Dezembro, 2009
118
Passo Fundo, RS
Análise do rendimento de grãos, custo e eficiência do processo produtivo agrícola

Análise do rendimento de grãos

O segmento produtivo agrícola é certamente o elo mais determinante do sucesso da cadeia produtiva da canola porque a quantidade e qualidade de produção de matéria prima agrícola dependem da disponibilidade de terras, de condições ambientais favoráveis (recursos finitos e sujeitos às maiores variações do que, por exemplo, dentro de uma fábrica), da disponibilidade e emprego de tecnologias adequadas às condições edafoclimáticas de cada região, entre outros fatores. No estado atual de desenvolvimento da cultura no Brasil, a maioria dos agricultores está tendo sua primeira experiência com este cultivo, pois ainda é pouco difundida e conhecida pelos agricultores e técnicos, com exceção do noroeste do RS. Assim, os rendimentos de grãos obtidos por parte dos agricultores com limitada experiência e o insuficiente atendimento às necessidades específicas de manejo, especialmente na semeadura e na colheita da canola, afeta negativamente o rendimento médio de grãos do cultivo a nível regional.

A canola é uma planta que possui uma eficiente absorção e utilização de fósforo do solo bem como do fósforo aplicado. Em relação à adubação potássica, a cultura requer menos desse fertilizante que as demais culturas, porque apesar de extrair quantidade relevante, muito pouco é translocado para os grãos. As doses a serem aplicados neste cultivo dependem da adubação feita para a cultura da soja e do milho que antecedem ao cultivo segundo Tomm (2007a).

A cultura de canola é uma planta muito exigente em nitrogênio, portanto, a deficiência desse nutriente reduz seu rendimento de grãos. Os resultados de experimento conduzido em Giruá-RS, por Wiethölter (2008) são um indicativo de que se forem aplicados apenas 30 kg de N por hectare, se espera um rendimento de 1.078 kg de grãos de canola por hectare. A importância fundamental e a resposta ao emprego de N, é exemplificada nos referidos resultados: a aplicação 60 kg de N por hectare elevou a produtividade de 717 kg/ha para 1.517 kg/ha (Tabela 3). No referido estudo o kg de N custava R$ 2,50/kg e o de canola R$ 0,67/kg e se obteve em média um incremento de 6 kg grão/kg de nitrogênio aplicado, ou seja, incremento bruto de R$ 4,00/kg de N aplicado. Geralmente a recomendação no RS e SC é empregar 60 kg de N/ha somando a adubação na semeadura, sempre que possível 30 kg/ha com o restante em cobertura na fase de 4 folhas verdadeiras. Em regiões abaixo da latitude 24 graus, tem sido preferível aplicar toda a adubação na semeadura, devido ao encurtamento do ciclo e o grande risco de insuficiente umidade, a qual limita a eficiência da adubação de cobertura a lanço na superfície do solo (TOMM, 2004). Entretanto, a canola apresenta grande incremento de rendimento com doses de até 120 kg de N/ha (Fig. 3), sem risco de acamamento, desde que as plantas estejam distribuídas uniformemente e não ultrapasse a densidade recomendada (40 plantas/m2).

Com relação ao enxofre, a canola também é muito exigente. Para se obter altos rendimentos, devido ao seu elevado teor de óleo e de proteínas nos grãos, a cultura necessita absorver aproximadamente 20 kg de enxofre por hectare para cada produzir uma tonelada de grãos (TOMM, 2007b). A Figura 4 exemplifica as respostas obtidas à aplicação de adubação com enxofre. No RS e SC, o teor de enxofre revelado pela análise de solo deverá ser maior que 10 mg/dm3. Em solos com menor concentração de S, recomenda-se o emprego de pelo menos 154 kg de gesso, com 13% de S. O emprego de sulfato de amônio, na adubação de cobertura, pode suprir a demanda de enxofre da planta (TOMM, 2007b).

A calagem, é prática que visa atender ao sistema de produção (MANUAL.., 2004). É realizada antes do cultivo de verão (soja e milho) que antecede ao cultivo da canola para que o pH do solo esteja entre 5,5 e 6,0.

