Embrapa Trigo
 
Outubro, 2012
139
Passo Fundo, RS
Mercado e comercialização

O mercado brasileiro da cevada pode ser caracterizado como um mercado especializado, voltado para o segmento de cevada para malteação, com forte integração entre produtores e agroindústria de transformação (maltaria/cervejaria). Considerando o percentual de suprimento oriundo de importação de grãos ou de malte, há potencial de aumento da oferta de produto por parte dos produtores brasileiros. Há estreita vinculação entre produtores, maltaria e indústria de bebidas, por meio de programas de fomento, assistência técnica e compra garantida de produto mediante contrato firmado entre empresas e produtores individualmente ou representados por cooperativas ou outro tipo de associação. A principal vantagem deste sistema está na fixação de preço antes do cultivo e na “liquidez” de mercado, dando ao produtor condições de planejar seus investimentos na produção. Outra importante vantagem associada ao cultivo da cevada consiste na liberação antecipada de área para os cultivos de verão pela precocidade de seu ciclo e a deposição de palhada de excelente qualidade para manejo de plantas daninhas e cobertura de solo. O apoio tecnológico a produção é suprido, principalmente, pela Embrapa em convênio com as maltarias. Em média, 70% da área semeada é realizada com cultivares da Embrapa.

O segmento cevada-malte brasileiro é constituído por três maltarias, com capacidade atual de produção de malte estimada em 425 mil toneladas (Quadro 1), o que representa, aproximadamente, 33% do consumo total de malte. Somando-se a demanda para abastecimento da indústria de malteação (545,0 mil toneladas de cevada), a necessidade de semente e quebras, estima-se um mercado potencial de 572,2 mil toneladas/ano de cevada. Considerando o rendimento médio dos últimos três anos (3.093 kg/ha), a quantidade demandada para suprir a capacidade instalada das maltarias existentes corresponderia a uma área semeada de, aproximadamente, 185 mil ha, ou seja, aumento de 109,2% sobre a área semeada na safra 2011/2012. Se considerada a demanda total de malte do país, o consumo de cevada grão é estimado em 1,67 milhão de toneladas20, resultando em uma área potencial de semeadura de 538,8 mil hectares. Aspectos vinculados às condições climáticas, ao preço do produto e especificação de matéria-prima constituem limitações na ampliação desta produção.

A comercialização da cevada para malte é regida por legislação específica denominada Norma de Identidade e Qualidade de Cevada para comercialização interna (BRASIL, 1996) que define procedimentos e instrumentos de coleta de amostras, responsabilidades, os padrões de qualidade, limites de tolerância e métodos de análise. A qualidade comercial da cevada cervejeira é identificada através de três classes e tipo único descritos nos quadros 2 e 3 a seguir.

É considerada “abaixo do padrão de maltagem” toda cevada que não satisfizer os limites estabelecidos em termos de poder germinativo, proteína e grãos avariados, e esta pode ser comercializada para outros destinos (indústria de alimentos, fabricação de ração ou forragem animal) desde que não apresentem características desclassificantes. No país, a principal e mais importante causa da desclassificação para malte é a germinação abaixo do mínimo decorrente de chuvas na colheita.

A cevada pode ser desclassificada caso apresente algum dos seguintes aspectos:

a) mau estado de conservação;

b) aspecto generalizado de mofo e fermentação;

c) odor estranho de qualquer natureza que prejudique sua utilização normal;

d) ou for tratada com produto que altere sua condição natural ou por qualquer outra causa que venha afetar a sua qualidade.

O acondicionamento da cevada pode ser a granel ou em sacos de aniagem ou similar com capacidade de 50 kg. O lote deverá ser identificado com especificação de número do lote, classe, tipo, safra de produção, peso líquido do lote e identificação do responsável (nome ou razão social, endereço e número do registro).

