Embrapa Trigo

Dezembro, 2004
Passo Fundo, RS

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Conseqüências da descoberta

Como costuma acontecer, no começo houve pouca reação ao artigo. Os jornais britânicos divulgaram a descoberta do DNA, que Sir Lawrence Bragg anunciou durante uma conferência em Londres. Os especialistas da área deixaram o tempo passar, aguardando a validação da estrutura proposta. Ainda não se conhecia o mecanismo de replicação nem o código genético. Ao longo do ano de 1953 não se mencionou mais a descoberta. O New York Times ignorou uma palestra de James Watson sobre a Dupla-Hélice, durante o tradicional simpósio de Biologia do Cold Spring Harbor Laboratory, em Long Island, NY.

Quando Erwin Chargaff leu o artigo de Watson e Crick, na revista Nature, escreveu, em carta de 8 de maio de 1953, destinada a Maurice Wilkins, o seguinte comentário: "O perigo nessas generalizações prematuras consiste que podem aniquilar trabalho experimental decente, embora os que perpetraram essa hipótese estejam dispostos a abandoná-la com a mesma leviandade com que a sugeriram"4. No fim de 1953, Francis Crick visitou Erwin Chargaff, na Universidade de Columbia, e este manifestou-lhe que o primeiro trabalho na revista Nature fora interessante, mas o segundo trabalho, sobre as implicações genéticas, definitivamente não era bom.

François Jacob, do Instituto Pasteur de Paris, reconheceu que o artigo "não tinha eletrizado ele nem outros no laboratório e que os argumentos cristalográficos não os impressionaram." François Jacob recebeu, em 1965, o Prêmio Nobel de Medicina, juntamente com Jacques Monod e André Lwoff, por seus trabalhos sobre o RNA mensageiro, o operon e os genes reguladores. Linus Pauling não apoiou decididamente a nova estrutura e continuou afirmando que sua proposta de três hélices tinha mérito.

Surpreendentemente, o cristalografista Jerry Donohue, cujas orientações sobre o pareamento das bases nitrogenadas foram cruciais, mostrou-se um crítico persistente da validade do trabalho sobre as difrações de raios X.

Em 1956, Jerry Donohue publicou, juntamente com Stent, uma estrutura errônea baseada no pareamento de bases iguais (adenina com adenina, citosina com citosina etc.).

J. N. Davidson, autor de um texto sobre ácido nucléico, The Biochemistry of the Nucleic Acids, editado em 1950, em 1953 e em 1960, duvidava que o DNA carregasse a informação genética. Na edição de 1963, escreveu "...tem-se comprovado um assunto de certa dificuldade encontrar provas que confirmem essa hipótese5".

Crick terminou a tese de doutoramento e continuou estudando o DNA, com o pesquisador sul-africano Sydney Brenner: replicação, mutação, código genético. Conseguiu comprovar que cada codon era formado por três letras das quatro bases (ATCG), que uma sucessão de tripletas especificava um aminoácido e que a seqüência de tripletas especificava a seqüência de aminoácidos numa cadeia polipeptídica. Também teve a idéia do adaptador para a tradução, a noção de um mensageiro intermediário, o que ficou conhecido como RNA mensageiro. Sydney Brenner recebeu o Prêmio Nobel de Medicina, em 2002, pelos seus trabalhos em regulação genética.

Em 1977, Crick deixou Cambridge e sua casa, na qual instalara uma hélice dupla dourada sobre a porta, e foi trabalhar no Instituto Salk, em San Diego, Califórnia. Aí tomou outro rumo de pesquisa: a natureza da consciência. Sobre esse assunto, Crick publicou muitos trabalhos e um livro: "The Astonishing Hypothesis". Interessou-se também pela origem da vida na Terra e por que o código genético era tão uniforme, escrevendo suas idéias num artigo no jornal Icarus (1973) e no livro "Life Itself" (1981), nos quais debate a possibilidade da Panspermia, ou seja, que a vida na Terra seria originária de outro lugar do Universo.

Watson trabalhou, posteriormente, no Instituto de Tecnologia da Califórnia. Em 1955, ingressou no Departamento de Biologia de Harvard, trabalhando principalmente com RNA e, a partir de 1961, como professor, desenvolvendo o departamento de genética molecular.

Em 1968, pediu demissão de Harvard, quando foi nomeado Diretor do Cold Spring Harbor Laboratory. Conseguiu verbas para resgatar a instituição da crise e fazê-la voltar a ser um grande centro de treinamento e pesquisa. Ele direcionou o instituto para a pesquisa de primeiro nível de câncer e do estudo da oncogenese, da bioquímica celular e da neurociência. Em 1994, nomearam-no presidente do instituto. Em 1990, iniciou o Projeto Genoma Humano, como o primeiro coordenador do arrojado empreendimento. Embora não tenha sido o idealizador do projeto, enfrentou a polêmica associada ao estudo do genoma humano, conseguindo levá-lo adiante, apesar de muitos pesquisadores serem contrários ao estudo.

Wilkins continuou trabalhando no King’s College, primeiro na validação da estrutura do DNA e, depois, em sistema neurológico. De 1963 a 1970, desempenhou-se como professor de Biologia Molecular na mesma instituição, de 1970 a 1981, Wilkins foi professor de Biofísica e diretor do Medical Research Council Cell Biophysics Unit do King’s College, além de ocupar o cargo de professor emérito de Biofísica em 1981 no mesmo estabelecimento.


4 "The danger in such premature generalizations is that they may kill decent experimental work, though the perpetrators themselves may be willing to drop their hypothesis with the same grace with which they have conceived them."
5 "It has proved a matter of some difficulty to find evidence in confirmartion of that hypothesis."


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