Embrapa Trigo
 
Março, 2014
149
Passo Fundo, RS

A canola no Brasil

O cultivo de colza no Brasil iniciou-se em 1974, em Ijuí (noroeste do estado do Rio Grande do Sul), com a instalação de lavouras de observação pela Cooperativa Regional Tritícola Serrana LTDA, hoje denominada COTRIJUI - Cooperativa Agropecuária & Industrial. Segundo Martin e Nogueira Junior (1993), tal iniciativa era resultado de um acordo de cooperação entre a referida Cooperativa e a Universidade de Göttingen, da Alemanha.

Em 1979, haviam 500 hectares cultivados com a cultura. Nesse mesmo ano, foi oficialmente aprovado a realização de estudo do uso de óleos vegetais como substitutos dos derivados de petróleo, em especial, do óleo diesel, pela Comissão Nacional de Energia, por meio da criação do Programa Nacional de Óleos Vegetais para fins Energéticos - PROÓLEO (DIAS, 1992).

No inicio dos anos 1980, motivados pela necessidade de diversificação de cultivos para redução de risco, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul, por meio da Secretaria de Agricultura, cooperativas e outras entidades públicas e privadas iniciaram, oficialmente, os trabalhos de introdução econômica do cultivo de colza. Em 1980, houve registro de plantio de 2,5 mil hectares e, em 1981, 20,0 mil hectares. No entanto, o retardo da comercialização da safra de 1981 (a safra somente foi comercializada em abril/maio de 1982), acabou por causar desestimulo, resultando em redução de área semeada para 2,0 mil hectares em 1983 (DIAS, 1992).

Os plantios avançaram para o estado do Paraná já no início dos anos de 1980. Com a expansão do cultivo, pesquisas de adaptação de genótipos oriundos da Europa e do Canadá, foram desenvolvidas pela Embrapa Trigo (RS) e pelo IAPAR (PR). Inicialmente, voltadas para obtenção de uma alternativa de inverno e/ou para recuperação de solo, como adubo verde, as pesquisas adquiriram foco para produção de óleo comestível devido à expansão de demanda de mercado.

No entanto, em fins da década de 1980, observou-se uma retração do cultivo da oleaginosa. Problemas relacionados ao manejo da cultura (falta de técnica apropriada de semeadura, maturação desuniforme e dificuldades de colheita) e a incidência de doenças, desestimularam seu cultivo nas décadas que seguiram.

Morceli (1994) relata que a busca por alternativas saudáveis de alimentação, no começo dos anos de 1990, impulsionou a reintrodução do cultivo por meio das cooperativas ligadas a Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (OCEPAR). Estes esforços foram liderados pelo Sr. Silas e pelo Engenheiro Agrônomo José Roberto Gomes, respectivamente, diretor industrial e diretor do departamento técnico da Cooperativa de Cafeicultores de Maringá (COCAMAR), que visitaram o Canola Council of Canadá. Estes contatos levaram a importação de, aproximadamente, 20 toneladas de sementes do híbrido Hyola 401, com registro de cultivo de, aproximadamente, 13,0 mil hectares, em 1993. No entanto, condições meteorológicas adversas (forte geadas na floração e estiagem de cerca de quarenta dias no final de floração e formação de síliquas e grãos) resultaram em baixos rendimentos de grãos (1.050 kg/ha), totalizando uma produção de, aproximadamente, 13 mil toneladas, a qual foi adquirida pela COCAMAR. Neste período, se iniciaram trabalhos de pesquisa no Paraná, conduzidos pelo Eng. Agr. Márcio Mendes, da COCAMAR/ OCEPAR, com apoio financeiro da COCAMAR.

A partir do ano de 2001, houve nova expansão da área de cultivo comercial de canola, sobretudo nos estados do Rio Grande do Sul e do Paraná, chegando à região sudoeste de Goiás, em 2003 (TOMM, 2005). A partir de 2007, a Bunge Alimentos estimulou a produção de canola no Paraná, garantiu a compra da produção, frequentemente, com preços fixados antes da semeadura e patrocinou os treinamentos de técnicos e de produtores em diversos municípios do Paraná. Nesse período, trabalhos de experimentação foram estabelecidos e contaram com a participação de cooperativas como a COCAMAR e a Cooperativa Agrária. Posteriormente, a Bunge Alimentos passou a adquirir apenas o óleo de canola, deixando o fomento direto para empresas parceiras.

