Embrapa Trigo
 
Abril, 2014
150
Passo Fundo, RS

O triticale no mundo

A evolução do triticale como cultura comercial foi lenta até meados da década de 1980 (Figura 1 e Tabela 2). Com base na série de dados estatísticos da Food and Agriculture Organization of the United Nations - FAO (FAO, 2013), observa-se que, no período de 1975-1979, a área anual média foi de 13,3 mil ha, com produção média anual de 35,1 mil t. Nesse período, somente três países tiveram registro de cultivo: China (78,5% da área total), Espanha (12,7%) e Hungria (8,7%).

A partir de 1982, a cultura obteve crescimento ascendente, alcançando área colhida de 4,33 milhões de ha, em 2009 (FAO, 2013), maior registro de área da cultura, e taxa média de 159,11 mil ha/ano e 572,7 mil t/ano. As maiores taxas relativas de crescimento foram observadas na década de 1980, período que apresentou taxas de crescimento de 46,1% a.a. (ao ano) para área, e de 54,2% a.a. para produção, com registo de incremento anual de rendimento de 223,6 kg/ha/a.a.7 Nessa década, o cultivo de triticale espalhou-se por diversos países, sendo registrado em 17 países, em 1989. No período de 2010-2012, 38 países registraram cultivo de triticale.

Entre as décadas de 1990 e de 2000, a área colhida dobrou, passando de 1,73 milhão de ha/ano, em média, na década de 1990, para 3,50 milhões de ha/ano, na década de 2000. A partir de 2005, observou-se ritmo de crescimento de área menos intenso e, após 2009, houve redução da área colhida do cereal. Em 2012, de acordo com os dados da FAO (2013), a área colhida foi de 3,70 milhões de ha, com produção de 13,70 milhões de t.

Em termos de área colhida, embora ainda seja pequena quando comparada com outros cereais como trigo, milho e arroz, o triticale aumentou a participação em relação à área total cultivada com cereais. No período de 1990-1992, o triticale representou 0,2% da área total colhida com cereais, passando para 0,4%, no período 2000-2002, e para 0,6%, entre 2010-20127.

Os rendimentos também desaceleraram o crescimento a partir da década de 1990, estabilizando-se ao redor de 3.500 kg/ha nos últimos anos, passando de 2.259 kg/ha em média, na década de 1980, para 3.554 kg/ha, na década de 1990, e para 3.525 kg/ha, na década de 2000. No período de 2010-2012, o rendimento médio foi de 3.556 kg/ha. Em 2004, foi registrado o maior rendimento médio mundial, 3.929 kg/ha (adaptado de FAO, 2013).

No período de 2008-2012, os países que apresentaram maiores rendimentos médios, calculados com base em dados da FAO (2013), foram Bélgica (6.732 kg/ha8), Suíça (5.977 kg/ha), Holanda (5.923 kg/ha), Alemanha (5.815 kg/ha), Luxemburgo (5.538 kg/ha) e França (5.394 kg/ha). Nesses países, prevalece o plantio de cultivares de ciclo invernal. Na Austrália, no Brasil e em climas mediterrâneos de Portugal e da Espanha, o uso de cultivares primaveris é favorecido (McGOVERIN et al., 2011). Cultivares primaveris têm menor ciclo de cultivo e menor tempo para acúmulo de reservas, resultando em menor potencial de rendimento (NASCIMENTO JUNIOR et al., 2011), como se constata com as médias de rendimento nesses países: 1.650 kg/ha, na Austrália; 2.311 kg/ha, no Brasil; 2.257 kg/ha, na Espanha; e 1.333 kg/ha, em Portugal (adaptado de FAO, 2013).

O continente europeu concentra a produção de triticale, pois mais de 80,0% de sua produção têm origem nesse continente. Na década de 1980, a Europa representou 83,9% da produção mundial; na década seguinte, o continente aumentou sua representatividade (90,4%), recuando para 88,6% na década de 20009. A Oceania teve grande redução de importância na participação da produção nas últimas três décadas (14,3% na década de 1980, 7,0% na década de 1990, e 4,6% na década de 20009), ao contrário do continente asiático, cuja participação na produção vem crescendo (1,4% na década de 1980, 1,7% na década de 1990, e 5,2% na década de 2000). As participações dos continentes americano e africano são insignificantes. No período de 2010-2012, a Europa representou 90,9% do total produzido de triticale no mundo, seguida da Ásia (4,2%, principalmente na China), Oceania (2,8%, basicamente Austrália), Américas (1,9%) e África (0,2%)9.

