Embrapa Trigo

Dezembro, 2004
Passo Fundo, RS

32


Ferrugem de Soja: Estimativas de Custo de Controle, em Passo Fundo, RS

Cláudia De Mori1
Leila Maria Costamilan2

A soja constitui importante cultura mundial, sendo o Brasil o segundo produtor, cuja produção de 51,4 milhões de toneladas em 2003 corresponde a 21,2% do total mundial de 189,2 milhões de toneladas.

Entre os diversos fatores que condicionam o rendimento de grãos de soja, as doenças compõem item de grande importância. Segundo estudo de Wrather et al. (1997), as doenças de soja causaram perdas estimadas em cerca de 11% da produção total dos principais países produtores. No Brasil, Yorinori (2002) estimou que as doenças em soja representaram perdas ao redor de 23 milhões e 600 mil toneladas de grãos, no período 1997 a 2000.

A ferrugem asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, tem causado perdas entre 10% e 80% na produção de grãos desde sua identificação no Brasil, na safra 2000/2001. No Rio Grande do Sul, Costamilan et al. (2002) registraram perdas de 46% no rendimento de grãos em lavoura afetada pela ferrugem, e, no estado da Bahia, Oliveira (2004) determinou perda máxima de rendimento de 54%, em estudo experimental considerando diversos tratamentos com fungicida. Segundo estudo de Yorinori e Lazzarotto (2004), essa doença acarretou, no Brasil, perda de produtividade avaliada em US$ 2,08 bilhões, gastos com controle químico estimados em US$ 1,286 bilhão e US$ 327,9 milhões em perdas de arrecadação tributária (CPMF, CESSR, ICMS, PIS e Cofins)3, totalizando US$ 3,694 bilhões de prejuízo no período de 2001 a 2003 (Tabela 1).

A principal forma de controle da ferrugem tem sido o uso de fungicidas dos grupos dos triazóis e das estrobilurinas ou de suas misturas. O presente trabalho tem como objetivos apresentar custos de aplicação de produtos indicados para controle de ferrugem de soja para o Rio Grande do Sul e para Santa Catarina, a partir de preços de produtos coletados em Passo Fundo, RS, e comparar resultados econômicos considerando diferentes níveis de perdas de produtividade em soja, visando a contribuir para a análise de cenários e para a tomada de decisão para o gerenciamento da lavoura.

Na Tabela 2, apresentam-se estimativas de gastos com fungicidas, compostas a partir da dose indicada do produto e de preços estimados para novembro de 2004, coletados em Passo Fundo, RS, em setembro de 2004. Os gastos com produto (fungicida + adjuvante, se necessário), por aplicação, variaram de R$ 40,10 (US$ 13,834) a R$ 70,00 (US$ 24,14), sendo a média estimada em R$ 56,52 (US$ 19,49). Acrescentando-se custo variável de aplicação de fungicida, calculado em R$ 6,25 (US$ 2,16), os gastos variáveis estimados para uma aplicação de fungicida para controle de ferrugem de soja variaram entre R$ 47,35 (US$ 16,33) e R$ 76,25 (US$ 26,30), sendo a média estimada em R$ 62,77 (US$ 21,64).

Na possibilidade de não ser usado fungicida no cultivo de soja, os custos variáveis de produção, por hectare, totalizariam R$ 705,58 (US$ 243,30). No caso de ser realizada uma aplicação de fungicida, os custos aumentariam em 10,8%, passando a R$ 781,82 (US$ 269,59), e, no caso de duas aplicações, o custo variável por hectare estimado seria de R$ 858,06 (US$ 295,88), o que representaria acréscimo de 21,6% nos custos, em relação ao custo sem uso de fungicida. Os dados são sumariados na Tabela 3. Nesta aproximação, a matriz de custo variável de produção foi elaborada levando-se em consideração coeficientes de sistema de cultivo mais comumente empregado na região, que consistem em aplicação de dessecante, uso de 70 kg/ha de sementes inoculadas, aplicação de herbicida pós-emergente, duas operações de aplicação de inseticida, uso de formicida, operações de transporte interno de insumos, de colheita, de transporte externo e de beneficiamento, acrescendo custos de assistência técnica, juros de financiamento e de Proagro, além de impostos. As operações de aplicação de produtos químicos (herbicidas, inseticidas e fungicidas) foram consideradas separadamente, por força de legislação, totalizando seis operações de pulverização no ciclo de cultivo.

Com três níveis de perdas de produtividade (zero, médio e alto) em decorrência da doença, diferenciados para cada nível de aplicação de fungicida, conforme apresentado na Tabela 4, produtividade média de 40 sacos/ha (2.400 kg/ha) e preço de produto de R$ 32,61/sc.5, foram estimadas as margens de rentabilidade para os diferentes cenários apresentadas na Tabela 5.

Em um cenário de nenhuma perda de produtividade de soja associada à ferrugem, uma aplicação de fungicida representaria redução na margem de renda apro de 12,7%, e duas aplicações, redução aproximadamente de 25,5%. Com nível médio de perda de produtividade, uma aplicação de fungicida resultaria em acréscimo de 35,3% de renda, em comparação ao não uso de controle químico. Em caso de ataque mais severo, com perdas expressivas de produtividade, a diferença na margem de renda entre cenários de uso ou não de controle químico poderia chegar a 691,7%.

De acordo com as perspectivas de preços para compra de soja da safra 2004/05 e os custos crescentes de produção, é importante que agricultores e agentes de assistência técnica considerem, na avaliação de uso de controle químico para ferrugem de soja:

  • registros anteriores da doença;
  • realização de monitoramento constante das condições de lavoura quanto à presença da doença;

aspectos econômicos de custos envolvidos e margem de rentabilidade, estabelecendo possíveis cenários de produtividade, preço de produto e custos de produção, de acordo com o capital disponível para custeio.


1 Eng. Agrôn., Pesquisadora da Embrapa Trigo. Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS. E-mail: cdmori@cnpt.embrapa.br.
2 Eng. Agrôn., Pesquisadora da Embrapa Trigo. Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS. E-mail: leila@cnpt.embrapa.br.
3
CPMF - Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira; CESSR - Contribuição Especial à Seguridade Social Rural; ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços; PIS - Programa de Integração Social do Trabalhador; Cofins - Contribuição para Financiamento da Seguridade Social.
4
Cotação de dólar considerada - R$ 2,90 : US$ 1,00.
5
preço médio 1999-2003 no RS, divulgado pela Emater/RS (Emater, 2004).


Documentos Online Nº 32Documentos Online Nº 32 Publicações OnlinePublicações Online

Copyright © 2004, Embrapa Trigo