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ISSN 1517-4964
Setembro, 2013
Passo Fundo, RS

Foto: Paulo Ferreira
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Estimativas de viabilidade econômica do cultivo de canola no Rio Grande do Sul e no Paraná, safra 2013

Cláudia De Mori1
Paulo Ernani Peres Ferreira2
Gilberto Omar Tomm3

Introdução

A canola (Brassica napus L. var. oleifera), é a segunda oleaginosa de importância mundial em quantidade produzida de grãos. Na safra 2012/2013, a produção de grãos de canola no mundo foi estimada em 60,63 milhões de toneladas (OILSEEDS..., 2013), representando 13,0% da produção de grãos de oleaginosas4. Os maiores produtores, na safra 2012/2013, foram a União Europeia (31,0%), a China (22,3%), o Canadá (21,9%), e a Índia (11,2%). Aproximadamente 59,88 milhões de toneladas de grãos de canola (96,0% do consumo total, estimado em 62,35 milhões de toneladas na safra 2012/2013) foram processadas e resultaram 23,80 milhões de toneladas de óleo de canola. Do total produzido de óleo, 69,5% foi empregado na alimentação humana e 30,5% empregado em atividade industrial, grande parte destinada a produção de biodiesel. No Brasil, em 2012, conforme os dados de Acompanhamento... (2013), a área colhida de canola foi de 43,8 mil hectares, sendo 28,2 mil hectares (64,4%) localizados no Rio Grande do Sul; 12,9 mil hectares (29,5%) no Paraná; 2,3 mil hectares (5,2%) no Mato Grosso do Sul e 400 hectares (0,9%) em Santa Catarina. No entanto, há registros de cultivo também no estado de São Paulo (630 ha), Minas Gerais (600 ha), Mato Grosso (25 ha) e Goiás (16 ha), demonstrando a expansão geográfica potencial do cultivo da oleaginosa5.

Embora a canola tenha sido introduzida no Brasil na década de 1970, problemas relacionados ao manejo da cultura e a incidência de doenças desestimularam seu cultivo nas décadas que seguiram. Somente no final da década de 1990, com os avanços tecnológicos que oferecem suporte para o cultivo da oleaginosa no país (cultivares hibridas de menor ciclo, zoneamento agroclimático, estabelecimento de quantidade de semente e densidade de semeadura, identificação de adubação adequada, etc.) e estabelecimento de um canal de comercialização mais sólido (empresas que realizam o fomento da produção, com garantia de preço, além da prestação de assistência técnica), retoma-se o interesse pelo cultivo da oleaginosa. Houve um expressivo incremento na área colhida, passando de uma área média de 11,7 mil hectares, no período 1980 a 1998, para média de 28,8 mil hectares no período 1999 a 2004. A partir de 2004, ano com maior registro de área colhida (34,0 mil hectares), houve uma manutenção de área ao redor de 31,0 mil (média do período de 2005 a 2011). Por sua vez, o rendimento também apresentou crescimento. A partir de um rendimento médio de 829 kg/ha, no período 1980 a 1992, nos anos seguintes, alcançou-se 1.750 kg/ha, na safra de 2001, maior registro na série histórica. De 2007 a 2011, o rendimento médio brasileiro estimado da oleaginosa foi de 1.352 kg/ha6.

A consolidação do cultivo de uma determinada espécie requer o estabelecimento de um conjunto de tecnologias que permitam a maximização do potencial genético da espécie e que proporcionem a rentabilidade do cultivo e sua inserção em um complexo agroindustrial integrado que assegure o fluxo de insumos e viabilize a comercialização da produção. Portanto, a decisão de cultivar canola recai sobre um conjunto de informações de viabilidade tecnológica e econômica relativas à cultura. Neste sentido, o presente documento apresenta estimativas de viabilidade econômica do cultivo de canola para safra 2013, nos estados do Rio Grande do Sul e do Paraná, sob sistema de plantio direto em condições de sequeiro.

Cabe registrar que cada propriedade apresenta especificidades relativas às condições edafoclimáticas, perfil de estrutura de equipamentos e construções, adoção tecnológica, dentre outros que define uma matriz específica de custos, bem como fatores de dinâmica do mercado local que podem afetar os preços dos insumos e dos produtos ou estabelecer estruturas de compra e venda que garantam escoamento da produção.

Aspectos metodológicos

A elaboração dos cenários de viabilidade econômica de cultivo de canola teve como base a construção de matrizes de coeficientes técnico-contábeis e cotação de preços de insumos, serviços e produtos para cada uma das localidades selecionadas. Os locais, Giruá (RS), Passo Fundo (RS), Candói (PR) e Cascavel (PR), foram definidos considerando a representatividade na produção da oleaginosa e a potencialidade de expansão de cultivo.

