Dezembro, 2009
112
Passo Fundo, RS
Introdução

O trigo é cultivado em diferentes estados do Brasil, no entanto, aproximadamente 90% da produção brasileira está concentrada nos estados do Paraná e do Rio Grande do Sul. Esta produção de trigo, originária da semeadura de diferentes cultivares, colhida e armazenada em diferentes silos, dá origem a amostras de lotes comerciais, que por sua vez são enviadas aos moinhos para avaliação e possível comercialização. Estes lotes apresentam diferenças em termos de peso do hectolitro, de número de queda, de força de glúten, de cor, dentre outros parâmetros que definem a qualidade de trigo.

A qualidade tecnológica do trigo depende da aptidão genética da variedade; das condições climáticas durante o ciclo de cultivo; dos recursos do solo onde será cultivado; dos recursos tecnológicos aplicados no cultivo; do manejo pós-colheita da produção no campo; e do processo industrial de transformação de farinhas (AAPOTRIGO, 2009a). Portanto, a obtenção de um determinado padrão tecnológico é complexa abrangendo não somente uma multiplicidade de parâmetros como também situações e controles em diferentes etapas do processo de produção e processamento, vivenciados e executados por diferentes agentes.

Os avanços em processos de mecanização e automatização de manufatura nas indústrias de moagem e de panificação resultaram em padrões mais exigentes de trigo, envolvendo análises mais minuciosas e um grande número de características de qualidade para avaliação de trigo (BELDEROK, 2000). Um dos gargalos para atendimentos destes padrões solicitados pela indústria reside na etapa pós-colheita na qual muitas vezes o trigo não é segregado por sua qualidade tecnológica de uso final, o que dificulta sua comercialização pela mistura de trigo para diferentes produtos finais e reduz a otimização do uso da matéria-prima.

Segundo a AAPOTRIGO (2009b), para a segregação de trigo deve-se associar cultivares com a mesma qualidade; reconhecer que nem todas as cultivares possuem a mesma qualidade em todas as regiões produtoras; relacionar tecnologia de cultivo, não somente com a produtividade, mas também com a qualidade de produção; incorporar a rotina de amostragem e análise de proteína, glúten, lote por lote, com até duas semanas de antecipação da colheita; não misturar trigo com qualidade superior com inferior; realizar esforços para aumentar a capacidade de armazenagem na origem e facilitar a manipulação de diferentes qualidades.

A determinação da qualidade tecnológica de trigo (Triticum aestivum L.) requer investimento pela indústria moageira e de produto final. Na Europa é comum a determinação de alveografia e do conteúdo de glúten, mesmo que estas análises demandem tempo em laboratório (POBLACIONES et al., 2009). No Brasil, a escolha da melhor matéria-prima para a fabricação de cada tipo de produto final depende de avaliação realizada via laudo para duas ou três das características que se pretende verificar, levando no mínimo duas semanas para ser emitido (ABIMA, 2009). Desta forma, métodos rápidos para segregação de trigo tornam-se fundamentais.

Neste sentido, ações como a parceria entre a Associação Brasileira das Indústrias de Massas Alimentícias (ABIMA), que representa os fabricantes de massas alimentícias e derivados de trigo no Brasil, e a FOSS, empresa dinamarquesa de equipamentos para análises de alimentos, para que os associados tenham acesso a tecnologia NIR (espectroscopia de reflectância no infravermelho próximo) para avaliação da farinha de trigo, é um exemplo a ser seguido. Nos termos da parceria, a FOSS já desenvolveu 12 curvas de calibração específicas para análises de proteína, umidade, alveografia, dentre outros, baseadas em seis lotes de amostras de farinhas utilizadas na indústria brasileira e que foram cedidas pela ABIMA. O desenvolvimento destes gráficos ou curvas, essenciais para análises apuradas, custam em torno de US$ 3 mil cada. Embora requeira alto investimento, possivelmente a tecnologia NIR, método eficiente e rápido, será a adotada para fins de segregação em cooperativas e no setor de armazenamento no futuro. A tecnologia permite a avaliação simultanea de muitos parâmetros de qualidade tecnológica e composição química, com resultado em 45 segundos, sem uso de reagentes químicos e produção de subprodutos de análises.

O alcance da eficiência e efetividade dos segmentos do complexo trigo requerem esforços dos diferentes agentes no intuito de estabelecer processos de preservação de identidade do produto e adoção de práticas (manejo Integrado de pragas, boas práticas, APPCC, ISO 22000, etc.) que garantam a biosseguridade do trigo grão e de seus derivados e desenvolvimento de tecnologias e informações que dão suporte ao processo produtivo. Neste sentido, a sistematização de dados sobre o perfil de qualidade tecnológica do trigo por safra hora apresentada busca contribuir no alcance deste mote.

A publicação Qualidade Comercial do Trigo Brasileiro - safra 2006, foi elaborada tendo como base resultados de qualidade tecnológica de amostras comerciais de trigo, provenientes das diferentes regiões tritícolas brasileiras, analisadas por moinhos em seus laboratórios e cedidos à Embrapa Trigo, que se encarregou da sistematização dos dados e da elaboração desta publicação, que visa dispor informações sobre o comportamento da qualidade comercial de trigo no Brasil.

Na safra 2006, os moinhos colaboradores foram: Anaconda Industrial e Agrícola de Cereais S.A., Antoniazzi & Cia. Ltda., Bunge Alimentos S.A., Cargill Agrícola S.A., Coamo Agroindustrial Cooperativa, Cooperativa Agrária Mista Entre Rios Ltda., Cooperativa Central Regional Iguaçu Ltda., Correcta Indústria e Comércio, J. Macedo S.A., Moinho do Nordeste S.A., Moinho Globo Indústria e Comércio Ltda., Predileto Alimentos S.A., Richard Saigh Indústria e Comércio S.A., S.A. Moageira e Agrícola.

Foram considerados 22 parâmetros de qualidade: impurezas e matérias estranhas; peso do hectolitro; umidade do grão; cinza do grão; número de queda do grão; extração de farinha; umidade da farinha; cinza da farinha; número de queda da farinha; glúten úmido; glúten seco; da alveografia: força de glúten (W), tenacidade (P), extensibilidade (L), relação tenacidade/extensibilidade (P/L) e índice de elasticidade (Ie); da farinografia: absorção de água (AA) e estabilidade (EST); do colorímetro Minolta: luminosidade (L*), coordenadas de cromaticidade a* (-a= vermelho, +a= verde) e b* (-b= amarelo, +b=azul); e cor Kent Jones.

Espera-se que o mapeamento da qualidade tecnológica de amostras comerciais nas regiões tritícolas brasileiras, através da presente publicação, possa continuar fornecendo subsídio para as necessidades da cadeia produtiva de trigo no Brasil.

Os autores.


 

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