Agosto, 2012
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Passo Fundo, RS
A Aveia no Brasil

O cultivo de aveia no Brasil apresentou aumento na área colhida a partir de 1980. Segundo Floss (1988), a preferência na utilização de aveia sempre recaiu sobre a produção de forragem, isolada ou associada a outras forrageiras, cultivando-se principalmente aveias pretas. A pequena área de cultivo de aveia nas décadas de 1940 a 1970 pode ser atribuída à falta de cultivares adaptadas às condições climáticas do país e aos problemas causados pela ferrugem da folha.

Segundo Carvalho e Federizzi (1993), o desenvolvimento da cultura da aveia no sul do Brasil pode ser dividido em três períodos:

(a) Período antigo. Cultivo com o objetivo de produzir massa verde para forragem ou com o propósito de dar pastejo e posterior colheita de grãos, de estabelecimento de lavoura em fins de outono e com genótipos de ciclo longo, estatura elevada, reduzida resistência às principais moléstias e insatisfatórios rendimentos e qualidade de grãos. Genótipos desenvolvidos no período e mudanças nas técnicas de cultivo, principalmente, na época de estabelecimento da lavoura, alteraram os níveis de produtividade.

(b) Período recente. Marcada pelo incremento de alterações em características agronômicas, fruto de introdução maciça de linhagens de diferentes programas de melhoramento internacionais, resultando em variedades como a Coronado e Suregrain, que determinaram um novo patamar de produtividade, qualidade de grãos, porte de planta, número de dias para florescimento, resistência as ferrugens, e fixação de junho como período ideal para semeadura sem efeitos em culturas posteriores ou anteriores.

(c) Período Moderno. Intensificação de programas de melhoramento (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade de Passo Fundo e CTC – Cotrijuí) e direcionamento da seleção ao ajuste às novas condições de ambiente com o crescimento de forma geométrica da área de cultivo de verão e crescente demanda pelos grãos de aveia no país. Surgimento de novos genótipos com o tipo agronômico diferenciado, com profundas modificações na relação grão/palha, no número de grãos por panícula, na redução do ciclo vegetativo e reprodutivo, na qualidade de grãos e no potencial de rendimento.

A evolução da área cultivada, da produção de grãos e do rendimento de aveia no Brasil, de 1946 a 2010, é apresentada na Figura 2. Observa-se a estagnação do cultivo do cereal até o final dos anos 1970 e expansão de seu cultivo a partir da década de 1980. Ignaczak et al. (2007), ao analisar a dinâmica espacial da produção de aveia no Brasil por meio de indicadores de assimetria, de concentração e locacionais e mapas com base em estatísticas de produção dos anos 1975, 1985, 1995 e 2003, sinaliza crescimento da área colhida, da quantidade produzida e da produtividade de aveia no Brasil no período de 1975-2003; aumento do número de microrregiões com registro de cultivo de aveia neste período variando de 43 a 67 microrregiões e alto grau de alteração de composição do grupo de microrregiões com registro de cultivo de aveia no Brasil e, em termos espaciais, observou-se uma ampliação de abrangência da área de cultivo de aveia no Brasil e um deslocamento de produção do cereal em direção norte, sendo que o estado do Rio Grande do Sul apresentou perda de importância na produção de aveia (grão).

A área colhida média de aveia grão no Brasil passou de 58,4 mil hectares no final da década de 1970 para 242,0 mil hectares na década de 2000, um acréscimo de 314,4% de área colhida. Com rendimento médio menor que 1.000 kg/ha, o país produzia, aproximadamente, 56,0 mil toneladas no final dos anos 1970. Já na safra 2005/2006, ano com maior registro de área colhida e produção total, o país colheu 516,5 mil toneladas do cereal (Tabela 6). Nos últimos cinco anos (2007-2011), observou-se redução na área colhida (-5,5% aa), embora houve aumento de produção, com taxa anual média de crescimento de 3,4% aa, em decorrência do aumento de rendimentos da cultura que ficaram próximo ou superiores a 2.000 kg/ha (Tabela 6).

Não há acompanhamentos estatísticos de área cultivada de aveia para produção de forragem e como cobertura de solo. Estima-se que a área destinada para tais fins (aveia destinada a produção de forragem ou cobertura) seja dez vezes a área4 de cultivo de aveia grão.

