Embrapa Trigo
 
Abril, 2014
150
Passo Fundo, RS

Mercado e comercialização de triticale

Considerando o principal destino do triticale, boa parte dos produtores também é consumidora do produto, ou sua produção localiza-se em regiões de produção animal, de modo que a cadeia de comercialização tende a ser curta e a coordenação da oferta e da demanda tem amplitude regionalizada.

Na Figura 4 apresentam-se os preços pagos aos produtores nos principais países produtores (Polônia, França e Alemanha), no período de 1991 a 2011, com base em dados da FAO (2013). A partir de 1996, houve uma aproximação entre os preços pagos ao produtor pelo cereal nesses países, que passaram a apresentar dinâmica semelhante de preços, com leve superioridade aos praticados na Alemanha. No período de 1998 a 2006, o preço do triticale oscilou entre US$84,00 e US$120,00/t. Com o aumento generalizado das commodities agrícolas a partir de 2007, o preço do triticale atingiu valores superiores a US$220,00/t, recuando para valores próximos a US$120,00/t em 2009 e voltando a patamares superiores a US$200,00/t a partir de 2010.

A análise da serie de preços da FAO (2013), demonstra que a Suíça e a Noruega apresentaram os maiores preços pagos aos produtores, em geral 80% a 100% superiores ao preço médio anual do grupo de países considerado. No entanto, nos últimos cinco anos, a sobrevalorização reduziu, oscilando entre 45% a 75% dos preços médios do grupo. Por outro lado, países da antiga URSS (Polônia, Croácia, Letônia, Cazaquistão e Bielorrússia) apresentaram os menores preços pagos aos produtores, em geral entre 45% a 65% do preço médio do cereal.

Em geral, observa-se relação direta entre preços de triticale e de trigo. No período de 1995 a 2011, os preços de triticale corresponderam de 85% a 95% do preço de trigo, considerando a média de preços do conjunto de países monitorados pela FAO17. Não se observa relação linear entre preços de triticale e de milho, já que os preços de triticale variaram entre 69% a 95% do preço do milho, no referido período.

Pelo uso parcial e/ou em substituição de ingredientes de ração, os preços do triticale associam-se aos preços dos principais componentes de ração. Na Europa, os preços têm similaridade aos preços de trigo, de centeio e de cevada para alimentação animal. Na Alemanha, o triticale é comercializado a preços ligeiramente abaixo dos preços de trigo para alimentação animal, mas mais elevados do que os de centeio, para panificação, e de cevada, para alimentação animal (Figura 5 a e b). Entre 2010 e setembro de 2013, o triticale foi comercializado a preços 7% a 15% superiores aos do centeio pão, a preços iguais a 4% superiores aos da cevada para alimentação animal, e de 7% a 4% inferiores ao preço do trigo soft. Já na França, os preços do triticale oscilaram entre 15% a 7% abaixo do preço do trigo soft e, na Polônia, as cotações foram de 20% a 12% menores que o trigo e de 7% a 20% superiores aos preços de centeio18.

Em 2012, os preços médios recebidos pelos produtores foram de €210,00/t na Alemanha (ou R$527,25/t, considerando câmbio de €1 = R$2,51), de €193,00/t na França (aproximadamente, R$484,43/t) e de $814,79 zlotys na Polônia (R$497,02/t, considerando câmbio de 1zl = R$0,61) (Triticale-Infos, 2013b). Como se observa na Figura 5 a, no final de 2012, a valorização dos preços de trigo, pela frustração de safra, resultou em valorização dos preços de triticale. Com a safra recorde mundial de quase 700 milhões de toneladas de trigo, os preços voltaram a cair em 2013. Na Alemanha, entre janeiro e setembro de 2013, o preço médio de triticale foi de €200,87/t (Triticale-Infos, 2013b), 4,4% menor que no ano de 2012.

No Brasil, o estabelecimento de padrões de comercialização de triticale ocorreu em 1983, semelhantes aos definidos para trigo (BAIER; NEDEL, 1985). Em 1984, a portaria do Conselho Monetário nº 420/1984 equiparou o triticale ao trigo quanto à política de comercialização, industrialização, preço e financiamento da produção, sendo o preço mínimo fixado em 90% daquele pago ao trigo (HUBNER, 2008).

