Dezembro, 2009
118
Passo Fundo, RS
Caracterização geral do processo produtivo agrícola

Necessidades ambientais para cultivo de canola

Mundialmente o cultivo de canola é realizado em latitudes de 35 a 55 graus, sob climas temperados e em sistemas que permitem apenas um cultivo por ano. A maioria da canola produzida na Europa é do tipo invernal, semeada no outono, ficando as plantas cobertas por neve durante o inverno, e colhidas no verão do ano seguinte. Entretanto, geralmente, mesmo as condições ambientais mais frias do Brasil, no Rio Grande do Sul, em latitudes máximas de 30 graus Sul, não atendem o número de horas de frio requeridas por cultivares invernais. Assim, no Brasil somente se empregam cultivares de primavera (“spring canola”) e da espécie Brassica napus L.. Não se empregam canola das espécies Brassica rapa L. (sinônimo B. campestris L.) e nem cultivares de Brassica juncea L. (mostarda) com conteúdo de ácido erúcico e glucosinolatos que atendem o padrão canola, internacionalmente denominada (Juncea canola), pois o rendimento de grãos de B. napus L. tem sido superior nos ambientes onde se cultiva canola no Brasil.

Temperaturas acima de 27oC no período reprodutivo limitam o potencial de rendimento de grãos de B. napus L.. Em ambientes com grandes limitações hídricas e ambientes com temperaturas elevadas, comuns em áreas com altitude inferior a 600 m nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste do Brasil, cultivares de Juncea canola (e talvez de B. campestris) poderão constituir alternativa, conforme indicativos de desempenho obtidos em Boa Vista, Roraima (Latitude 2º49’11” S , Longitude 60º40’24” W, Altitude 85 m) (SMIDERLE, 2008).

A principal estratégia empregada no direcionamento dos esforços de tropicalização da canola (TOMM & RAPOSO, 2008; TOMM et al., 2008) tem sido priorizar a experimentação e início do cultivo comercial em áreas com maior altitude (acima de 600 m) para dispor de temperaturas mais amenas. Está se buscando compensar a menor latitude das novas áreas de experimentação e início de cultivo de canola, localizadas cada vez mais próximas do equador, em relação às áreas onde o cultivo se encontra mais difundido no Brasil. Os resultados obtidos nos locais de maior altitude indicarão o potencial de sucesso em locais de menor altitude em regiões de latitude semelhante aumentando a segurança na expansão do cultivo. Áreas em que o cultivo de trigo tem sido realizado, também têm sido usadas como indicativo de maior probabilidade de sucesso no cultivo de canola. Baseado nesta estratégia, aliada ao emprego de híbridos com baixa sensibilidade a fotoperíodo, as experiências de sucesso no cultivo de canola no Brasil já vão desde regiões tropicais, como em Areia, no estado da Paraíba, até as condições temperadas ou subtropicais do Rio Grande do Sul. Estas evidenciam a excepcional flexibilidade e adaptação da canola a diferentes climas e solos. Segundo amplo levantamento de Thomas (2003), a produtividade das lavouras de canola depende mais do emprego de boas práticas de manejo do que das condições de solo e de clima.

 

Etapas do ciclo da cultura e sua relação com o manejo e produtividade

O número de dias entre a semeadura e a emergência da canola varia de 4 dias, sob condições de temperaturas elevadas e solo úmido, até mais de 14 dias sob temperaturas baixas, comuns no inverno do RS, e casos de emergência até aos 30 dias sob condições de solo seco, somente após a ocorrência de chuvas (TOMM, 2007b, TOMM, 2009). O maior risco de prejuízos e de morte causada por geadas é o período da emergência até a fase de roseta (DALMAGO et al., 2007a, DALMAGO et al., 2007b, DALMAGO et al., 2009). O estabelecimento de adequada população de plantas de canola, um mínimo de 20 plantas uniformemente distribuídas é favorecido pela semeadura em solo úmido ou a ocorrência de uma precipitação de 30 mm ou mais logo após a semeadura. A maior resposta à adubação com nitrogênio em cobertura tem sido obtida pela aplicação de fertilizante quando as plantas possuem 4 folhas verdadeiras (não são incluídas as 2 folhas cotiledonares nesta contagem). Entretanto, em ambientes com elevado risco de escassez hídrica e temperaturas elevadas, que encurtam o ciclo da canola (até 84 dias na região sudoeste de Goiás) a aplicação de toda dose recomendada de nitrogênio durante a semeadura tem induzido maior rendimento de grãos, em relação à aplicação de N em cobertura (Tomm, 2004; Tomm et al., 2004).

