Embrapa Trigo
 
Dezembro, 2012
141
Passo Fundo, RS
Diretrizes do Sistema Plantio Direto no contexto da Agricultura Conservacionista
José Eloir Denardin1
Rainoldo Alberto Kochhann2
Antonio Faganello3
Anderson Santi4
Norimar D’Ávila Denardin5
Sírio Wiethölter6
1. Introdução

O agronegócio brasileiro vem sendo reconhecido como atividade moderna, próspera, rentável, competitiva e de magnitude que evidencia o país como potência agrícola mundial. Em 2010, foi creditado a essa atividade 33% do Produto Interno Bruto - PIB, 42% do volume das exportações brasileiras e 37% do total de empregos no país. Na atualidade, o Brasil lidera a produção e exportação de produtos agropecuários, sendo o primeiro produtor e exportador de café, açúcar, álcool e sucos de frutas, e lidera o ranking das exportações de soja (Glycine max (L.) Merrill), carnes bovina e de frango, tabaco (Nicotiana tabacum L.), couro e calçados de couro. Projeções indicam que o país também será, em curto prazo, o principal polo mundial de produção de algodão e biocombustível. Especificamente em referência às exportações de etanol, em curto e longo prazo, o Brasil figura, potencialmente, como o principal exportador.

Esse status atingido pelo agronegócio brasileiro, sem dúvida, em considerável proporção pode ser creditado à expressiva adoção do sistema plantio direto no país, que viabilizou duas safras de grãos por ano agrícola e instituiu, técnica e economicamente, a integração lavoura-pecuária na região tropical.

A disponibilidade de aproximadamente 388 milhões de hectares adequados à atividade agropecuária, dos quais 90 milhões ainda não foram explorados, aliada às condições climáticas favoráveis, à abundância de água, ao avanço tecnológico e ao empreendedorismo dos produtores rurais, tem impulsionado o crescimento do agronegócio, transformando-o em uma das principais alavancas propulsoras da economia brasileira. As diversas cadeias produtivas que integram esse setor vêm proporcionando suporte à estabilização da economia nacional, sobretudo em razão da relevante contribuição nos recorrentes saldos positivos da balança comercial. Esses fatores notabilizam o país como ambiente de vocação natural para a agropecuária e para os negócios relacionados às cadeias produtivas de pertinência, destacando o agronegócio como a principal locomotiva da economia brasileira, responsável por um em cada três reais gerados.

Esses dados indicam que a participação brasileira no agronegócio mundial continuará a crescer e que o país será o maior produtor mundial de alimentos na próxima década. Contudo, a expansão desse setor, associada à decorrente mudança de utilização da terra, tem levado a agricultura brasileira a contribuir para a emissão de gases de efeito estufa (gás carbônico - CO2; gás metano - CH4; e óxido nitroso - N2O).

Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, em Projeções do Agronegócio 2009/10 a 2019/20, evidenciam que soja, carne de frango, etanol, algodão, óleo de soja e celulose constituem indicadores potenciais de ampliação da produção brasileira, em atenção às expressivas demandas interna e externa. Nesse contexto, a produção conjunta dos principais grãos – soja, milho (Zea mays L.), trigo (Triticum aestivum L.), arroz (Oryza sativa L.) e feijão (Phaseolus vulgaris L.) –, na safra agrícola de 2019/2020, deverá atingir 233,1 milhões de toneladas, com crescimento de 87,1 milhões de toneladas, ou seja, incremento de 60% em relação à safra agrícola 2009/2010. É estimado que esse crescimento será essencialmente resultante do aumento de produtividade, em detrimento da expansão da área cultivada. Em decorrência, na safra agrícola 2019/2020, a atual área cultivada, que é da ordem de 60 milhões de hectares, será acrescida de apenas 10 milhões de hectares.

Esse cenário, do ponto de vista produtivo e da produção da riqueza nacional, é extremamente positivo, pois o Brasil necessita continuar estimulando o desenvolvimento, a partir da produção crescente de produtos agropecuários, objetivando gerar divisas com exportações e, sobretudo, atender às demandas da população brasileira. Por outro lado, a questão ambiental, associada à redução da taxa de emissão de gases de efeito estufa, também é necessidade fundamental ao desenvolvimento do Brasil, o que estabelece novos imperativos para os produtores rurais e o governo. Será necessário enfrentar os desafios de estimular o crescimento e reduzir a taxa de emissão de gases de efeito estufa. Para tanto, a agricultura brasileira dispõe de tecnologias redutoras ou mitigadoras da taxa de emissão desses gases e que podem ser implementadas pelos produtores rurais nos processos de exploração agropecuária. Nesse contexto, a adoção do “sistema plantio direto”, coerentemente com os preceitos do conservacionismo, da conservação do solo e da agricultura conservacionista, assume destaque, por viabilizar relações entre o homem e os elementos da biosfera ou os recursos naturais, das quais emerge sustentabilidade, isto é, benefícios de natureza econômica, social e ambiental, tanto para a atual, como para as futuras gerações.

