Embrapa Trigo
 
Março, 2014
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Passo Fundo, RS

Mercado e comercialização da canola

Os primeiros registros de comercialização de colza no Brasil datam de 1981, as quais não foram muito animadoras. O produto colhido em novembro/dezembro foi comercializado e o pagamento somente feito em abril/maio do ano seguinte, causando prejuízo aos produtores. O destino foi à exportação para o Japão por US$ 255,00/tonelada (DIAS, 1992).

Passados trinta anos, observa-se a consolidação de canais de comercialização com a participação das indústrias de extração de óleo no fomento da produção, as quais disponibilizam sementes de híbridos, em alguns casos, fertilizantes e suporte técnico para o cultivo, com a opção de garantia de compra via contrato de compra e venda antecipada. Dentre as empresas e organizações que têm atuado no fomento ao cultivo, destacam-se (por estado e por ordem alfabética): BSBIOS – Indústria e Comércio de Biodiesel Sul Brasil Ltda. (Passo Fundo, RS), Celena Alimentos S.A (Giruá, RS), Cooperativa Agrícola Mista General Osório - Cotribá (Ibirubá, RS), Cooperativa Agropecuária Alto Uruguai Ltda. - Cotrimaio (Três de Maio, RS), Cooperativa Agropecuária e Industrial - Cotrijal (Não Me Toque, RS), Giovelli & Cia Ltda. (Guarani das Missões, RS), Bunge Alimentos (Gaspar, SC), AG Teixeira (Candói, PR), Cocamar Cooperativa Agroindustrial (Maringá, PR) e Cooperativa Agrária (Guarapuava, PR) e Caramuru Alimentos Ltda. (Itumbiara, GO).

Adicionalmente, com a publicação do primeiro Zoneamento Agroclimático para o cultivo da canola para o estado do Rio Grande do Sul, em 2008, (BRASIL, 2008) e sua extensão para os três estados do sul, em 2009, o cultivo da oleaginosa passou a acessar linhas de crédito e sistemas de seguro para a garantia das operações.

A possibilidade de substituição entre os óleos vegetais e farelos oriundos de diferentes espécies, resulta em relativa paridade entre os preços dos óleos e dos farelos proveniente destas distintas espécies. No sul do Brasil, historicamente, o preço do óleo de canola nas indústrias de extração é 30% superior ao óleo de soja. O girassol, geralmente, é 20% superior. A diferenciação ocorre, principalmente, por aspectos relacionados à saúde no óleo destinado à alimentação humana.

No caso do preço do farelo de canola, a relação é de, aproximadamente, 75% do preço do farelo de soja em função do valor alimentar. O farelo de canola possui emprego similar ao do farelo de soja, entretanto, existem demandas especificas para o farelo de canola, como no Chile, onde o mesmo é empregado para a produção de salmão.

Com base nas cotações de matérias primas oleaginosas expressas na Figura 5, observa-se similaridade no comportamento de preços das matérias primas e o amendoim possui o maior valor de mercado, seguido pela copra (polpa do fruto de coco desidratada com 6% de umidade). De maneira geral, houve movimento de valorização de oleaginosas a partir de 2005. Se compararmos a média de preços do período de 1991-2000 ao período de 2001-2010, os preços obtidos foram de 23,5% (amendoim) a 53,6% (canola) maiores no segundo período em relação ao primeiro23.

Tomando como referências as cotações de canola-grão no Canadá, na Argentina, na União Europeia e no Brasil, confirma-se a tendência crescente de preços da oleaginosa, especialmente após o ano de 2005, atingindo cotação próxima a US$ 600/t em 2008 (Figura 6). No período de 1999-2006, os preços médios anuais mantiveram-se entre US$ 110,00/t a US$ 300,00/t. Já no período de 2007 a 2012, os preços médios anuais oscilaram entre US$ 350,00/t a US$ 650,00/t passando a um patamar médio de US$ 474,41/t. As cotações internas acompanharam o comportamento internacional, sendo 10% a 40% menor que a média das cotações (Canadá, Argentina e União Europeia), no período de 2007-2012. No período 1999 a 2006, o preço médio praticado no Brasil foi de US$ 156,40/t e, no período seguinte (2007-2012), houve valorização do grão, sendo a cotação média US$ 380,92/t24.