Especialistas consultados em levantamento (CASTRO et al., 2010) foram unânimes em afirmar que as sementes híbridas têm um alto impacto sobre a rendimento de grãos obtido. Ao adquirirem híbridos mais resistentes às doenças, em especial a canela-preta, ataque de pragas e danos causado por geadas (ciclo curto), os agricultores reduzem grandemente o risco de perda. No caso da canela-preta, o emprego de híbridos resistentes a esta doença evita a perda total da lavoura. Já nas regiões com alta probabilidade de ocorrência de geadas, o emprego de cultivares de ciclo curto, com menor capacidade de recuperação aos danos por geadas poderá resultar em grande perda ou perda total na produção de grãos sendo recomendado o uso de híbridos de ciclo longo, mais tolerantes e que apresentam bom potencial de produção para assegurar uma maior rendimento de grãos.

A operação de colheita é 100% mecanizada sendo utilizadas colheitadeiras-automotrizes. O uso de máquinas para realizar corte-enleiramento ainda é escasso. A colheita é uma das etapas mais crítica do cultivo, uma vez que as síliquas se formam e amadurecem em camadas sobre um período de tempo longo de até 55 dias. Com o amadurecimento, as síliquas se abrem espontaneamente gerando perdas pela queda de sementes maduras no solo (TOMM, 2007b).

Geralmente não são feitas estimativas das perdas na lavoura e no transporte, em parte pela dificuldade de coleta dos grãos de tamanho diminuto no campo (CASTRO et al., 2010). A principal razão das perdas está vinculada a falta de uniformidade da maturação da cultura. Amostragens realizadas pelo primeiro autor indicaram que essas perdas chegam até 30% da produção com colhedoras convencionais. A principal solução para minimizar essas perdas é a adoção do corte-enleiramento da cultura, que implicará em algum aumento de custo de produção. O transporte da produção para fora da propriedade é feito com caminhões caçamba ou com carroceria revestida de lona. A demora no escoamento da produção pode ocasionar o aquecimento da massa de grãos, podendo levar, em casos extremos, a autocombustão e perda total da carga.

Os baixos rendimentos de grãos obtidos limitam a expansão da canola no Brasil. Faz-se necessário aumentar os investimentos em pesquisa para ajustar a tecnologia de produção a cada região. Rendimento de grãos superiores a 2.400 kg/ha, obtidos por determinados agricultores e em parcelas experimentais evidenciam que este potencial supera o rendimento médio de grãos de 1.500 kg/ha obtida no Rio Grande do Sul e no Paraná. Embora a pesquisa e o cultivo de canola tenham iniciado no Sul do Brasil, em 1974, portanto há 35 anos, a carência de tecnologia adaptada a região é muito marcante e tem limitado o crescimento da área semeada, ao máximo de 20.000 hectares, na safra de 2000, e 29.512 ha, em 2008.

A canola constitui mais uma alternativa de cultivo para os sistemas de produção de grãos e, portanto, seu rendimento de grãos, custos e eficiência estão vinculados aos mesmos meios (fertilidade de solo, maquinaria agrícola, silos, secadores e pessoal) e modelo tecnológico disponível e empregado nos sistema produtivo de cada propriedade. Portanto, a introdução do cultivo de canola em sistemas de produção de grãos se beneficia dos investimentos já realizados para a produção de outras culturas e reduz os custos dos demais cultivos. Portanto, contribui para diluir os custos fixos, otimizar o uso dos meios de produção e aumentar a sustentabilidade econômica, social, além das vantagens ambientais geradas pela permanente cobertura de solo e retenção de nutrientes.

Os custos de produção variam em função do tamanho de propriedade, do perfil de máquinas e equipamentos empregados, da fertilidade do solo e de condições mercadológicas locais. Informações levantadas em 2008 (CASTRO et al., 2010) indicaram um custo de R$ 837,73 por hectare. As despesas com insumos corresponderam a 69,5% do custo operacional e os serviços, 20,2%. Outras despesas perfizeram 10,3% do valor total. A adubação, de base e de cobertura, é o elemento de maior importância, pois representou 50,7% do custo operacional.

