Dezembro, 2012 |
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Passo Fundo, RS
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O agronegócio brasileiro vem sendo reconhecido como atividade moderna, próspera, rentável, competitiva e de magnitude que evidencia o país como potência agrícola mundial. Em 2010, foi creditado a essa atividade 33% do Produto Interno Bruto - PIB, 42% do volume das exportações brasileiras e 37% do total de empregos no país. Na atualidade, o Brasil lidera a produção e exportação de produtos agropecuários, sendo o primeiro produtor e exportador de café, açúcar, álcool e sucos de frutas, e lidera o ranking das exportações de soja (Glycine max (L.) Merrill), carnes bovina e de frango, tabaco (Nicotiana tabacum L.), couro e calçados de couro. Projeções indicam que o país também será, em curto prazo, o principal polo mundial de produção de algodão e biocombustível. Especificamente em referência às exportações de etanol, em curto e longo prazo, o Brasil figura, potencialmente, como o principal exportador.
Esse status atingido pelo agronegócio brasileiro, sem dúvida, em considerável proporção pode ser creditado à expressiva adoção do sistema plantio direto no país, que viabilizou duas safras de grãos por ano agrícola e instituiu, técnica e economicamente, a integração lavoura-pecuária na região tropical.
A disponibilidade de aproximadamente 388 milhões de hectares adequados à atividade agropecuária, dos quais 90 milhões ainda não foram explorados, aliada às condições climáticas favoráveis, à abundância de água, ao avanço tecnológico e ao empreendedorismo dos produtores rurais, tem impulsionado o crescimento do agronegócio, transformando-o em uma das principais alavancas propulsoras da economia brasileira. As diversas cadeias produtivas que integram esse setor vêm proporcionando suporte à estabilização da economia nacional, sobretudo em razão da relevante contribuição nos recorrentes saldos positivos da balança comercial. Esses fatores notabilizam o país como ambiente de vocação natural para a agropecuária e para os negócios relacionados às cadeias produtivas de pertinência, destacando o agronegócio como a principal locomotiva da economia brasileira, responsável por um em cada três reais gerados.
Esses dados indicam que a participação brasileira no agronegócio mundial continuará a crescer e que o país será o maior produtor mundial de alimentos na próxima década. Contudo, a expansão desse setor, associada à decorrente mudança de utilização da terra, tem levado a agricultura brasileira a contribuir para a emissão de gases de efeito estufa (gás carbônico - CO2; gás metano - CH4; e óxido nitroso - N2O).
Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, em Projeções do Agronegócio 2009/10 a 2019/20, evidenciam que soja, carne de frango, etanol, algodão, óleo de soja e celulose constituem indicadores potenciais de ampliação da produção brasileira, em atenção às expressivas demandas interna e externa. Nesse contexto, a produção conjunta dos principais grãos – soja, milho (Zea mays L.), trigo (Triticum aestivum L.), arroz (Oryza sativa L.) e feijão (Phaseolus vulgaris L.) –, na safra agrícola de 2019/2020, deverá atingir 233,1 milhões de toneladas, com crescimento de 87,1 milhões de toneladas, ou seja, incremento de 60% em relação à safra agrícola 2009/2010. É estimado que esse crescimento será essencialmente resultante do aumento de produtividade, em detrimento da expansão da área cultivada. Em decorrência, na safra agrícola 2019/2020, a atual área cultivada, que é da ordem de 60 milhões de hectares, será acrescida de apenas 10 milhões de hectares.
Esse cenário, do ponto de vista produtivo e da produção da riqueza nacional, é extremamente positivo, pois o Brasil necessita continuar estimulando o desenvolvimento, a partir da produção crescente de produtos agropecuários, objetivando gerar divisas com exportações e, sobretudo, atender às demandas da população brasileira. Por outro lado, a questão ambiental, associada à redução da taxa de emissão de gases de efeito estufa, também é necessidade fundamental ao desenvolvimento do Brasil, o que estabelece novos imperativos para os produtores rurais e o governo. Será necessário enfrentar os desafios de estimular o crescimento e reduzir a taxa de emissão de gases de efeito estufa. Para tanto, a agricultura brasileira dispõe de tecnologias redutoras ou mitigadoras da taxa de emissão desses gases e que podem ser implementadas pelos produtores rurais nos processos de exploração agropecuária. Nesse contexto, a adoção do “sistema plantio direto”, coerentemente com os preceitos do conservacionismo, da conservação do solo e da agricultura conservacionista, assume destaque, por viabilizar relações entre o homem e os elementos da biosfera ou os recursos naturais, das quais emerge sustentabilidade, isto é, benefícios de natureza econômica, social e ambiental, tanto para a atual, como para as futuras gerações.