A produção brasileira de aveia grão está concentrada nos estados do sul do país (Tabela 7), com registro de cultivo no estado do Mato Grosso do Sul a partir da safra 2009/2010. Até meados da década de 1990, o estado do Rio Grande do Sul era o maior estado produtor (aproximadamente 65,0% da produção total do país), no entanto, entre as safras 1995/1996 a 2006/2007, o estado do Paraná passou a ser o maior estado produtor respondendo por 67,0% do total de aveia grão produzido no país no período. A partir da safra 2007/2008, o estado do Rio Grande do Sul voltou a ser o maior estado produtor de aveia grão. No período de 2007-2011, o Rio Grande do Sul representou 62,7% da área colhida (61,6% da produção), o estado do Paraná totalizou 34,4% da área de cultivo (36,9% da produção) e Mato Grosso do Sul foi responsável por 3,0% da área colhida (1,5% da produção).

No Rio Grande do Sul, a produção de aveia grão está concentrada nas microrregiões geográficas de Ijuí (23,3% da produção do estado no período 2006-20105), de Cruz Alta (19,6%), de Passo Fundo (13,5%) e de Vacaria (13,1%). Essas microrregiões responderam por 34,0% da produção brasileira no referido período. No Paraná, a produção se concentra nas microrregiões de Ponta Grossa (17,0% da produção do estado no período 2006-20103), de Apucarana (15,1%) e de Telêmaco Borba (12,3%) que juntas responderam por 45,0% da produção de aveia grão do estado do Paraná. Já no estado do Mato Grosso do Sul, a microrregião de Dourados respondeu por 71,4% da produção de aveia grão do estado no período de 2006-2010.

Dentre os 215 municípios que tiveram registro de cultivo de aveia em 2010, os municípios de Castro (PR), Tibagi (PR) e Jóia (RS) se destacam pelas maiores áreas colhidas e quantidades produzidas de aveia grão. Em termos de rendimento, os municípios de Ipiranga (RS), Dezesseis de Novembro (RS), São José do Ouro (RS) e São Luiz Gonzaga (RS) apresentaram os maiores rendimentos registrados, em torno de 3.600 kg/ha (Tabela 8).

O conjunto de produtores de aveia branca grão no Brasil, segundo dados do Censo Agropecuário (IBGE, 2009) estava formado por 8.111 propriedades; 59,6% destes estabelecimentos possuíam área total entre 10 a 100 hectares e 60,3% cultivavam áreas de aveia menores de 10,0 hectares. A grande maioria dos estabelecimentos (73,0%) integrava o grupo de atividade econômica chamado “lavoura temporária”, mas 24,6% tinham como foco de atividade a “pecuária e criação de outros animais”. Ainda segundo os dados do censo, somente 2,8% da área total colhida de aveia foi conduzida com o uso de irrigação, 37,4% teve uso de semente certificada e houve uso de adubação (química, orgânica ou mista) em 75,3% da área colhida. Com relação ao destino da produção, 45,5% do total produzido foi vendida, 23,7% teve como destino o consumo animal no estabelecimento, 12,9% foi usada como semente e 10,2% foi utilizada para consumo humano no estabelecimento. Do total destinado para a venda, 26,6% foi comercializado ou entregue para cooperativa, 14,5% foi comercializado diretamente a indústria, 11,9% negociado com intermediários, 7,6% comercializado diretamente com o consumidor e 4,0% entregue à empresa integradora.

Segundo dados do CACEX apresentados na publicação de Floss et al. (1985), a importação média de aveia, no quinquênio 1975-1979, foi de 29,1 mil toneladas6. Na safra 1978/1979, a importação totalizou 45,41 mil toneladas ante uma produção nacional de 53,94 mil. No triênio 1999 a 2001, a quantidade média anual importada foi de 9,2 mil toneladas7 para uma produção média anual de 270,0 mil toneladas8 no triênio. A partir de 2002, observou-se uma expressiva redução na importação do cereal, como pode ser verificado na Tabela 9. Nos anos de 2009 a 2011, a quantidade média anual importada foi de 189 toneladas ante uma produção média de 325,5 mil toneladas. Observa-se também no decorrer do tempo, a mudança no perfil do produto importado: no final da década de 1990, a aveia grão respondia por mais de 90,0% das importações, já no final da década dos 2000, a quase totalidade de importações eram de grãos de aveia descascados, em pérolas, cortados, esmagados ou em flocos, etc. Do lado da exportação, observa-se uma expansão da quantidade nos últimos anos. No triênio 1999-2001, a quantidade anual média exportada foi de 767,8t ante 7.974,1 toneladas médias no triênio 2009-2011. O Uruguai (44,25%), a França (25,7%), a Argentina (11,7%) e o Japão (9,8%) foram os principais países de destino da quantidade exportada no período de 2007-2011. A aveia grão (NCM 10040090) e aveia para semeadura (NCM 10040010) representam a quase totalidade das exportações.

