Embrapa Trigo
 
Junho, 2013
142
Passo Fundo, RS
Mercado e comercialização de centeio

Do ponto de vista global, o centeio pode ser considerado um nicho de mercado, em que demanda e oferta estão concentradas em uma mesma região: no hemisfério norte entre os Montes Urais e o Mar Nórdico. No mercado brasileiro, o cereal também assume características de nicho de mercado, com uma demanda restrita e direcionada à produção de panificáveis.

A demanda para o centeio é geralmente inelástica em decorrência de uma oferta ajustada à demanda e da existência de poucos substitutos para produtos de centeio (RYE..., 2012b). Em algumas situações, a produção reduzida é considerada um incômodo, configurando problemas no manuseio e no transporte e custos logísticos maiores, desestimulando o cultivo do cereal.

As flutuações anuais de preço dependem das condições da oferta de curto prazo e da demanda pelo produto. Segundo Bushuk (2001), em geral, o centeio tem preço substancialmente inferior ao trigo no mercado internacional. Na história do produto, alguns arranjos entre países, como no caso da Politica Agrícola Comum da Comunidade Europeia na década de 1960[13], e a escassez do produto resultaram em preços próximos ao preço do trigo. Em situação de oferta maior que a demanda, o preço do centeio fica abaixo do preço da cevada e quantidades consideráveis são destinadas à alimentação animal (BUSHUK, 2001).

A Figura 4 apresenta os preços pagos aos produtores pelo centeio nos principais países produtores e no Brasil. Entre 2000 e 2006, o patamar de preços médio nos principais produtores manteve-se entre US$ 40,30/t (Rússia, 2002) e US$135,50/t (Alemanha, 2004) com média anuais oscilando entre US$ 80 a 100 / tonelada. O aumento de consumo de alimentos, dada a expansão econômica de países em desenvolvimento e a disputa por áreas pelas principais culturas e biocombustíveis, a partir de 2007, conduziram a uma tendência altista geral dos preços de produtos agrícolas, que também ocorreu no centeio. Em 2008, o preço médio pago nesse conjunto de países se aproximou aos US$ 200,00/t. Nesse ano, o preço médio pago ao produtor nos EUA foi de US$ 249,00/t e de US$ 243,00/t no Canadá. Em ambos os países, no entanto, se observa nesse período tendência de redução de área semeada com o cereal. Entre 2007 e 2010, os preços anuais médios ultrapassaram a faixa de US$ 100,00/t ficando entre US$ 130,00 (2009) e R$198,00 (2008).

Os preços recebidos pelos produtores na Bielorrússia, Rússia e Ucrânia são menores (entre 16,0% a 32,0%) quando comparados aos preços praticados na Alemanha, Polônia, Canadá e EUA. De forma semelhante, os preços registrados no Brasil foram menores aos praticados nesse conjunto de países, mantendo-se entre US$50 a 90,00/t demonstrando limitações na influência dos preços internacionais no mercado interno, considerando a menor proporção da tendência altista observada em 2008, o que confere maior peso aos fatores internos na definição de preços.

Nos EUA, os preços pagos aos agricultores foram US$ 194,10/t, em 2009, US$ 198,00/t, em 2010, e US$ 305,00/t, em 2011[14]. Já na Argentina, os preços FOB do centeio a granel com até 15% ensacado foram US$ 204,08/t, em 2010, US$249,42/t, em 2011, e US$ 239,08, em 2012[15]. No Brasil, no estado do Paraná, os preços médios pagos aos produtores foram de US$ 231,63 /t, em 2010; US$ 349,00/t, em 2011, e de US$ 216,47/t, em 2012[16].

Os preços recebidos pelos produtores pelo centeio em relação aos preços do trigo e da cevada apresentaram retração entre a década de 1990 e 2000. Tomando os preços praticados nos principais países produtores, a relação centeio/trigo passou de 88,3 %, na década de 1990, para 81,9%, na década de 2000[17]. No entanto, tal relação variou de 66,5% (Bielorrússia) até 98,1% (Estados Unidos), na década de 2000. Já a relação centeio/cevada, passou de 107,6% no primeiro período, para 92,9%, no segundo período. No Canadá e nos EUA, os preços de centeios, na década de 2000, foram de 2,0 a 4,0%, respectivamente, superiores aos recebidos pela cevada. Observam-se diferenciações considerando o perfil do centeio, por exemplo, centeio para panificação e centeio para alimentação animal. Tomando os preços praticados em 18 de dezembro de 2012 (RYE..., 2012b), os preços do centeio para farinha eram 1,9% e 7,8% superiores ao centeio para alimentação animal na Polônia e na Alemanha, respectivamente. No Canadá, no período de 2006-2012, esse percentual foi de, aproximadamente, 10,0%.