A Figura 4 apresenta a evolução do cultivo da canola no Brasil no período de 1980 a 2011, com base em dados da FAO (2013). Conforme podemos observar na Figura 4, houve expressivo incremento na área colhida da oleaginosa a partir de 1998, passando de 11,7 mil hectares/ano, no período 1980 a 1998, para 32,1 mil hectares/ano, no período 2002 - 200918. No período de 2010-2012, houve novo impulso, e a área média colhida alcançou 44,00 mil hectares/ano. Por sua vez, o rendimento também apresentou crescimento. No período 1980 a 1992, rendimento médio de grão foi de 829 kg/ha, passando a 1.372 kg/ha/ano período de 2008-2012.

Os dados da área cultivada de canola por estado brasileiro apresentam descontinuidade e imprecisões. A Tabela 10 apresenta dados de área colhida, quantidade produzida e rendimento de grão por estado e total no Brasil, a qual foi elaborada com séries históricas de diversas instituições optando-se por aquelas em que o conjunto de dados era mais longo. Com relação aos dados da FAO, os dados também evidenciam crescimento de área e de produção, no entanto, num ritmo mais paulatino e com valores totais menores até o ano 2009. Com base nesse conjunto de dados, a área média colhida no país foi de 3.716 hectares/ano, entre 1995 a 1999, de 11.278 hectares/ano, entre 2000-2004, e de 23.582 ha/ano, entre 2005-2009 No período de 2010-2012, a área média colhida quase dobrou em relação ao quinquênio anterior (44.102 hectare/ano)19. O rendimento cresceu, em média, 9,8 kg/ha/ano entre 1995 e 2012. No período de 1995-1999, o rendimento médio foi de 1.127 kg/ha/ano e, no período 2010-2012, 1.360 kg/ha. Nos anos de 2002 e 2006, houve frustações de safra com redução do potencial de rendimento da oleaginosa em decorrência de adversidades climáticas.

Levantamento realizado junto as principais empresas que fomentam a produção de canola no Brasil (Tabela 11), pelo pesquisador Gilberto Omar Tomm, aponta maior área semeada nos anos de 2011 e 2012, quando comparado aos dados agregados dos institutos, inclusive com registro de cultivo nos estados de Minas Gerais e de Mato Grosso. Esse levantamento indica que a área semeada com canola no Brasil cresceu de forma linear de 2008 a 2011, quando atingiu 59.100 ha. Em 2012, uma forte deficiência hídrica no Sul do Brasil, prejudicou a safra de soja e prejudicou o período de semeadura da canola, levando muitos produtores a cancelarem a semeadura de lavouras que estavam previstas. Ainda em 2012, ocorreu severo estresse hídrico nos campos de produção de sementes na Argentina. Em consequência da limitada disponibilidade de sementes, a área semeada no Brasil, em 2013, se restringiu a 42.168 ha.

Com relação à distribuição geográfica do cultivo, o estado do Rio Grande do Sul tem sido o maior produtor brasileiro, seguido pelo estado do Paraná. Juntos esses estados responderam por 93,2% da área cultivada com canola, no período 2010-201219.

Os dados evidenciam o crescimento gradual da área cultivada no Rio Grande do Sul, que alcançou 30,0 mil hectares, no ano de 2010, segundo os dados do Canola (2011). No período de 2001 a 2003, a área média colhida no estado foi de 8.327 ha e o rendimento médio de 1.021 kg/ha. Já no período de 2010 a 2012, a média foi de 28.153 hectares com rendimento médio de 1.365 kg/ha19. A região do Planalto, Médio Alto Uruguai e Noroeste do estado concentram o cultivo da oleaginosa, em decorrência da localização das empresas de fomento, sediadas nessas regiões. Segundo os dados do Informativo Conjuntural (2012), em 2012, 27,0% da área de cultivo estava localizada na região de Passo Fundo; 21,8%, na região de Ijuí e 19,1% na região de Santa Rosa (Tabela 12). Destaque para os municípios de Santo Ângelo, Giruá, Entre-Ijuís, Guarani das Missões, São Luiz Gonzaga, Bossoroca, Passo Fundo, Chapada e Ronda Alta, os quais apresentam os maiores registros de área de cultivo (adaptado de INFORMATIVO CONJUNTURAL, 2012). Em termos de rendimento, a região da regional de Caxias do Sul, especificamente, os Campos de Cima da Serra, apresentaram o melhor rendimento dentre as demais regiões (1.600 kg/ha), sendo uma região promissora para o cultivo de canola.

