Dezembro, 2010
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Passo Fundo, RS


Introdução

O trigo no Brasil concentra-se nos estados do Paraná (PR) e do Rio Grande do Sul (RS), que juntos totalizam mais de 90% da produção. Contudo, os estados de Goiás (GO), Minas Gerais (MG), São Paulo (SP) e Santa Catarina (SC) também são responsáveis pelo fornecimento de trigo. A amplitude geográfica da distribuição dos cultivos e as diferentes condições climáticas, edafoclimáticas e de práticas culturais originam produtos com diferentes padrões de qualidade tecnológica. Os moinhos recebem amostras de trigo colhido e analisam a qualidade tecnológica de lotes de amostras comerciais, isto é, de mesclas de cultivares, em termos de peso do hectolitro, de número de queda, de força de glúten, de cor, dentre outros parâmetros.

A partir destas mesclas, a indústria moageira inicia a produção de farinhas e misturas que irão compor os inúmeros produtos finais do complexo agroindustrial do trigo. A segmentação de produtos é uma das estratégias adotadas por empresários para se manter em um mercado cada vez mais competitivo. Contudo, a adoção dessa estratégia pelas indústrias de pães, massas e biscoitos levam as mesmas a exigirem uma gama cada vez maior de “blends” de farinhas de trigo que melhor se adaptam aos processos industriais, abrindo assim oportunidade para os moinhos diversificarem os seus produtos.

O consumo de farinha de trigo no Brasil foi estimado em 2008 como sendo de 7,5 milhões de toneladas. Segundo os dados da Abitrigo (PRINCIPAIS... 2008), em 2007 o setor de derivados de trigo ocupou a quinta colocação no ranking dos setores da indústria de produtos alimentares e gerou em torno de 1,1 milhões de empregos, sendo o segmento de panificação e confeitaria responsável por metade deste contingente. Estima-se que 55% da farinha processada seja consumida na indústria da panificação e confeitaria; 17%, consumo doméstico, 15% destina-se às massas, 11%, a biscoitos e 2% a produção de fármacos, cola e uso na alimentação animal (SITUAÇÃO... 2003).

De maneira geral, a farinha de trigo para uso doméstico é comercializada em embalagem de 1 kg, de papel ou plástico, sendo o principal uso, para a preparação de bolos e outros produtos caseiros de confeitaria. Paralelo à comercialização da farinha de trigo em si, várias empresas comercializam pré-mesclas para bolo e para pães, cujo consumo é crescente no Brasil (PIMENTEL, 2010).

De forma similiar, também se pode encontrar, pré-mesclas ou misturas prontas para panificação (pão de hambúrger, “hot-dog”, pão de centeio, pão-de-forma, pão-de-ló, pão doce, pão francês, pão integral) e pré-misturas para confeitaria (“croissant”, pães de queijo; sonho) destinadas ao segmento de panificação. Segundo Grôppo e Moraes (2003), o setor de panificação pode ser segmentado em dois: padaria e industrial. O industrial, por sua vez, pode ser dividido em duas áreas distintas, o de pães de marca, que são comercializados nas gôndolas dos supermercados, e o de pães destinados ao mercado institucional. Já a indústria de biscoitos se encontra mais segmentada que a da panificação.

Dados de produtividade relacionados às condições climáticas são importantes, contudo, além destes os dados qualitativos de cada safra são fundamentais para definição da indicação de uso final do trigo. Conforme Bettge & Finnie (2010), a qualidade de trigo difere dependendo do segmento particular da cadeia do trigo envolvido, moagem, comercialização e abrangência de uso final. A indústria moageira necessita conhecer as expectativas dos compradores, neste caso, consumidores finais, panificadoras e outras indústrias de processamento, bem como o perfil da matéria-prima. A partir destas informações de oferta e demanda, a indústria pode otimizar seu processo produtivo de múltiplos produtos, bem como direcionar suas compras e segmentos de mercado a serem contemplados.