 

Necessidades nutricionais

O nitrogênio (N) é o nutriente mais limitante para o cultivo de espécies não leguminosas (realizam a Fixação Biológica de Nitrogênio em simbiose com bactérias específicas) a nível mundial. Em função da produção de grãos com elevado conteúdo de proteínas (moléculas constituídas principalmente de N e S) e da usual carência, especialmente de N, nos solos, estes tendem a ser os nutrientes cuja aplicação na canola produz os maiores retornos. Geralmente as maiores respostas econômicas são observadas com o emprego de 60 kg de N/hectare e de 20 a 30 kg de enxofre/hectare. Até 120 kg de N/hectare proporciona acréscimos de rendimento.

Escolha de cultivares e características dos híbridos de canola empregados no Brasil

A necessidade de vernalização e/ou alta sensibilidade a fotoperíodo, somada a falta de resistência ao grupo de patogenicidade da canela-preta que ocorre no Brasil, a qual expõe a risco de elevados danos, impede a recomendação e o emprego da maioria das cultivares e híbridos originados mundialmente, razão para o emprego de híbridos selecionados na Austrália.

No Brasil se cultiva apenas canola de primavera da espécie Brassica napus L var. Oleífera, com baixa sensibilidade a fotoperíodo devido à baixa latitude das regiões de cultivo (de 30 a 6 graus), com clima subtropical e tropical. A maior parte da produção mundial de canola é realizada em elevadas latitudes (35 a mais de 50 graus) e em climas temperados. Na Europa, na maioria das áreas (mais de 70%), empregam cultivares invernais, que requerem um determinado número de horas de frio (vernalização) para iniciarem a fase reprodutiva. Nas condições de clima subtropical e tropical do Brasil estas cultivares nem entram na fase reprodutiva ou apresentam ciclo excessivamente longo para se encaixarem nos sistemas de produção do Brasil que permitem dois ou mais cultivos ao ano.

No sul do Brasil e no Paraguai evidenciou-se a partir do ano 2000, a ocorrência da canela-preta causada pelo mesmo grupo de patogenicidade daquele verificado na Austrália (FERNANDO et al., 2003; TOMM, 2000). Na Argentina o início de prejuízos por canela-preta foi observado em 2004 (Gaetán, 2005). Por esta razão, em grande parte das áreas é extremamente necessário empregar híbridos com resistência genética à canela-preta, causada pelo fungo Phoma lingam (Tode:Fr.) Desmaz. (Leptosphaeria maculans (Desmaz.) Ces. & De Not) para evitar riscos de perder a lavoura (TOMM, 2000).

A produção de canola que desde seu início, em 1974, no noroeste do Rio Grande do Sul, era realizada com cultivares de polinização aberta, como PFB-2 (Embrapa), foi seguido do emprego de sementes híbridas de Hyola 401, e posteriormente Hyola 420, importadas do Canadá. Em função dos elevados prejuízos causados pela canela preta, experimentos coordenados por Tomm (2005), permitiram identificar entre os vários genótipos oriundos da Europa, América do Norte, Brasil e Austrália, os híbridos Hyola 43 e Hyola 60, resistentes ao grupo de patogenicidade da canela-preta presente nos países do Cone Sul, cujo emprego em lavouras foi iniciado em 2003. Como esta resistência derivada de Brassica rapa ssp sylvestris (Crouch et al., 1994), constituída por apenas três genes, estava sendo superada pelo patógeno na Austrália, têm sido introduzidos e avaliados híbridos com resistência poligênica, mais ampla e estável desde o ano de 2006, antes desse problema começar a ocorrer no Brasil. Hyola 61 foi o primeiro híbrido com esta característica registrado no Brasil, e em sequência, foram registrados os híbridos Hyola 433 e Hyola 411, respectivamente em 28/11/2008 e 13/1/2009. Na maioria dos ambientes o ciclo dos híbridos se apresenta, em ordem, do mais precoce para o mais tardio, como segue: Hyola 401, Hyola 420, Hyola 43, Hyola 61, Hyola 432 e Hyola 60 (TOMM, 2007a).