Atualmente, a Portaria Mapa Nº 53/1983 (BRASIL, 1983), que estendeu ao triticale os parâmetros de classificação de trigo grão e farinha confirmada pela Portaria Mapa Nº 166/1986 (BRASIL, 1986), estabelece parâmetros de comercialização de triticale. Tais portarias equipararam parâmetros de triticale a parâmetros de trigo vigentes à época de publicação da norma, ou seja, umidade máxima de 13%, impureza máxima de 1% e PH (peso do hectolitro) mínimo de 65 kg/hL, para o caso de triticale-grão, e estabeleceram um tipo único de farinha (farinha comum), assim como a possibilidade de mistura de grãos de trigo e triticale na produção de farinha mista. Após a década de 1980, outras normativas foram formuladas para o caso de trigo, mas não houve nenhuma alteração ou nova orientação com relação a triticale, o que seria oportuno acontecer. No Canadá, por exemplo, três categorias de triticale são definidas (nos 1, 2 e 3), com base no padrão de qualidade (PH e grau de solidez), presença de matéria estranha e de grãos danificados.

A norma de produção e comercialização de sementes de triticale é governada pela Instrução Normativa Nº 25/2005 (BRASIL, 2005), que estabelece parâmetros de isolamento, número de vistorias, limites de plantas atípicas e presença de outros grãos, pureza e germinação, dentre outros.

Semelhante aos demais países, os preços do triticale no Brasil estão associados aos preços do trigo. No entanto, o estímulo ao cultivo está associado ao comportamento de preços e à oferta disponível de milho. Na Figura 6 (a e b), observa-se o comportamento do preço nominal e relação entre preços de cereais (triticale, trigo e milho) no estado do Paraná, com base nos dados de Paraná (2013). O comportamento de preços de triticale seguiu o padrão de trigo e representou de 55% (2010) a 73% (2008) da cotação de trigo, e média de 62% no período de 2006 a setembro de 2013. Em relação a milho, os preços de triticale variaram de 71% (2011) a 127% (2008) (Figura 6b).

Operadores de mercado em regiões de oferta de milho de segunda safra relatam a queda do interesse mercadológico de triticale para alimentação animal em decorrência do prolongamento da disponibilidade de oferta de milho e das relações econômicas desvantajosas, com preços superiores a 85% do preço de milho. Em São Paulo, com a queda acentuada da área de cultivo, a venda do cereal tem sido destinada a cerealistas que comercializam com moinhos, e algumas lavouras são mantidas por agricultores para uso na alimentação animal. Em regiões de climas mais frios, onde o milho de segunda safra não se configura como alternativa de cultivo, os operadores de mercado apontam a viabilidade de triticale tanto para alimentação animal como para alimentação humana.

Em 2013, as principais cooperativas que recebem, armazenam e comercializam grãos de triticale são Coopagrícola, Castrolanda, Capal e Copermil, estas três últimas com fábrica de ração.

Na Figura 7, elaborada com base em dados de Paraná (2013) e Agrolink (2013), apresenta-se a cotação média nominal de triticale para o estado do Paraná e para o município de São Luiz Gonzaga, no Rio Grande do Sul. Observou-se queda de preços em 2010 e recuperação nos anos posteriores, com aumentos de 25% e 23% em São Luiz Gonzaga e no Paraná, respectivamente, entre 2010 e 2011, e de 6% e 11% entre 2011 e 2012, respectivamente. As cotações observadas em São Luiz Gonzaga foram 18% a 24% superiores aos preços médios do Paraná. Em 2012, o preço médio no Paraná foi de R$17,55/saca de 60 kg e de R$ 20,70/saca de 60 kg em São Luiz Gonzaga.


17 Preços médios e relação entre preços calculados pelos autores com base no conjunto de preços pagos aos produtores monitorados pela FAO (2013).
18Valores calculados pelos autores com base em cotações registradas por Triticale-Infos (2013b).

Documentos online Nº 150 Publicações OnlinePublicações Online