A presente publicação pode colaborar para visualização de características de qualidade de trigo nas regiões tritícolas brasileiras, com indicativo para os diferentes produtos finais. Assim, da mesma forma que nas safras anteriores, a publicação Qualidade Comercial do Trigo Brasileiro - safra 2007, foi elaborada tendo como base resultados de qualidade tecnológica de amostras comerciais de trigo, provenientes das diferentes regiões tritícolas brasileiras, analisadas por moinhos em seus laboratórios e cedidos à Embrapa Trigo, que se encarregou da sistematização dos dados e da elaboração desta publicação, que visa dispor informações sobre o comportamento da qualidade comercial de trigo no Brasil.

Os moinhos colaboradores para a safra 2007 foram os mesmos da safra 2006: Anaconda Industrial e Agrícola de Cereais S.A., Antoniazzi & Cia. Ltda., Bunge Alimentos S.A., Cargill Agrícola S.A., Coamo Agroindustrial Cooperativa, Cooperativa Agrária Mista Entre Rios Ltda., Cooperativa Central Regional Iguaçu Ltda., Correcta Indústria e Comércio, J. Macedo S.A., Moinho do Nordeste S.A., Moinho Globo Indústria e Comércio Ltda., Predileto Alimentos S.A., Richard Saigh Indústria e Comércio S.A., S.A. Moageira e Agrícola. Da mesma forma que na safra 2006, devido a fusão de J.Macedo e Bunge (Trigo Brasil), o número de dados de amostras fornecido foi menor.

Foram considerados 22 parâmetros de qualidade: impurezas e matérias estranhas; peso do hectolitro; umidade do grão; cinza do grão; número de queda do grão; extração de farinha; umidade da farinha; cinza da farinha; número de queda da farinha; glúten úmido; glúten seco; da alveografia: força de glúten (W), tenacidade (P), extensibilidade (L), relação tenacidade/extensibilidade (P/L) e índice de elasticidade (Ie); da farinografia: absorção de água (AA) e estabilidade (EST); do colorímetro Minolta: luminosidade (L*), coordenadas de cromaticidade a* (-a= vermelho, +a= verde) e b* (-b= amarelo, +b=azul); e cor Kent Jones.

Em 2007, a quantidade de trigo grão produzida foi estimada em 3,8 milhões de toneladas e rendimento médio de 2.100 kg/ha. O rendimento médio obtido no PR, de 2.256 kg/ha foi o segundo mais elevado do estado, ficando atrás apenas do obtido em 2003. As condições climáticas para a lavoura de trigo, em 2007 no PR, foram favoráveis inicialmente, no Sudoeste e Sul do estado, mas 61% da área de trigo foi atingida pela geada, o que causou redução estimada de 17% no potencial produtivo. Já no RS, a boa safra tritícola de 2007 foi favorecida pelas altas cotações do grão no mercado internacional possibilitando a exportação de 640.445 toneladas no primeiro semestre de 2008, uma vez que este trigo não apresentou qualidade tecnológica para produção de pães que o mercado brasileiro necessita. Por outro lado, em 2007 o RS importou 424.790 toneladas de grão com qualidade para pão e 44.609 toneladas de farinha. O consumo de trigo no RS é estimado em 1.100.000 toneladas anualmente e distribuído em 94 indústrias moageiras (REUNIÃO..., 2008).

Na região do Cerrado do Brasil Central, as condições climáticas, em 2007, foram adequadas para o desenvolvimento do cultivo de trigo em sistema irrigado. Em Goiás, o rendimento médio do trigo de sequeiro foi baixo (600 kg/ha), ao contrário do trigo irrigado (5.000 kg/ha). A área semeada estimada de trigo em MG foi de aproximadamente 16 mil hectares, sendo 98 % em cultivo irrigado (rendimento médio de 4.900 kg/ha) e 2 % em cultivo de sequeiro (rendimento médio de 1.200 kg/ha) (REUNIÃO..., 2008).

Este é o último volume desta série, que iniciou com a safra 2002. Com estes seis anos de acompanhamento da qualidade tecnológica de amostras comerciais de diferentes regiões tritícolas brasileiras, acredita-se que foi possível visualizar e conhecer melhor o trigo brasileiro, além de ter fornecido importantes informações para a cadeia produtiva de trigo no Brasil.

Os autores.


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