 

Origem das sementes empregadas

As sementes das principais culturas produtoras de grãos no Brasil, como soja, milho, algodão, arroz, entre outras, são em sua grande maioria produzidas no próprio país, através de produtores tecnificados e um setor estruturado para a produção de sementes dessas culturas. Assim, são frequentes os questionamentos de “por quê as sementes de canola são importadas”?

Nos anos 1980 instituições de pesquisa do Rio Grande do Sul possuíram programas de melhoramento genético que originaram cultivares de polinização aberta: a Embrapa Trigo gerou a cultivar PFB-2, a partir de seleção na cultivar sueca Niklas (TOMM et al. 2003) e a Cotrijuí gerou algumas cultivares como a CTC-4. Estes programas foram desativados no início da década de 1990 em função da reduzida área de cultivo de canola que havia no Brasil. O mesmo ocorre na Argentina, pois a relação benefício/custo no caso de empresas públicas, ou a lucratividade, no caso de empresas privadas, torna difícil justificar estes investimentos considerando o elevado custo de manutenção de programa de melhoramento genético para a geração de cultivares. Almeida et al., (1999) estimaram que o custo para geração cada cultivar foi estimado, para a soja, em aproximadamente um milhão de dólares americanos.

Mundialmente as instituições de pesquisa governamentais dos principais países produtores de canola, como o INRA, da França, Agriculture and Agrifood Canada, do Canadá investem no desenvolvimento de germoplasma básico e delegam a geração de cultivares, a produção e a comercialização de sementes de canola à iniciativa privada.

Praticamente 100% das lavouras de canola brasileiras empregam os híbridos Hyola desde o fim dos anos 1990. Antes do início dos severos prejuízos causados pela canela-preta as sementes de canola, (Hyola 401 e de Hyola 420) eram importadas do Canadá. Os híbridos de canola atualmente empregados no Brasil, são gerados na Austrália em um programa de melhoramento genético que inclui a seleção para resistência ao grupo de patogenicidade de canela preta que ocorre no Brasil e no Paraguai. As sementes híbridas importadas pelo Brasil, oriundas do referido programa australiano, são produzidas em diversos países, principalmente Argentina, Austrália, Nova Zelândia e Chile. A tendência é evitar a produção de sementes em países onde se cultiva canola transgênica para reduzir o risco de contaminação e introdução de plantas de canola resistentes a herbicidas na América do Sul, através de eventual cruzamento com nabo forrageiro e nabiça.

Os híbridos de canola apresentam potencial produtivo superior, em comparação com as cultivares de polinização aberta de mesmo ciclo e apresentam maior vigor de sementes, emergindo mais rápido e mais uniformemente, e geram lavouras com maior uniformidade de maturação, reduzindo as perdas derivadas de plantas com diferentes graus de maturação das síliquas e dos grãos nelas contidos. Assim, os produtores brasileiros desfrutam de duas grandes vantagens. Além da resistência genética à canela-preta dando segurança ao cultivo, sem custos com a aplicação de fungicidas (necessários na maioria dos cultivos), em média os híbridos de canola apresentam rendimento de grãos 23% superior, e os melhores híbridos podem superar em até 32% o rendimento das cultivares de polinização aberta (Goodwin, 2006).

Apesar do custo baixo das sementes de híbridas de canola por hectare (menos que o custo de 2 sacas do produto a ser colhido) comparado com todos as demais culturas, alguns produtores, perfazendo aproximadamente 6% da área de cultivo, ainda utilizam grãos colhidos em lavouras de híbridos semeados no ano anterior. Os prejuízos desta prática são elevados devido ao frequente insucesso no estabelecimento de lavouras causado pelo baixo vigor na emergência e necessidade de ressemeadura de lavouras. Além do potencial de rendimento até 32% menor (Goodwin, 2006), os grãos colhidos nas lavouras frequentemente estão contaminados com Alternaria spp e Sclerotinia spp, fungos transmitidos por sementes infectadas e escleródios (estrutura de resistência de Sclerotinia spp) introduzindo inóculo destas doenças quando semeados nas lavouras. Como as plantas geradas de grãos constituem uma população segregantes a maioria dessas plantas não são resistentes à canela-preta (somente um dos progenitores transmite a resistência) levando o agricultor a correr risco de elevadas perdas com a ocorrência canela-preta. Pelo fato da lavoura originada de grãos constituir uma população segregante de plantas, ocorre maior desuniformidade de maturação e, consequentemente aumentando a probabilidade de elevadas perdas de grãos antes e durante a colheita.

