Dezembro, 2009
118
Passo Fundo, RS
Sistema de produção agrícola

O cultivo de canola é realizado de forma completamente mecanizada, basicamente com as mesmas máquinas e implementos agrícolas empregados para os cultivos de soja, milho e trigo, com pequenas adaptações e acréscimos (como disco para semeadora, plataforma de corte-enleiramento). O aprendizado do manejo da cultura, especialmente do momento e da forma adequada das operações de semeadura e de colheita, é o maior investimento necessário para alcançar êxito no cultivo da oleaginosa.

Em função da reduzida área semeada, em relação aos principais cultivos, poucos agricultores e técnicos do Brasil (e demais países da América do Sul) possuem conhecimento e experiência no cultivo de canola, especialmente, em relação ao seu potencial de rendimento de grãos e de geração de renda, além dos benefícios dessa cultura para os cultivos subsequentes (TOMM, 2006a).

O limitado investimento na realização das lavouras, especialmente em adubação e uso de sementes de qualidade, reduz o desempenho do cultivo. Esta também era a realidade no Paraguai, em 1997. Entretanto, o suporte à realização de pesquisas, o intercâmbio e a transferência ao Paraguai de tecnologias desenvolvidas no Sul do Brasil e o treinamento de técnicos e agricultores realizados em colaboração com a Cooperativa Agropecuária de Naranjal (Copronar) proporcionou crescimento sustentado e revolucionou a antiga realidade (ÖSTERLEIN, 2008). Isto tornou a canola acreditada entre os agricultores e técnicos. Seu potencial é conhecido no Paraguai e seu cultivo tornou-se prática usual em diversas regiões daquele país. Em função disso a área de cultivo ultrapassou 85 mil ha em 2006.

O estabelecimento de vários mil hectares de lavoura de canola por empreendedor que ainda não acumulou experiências com a cultura de canola, demonstrou ser uma opção com nível de risco elevado (TOMM et al., 2006). Por outro lado, quando o tamanho da área cultivada é pouco significativo para o agricultor, o esforço para aprendizagem e para atender as necessidades da cultura não é priorizado ou tende a não ser realizado da melhor maneira. A semeadura e as operações tendem a ser realizadas tardiamente. Por exemplo, nas regiões de cultivo de milho safrinha, como no Mato Grosso do Sul e Goiás o resultado dos experimentos conduzidos no Sudoeste de Goiás (TOMM et al, 2004) indicou que a semeadura de canola deve ser realizada de 15 de fevereiro a 23 de março [posteriormente o Zoneamento Agroclimático, particularizou a recomendação para cada município, (ZONEAMENTO, 2009)], simultaneamente ao milho, e não após, sob risco de colocar o cultivo de canola em período de extrema limitação hídrica.

O insuficiente conhecimento e aperfeiçoamento nos aspectos fundamentais para o sucesso no cultivo de canola às particularidades de cada região e sistema produtivo pode limitar o rendimento na primeira experiência do produtor. Indicativos técnicos para cultivo, zoneamento agroclimático e outras informações atualizadas periodicamente estão disponíveis em www.cnpt.embrapa.br/culturas/canola. Recomenda-se a busca de informações sobre o potencial de rendimento de grãos, de geração de renda e dos benefícios da canola para os cultivos subsequentes com técnicos e produtores bem sucedidos. Reuniões de treinamento, difusão de informações técnicas em dias de campo, TV, rádio e outros eventos de capacitação dos administradores e dos executores das operações, têm sido realizadas com grande frequência, visando a contribuir para que as atividades sejam realizadas adequada e eficientemente.

Observou-se que com algumas horas de treinamento com especialistas e a leitura das informações técnicas disponíveis, somado ao esmero do agricultor e dos executores das operações no preparo e ajuste de semeadoras e colhedoras, é possível obter rendimentos de até 2.000 kg/ha, como média de lavouras com 200 ha ou mais, já na primeira experiência.

O aprendizado advindo do trabalho para expandir a adoção do sistema plantio direto no sul do Brasil, projeto Metas, demonstrou a vantagem de esforços conjugados para eliminar “gargalos” ao desenvolvimento e adoção de novos processos, em comparação com ações isoladas (DENARDIN et al., 1998), e constitui a base para a estratégia empregada na pesquisa e desenvolvimento do cultivo de canola no Brasil. A integração de agricultores com cooperativas ou com empresas que fomentam o cultivo da canola tem contribuído decisivamente para viabilizar a produção através da concentração de esforços, disponibilizando aos agricultores treinamento com especialistas, assistência técnica, fornecimento de sementes híbridas de alta qualidade, garantia de compra de toda a produção e logística, os quais seriam inviáveis para produtores isolados. Também, tem favorecido a organização do acesso ao crédito rural e ao seguro agrícola, para todas as classes de agricultores, após a disponibilização do Zoneamento Agroclimático para cultivo de canola.

A experiência acumulada desde o início da década de 1980 e as informações geradas sob coordenação do primeiro autor, colaboradores e instituições parceiras sobre a resposta da canola em uma grande diversidade de ambientes (TOMM et al., 2004, TOMM et al., 2006, TOMM et al., 2008) constituíram a base para elaboração do Zoneamento Agroclimático para cultivo da oleaginosa no estado do Rio Grande do Sul em 2008 (DALMAGO et. al., 2008). A partir destes estudos que definiram os parâmetros de comportamento dos híbridos de canola nas condições brasileiras, foram elaborados o zoneamento para outros estados, a saber, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, e Goiás, a partir da safra 2009 (ZONEAMENTO, 2009).

A decisão de “plantar” canola se contrapõe a deixar as áreas em pousio, que favorece a degradação dos solos causada pela lixiviação de nutrientes, especialmente nitrogênio e potássio. Ocorre também a perda de nutrientes dissolvidos em águas de enxurrada, comuns em áreas com deficiente cobertura vegetal, e a multiplicação de plantas daninhas, aumentando os custos com herbicidas nos cultivos de verão.

A colaboração entre agricultores para obter os meios necessários ao eficiente manejo da cultura, como semeadoras e equipamentos para corte-enleiramento, pode diminuir os esforços e os custos para dispor destes meios de produção. Mundialmente, a compra e venda de prestação de serviços de operações mecanizadas expande rapidamente por constituir forma que é geralmente mais eficiente e econômica do que a aquisição de máquinas e equipamentos para serem usadas poucas horas por ano. Assim, a união de agricultores, especialmente os que cultivam poucos hectares, visando a redução de custos e acesso a suporte técnico especializado, aquisição de insumos, kit para semeadura, equipamentos para corte-enleiramento, regulagem de máquinas, e outros, constitui em importante alternativa a ser considerada.

O fluxograma apresentado na Figura 2 descreve a sequência do processo produtivo de canola.


 

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