Embrapa Trigo

Dezembro, 2004
Passo Fundo, RS

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Informações gerais sobre brusone em trigo e em cevada

- Parte afetada e nome comum: a brusone, também chamada de branqueamento de espiga, é uma das principais doenças de espiga de trigo (Fig. 23) e de espiga de cevada (Fig. 24). Pode afetar várias partes da planta, como as folhas (Fig. 25), sendo mais comum e referenciada como doença de ocorrência em espigas.

- Etiologia: a brusone em trigo e em cevada é causada por Pyricularia grisea (Cooke) Sacc., Magnaporthe grisea (T. Hebert), sendo P. grisea a forma anamórfica ou assexual. Em meio de cultura, o crescimento do fungo apresenta-se cor de cinza (Fig. 26) e produz conídios característicos em forma de pêra (piriformes), hialinos (claros), com até três células (Fig. 27).

- Importância da doença: a importância dessa doença decorre das reduções no rendimento e na qualidade de grãos. Em trigo, quando a infecção é precoce (início das fases de florescimento e enchimento de grão), os grãos, se houver, apresentam-se deformados, pequenos e com baixo peso específico, e a maioria é eliminada nos processos de colheita e de beneficiamento. No estado de Mato Grosso do Sul, em pesquisas realizadas no período de 1988 a 1992, sob condições naturais de infecção em campo, verificou-se redução de 10,0 a 53,0% no rendimento de grãos e de 14,5 a 74,0% no peso dos grãos produzidos.

Em cevada, também sob infecção natural em campo, em Passo Fundo, RS, em 2003, registrou-se redução de 30,0% no peso de grãos e redução em 35,0%, em grãos classe 1; aumento de 22,5%, em grãos classe 2; e aumento de 12,5%, em grãos classe 3.

- Condições climáticas favoráveis: alguns fatores de ambiente podem influenciar o desenvolvimento da doença. Precipitação pluvial, dias nublados e temperaturas entre 24 e 28 ºC são condições favoráveis. Umidade relativa acima de 90% e longos períodos de orvalho (15 horas, no mínimo) também são favoráveis ao desenvolvimento de brusone. A disseminação do patógeno ocorre, principalmente, através do vento. Para a germinação do conídio, há necessidade de presença de água livre.

- Hospedeiros alternativos: a brusone é uma das principais doenças de arroz e, por isso, consideravelmente pesquisada no Brasil e no mundo. O patógeno pode sobreviver, na forma de micélio ou conídio, em restos de culturas, em sementes, em hospedeiros alternativos e em plantas voluntárias da cultura principal. Além de arroz, o fungo pode atacar ampla gama de hospedeiros, como trigo, cevada, milheto, milho, triticale, centeio, azevém e gramíneas nativas.

- Ocorrência no Brasil: a brusone é a doença mais recentemente detectada em trigo e em cevada no Brasil. Em trigo, foi identificada pela primeira vez no Paraná, em Londrina e região, em 1985. Em cevada, a primeira ocorrência foi registrada em folhas, em 1999, em Brasília, e em espiga, em 2001, nos estados de Goiás, de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul.

- Regiões de ocorrência de epidemias: a brusone em trigo já foi constatada em vários estados. As epidemias têm ocorrido com maior freqüência nas regiões norte e noroeste do Paraná; Região do Brasil Central (Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais); e sul de São Paulo (Vale do Paranapanema). Assim como em trigo, a brusone, provavelmente, constituir-se-á em problema eventual na cultura de cevada na Região Sul do Brasil, pois, apesar de o patógeno estar presente no ambiente, as condições climáticas normais da região são, em geral, adversas ao desenvolvimento da doença. Acredita-se que, possivelmente, o oposto ocorra na região do Brasil Central, ou seja, a brusone poderá ser aí um problema mais constante nas lavouras de cevada, pois, além de as condições climáticas na região serem favoráveis ao estabelecimento da doença, existem hospedeiros suscetíveis cultivados anualmente na região.

- Principais sintomas de brusone em trigo: nas folhas, podem ser observadas, ocasionalmente, lesões elípticas com margem cor de marrom-escuro e centro claro (acinzentado). O sintoma mais característico ocorre em espigas, nas quais observa-se descoloração prematura da porção da espiga acima do ponto de infecção do patógeno (Fig. 23), que ocorre no ráquis. No ráquis, os sintomas manifestam-se por lesão escura-brilhante, restrita às proximidades do ponto de infecção (Fig. 28). Espigas afetadas pela doença são facilmente identificadas antes do início da maturação, pelo contraste de cores entre as porções abaixo (verde) e acima (palha) do ponto de infecção. A colonização de tecidos do hospedeiro é facilitada pela produção de toxinas, que provocam a morte de células, e pelas hifas, que se desenvolvem no tecido morto.

Os grãos formados acima do ponto de infecção são menores, enrugados, em virtude da interrupção da translocação de nutrientes (Fig. 29). Os sintomas nos grãos são observados após a trilha da espiga.

- Principais sintomas de brusone em cevada: os sintomas em folhas de cevada são descritos como lesões elípticas com centro cor de cinza e margem cor de marrom (Fig. 25), semelhantes aos produzidos em trigo. Em espigas de cevada, os sintomas característicos são também similares aos que ocorrem em espigas de trigo, caracterizando-se por descoloração (branqueamento) prematura da porção da espiga acima do ponto de infecção do patógeno (Fig. 30). No ráquis também ocorre lesão escura-brilhante restrita às proximidades do ponto de infecção (Fig. 31). Em cevada também há redução do tamanho do grão (Fig. 32), facilmente visível na espiga afetada, antes mesmo da trilha (24).

 


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