Quatro países concentram quase dois terços da produção mundial (Tabela 3) e grande parte desta produção é consumida internamente para alimentação animal ou para produção de energia (etanol). No período de 2010-2012, considerando os percentuais de participação calculado, com base em dados da FAO (2013), a Polônia (29,7%), a Alemanha (15,8%), a França (15,5%) e a Bielorrússia (10,7%) representaram 71,7% da produção mundial. Países como a Rússia, a Lituânia, a Sérvia e a Romênia têm aumentado suas produções nos últimos anos.

Desde 1987, a Polônia configura-se como o principal produtor mundial, perdendo esse posto para a Alemanha no período de 1997 a 2002, voltando a assumi-lo desde então. Em 1989, a Polônia representou 62,7% da produção mundial9. Tomando os dados da FAO (2013) como base, nos últimos dez anos (2003-2012), observa-se que a produção polaca representou entre 24,5% a 33,3% da quantidade total produzida no mundo. O país também ocupa o posto de principal exportador mundial e, no período de 2007-2011, foi responsável por 27,1% do comércio internacional do grão. Segundo Jaskiewicz (2009), o cultivo de triticale no país está concentrado nas regiões de Wielkopolska e Kujawy e nas partes central e oriental do país e está associado à produção de alimento para criações de suínos e de aves. Nos últimos anos, o declínio de produção observado é atribuído à redução de demanda interna de alimentos do setor de suínos (KNIGHT, 2012).

Na França, segundo maior produtor mundial de triticale, os cultivos concentram-se na região central (Massif Central) e oeste (Bretagne e Pays de Loire) do país, onde predominam a criação animal (BOUGUENNEC et al., 2004). O cultivo do cereal expandiu-se no país, substituindo cultivos de centeio e, na região oeste do país, cultivos de cevada (BOUGUENNEC et al., 2004). O triticale é usado, majoritariamente, para alimentação animal e, em geral, consumido diretamente em fazendas para alimentação de gado (BOUGUENNEC et al., 2004). O uso do cereal em produção ecológica também tem sido explorado no país, dada a maior rusticidade, melhor adaptação a terras menos férteis e menor uso de agrotóxicos (PERCHE, 2010; AUDFRAY et al., 2012), assim como o uso para estabelecimento de rotações de cultivo ou associação com leguminosas para produção de forragem (INSTITUT TECHNIQUE DE L´AGRICULTURE BIOLOGIQUE, 2004).

Na Alemanha, o triticale é usado na elaboração de rações de suínos e aves (OETTLER, 2005) e seu cultivo ocorre em regiões de alta demanda de grãos para alimentação animal e produção de etanol (TRITICALE-INFOS, 2013a). Do total da produção, quase 95% são utilizados para alimentação animal (sendo dois terços consumidos na própria fazenda e um terço como mistura na produção comercial de ração), 3% são destinados para uso como semente, 2% são direcionados à exportação e menos de 1% é empregado para produção de álcool (OETTLER, 2005).

Na Bielorrússia, o triticale responde por 18,6% da área ocupada por cultivo de cereais no país. Segundo Abercade Consulting (2009), o triticale é uma cultura forrageira importante no país, mas também é amplamente utilizada para produção de álcool e cerveja e, em menor quantidade, para alimentação humana.

Na China, antes de 1995, o triticale foi utilizado por agricultores em áreas montanhosas frias do sudoeste e noroeste do país, sendo destinado à alimentação humana. No entanto, nos últimos anos, com o desenvolvimento de tipos forrageiros, o triticale tem sido amplamente utilizado como forragem fresca, silagem e feno, embora novos usos finais, incluindo produção de cerveja e de álcool e uso de palha para tecelagem, também tenham sido explorados. Em 2001, 50,7% da produção teve destino para processamento e 31,2%, para alimentação animal. Já em 2008, 3,8% das áreas foram destinadas para produção de grão para alimentação humana e 96,2%, para produção de forragem (WANG et al., 2010). O cultivo do cereal tem se expandido pelos Vales Amarelo e de Huai e no noroeste da China (WANG et al., 2010).