As especificações para padronização, classificação e comercialização interna da aveia são normatizadas pela Portaria Interministerial nº191 de 14 de abril de 1975 (BRASIL, 1975). A aveia é classificada em grupos, classes e tipos segundo o seu peso por hectolitro, sua cor e qualidade. Os quadros 1, 2 e 3 apresentam os padrões estabelecidos pela legislação brasileira. É considerada “abaixo do padrão” toda aveia que não satisfizer os limites de tolerância atribuído no Quadro 3, desde que se apresente em bom estado de conservação. A aveia que apresentar (a) mau estado de conservação, (b) aspecto generalizado de mofo e fermentação, (c) outras sementes que possam ser prejudiciais a utilização normal do produto, e (d) odor estranho de qualquer natureza, impróprio ao produto, prejudicial à sua utilização normal é desclassificada. O acondicionamento da aveia pode ser a granel ou em sacos de aniagem ou similar, limpos, resistentes e com peso uniforme. O certificado de classificação deverá constar de: nome do interessado; nome do destinatário; natureza do produto; natureza da embalagem; quantidade de volumes; peso bruto e líquido; e grupo, classe e tipo.

Além da Portaria Interministerial nº191/75, que norteia os parâmetros de identidade e qualidade do produto, a Resolução RDC nº 07/2011 (BRASIL, 2011) que dispõe sobre os limites máximos para a presença de micotoxinas em alimentos, também governa a comercialização do cereal. O Quadro 4 apresenta os limites máximos tolerados e os prazos para sua aplicação que se estendem até 2016.

O preço do mercado internacional, tomando como referência a cotação de aveia branca nº2 FOB Chicago, tem se mantido entre US$150,00 a 250,00 nos últimos cinco anos (Fig. 3) com maior volatilidade de preços quando comparado com o quinquênio anterior 2002-2006. O preço da aveia no mercado internacional mantém uma estreita relação com o preço do trigo, em parte por trata-se de bem substituto em alguns aspectos. Em 2001, o preço médio foi de US$ 247,00/ tonelada. Nos últimos dez anos, o preço da aveia branca nº 2 FOB Chicago tem sido 17,3% menor que o preço do trigo soft red winter nº2 FOB Golfo.

Em análise comparativa dos preços médios anuais pagos no Brasil e de um grupo de países com maior produção e maior participação no mercado exportador registrados pela FAO (FAO, 2012), no período de 1991 a 2009, observa-se que os preços internos acompanham os preços deste grupo de países (Fig. 4) que oscilaram entre US$65,00 a US$188,00/t no caso brasileiro e entre US$84,00 a US$ 200,00 no grupo de países referência, no período em análise.

A Figura 5 apresenta a evolução dos preços médios anuais de aveia no Paraná no período de 1998 a 2011. A partir de 2003 observa-se tendência de elevação geral de preços de commodities, com maiores picos atingidos em 2008, em decorrência de desequilíbrio entre oferta e demanda, a depreciação do dólar e a especulação financeira. No caso da aveia, a drástica redução de área entre os anos de 2006 e 2007, passando de 321,4 mil ha para 106,1 mil ha semeados também teve influência nos preços do produto em 2007. Com relação ao perfil de comportamento entre os preços de aveia e trigo, nos últimos cinco anos, o preço da aveia tem sido 28,8% menor que o preço do trigo percentual bem maior que o observado no mercado internacional mencionado anteriormente. Já com o milho, o preço da aveia tem sido 8,9% superior ao preço do milho na média dos últimos cinco anos.


3 Médias calculadas pelos autores com base nos dados de FAO (2012).
4 Estima-se em mais de 2,0 milhões de ha de aveia preta.
5 Médias calculadas com base nos dados de IBGE (2012b), no período de 2006 a 2010.
6 Média calculado com base nos dados do CACEX das safras de 1975/1976 a 1979/1980 que contam em Floss et al. (1985).
7 Média calculada com base nos dados de MIDIC/SECEX (BRASIL, 2012).
8 Média calculada com base nos dados de CONAB (2012).

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