No Brasil, o mercado do centeio é limitado e instável, sendo os moinhos os principais compradores do produto para a elaboração de farinhas para a panificação. A comercialização do centeio é regida pela Portaria Interministerial 191 de 14/04/1975 (BRASIL, 1975) que define a padronização, classificação e comercialização interna de aveia, centeio e cevada. O centeio é classificado em grupos e tipos, segundo o seu peso do hectolitro e qualidade.

De acordo com o seu peso do hectolitro, o cereal é ordenado em quatro grupos (Quadro 1). Em função do perfil de umidade e da presença de grãos carunchados, danificados, avariados, partidos ou quebrados e de impurezas e/ou matérias estranhas são estabelecidos quatro tipos (Quadro 2). O grão que não satisfizer os padrões definidos é classificado como “Abaixo de padrão”, desde que apresente bom estado de conservação.

 

Quadro 1. Descrição dos grupos de centeio, segundo Portaria 191/75, Brasil.

Grupos Peso por hectolitro
1 igual ou superior a 72 kg/ hL
2 de 67 kg/ hL a menos de 72 kg/ hL
3 de 62 kg/ hL a menos de 67 kg/ hL
4 inferior a 62 kg/ hL

Fonte: adaptado de BRASIL (1975).

Quadro 2. Tipos de centeio, segundo Portaria 191/75, Brasil.

Tipo Perfil grão Umidade (%) Carunchados ou Danificados (%) Avariados (%) Partidos ou Quebrados (%) Impurezas e/ou Matérias Estranhas (%)
1 grãos perfeitos, maduros, secos, sãos, limpos, de tamanho, cor e forma característicos da variedade

14 2,00 2,00 1,00 0,50
2 grãos perfeitos, maduros, secos, sãos, limpos, de cor e tamanho característicos da variedade 14 4,00 4,00 2,50 1,00
3 grãos perfeitos, maduros, secos, sãos e limpos 14 6,00 6,00 4,00 2,00
4 grãos perfeitos, maduros, secos, sãos e limpos 14 8,00 8,00 6,00 3,00

Fonte: adaptado de BRASIL (1975).

Até 2000, a Resolução CNNPA nº12 de 1978 (BRASIL, 1978) definia como pão de centeio, o "produto preparado, no mínimo, com 50% de farinha de centeio". Atualmente, a Resolução nº 263, de 22/09/2005 (BRASIL, 2005), não especifica a porcentagem de farinha de centeio para produto sob denominação de “pão de centeio”. Países como Portugal, definem não somente teores superiores a 50% de farinha de centeio, como também o tipo de centeio a ser utilizado[18] (CARDOSO, 2005). Trabalho conduzido por Anton et al. (2007), analisou a composição de pães brancos e integrais, coletados em Florianópolis, com a informação nutricional descrita em seus rótulos e parâmetros estabelecidos para pães integrais definidos no Brasil, na Europa e nos EUA. Os teores de ingredientes integrais encontrados nas amostras de pão de centeio integral e pão de centeio light eram, em média, 15,5%, ou seja, inferiores à concentração mínima de 51% de farinha e/ou grãos integrais exigidos pela instituição Food and Drug Administration (FDA) para a rotulagem de alimentos intitulados como integrais. Segundo os autores, diversos estudos que defendem os benefícios fisiológicos provenientes do consumo de alimentos integrais enfatizam a importância da alta concentração (51%) de ingredientes integrais e sugerem que o Brasil siga esse padrão como valor mínimo.

A Resolução RDC nº 07/2011 (BRASIL, 2011) que dispõe sobre os limites máximos para a presença de micotoxinas em alimentos, também governa a comercialização do cereal.