Na Austrália, o triticale é encontrado, em pequena escala, em todas as regiões de produção de grãos; no entanto, a maior parte da produção ocorre em áreas de precipitação mais elevada, no sudoeste do país e, frequentemente, em fazendas mistas de duplo propósito (lavoura-pecuária) (AGTRANS RESEARCH, 2008). O Pork Cooperative Research Centre financia pesquisa para desenvolvimento de cultivares de triticale mais adequadas às necessidades nutricionais de suínos (AGTRANS RESEARCH, 2008).

O comércio internacional de triticale não é significativo, oscilando entre 230,0 a 650,0 mil t segundo os dados da FAO (2013) (Tabela 3), o que representou de 1,8 a 3,9% da produção mundial, no período de 2003 a 20119. Como já comentado, a Polônia é o principal país exportador,representando 33,6% do volume transacionado, no período de 2009-2011, e média de exportação de 170,9 mil t (adaptado de FAO, 2013), A Alemanha (23,2% - 118,2 mil t), a Lituânia (16,8% - 85,5 mil), a França (6,8% - 34,5 mil t) e a China (6,0% - 30,8 mil t) integram o conjunto dos principais exportadores9. No período de 2007-2011, os principais compradores da Polônia foram: Alemanha (63,1%), Holanda (13,6%) e Suíça (9,6%). Já no caso da Alemanha, a Holanda absorveu 85,1% da quantidade total de triticale exportada pelo país, no referido período.

Nesse sentido, a cultura pode ser configurada como de consumo interno, já que, em nenhum dos países exportadores, o volume produzido e destinado à exportação é expressivo. Na década de 2000, países como Luxemburgo (13,4%10), China (8,3%), Lituânia (6,7%), Hungria (6,1%), República Checa (5,8%) e Alemanha (5,6%) apresentaram os maiores percentuais de participação das exportações em relação a sua produção doméstica. Na Polônia, maior exportador, a quantidade exportada representou somente 0,8% da produção do país, na média da década de 2000.

No caso das importações, a observação dos dados da FAO (2013) demonstra que, no período de 2007 a 2011, a quase totalidade do destino foi para países europeus, que representaram 97,5%9 do volume transacionado no comércio internacional. A Holanda é o principal país importador de triticale desde a década de 1990, quando representou 66,2%, e manteve média similar na década de 2000 (65,7%). Com a ampliação da importação pela Alemanha nos últimos anos, a Holanda diminuiu sua participação, passando para 41,4%. A quantidade importada pela Alemanha cresceu expressivamente a partir do ano de 2005, sendo o maior país importador no ano de 2011 (107,3 mil t, segundo FAO, 2013). No período de 2007-2011, a quantidade importada pela Alemanha representou 37,7% do total mundial, em oposição a 4,3%, na década de 1990. Países como Suíça (5,4% da importação, entre 2007-2011) e Itália (4,4%) também têm ampliado as quantidades importadas nos últimos anos.

A maior parte da produção de triticale é utilizada na alimentação animal como substituto de outros cereais ou como substituto parcial de fontes de proteína, tais como farinha de soja. No entanto, há algumas exceções. Segundo Lozano Del Rio et al. (2004), no México, somente 9,0% do triticale produzido destina-se para a alimentação animal, sobretudo na região norte do país. Boa parte da produção destina-se para produção de pães e tortillas


7 Dados calculados pelos autores com base em dados de FAO (2013) considerando o conjunto dos seguintes cereais: Trigo, milho, arroz, cevada, sorgo, milheto, aveia, centeio, triticale, trigo sarraceno, fonio, alpiste, quinoa, amarantos e outros cereais de importância para locais específicos.
8A Bélgica tem o maior rendimento médio anual observado, de 7.286 kg/ha, em 2009 (FAO, 2013).
9Valores calculados pelos autores com base em dados de FAO(2013).
10Percentual de representatividade das exportações sobre a produção do país, média da década de 2000, calculada com base em dados da FAO (2013).

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