Julho, 2010
121
Passo Fundo, RS


Resultados

Na safra 2009/10, o site do Consórcio Antiferrugem registrou 2.371 focos da doença no Brasil, em 13 Estados e no Distrito Federal. Os estados com maior número de registros foram Mato Grosso (624), Goiás (501), Rio Grande do Sul (405), Mato Grosso do Sul (333) e Paraná (265). No Rio Grande do Sul, o maior número de focos foi observado em lavouras comerciais (393), ocorrendo poucas vezes em soja voluntária (6) e em ensaios (6). A grande maioria dos casos foram registrados em lavouras que se encontravam no estádio reprodutivo (79%), nos meses de janeiro e de fevereiro de 2010 (figs. 1 e 2).

Nesta safra, observaram-se diferenças na ocorrência e no desenvolvimento da doença, relativamente às safras anteriores. O primeiro foco em lavoura comercial foi identificado mais cedo (22 de dezembro), superando em cinco dias o registro mais precoce anteriormente relatado, da safra 2007/08. Além disto, o número de casos de lavouras com ferrugem detectada ainda no estádio vegetativo foi superior ao ocorrido em todas as safras anteriores, o que indica maior severidade e precocidade de início da doença, no campo.

A área abrangida no levantamento realizado entre cooperativas do Rio Grande do Sul somou 2.449.000 hectares, ou 61,6% da área total de soja do RS na safra 2009/10, estimada em 3.976.200 hectares (CONAB, 2010).

Todas as lavouras de soja da área amostrada receberam pelo menos uma aplicação de fungicida especificamente para controle de ferrugem. Em aproximadamente 7% da área, foi realizada apenas uma operação de aplicação de fungicida; em 55% da área, duas aplicações; em 32% da área, três aplicações; e, em 2% da área, quatro aplicações para o controle da doença. O número médio de aplicações, na área amostrada, foi de 2,20/ha, sendo superior aos valores observados nas safras de 2008/09 (1,94/ha) e de 2007/08 (1,85/ha).

O principal critério para identificar o momento de realizar aplicação de fungicida foi o estádio de desenvolvimento da soja em 63% dos casos, sendo o estádio R1, que representa o início do florescimento, o ponto de referência para a primeira aplicação. Nos demais 37% dos casos, os agricultores optaram por realizar o monitoramento da ocorrência da doença. Nesta safra, com a ocorrência mais precoce da doença, os agricultores que monitoraram o início da doença, e fizeram a primeira aplicação ainda no estádio vegetativo, tiveram mais facilidade no seu controle.

Na primeira aplicação, predominou a utilização de misturas de fungicidas dos grupos químicos de triazol e estrobilurina (95%), sendo usado somente triazol nos restantes 5% dos casos. Nas demais aplicações, novamente a mistura triazol e estrobilurina predominou (80%), seguida por mistura de estrobilurina e benzimidazol ou somente triazol (20%). Segundo Godoy et al. (2009), o uso de fungicidas à base de mistura de triazol e estrobilurina para controle de ferrugem de soja é altamente indicado, em função de sua maior eficiência. Resultados obtidos por Calegaro et al. (2009) mostraram que aplicações sequenciais de triazóis contribuíram para o aparecimento de populações de P. pachyrhizi menos sensíveis a este grupo químico no final da safra 2008/09, nos Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Goiás.

O método preferencial de aplicação de fungicidas foi o terrestre (77% de modo tratorizado e 19%, autopropelido) e, em 4% dos casos, foi usada aplicação por avião. O custo médio de aplicação terrestre foi em torno de R$56,00/ha/aplicação, sendo R$40,00 o custo com fungicida e R$16,00 para a operação de aplicação.

Consultadas sobre possíveis reduções de rendimento de grãos devidas à ferrugem, nesta safra, as cooperativas citaram perdas médias de 2,4 sacas de 60 kg de soja/hectare, variando entre 0,5 e 6 sacas/ha. Em três casos, relativos a 115 mil ha, não foram registradas perdas devidas à doença. As maiores perdas, entre quatro a seis sacas/ha, foram registradas em 427 mil ha.

Entretanto, embora com relato de ocorrência da doença praticamente em toda a área amostrada, a produtividade de grãos foi 7% superior à esperada, encerrando com média de 45,6 sacas/ha, ou 2.736 kg/ha, contra os esperados 42,4 sacas/ha, ou 2.547 kg/ha.

Com estes dados, estimou-se o custo de ferrugem da soja para a área levantada (2.449.000 ha), através da análise de dois fatores principais: perdas associadas à doença e gastos com controle.

No fator “perdas associadas à doença”, considerou-se o número médio de 2,4 sacas perdidas por ha, o que corresponde a 5.877.600 sacas. Este valor, multiplicado pela cotação histórica da saca de soja (US$ 11,00), temos um valor parcial de US$ 64.653.600,00.

No fator “gastos com controle”, considerando-se 2,2 aplicações/ha, ao custo médio de R$ 56,00/ha/aplicação, obteremos o valor de US$ 163.090.162,00 na área levantada.

Somando-se estes dois fatores, obtem-se o total de US$ 227.743.762,00 em 61,6% da área de soja estimada no RS em 2009/10. Extrapolando-se estes valores para a área total de soja no Estado, os valores econômicos envolvidos com esta doença podem ter chegado a US$ 372 milhões, na safra 2009/10.

A Cooperativa Tritícola Santa Rosa (Cotrirosa), de Santa Rosa, foi a que relatou maiores perdas, em torno de seis sacas de soja/ha, em função de atrasos na primeira e na segunda aplicações de fungicida; as que não tiveram perdas foram a Cooperativa Tritícola Mista Vacariense (Cooperval), de Vacaria, a Cooperativa Agrícola Mista General Osório (Cotribá), da região de Cachoeira do Sul, Pantano Grande e Butiá, e a Cooperativa Agroindustrial Alegrete (CAAL), de Alegrete e Manoel Viana.

Como forma de melhor manejar a ferrugem e de evitar um número maior de aplicações de fungicidas, os agricultores têm preferido usar cultivares de soja de ciclo mais precoce, o que ocorreu em 51% da área amostrada, seguindo-se cultivares de ciclo médio (32%) e de ciclo tardio (17%).


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