No estado do Paraná, no período de 1995 a 2003, a área média anual colhida foi de 4.139 hectares/ano, com rendimento de grão de 1.171 kg/ha/ano, e passou para passou para 12.916 hectares/ano, com um rendimento médio de grão de 1.427 kg/ha, no período de 2010 a 201219. Aquém da expansão da área e do rendimento de grãos, observaram-se alterações na distribuição geográfica do cultivo no estado. Entre as safras 2001/02 e 2004/05, as regiões norte, noroeste e centro-oeste do estado respondiam por quase 100% da área de cultivo da oleaginosa, mas a partir da safra 2005/06, houve redução de expressão dessas regiões, que totalizaram 7,4% da área de cultivo no período de 2006/07 a 2011/12. A região oeste do estado assumiu grande importância no cultivo, sendo a principal região no período de 2005/2006 a 2010/2011 (exceção feita à safra 2007/2008, em que ocupou a segunda posição, atrás da região sudoeste). Por sua vez, a região sul, passou a ampliar gradualmente a área de cultivo, sendo a primeira região na safra 2011/2012. Conforme Paraná (2013a), em 2011, a produção de canola no estado do Paraná foi concentrada na região Oeste (37,4% da área colhida), na região sul (36,7%) e na região sudeste (20,3%). Já em 2012, a região sul concentrou 59,4% da área colhida de canola do estado, seguida das regiões norte (14,2%) e oeste (13,6%) (Tabela 13).

Os núcleos regionais de destaque são os de Ponta Grossa, que desde a safra 2007/2008 tem expandido a área de cultivo, chegando a primeira posição na safra 2011/12, e o de Guarapuava, que tem mantido área de cultivo entre 2.300 a 2.800 hectares nas últimas nas safras de 2009/2010 a 2011/2012. O núcleo regional de Cascavel, por várias vezes, foi o principal núcleo de produção no estado, no entanto, vem apresentando decréscimo de área cultivada. Destaques para os rendimentos obtidos pelos núcleos regionais de Ponta Grossa (2.060 kg/ha) e de Jacarezinho (1.900 kg/ha).

Além dos estados do Rio Grande do Sul e do Paraná, o cultivo tem se expandido nos estados de Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso (Tabelas 10 e 11). Em 2013, segundo os dados do levantamento junto às empresas de fomento da cultura, os 42.168 ha semeados com canola no Brasil, estavam distribuídos nos estados do RS (58,1%), PR (39,4%), MS (1,5%), SP (0,9%) e MT (0,04%). Os dados do Censo Agropecuário de 2006 (CENSO..., 2009), também apontaram registro de cultivo, embora em baixíssimo número de produtores e de área colhida, nos estados de Rondônia, Piauí, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Espírito Santo.

No Mato Grosso do Sul, a produção de canola se desenvolve nas microrregiões de Dourados e Iguatemi. Segundo os dados da Cultura... (2012), os municípios de Ponta Porã (51,4%), Laguna Caarapó (16,8%) e Aral Moreira (12,4%) concentraram a produção da oleaginosa no estado, no ano de 2011.

Com relação ao perfil dos produtores de canola, de acordo com os dados do Censo Agropecuário (CENSO..., 2009), em 2006, 293 produtores possuíam registro de cultivo de canola, sendo que 27,0% desses estabelecimentos eram de área total entre 20 e 50 hectares e 22,9% possuíam área menor que 20 hectares. Em termos de área colhida de canola por estabelecimento, 33,8% das propriedades possuíam área colhida menor que 10 hectares, em 27,6% do grupo, a área colhida era entre 10 e 20 hectares e em 25,3%, entre 20 e 50 hectares.