Além da Portaria 691/96 que norteia os parâmetros de identidade e qualidade do produto, a Resolução RDC nº 07/2011 (BRASIL, 2011a) que dispõe sobre os limites máximos para a presença de micotoxinas em alimentos, também governa a comercialização do cereal. O Quadro 4 apresenta os limites máximos tolerados e os prazos para sua aplicação que se estendem até 2016.

O preço da cevada é diferenciado entre as classes, sendo os grãos mais valorizados os da classe 1. O valor comercial de um lote de cevada é determinado em função dos percentuais de cada classe (% de classe 1, % de classe 2 e % de classe 3). Quanto maior for o percentual da classe 1 dentro do lote, maior será o preço recebido.

O preço médio praticado no mercado nacional para a cevada tem sido semelhante ou superior ao preço do trigo. No estado do Paraná, até 2002, o preço médio de cevada era menor que o preço médio do trigo e, a partir de 2003, o preço médio observado passou a ser superior ou igual ao do trigo. No período de 2007 a 2011, o preço médio da cevada foi 9,2% superior ao preço médio do trigo e, 27 a 68% superior ao preço mínimo tabelado pelo Governo (Fig. 5). Comparado ao Paraná, os preços praticados no Rio Grande do Sul têm sido 12% menores na média dos últimos cinco anos. A partir de 2002, observa-se tendência de elevação geral de preços de commodities, com maiores picos atingidos em 2008, em decorrência de desequilíbrio entre oferta e demanda, a depreciação do dólar e movimentação especulativa nas bolsas. No período de 2007-2011, o preço médio da cevada no Paraná foi de R$ 494,83/t (R$ 29,69 saca de60 kg) e no Rio Grande do Sul foi de R$432,51/t (R$ 25,95 saca de 60 kg). A cevada “abaixo do padrão de maltagem” pode ser comercializada para outros destinos (indústria de alimentos, fabricação de ração ou forragem animal). No mercado de alimentação animal, o preço praticado é no máximo igual ao do milho.

No mercado internacional, tomando como referência a cotação do produto “cevada para alimentação animal nº1” FOB21, na bolsa eletrônica ICE Futures Canada (antiga Winnipeg Commodity Exchange) 22, se observa maior volatilidade dos preços no período de 2008-2011. No período de 1990-1999, os preços médios anuais mantiveram-se entre US$71,00 a US$115,00/t, com média na década de US$86,00/t. Já na década seguinte (2000-2009) os preços médios anuais oscilaram entre US$77,00 a US$171,00/t passando a um patamar médio na década de US$ 119,70/t (Fig. 6). Em 2008 a cotação atingiu o valor de US$265,00/t e a média anual em 2011 foi de US$207,00/t. O preço da cevada mantém uma relação de 60 a 75% em relação ao preço do trigo (soft red winter e hard red winter).

Uma análise comparativa dos preços médios anuais pagos aos produtores nos principais países com maior produção registrados pela FAO (FAO, 2012), no período de 2000 a 2009, se observa distinção entre os preços dos países do leste europeu e demais países associados as questões de padrão de qualidade e finalidade de uso. No período de 2005-2009, os preços da Ucrânia (-23,7%) e Rússia (-16,4%) foram inferiores aos praticados na Austrália (+8,7%), Alemanha (+4,0%), Espanha (25,4%) e França (+1,9%) quando comparados a média do grupo (Fig. 7).


20Estimativa calculada com base na produção nacional e importação de grãos e malte no período de 2008 a 2010.
21 Free on board, termo internacional de comércio, significa que o comprador é responsável pelo transporte, seguro da carga e outros custos e riscos.
22 A Winnipeg Commodity Exchange (WCE) foi criada em 1887 sob a denominação de Winnipeg Grain e teve alteração do nome em 1972. Desde 2007, a WCE é uma subsidiária da IntercontinentalExchange e passou a denominar-se ICE Futures Canada, que consiste em uma plataforma líder de futuros de commodities no Canadá e é considerada como refência na comercialização de cevada internacional.

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