Entre 1980 e 1982, para incentivar a diversificação de cultivo de inverno, o Governo Federal incluiu o centeio na política de preços mínimos, atribuindo-lhe valor equivalente a 74% do preço pago ao trigo nacional. Segundo Baier (1988), em 1987, esse percentual foi de 58%. Na Figura 5 pode-se observar a relação entre os preços mínimos definidos para o centeio, o trigo, a cevada e a aveia entre as safras 2004/2005 a 2012/2013. Os preços mínimos estabelecidos para o centeio e para a aveia são similares, sendo a relação de 89,0% entre as safras 2004 – 2008, passando para 101,1% a partir da safra 2010/2011. Entre 2004 a 2007, a relação entre os preços mínimos de centeio e de trigo e entre de centeio e de cevada foi de 54,4% e 64,0%, respectivamente. Já entre 2010 e 2012, essas relações passaram para 73,0% e 72,6% respectivamente. Na safra 2012/2013, o preço mínimo do centeio foi estabelecido em R$270,00/t, correspondendo a, aproximadamente, 71,0% dos preços mínimos definidos para o trigo e para a cevada.

Na Figura 6 podem ser observados os preços recebidos pelo produtor no estado do Paraná, confrontando-os com os preços do trigo e da cevada e com a quantidade produzida de centeio no estado. Nota-se a influência da variação da oferta sob os preços praticados no mercado, bem como correspondência com a dinâmica do comportamento de preços do trigo e da cevada. Entre 1998 a 2002, os preços dos três cereais apresentam valores similares. Os preços domésticos acompanharam a trajetória dos preços externos que a partir de 2000 foram ascendentes até 2008. Adicionalmente, a redução da oferta no estado resultou na valorização do centeio em patamares superiores ao trigo e cevada entre 2003 a 2005 e no ano de 2011. Entre o período de 2003 a 2012, o preço do centeio oscilou de R$ 21,71/ saca 60 kg (R$ 361,80/ t), em 2009, a R$ 35,00/ saca 60 kg (R$ 583,36/ t), em 2011, com valor médio de R$27,15/ saca 60 kg (R$ 452,50/ t ou US$ 248,85/ t).

As transações comerciais de importação e exportação de centeio são eventuais e pequenas (Tabela 8). Em termos de importação, registros de, aproximadamente, 50 toneladas de farinha de centeio procedentes da Europa, mais especificamente da Bélgica, tem sido constantes nos últimos anos (período de 2007 a 2011). Já na exportação, são observados registros eventuais de exportação de grãos, como as 200 toneladas de centeio (semente) para a Argentina, em 2006, e de farinha de centeio ou de mistura de trigo e centeio com certa constância, embora em baixas quantidades, para países africanos (Angola e Cabo Verde), latinos (Panamá, Peru e Suriname), para os Países Baixos e para o Japão.

Além dos produtos diretos, vale o registro de importação de alcaloides da cravagem do centeio pela indústria farmacêutica. No período de 2007-2012, o Brasil gastou, em média, US$ 2,83 milhões com a importação de tais alcaloides e derivados[19], a maioria oriunda da Suíça e da República Tcheca.


[13] O centeio sempre foi uma cultura importante na Alemanha e, em 1964, na elaboração do Programa Agrícola Comum (PAC) da Comunidade Europeia, o preço-alvo para o centeio foi fixado relativamente próximo ao preço de trigo e um bônus foi adicionado ao preço do centeio utilizado para consumo humano como uma concessão para a Alemanha (Bushuck, 2001).
[14] Dados obtidos no site da USDA.
[15] Dados obtido no site da SAGPyA - Dirección de Mercados Agroalimentarios.
[16] Calculados com base em informações de Paraná (2012)
[17] Valores calculados com dados de preços de FAO (2012).
[18] Pão de centeio: pão fabricado com farinha de centeio dos tipos 70, 85 ou 130, ou em mistura com farinha de trigo dos tipos 65, 80, 110 ou 150, desde que a farinha de centeio seja utilizada numa incorporação superior a 50%, água potável, sal e fermento ou levedura, podendo também ser utilizados farinha de malte, extrato de malte, açúcares e aditivos permitidos por lei.  Pão integral de centeio: pão de centeio fabricado com farinha de centeio do tipo 170.
[19] 29396100 - Ergometrina (dci) e seus sais; 29396200 - Ergotamina (dci) e seus sais; 29396911 - Maleato de metilergometrina; 29396919 - Outros derivados da ergometrina (dci) e seus sais; 29396921 - Mesilato de diidroergotamina; 29396929 - Outros derivados da ergotamina (dci) e seus sais; 29396931 - Mesilato de diidroergocornina; 29396939 - Ergocornina e outros derivados e sais; 29396941 - Mesilato de alfa-diidroergocriptina; 29396942 - Mesilato de beta-diidroergocriptina

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