Comercialização e custo de sementes no Brasil

A comercialização de sementes de canola no Brasil se distingue dos outros cultivos pelo fato de sempre estar vinculada a programa de fomento de alguma empresa ou cooperativa, e de estar aliada à assistência técnica ao agricultor. A comercialização de sementes acompanhada de orientações técnicas e assistência técnica ao agricultor se estabeleceu visando a aumentar a probabilidade de sucesso, que tende a ser menor na ausência do emprego de conhecimento específico, especialmente em relação a tecnologia de semeadura e manejo da colheita de canola. Assim, os agricultores empregam os híbridos comercializados pelas empresas que realizam fomento, as quais por sua vez seguem as indicações técnicas (TOMM, 2004; TOMM 2007B).

Os estudos de densidade de semeadura realizados desde o Rio Grande do Sul até Goiás, invariavelmente demonstraram que no máximo se deve ter 40 plantas/m2, que corresponde, em média, a 3 kg de sementes por hectare (TOMM et al., 2004). Como o preço das sementes é cotado internacionalmente e se empregam quantidades de sementes por hectare bem abaixo da recomendação de outros países, o custo das sementes por hectare tem sido aproximadamente 50% do custo verificado em outros países. Assim, no Brasil se empregam sementes de híbridos simples, entre os mais modernos gerados mundialmente, com um custo das sementes por hectare menor, em comparação às demais culturas produtoras de grãos.

O custo de aquisição de sementes representa apenas 6,3% do custo operacional (CASTRO et al., 2010). O preço de aquisição praticado é o mesmo para todos os híbridos. Os híbridos são testados em uma rede de experimentos compreendendo diversas épocas de semeadura e grande diversidade de ambientes. Este procedimento tem permitido disponibilizar híbridos adaptados às condições edafoclimáticas do Brasil e resistentes às doenças, principalmente a canela-preta que pode provocar sérios dados a lavoura. O emprego de híbridos com resistência a canela-preta e sementes sadias também aumenta a segurança no cultivo por dispensar o uso de controle químico, evitar prejuízos ao rendimento e contribuir para evitar o aumento na desuniformidade na maturação das lavouras gerado pela morte prematura e tombamento de plantas que comprometem a qualidade (TOMM, 2007b).Também se evita a introdução nas lavouras de doenças, como Sclerotinia spp. e Alternaria spp..

 

Manejo de solo e de palha e semeadura

Grande parte do sucesso no cultivo da canola pode ser assegurado pela escolha de áreas de solo com alta fertilidade, aliado à adubação (especialmente com nitrogênio e enxofre) e semeadura que permita obter uma uniforme distribuição de, no mínimo, 20 plantas/m2. As sementes de canola, diâmetro menor que 2 mm e peso de mil grãos de 3 a 6 gramas) requerem esforço diferenciado no preparo e regulagem de semeadoras, em relação à soja e trigo.

Inúmeras observações em experimentos e principalmente em lavouras realizadas por pesquisadores, assistentes técnicos e agricultoras indicam que no sul do Brasil os prejuízos causados por geadas têm sido diretamente proporcionais a quantidade de palha que permanece próxima as plantas, na linha de semeadura. O solo apresenta coloração mais escura do que a palha e absorve mais calor durante o dia, liberando-o a noite e mantendo a temperatura mais elevada do que onde a palha refletiu maior quantidade de radiação durante o dia.