Como já mencionado anteriormente, o principal destino brasileiro da produção de óleo de canola é para o consumo humano. O consumo per capita de óleo de canola no país, estimado pelo IBGE (2012) em 2008-2009, foi de 0,064 kg/ habitante/ano, valor bastante inferior ao consumo estimado de óleo de soja de 6,34 kg/habitante/ano. O óleo de canola representou 0,9% do consumo per capita de óleo no Brasil (estimado em 7,1kg/habitante/ano). As regiões sul (0,11 kg/habitante/ano) e sudeste (0,098 kg/habitante/ano)21 apresentaram maior consumo per capita e representou 1,35% e 1,30% do consumo per capita de óleos, respectivamente. O estado de Mato Grosso apresentou o maior consumo per capita, 0,204 kg/habitante/ano, seguido dos estados de Santa Catarina (0,163 kg/habitante/ano), São Paulo (0,119 kg/habitante/ano), Paraná (0,099 kg/habitante/ano) e Rio de Janeiro (0,093 kg/habitante/ano). Seu consumo limitado está condicionado pelo preço do produto, baixos volumes de produção e dificuldades de distribuição logística. As classes de rendimento mensal familiar de R$ 4.150 a 6.225,00 e maior que R$ 6.225,00, apresentaram os maiores valores de consumo (0,12 kg/ habitante/ano e 0,38 kg/habitante/ano, respectivamente), representando 1,6% e 4,9% do consumo total de óleo dessas classes, respectivamente. (adaptado de IBGE, 2012).

Com base nos dados de consumo per capita (0,064 kg/habitante/ano) e estimativa da população em 2012, estima-se um consumo de 13,5 milhões de litros de óleo de canola no Brasil. Por outro lado, se somarmos o potencial de geração de óleo da produção nacional de grão (média de 60,17 mil toneladas com geração de 21,6 milhões de litros de óleo, no período de 2010 a 2012), ao potencial de geração de óleo dos grãos importados (média de 31,4 mil t com geração de 11,3 milhões de óleo de canola, no período 2010-2012) ao total de óleo importado (média 9,3 milhões de litros, no período 2010-2012), o consumo nacional aparente seria de 42,26 milhões de litros de óleo de canola, resultando em um consumo per capita de 0,22 kg/habitante/ ano, superior ao reportado pela pesquisa de consumo familiar em 2008/2009.

E por sua vez, se houvesse a substituição de 1/5 do consumo brasileiro de óleo por óleo de canola, ou seja, 1,42 kg/habitante/ano (consumo per capita próximo ao consumo mundial estimado pela FAO (2013) em 1,4 kg/habitante/ano, no ano de 2009), a demanda potencial de óleo de canola no país seria de 299,52 milhões de litros, ou seja, 765,4 mil toneladas de canola-grão, doze vezes mais que a atual produção nacional.

Para suprir a demanda nacional, o país depende de importações. A Tabela 14 apresenta dados de importação de semente, grão, óleo e torta de canola (colza e nabo silvestre), no período de 2007 a 2012. A implantação das lavouras tem sido executada com sementes importadas originárias da Argentina, da Austrália, do Canadá, do Paraguai e dos Estados Unidos. No período de 2008-2012, o país importou em média 133,2 toneladas/ano de semente de canola, sendo a Argentina (56,8%) e a Austrália (35,7%) os maiores fornecedores nesse período22. A importação de grãos ampliou expressivamente desde o ano de 2002, quando o país importou 2,43 mil toneladas, alcançando 34,33 mil toneladas, em 2012. No período de 2008-2012, a importação média anual de grãos de canola foi de 24,9 mil toneladas, a quase totalidade (99,7%) advinda do Paraguai. As importações de óleo bruto foram de 10,1 mil toneladas, na média do período 2008 – 2012, e o Paraguai representou 60,3% do total importado no período, seguido pela Argentina (27,7%) e pelo Canadá (5,9%). No período entre 2001 a 2007, o Canadá e os Estados Unidos possuíam maior participação nas importações de óleo bruto (35,5% e 12,5% do total importado, respectivamente) (adaptado de BRASIL, 2013).


18Valores calculados pelos autores com base em dados da FAO (2013).
19Valores calculados pelos autores com base em dados adaptados de Canola (2011), CONAB (2013) e Paraná (2013a). No caso dos dados da FAO (2013), as médias foram 13.200 ha/ano (1995-1999), 29.600 ha/ano (2000-2004) e 31.400 ha/ano (2005-2009).
20Dados coletados anualmente por Gilberto O. Tomm, junto as principais empresas que fomentam a produção de canola no Brasil. Última atualização em 22/7/2013.
21A região centro-oeste apresentou consumo de 0,053 kg/habitante/ano e as regiões norte e nordeste, consumos similares a 0,01 kg/habitante/ano.
22Valores calculados pelos autores com base em dados de Brasil (2013).

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