Nos últimos oitos anos, o custo variável total oscilou entre 11 a 15 sacas de 60 kg de grãos por hectare, num custo médio neste período de 14 sacas de 60 kg de canola por hectare (CANOLA..., 2008). Entretanto, no ano de 2008, esses custo pulou para o equivalente a 18,6 sacas/ha, constituindo um aumento de 32,9%, em relação ao citado custo histórico médio. Com um rendimento de grãos de 1.500 kg por hectare (25 sacas/hectare) vendido a um preço médio de R$ 45,00/saca (R$ 750,00/t), a renda bruta estimada foi de R$1.125,00 por hectare. A margem de lucro operacional estimada foi de 6,4 sacos de 60 kg/ha, que corresponderam a R$ 287,27 por hectare.

Dada a importância de participação dos adubos no custo de produção, os mesmos devem ser considerados com o objetivo de reduzir custos e aumentar a eficiência. Soluções tecnológicas para indicar a necessidade mais adequada desses insumos, ou para reduzir a sua dosagem, devem ser buscadas pela pesquisa agropecuária, especialmente em relação ao nitrogênio.

É importante acrescentar que há benefícios indiretos em cultivos subsequentes, especialmente em função do resíduo de fertilizantes aplicados na canola que podem aumentar o rendimento de soja em 400 a 500 kg/ha, conforme resultados obtidos em experimentos realizados em diversas safras no Paraguai3 e conforme depoimentos de vários agricultores do Noroeste do RS. Além disto, especialmente em anos favoráveis às doenças, a canola propicia a redução dos prejuízos com doenças que depreciam a qualidade e comprometem o rendimento de trigo, milho e de outras gramíneas e leguminosas cultivadas. Depoimentos de diversos agricultores indicam que em vários casos os mesmos economizaram uma aplicação de fungicidas no cultivo de trigo, em relação às áreas de trigo semeadas em resteva de trigo. Tal redução de necessidade de aplicação é atribuída à menor severidade de doenças cujo inóculo permanece nos restos desse cultivo.

Com a finalidade de identificar pontos de estrangulamento no processo produtivo da canola, foram levantados junto a especialistas informações sobre a incidência dos impactos de cada operação sobre o custo de produção (CASTRO et al., 2010). Os especialistas foram unânimes em afirmar que a adubação exerce um alto impacto sobre os custos de produção, fato comprovado verificando-se o alto peso do item adubação no custo total (50,7%). Portanto, é indicada a aplicação de, no mínimo, 60 kg/ha de nitrogênio, para uma expectativa de rendimento de grãos de cerca de 1.500 kg/ha (TOMM, 2007b). Nesse caso, a receita foi de R$ 1.125,00 e a eficiência desse elo da cadeia produtiva foi de 1,34.

A cultura da canola demanda aproximadamente 20 kg de S/ha para produzir uma tonelada de grãos. Tomando por base a Figura 4, recomenda-se a utilização de pelo menos 154 kg de gesso (13% de S) para solo com pelo menos 10 mg/dm3. O emprego de sulfato de amônio, na adubação de cobertura, pode suprir a demanda de enxofre da planta (TOMM, 2007a).

O controle fitossanitário das principais pragas representa apenas 1,5% do custo operacional, porque essa operação geralmente se limita ao controle de traça das crucíferas (Plutella xylostella) e de pulgões (afídeos) (CASTRO et al., 2010). Um aumento de 10% sobre esse item leva a um impacto de apenas 0,2% sobre os custos operacionais.

O controle de plantas daninhas, em média representa 5,1% sobre o custo operacional, com pequeno impacto deste item no custo de produção.

Dentre as atividades mecanizadas na cultura da canola, a colheita é a atividade com maior custo por se tratar de um cultivo completamente mecanizado com colhedora-automotriz. O aprimoramento dos equipamentos e de regulagem, a avaliação e o controle das perdas poderão trazer importantes contribuições. Atualmente estão sendo realizados esforços para diminuir as perdas através do desenvolvimento e aquisição de máquinas para corte e enleiramento e o revestimento dos caminhões com lona.


3 Comunicação pessoal do Eng. Agr. Nilson Österlein, da COPRONAR, Naranjal, a Gilberto Omar Tomm em 4/3/08.

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