Embrapa Trigo
 
Dezembro, 2012
141
Passo Fundo, RS
4. Área manejada sob “sistema plantio direto” no Brasil

Diante do cenário evolutivo do “plantio direto” ou “semeadura direta” e do “sistema plantio direto” no Brasil e de irrefutáveis avanços tecnológicos alcançados, frutos de parcerias entre pesquisa, ensino, extensão, agroindústria, produtores rurais e organizações específicas (Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha - FEBRAPD, Associação de Plantio Direto no Cerrado - APDC e Clubes Amigos da Terra - CATs), bem como de fomento à pesquisa, à difusão e à transferência de tecnologia, a expansão de área cultivada sob esses processos conservacionistas no Brasil tem sido intensa e singular quando comparada a outros países e à adoção de outras tecnologias agrícolas. Em razão da inexistência de estatística oficial, uma estimativa da área cultivada sob “plantio direto” ou “semeadura direta” no Brasil, no ano de 2006, segundo a FEBRAPDP e a APDC, é da ordem de 25,5 milhões de hectares.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, relativos à magnitude das áreas cultivadas nas safras de verão e de inverno, no ano agrícola 2009/2010, com as principais espécies vegetais produtoras de grãos em todo o país, denotam que essa área está sendo cultivada, predominantemente, sob “plantio direto” e não sob “sistema plantio direto”. Essa dedução está fundamentada nos dados estatísticos de que dos 37,6 milhões de hectares cultivados na safra agrícola de verão, com as culturas de soja e milho, apenas 10,4 milhões de hectares são cultivados na safra agrícola de inverno, com trigo, aveia branca (Avena sativa L.), cevada (Hordeum vulgare L.), triticale (X triticosecale Wittmack), centeio (Secale cereale L.), feijão (Phaseolus vulgaris (L.)) e milho safrinha. Esse cenário indica que, no país, a área cultivada em rotação, sucessão e/ou consorciação de culturas ou com, pelo menos, duas safras por ano agrícola, e, consequentemente, com a possibilidade de estar sendo manejada sob “sistema plantio direto”, o qual preconiza, dentre os seis preceitos da agricultura conservacionista, a diversificação de espécies, não ultrapassa a 10,4 milhões de hectares. De outro modo, denota-se que, no Brasil, a área cultivada sob “sistema plantio direto” é, de no máximo, 10,4 milhões de hectares. Em adição, esses dados demonstram que no Brasil há cerca de 27,2 milhões de hectares em pousio vegetado ou não, no período de inverno.

A partir dessa análise, é possível inferir que o objetivo do Plano ABC, em incorporar oito milhões de hectares de lavoura manejada sob “sistema plantio direto” até 2020, poderá ocorrer, simplesmente, pela conversão de áreas atualmente manejadas sob “plantio direto” em áreas manejadas sob “sistema plantio direto”, mediante diversificação de espécies, estruturada em modelos de produção agrícolas, agropastoris, agrossilvícolas, agrossilvipastoris, pastoris, silvipastoris ou silvícolas, em rotação, sucessão e/ou consorciação de culturas. Contudo, a ampliação da área cultivada sob “sistema plantio direto” em oito milhões de hectares, ou seja, elevá-la de 10,4 para 18,4 milhões hectares objetivando atender a demanda criada pelo Plano ABC - Agricultura de Baixa Taxa de Emissão de Carbono, não constitui alternativa dependente exclusivamente de solução tecnológica. O aumento da produção e da diversificação de grãos produzidos na safra agrícola de inverno está na dependência de mercado, alicerçado por logística apropriada para recebimento, armazenamento, segregação, processamento e transporte destes grãos. Por sua vez, modelos de produção agropastoris (integração lavoura-pecuária) ou agrossilvipastoris (integração lavoura-pecuária-floresta) são percebidos como de maior potencial para viabilizar, economicamente, a diversificação de espécies e o atendimento dos preceitos preconizados pelo “sistema plantio direto”, pois ao mesmo tempo em que há mercado seguro para produtos pecuários, há carência de pastagem no período de verão, na região subtropical, e no inverno, na região tropical, quando os animais são alimentados com feno e concentrados que encerram custos sensivelmente mais elevados do que as pastagens.


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