Como no fomento à produção da canola preferencialmente são envolvidos produtores com perfil de adoção de alta tecnologia, o cultivo é realizado quase que exclusivamente sob o sistema plantio direto (SPD), empregado pela quase totalidade dos produtores de grãos (DENARDIN et al., 1998). Quanto maior a fertilidade de solo, maior é a quantidade de palha produzida, resultado de boas práticas agrícolas, e consequentemente, também maior é a probabilidade de danos causados por geadas desde a emergência até a fase de roseta nos estados da região Sul. Possivelmente esta seja a principal diferença do SPD em relação à produção de canola sob preparo de solo. O emprego de sulcadores ou “facões” para abertura dos sulcos e rompimento de compactação e deposição profunda de fertilizantes apresenta também a vantagem de afastar a palha na linha de semeadura. Esta prática reduz de forma acentuada o risco de danos causados por geada. Outra alternativa é a adoção de instrumentos adaptados às semeadoras, que afastem a palha em cada linha de semeadura, como modelos eficientes de “barrerastrojos” empregados na Argentina (IRIARTE & VALETTI, 2008).

As operações de cultivo consistem em dessecação, sobretudo empregando glifosato, seguida de semeadura mecanizada, empregando semeadoras de soja equipados com discos alveolados, ou semeadoras equipadas com um reservatório de sementes menor, chamado de “caixa de pastagens” ou “caixa para canola”. Em regiões com propriedades maiores, como no Centro-Oeste, com certa frequência se empregam semeadoras a vácuo.

 

Plantas daninhas

Existe escassez de defensivos agrícolas registrados no MAPA para emprego no cultivo de canola. Entretanto, em um percentual de aproximadamente 30% da área cultivada no Rio Grande do Sul e no Paraná, têm sido necessária a aplicação de herbicidas de pós-emergência para o controle de plantas daninhas de folhas estreitas, como o azevém (Lolium multiflorum L.) e a aveia (Avena spp.). Levantamento realizado em 2008 indicou que nestes casos se tem utilizado comumente uma aplicação de um dos herbicidas recomendados no cultivo de soja, principalmente Setoxidin e Fenoxaprope-p-etilico+Cletodim (CASTRO et al., 2010). Como no cultivo de canola são limitadas as opções de herbicidas para controle de plantas daninhas de folhas largas, situação que também se verifica na cultura do girassol, tem sido recomendado evitar a semeadura de canola em áreas com histórico indicando elevada infestação de plantas daninhas de folhas largas.

 

Insetos-praga

O monitoramento da presença e dos níveis populacionais de insetos-praga tem sido necessário. O inseto-praga mais comum em lavouras de canola é a Traça das crucíferas (Plutella xylostella), cujo nível de prejuízos e necessidade de controle cresce com a elevação das temperaturas do ar e ocorrência de períodos de baixa umidade relativa do ar. Levantamento realizado por Castro e co-autores (2010) indicou que uma ou mais aplicações de inseticida tem sido necessárias. Nos casos mais severos têm sido utilizados defensivos com efeito de choque combinados com inseticida que apresenta efeito residual mais longo. Também podem ocorrer lagartas, afídeos e, no fim do ciclo, percevejos. O produto comercial Teflubenzuron tem sido um dos inseticidas fisiológicos mais empregados. O único defensivo agrícola registrado para uso na cultura da canola, até o presente momento, é o ingrediente ativo bifenthrin, inseticida/acaricida do grupo químico piretróide. Sua classificação toxicológica é do grupo II (produto altamente tóxico) e sua classificação ambiental, do grupo II (produto muito perigoso). O produto está registrado para controle da praga mais importante da canola, a traça-das-crucíferas (Plutella xylostella) e tem a ressalva de uma só aplicação por ciclo da cultura, para evitar o desenvolvimento de biótipos resistentes da praga (BRASIL, 2008).

 