O “sistema plantio direto” é um dos complexos tecnológicos que compõe os compromissos voluntários assumidos pelo Brasil na COP-15 (15ª Conferência das Partes da Convenção do Clima das Nações Unidas), realizada em dezembro de 2009, em Copenhague, e que prevêem a redução das emissões de gases de efeito estufa projetada para 2020, entre 36,1% e 38,9%. Esses valores projetam reduções da ordem de um bilhão de toneladas de CO2 equivalente. Os compromissos assumidos foram ratificados na Política Nacional sobre Mudanças do Clima (Lei nº 12.187/09) e regulamentados pelo Decreto no 7390/10. Para efeito dessa regulamentação, no caso específico da agricultura, foi estabelecido o “Plano Setorial para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura”, o que se convencionou chamar de “Plano ABC - Agricultura de Baixa Emissão de Carbono”.

Nesse plano, estão previstas diversas ações de capacitação de técnicos e produtores rurais, variadas estratégias de pesquisa, transferência de tecnologia e fortalecimento da assistência técnica e extensão rural, incentivos econômicos e, entre outras, linhas de crédito rural.

Desse modo, a contribuição do “sistema plantio direto” na mitigação de gases de efeito estufa se dará pela expansão de sua área de adoção em 8 milhões de hectares até 2020. As outras tecnologias previstas nesse plano, com as respectivas metas, são: Recuperação de Pastagens Degradadas (adoção em 15 milhões de hectares); Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (aumentar a adoção em 4 milhões de hectares); Fixação Biológica de Nitrogênio (aumentar a adoção em 5,5 milhões de hectares); Florestas Plantadas (ampliar a área plantada em 3 milhões de hectares); e Tratamento de Dejetos Animais (aumentar o volume tratado em 4,4 milhões de metros cúbicos).

Os objetivos deste material didático são de conceituar e fundamentar o “sistema plantio direto”, contextualizando-o no âmbito do conservacionismo, da conservação do solo e da agricultura conservacionista, expondo seus efeitos sobre a fertilidade do solo e apresentando requisitos para sua implementação, alicerçados na estruturação e manejo de modelos de produção diversificados, em rotação, sucessão e/ou consorciação de culturas, e na especificação de máquinas e implementos agrícolas apropriados.


1Eng. Agr. Doutor em Solos e Nutrição de Plantas, Pesquisador da Embrapa Trigo, Rodovia BR 285, km 294, Caixa Postal 451, 99001-970 Passo Fundo, RS, Brasil. E-mail: jose.denardin@embrapa.br
2Eng. Agr. Ph.D. em Fertilidade do Solo, Pesquisador aposentado da Embrapa Trigo, Rodovia BR 285, km 294, Caixa Postal 451, 99001-970 Passo Fundo, RS. E-mail: rainoldoak@gmail.com
3Eng. Mec. Mestre em Engenharia Agrícola, Pesquisador da Embrapa Trigo, Rodovia BR 285, km 294, Caixa Postal 451, 99001-970 Passo Fundo, RS, Brasil. E-mail: antonio.faganello@embrapa.br
4Eng. Agr. Mestre em Agronomia, Pesquisador da Embrapa Trigo, Rodovia BR 285, km 294, Caixa Postal 451, 99001-970 Passo Fundo, RS, Brasil. E-mail: anderson.santi@embrapa.br
5Bióloga, Doutora em Microbiologia do Solo, Professora da Universidade de Passo Fundo, Programa de Pós-Gradução em Agronomia, Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Campus I, BR 285, Bairro São José, 99052-900 Passo Fundo, RS. E-mail: norimar@upf.br
6Eng. Agr. Ph.D. em Fertilidade do Solo, Pesquisador da Embrapa Trigo, Rodovia BR 285, km 294, Caixa Postal 451, 99001-970 Passo Fundo, RS, Brasil. E-mail: sirio.wietholter@embrapa.br

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