Entre os diferentes óleos vegetais, o óleo de palma apresenta o menor valor (Figura 7). Considerando o período de 2003/2004 a 2012/2013, os óleos de soja, coco e milho possuem um valor em torno de 30% superior ao óleo de palma. Já os óleos de algodão, girassol e canola são, aproximadamente, 40%superior ao óleo de palma25. O óleo de amendoim possui o maior valor de mercado sendo, em média, 120% superior ao óleo de palma (ressalva para cotação expressa em CIF, do inglês, Cost, Insurance and Freight, que já incorpora os custos de seguro e de frete marítimo). O óleo de canola é o terceiro óleo em termos de valor, atrás do óleo de amendoim e muito próximo ao óleo de girassol. Segundo a USDA (2013c), no início de 2000, os preços do óleo de canola eram competitivos com óleo de soja e os produtores de biodiesel consideraram a possibilidade de fabricação de biodiesel a partir de óleo de canola. No entanto, os preços do óleo de canola aumentaram e considerando a baixa elasticidade do óleo de canola por seu uso alimentar é pouco provável que os produtores de biodiesel nos Estados Unidos usem quantidades significativas de óleo de canola para produção do biodiesel, preferindo o óleo de soja e a gordura animal pelos preços mais baixos e maior disponibilidade. Situação similar pode ser observada no Brasil, onde todo o óleo de canola é destinado para alimentação humana e o óleo de soja tem sido amplamente empregado na produção de biocombustível.

No período de1993/1994 a 2012/2013, o óleo de canola obteve expressiva valorização. No decênio 1993/94 a 2002/2003, o valor do óleo era 19,5% superior ao óleo de palma e, no decênio seguinte (2003/2004 a 2012/2013), esse percentual foi de 43,3%. O óleo de canola obteve o segundo maior acréscimo anual de preço, de US$ 42,04/tonelada/ano26, entre as safras 1993/94 e 2012/13. Com relação ao óleo de girassol, no período de 1993/1994 a 2002/2003, o preço do óleo de canola foi 11,8% inferior ao preço do óleo de canola. Já no período de 2003/2004 a 2012/2013, houve queda na diferenciação entre os preços, sendo o preço do óleo de girassol 1,08% superior ao óleo de canola.

Em relação ao óleo de colza/canola, na Figura 8 são apresentadas as cotações na Holanda, na Argentina e no Canadá no período de 1993 a 2012. Estimulados pela maior demanda do produto, observa-se que após 2005, houve sincronização entre os preços praticados nos diferentes mercados com maior flutuação entre os anos. O preço médio do período de 1993-2001 foi de US$ 533,25/t. Após uma queda de preços no período 1997 a 2001, os preços do óleo de colza/canola tiveram acréscimos constantes, atingindo cotações acima de US$ 1.300,00/t, em 2008. No período de 2010 a 2012, o preço médio foi de US$ 1.163,23/t e o reajuste de preços médio ficaram entre 10,15 a 13,9% a.a.

O preço praticado no mercado nacional para a canola tem sido semelhante ao preço da soja (Figura 9). Entre os anos de 1998 a 2004, a soja apresentou cotações superiores a canola-grão, variando de 1,7% (2001) a 34,5% (2002) No entanto, as cotações da canola foram maiores que as obtidas pela soja em alguns anos após 2004. No período de 2010 a 2012, as cotações de canola-grão foram de 1,4 a 13,8% superiores comparativamente as cotações observadas para a soja.

A Figura 10 expõem os preços de canola no Paraná (2002-2012), no Rio Grande do Sul (2010-2012) e os preços mínimos (2002-2012). Os preços de mercado tem se mantido superiores ao preço mínimo fixado pelo Governo, de 25,4% a 71,2% acima do preço mínimo. Semelhante ao comportamento de preços internacional, a partir de 2008, observa-se tendência de elevação geral de preços. No período de 2002-2007, no Paraná, a média do preço pago aos produtores foi de R$ 26,73/saca de 60 kg (R$ 445,50/t), passando para R$ 50,50/saca de 60 kg (R$ 685,00/t), entre os anos de 2010 a 2011. Os preços de referência no Rio Grande do Sul tem sido similares aos observados no Paraná. No período de 2010-2012, o preço médio de canola no estado foi de R$ 50,14/saca de 60 kg. Segundo Carvalho (2012), nas regiões Sul e Centro-Oeste muitos produtores têm colhido em torno de 20 sacas de 60 kg/ha (1.226 kg/ha), com custos de produção em torno de R$ 1.310,00/ha.


23Valores calculados pelos autores com base em dados de USDA (2002) e USDA (2013c).
24Valores calculados pelos autores com base em dados de Canola Council of Canada (2013b), Argentina (2013), USDA (2013c) e Paraná (2013b).
25Considerando o período de janeiro de 2003 a junho de 2013, o óleo de palma foi inferior aos demais, nos seguintes percentuais médios: 29,9% para o óleo de milho, 32,6% para o óleo de coco, 36,3% para o óleo de algodão e 44,0% para o óleo de girassol.
26O óleo de amendoim teve acréscimo de US$ 62,28/t/ano e o óleo de girassol, de US$40,30/t/ano.

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