O “sistema plantio direto” é um dos complexos tecnológicos que compõe os compromissos voluntários assumidos pelo Brasil na COP-15 (15ª Conferência das Partes da Convenção do Clima das Nações Unidas), realizada em dezembro de 2009, em Copenhague, e que prevêem a redução das emissões de gases de efeito estufa projetada para 2020, entre 36,1% e 38,9%. Esses valores projetam reduções da ordem de um bilhão de toneladas de CO2 equivalente. Os compromissos assumidos foram ratificados na Política Nacional sobre Mudanças do Clima (Lei nº 12.187/09) e regulamentados pelo Decreto no 7390/10. Para efeito dessa regulamentação, no caso específico da agricultura, foi estabelecido o “Plano Setorial para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura”, o que se convencionou chamar de “Plano ABC - Agricultura de Baixa Emissão de Carbono”.
Nesse plano, estão previstas diversas ações de capacitação de técnicos e produtores rurais, variadas estratégias de pesquisa, transferência de tecnologia e fortalecimento da assistência técnica e extensão rural, incentivos econômicos e, entre outras, linhas de crédito rural.
Desse modo, a contribuição do “sistema plantio direto” na mitigação de gases de efeito estufa se dará pela expansão de sua área de adoção em 8 milhões de hectares até 2020. As outras tecnologias previstas nesse plano, com as respectivas metas, são: Recuperação de Pastagens Degradadas (adoção em 15 milhões de hectares); Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (aumentar a adoção em 4 milhões de hectares); Fixação Biológica de Nitrogênio (aumentar a adoção em 5,5 milhões de hectares); Florestas Plantadas (ampliar a área plantada em 3 milhões de hectares); e Tratamento de Dejetos Animais (aumentar o volume tratado em 4,4 milhões de metros cúbicos).
Os objetivos deste material didático são de conceituar e fundamentar o “sistema plantio direto”, contextualizando-o no âmbito do conservacionismo, da conservação do solo e da agricultura conservacionista, expondo seus efeitos sobre a fertilidade do solo e apresentando requisitos para sua implementação, alicerçados na estruturação e manejo de modelos de produção diversificados, em rotação, sucessão e/ou consorciação de culturas, e na especificação de máquinas e implementos agrícolas apropriados.
1Eng. Agr. Doutor em
Solos e Nutrição de Plantas, Pesquisador da Embrapa Trigo, Rodovia BR 285, km
294, Caixa Postal 451, 99001-970 Passo Fundo, RS, Brasil. E-mail: jose.denardin@embrapa.br
2Eng. Agr. Ph.D. em Fertilidade do Solo, Pesquisador aposentado da
Embrapa Trigo, Rodovia BR 285, km 294, Caixa Postal 451, 99001-970 Passo Fundo,
RS. E-mail: rainoldoak@gmail.com
3Eng. Mec. Mestre em
Engenharia Agrícola, Pesquisador da Embrapa Trigo, Rodovia BR 285, km 294,
Caixa Postal 451, 99001-970 Passo Fundo, RS, Brasil. E-mail: antonio.faganello@embrapa.br
4Eng. Agr. Mestre em
Agronomia, Pesquisador da Embrapa Trigo, Rodovia BR 285, km 294, Caixa Postal
451, 99001-970 Passo Fundo, RS, Brasil. E-mail: anderson.santi@embrapa.br
5Bióloga, Doutora em Microbiologia do Solo, Professora da
Universidade de Passo Fundo, Programa de Pós-Gradução em Agronomia, Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Campus I, BR 285, Bairro São José,
99052-900 Passo Fundo, RS. E-mail: norimar@upf.br
6Eng. Agr. Ph.D. em Fertilidade do Solo, Pesquisador da Embrapa Trigo,
Rodovia BR 285, km 294, Caixa Postal 451, 99001-970 Passo Fundo, RS, Brasil.
E-mail: sirio.wietholter@embrapa.br
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