutoramento com Signer, afirmou que a estrutura do DNA poderia ter sido descoberta na Suíça, se Signer tivesse integrado uma equipe como a formada na Inglaterra.

Conforme a opinião de Francis Crick, Rosalind Franklin precisava de mais tempo e estava deixando o King’s College para trabalhar com o Vírus do Mosaico do Tabaco (TMV) no Birkbeck College. As fotografias da difração de raios X do DNA-B, de Signer, obtidas por Franklin e Gosling, tinham sido tiradas em maio de 1952, e ela nem tentara chegar a um modelo da estrutura, mesmo sabendo que Watson e Crick trabalhavam nisso. Em 18 de julho de 1952, Rosalind Franklin declarava que a estrutura em hélice do DNA estava "morta". Não possuía o conhecimento crucial das formas "keto" de guanina e timina e, de acordo com Crick, desconhecia a importância da regra de Chargaff. Além disso, não tinha, ainda, chegado à conclusão de que as adeninas ligavam-se às timinas, e as guaninas, às citosinas, entre as duas hélices de fosfato e desoxirribosa.

Lynne Elkin, autora de uma biografia de Rosalind Franklin, afirma que ela poderia ter chegado à estrutura do DNA, que conhecia a regra de Chargaff e que, em suas anotações, em fevereiro de 1953, reconhecia a estrutura em hélice. Mas nesse momento deixou de trabalhar com DNA, o que lhe impossibilitou continuar avançando e fazer a descoberta.

Durante sua estada no King’s College, Rosalind Franklin não foi capaz de trabalhar em equipe. Se ela tivesse conseguido articular um grupo de trabalho com Stokes, Seeds e Fraser, Wilkins inclusive, o grupo do King’s College poderia ter chegado sozinho à descoberta do DNA.

 

Algumas incógnitas permanecem:

Que pretendia realmente Sir John Randall?

Entrou em contato com Sir Lawrence Bragg, para impedir que Watson e Crick continuassem trabalhando com o DNA, mas não criou um grupo eficiente em seu próprio laboratório.

Porque queria excluir Wilkins e Stokes da pesquisa com DNA? Eles haviam começado a investigação e queriam continuar trabalhando nela.

Se Randall queria que Rosalind Franklin liderasse a pesquisa com DNA, por que não lhe deu todo o apoio para formar um bom grupo de trabalho?

Em Birkbeck College, Rosalind Franklin integrou-se muito bem ao grupo de trabalho. Mudou ela? Ou o grupo era mais aberto e amigável, em virtude da sábia direção de John Desmond Bernal (Sage)?

Lynne Elkin propôs à Sociedade Americana para o Progresso da Ciência (AAAS) que a estrutura do DNA fosse denominada "Estrutura Watson-Crick-Franklin". Mas, em setembro de 1953, Rosalind publicou na Acta Christallographica, com referência à estrutura proposta por Watson e Crick: "...discrepâncias nos previnem de aceitá-la em detalhe", isso parece invalidar a proposta de Lynne Elkin.

Depois da publicação do artigo, Rosalind Franklin manteve um relacionamento amigável com Crick e com ele se correspondia, até falecer, em 1958, de câncer, possivelmente ocasionado pela exposição aos raios X. Watson ofereceu-se para acompanhá-la numa viagem aos Estados Unidos, e ela percorreu a Espanha, juntamente com Crick e esposa, Odile, na primavera de 1956. Depois do seu último tratamento, durante o período de recuperação, foi morar com Francis e Odile.

De acordo com Crick, sem Watson ele não teria conseguido chegar à estrutura do DNA. Max Perutz escreveu, em seu livro, que Watson trouxe ao grupo a importância de conhecer os genes, e não simplesmente a estrutura atômica do DNA, e que a relação de Crick com Watson era a de um professor com seu aluno.

Quando Watson era professor em Harvard e já ganhara o Prêmio Nobel, quis publicar um livro sobre a descoberta: "The Double Helix". A universidade resolveu que, por causa das apreciações que Watson fazia a respeito das pessoas, somente autorizaria a publicação com a aprovação escrita dos respectivos pesquisadores. Linus Pauling condenou a forma como ele, sua esposa e filho foram mencionados, assim como os comentários sobre Francis Crick, Lawrence Bragg e Rosalind Franklin. Crick e Wilkins tampouco gostaram, e vetaram a obra.

As impressões de Watson sobre a falecida Rosalind Franklin eram especialmente preconceituosas e desnecessárias. O irmão dela enviou-lhe um telegrama enfatizando que o livro difamava sua irmã depois de morta. Max Perutz tentou que Watson mudasse suas apreciações deselegantes sobre Rosalind Franklin, mas somente conseguiu que ele adicionasse um epílogo, elogiando-a, esclarecendo que suas primeiras impressões estavam erradas. Mas, se estavam erradas, por que não as modificou?

Harvard negou-se a publicar o livro, que foi publicado por Atheneum, New York, em fevereiro de 1968, e, em março, por Weidenfeld and Nicolson, em Londres. O livro foi traduzido para 18 linguas e vendeu mais de um milhão de exemplares em curto espaço de tempo. A primeira frase do livro, "Eu nunca vi Francis Crick em atitude modesta"3, irritou Crick, que achou que Watson havia traído a sua amizade, mas depois reconciliaram-se. No livro de Watson, pela primeira vez apresentou-se ao público o dia-a-dia de cientistas responsáveis por grandes descobertas, com suas falhas e defeitos humanos. Posteriormente, Watson e Crick desentenderam-se novamente a respeito da autoria da descoberta do RNA-mensageiro.

Crick e Wilkins escreveram seus livros em 1988 e em 2003, dando a sua versão da descoberta, que difere algo da do livro de Watson. Anne Sayre, Brenda Maddox e Lynne Elkin publicaram biografias de Rosalind Franklin.


3 I have never seen Francis Crick in a modest mood.


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