Doenças

Relativamente ao mofo branco, causado por Sclerotinia spp., a resistência genética é muito pequena ou inexistente entre as espécies de folhas largas, como a canola. Mundialmente é pouco provável a obtenção de resistência genética agronomicamente relevante advinda do melhoramento genético convencional. Eventualmente, a transgênia ou outras tecnologias a serem desenvolvidas poderão futuramente trazer soluções para esta doença que constitui um dos problemas fitossanitários mais importantes na produção de grãos de culturas como o feijão, o girassol, a soja e outras espécies de folhas largas. O controle por fungicidas tem sido pouco eficiente e oneroso. A rotação com gramíneas é a prática mais eficaz na redução do inóculo de Sclerotinia spp. A maior severidade dessa doença fúngica tem sido associada às condições de temperaturas do ar relativamente baixas e disponibilidade de umidade do ar elevada, condições ambientais que ocorrem em áreas com altitude acima de 800 m na região Centro-Oeste, frequentemente após o cultivo continuado de feijão. Como o desenvolvimento do fungo requer condições ambientais bastante específicas, eventualmente à doença pode não comprometer o cultivo, mesmo em áreas com elevado inóculo da doença. Entretanto, tem sido recomendado evitar o cultivo de canola e outros cultivos de folhas largas nestas lavouras quando possuem elevado inóculo de Sclerotinia spp. A forma de controle da doença mais destrutiva da canola, a canela-preta tem sido o emprego de híbridos resistentes (TOMM, 2007b). A incidência e a severidade de outras doenças tem sido esporádica e relativamente pequena. Assim, até o momento não tem sido recomendada a aplicação de fungicidas em canola. Isto tem contribuído decisivamente para manter os custos de produção de canola bem inferiores em relação a outras culturas. Tornando, assim, a condução das lavouras de canola menos trabalhosa e mais favorável em relação às demais culturas produtoras de grãos.

 

Colheita

A menor uniformidade de maturação, em comparação com os principais cultivos de grãos, requer experiência na determinação do ponto de colheita ou de ponto de corte-enleiramento. Assim, produtores com mais experiência no cultivo de canola ou que contam com a assistência de técnicos mais especializados e experientes tendem a obter produtividades mais elevadas, seguindo uma curva de aprendizagem crescente.

A maioria da área de canola tem sido colhida de forma direta, semelhantemente a soja e trigo. A umidade dos grãos deverá ser de no máximo 18% para que se possa iniciar a colheita direta da lavoura, sendo então necessária a secagem imediata até a umidade de 10% ou menos. Diferença de rendimento de grãos na mesma lavoura, antes e após temporais, indicaram que perdas superiores a 30% da produção, causadas por desgrane natural, tem sido frequentes quando ocorrem precipitações intensas e longos períodos de umidade acompanhados ou não de vendavais na época de maturação e colheita.

A principal alternativa para reduzir estas perdas consiste no corte-enleiramento quando as plantas atingem a maturação fisiológica, o que corresponde a aproximadamente 35% de umidade dos grãos, vários dias antes do ponto para a realização da colheita direta. Grande parte dos produtores brasileiros já teve acesso às informações sobre corte-enleiramento, tecnologia empregada em mais de 90% da área de canola do Canadá e 70% da área de cultivo da Austrália1, e está interessada em adquirir ou desenvolver equipamentos para efetuar esta operação. A ocorrência de temporais de vento, chuvas torrenciais e granizo, as vésperas da colheita, na safra de 2007 e fatos de anos anteriores, geraram evidências do potencial da antecipação da colheita, através do corte-enleiramento, para evitar perdas por desgrane que ocorre a partir da maturação fisiológica das plantas. Assim, além da produção de equipamentos de corte-enleiramento para acoplamento em tratores, também estão sendo construídas ou adaptadas plataformas extendidas, autopropelidas por colhedoras-automotrizes2.

A maioria dos agricultores adota cuidados, como a vedação de orifícios em colheitadeiras e carrocerias de veículos de transporte, para reduzir as perdas de grãos de canola, devido ao seu pequeno diâmetro (de 1 a 2 mm), tendo em vista que esta necessidade tem sido amplamente difundida e assimilada. Esses cuidados se constituem na vedação de orifícios nas colhedoras-automotrizes, transporte em carrocerias tipo caçamba metálica ou forrando as carrocerias com lona para evitar vazamento de grãos.


1Correspondência eletrônica do Dr. Greg Buzza, líder de programa de melhoramento genético de canola da Austrália, enviada ao pesquisador Gilberto Omar Tomm, Embrapa Trigo, em 16.02.2004
2Pela PRODUFORT Ind. e Com. de Equipamentos Ltda. (Fone (54) 3334-1449, e-mail: produfort@dgnet.com.br) e pela SAKI máquinas especiais. (Fone: 55 3333 8486, e-mail: saki.maquinasespeciais@hotmail.com).

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