O estabelecimento dos coeficientes técnicos dos sistemas de cultivo, em cada uma dessas localidades, considerou a experiência do pesquisador e do analista da Embrapa Trigo envolvido com a cultura, entrevistas realizadas junto a produtores que cultivam a oleaginosa nesses locais e consulta a profissionais que atuam diretamente na assistência técnica nesses lugares, bem como, no sistema de produção preconizado para a cultura.

A matriz de custos de produção baseia-se nos conceitos de custos variáveis, fixos, operacionais e totais. Entende-se como custo total de produção, a soma de custos variáveis e custos fixos. Define-se custo variável como gastos que variam de acordo com o nível de produção da empresa (Hoffmann et al., 1987), em determinado período de tempo (por ex.: gastos com semente, fertilizante, defensivo, etc.) e custo fixo, como custos que incorrem num determinado período de tempo, independentemente da quantidade produzida decorrente do uso dos capitais fixos da propriedade (por exemplo, depreciação de benfeitorias, de máquinas e de equipamentos, os juros sobre o capital imobilizado e/ou despesas de arrendamento, seguros, etc.), além de encargos e impostos. O custo operacional compõe-se dos custos variáveis (despesas diretas) acrescido de parcela dos custos fixos diretamente associados à implantação, condução e colheita da lavoura (por exemplo, depreciação de benfeitorias, máquinas e equipamentos) (Matsunaga, et al., 1976; Hoffmann et al, 1987; CUSTO..., 2010). Difere do custo total por não contemplar a renda dos fatores fixos, ou seja, remuneração da terra e do capital fixo, e tem aplicação como análise de médio prazo, na perspectiva da manutenção da estrutura produtiva para continuidade das atividades, enquanto que o custo total serve como parâmetro para balizar a análise de longo prazo de continuidade ou não na atividade, comparando com demais atividades produtivas. Já o custo variável, pauta a análise de curto prazo visando à restituição dos desembolsos efetuados no ciclo de produção.

No cálculo das operações foi considerado somente o tempo efetivo gasto de máquinas e de mão-de-obra para a realização de cada operação. O cálculo do custo da hora-máquina (hm) considerou um uso otimizado dos equipamentos (horas recomendadas de uso anual de equipamentos) sendo a depreciação calculada utilizando o método linear. O custo da mão-de-obra tomou como referência o salário médio pago a um tratorista e um trabalhador permanente polivalente.

No cálculo dos custos pós-colheita, foram considerados despesas de transporte do produto por uma distância de 30 km; armazenagem pelo período de 30 dias; percentuais de 2,3% e de 0,5% sobre a renda bruta relativos à Contribuição Especial da Seguridade Social Rural – CESSR e as despesas gerais de administração, respectivamente; percentuais de 2,0% e de 5,0% sobre custo variável de condução da lavoura referente à assistência técnica e ao seguro agrícola, respectivamente; além de juros de 8,75% aa (período de 7 meses) sobre capital circulante (custo variável de condução da lavoura) referente a tomada de crédito rural para implantação das lavouras7.

Para a remuneração de capital foram considerados juros de 4% ao ano (por um período de quatro meses) sobre o valor médio do hectare e juros de 6% ao ano (por um período de quatro meses) sobre capital empregado em máquinas, equipamentos e benfeitorias8.

Os preços de insumos, de serviços e de outros produtos, expressos em reais (R$), usados na elaboração das estimativas de custos refletem a coleta realizada nos municípios, no mês de fevereiro de 2013. No caso preços de máquinas e equipamentos, utilizaram-se as cotações obtidas na cidade de Passo Fundo para as localidades do Rio Grande do Sul (coletados em fevereiro de 2013) e valores médios do estado do Paraná, divulgados pelo DERAL/SEAB (PREÇOS..., 2013) em fevereiro de 2013, para os municípios de Candói e de Cascavel. O preço de mercado para canola corresponde à cotação média do mês de janeiro no estado do Paraná, segundo DERAL/SEAB (PREÇOS..., 2013).

Para se analisar da viabilidade econômica, estimou-se a receita bruta (rendimento médio para cada localidade multiplicado pelo preço médio da saca do produto), as margens bruta, operacional e líquida (calculadas pela diferença entre a receita bruta obtida e o custo variável, custo operacional e custo total, respectivamente), bem como indicadores de ponto de equilíbrio (rendimento necessário para pagar dos custos, considerando o preço médio da saca do produto, ou seja, para um dado custo, o ponto de equilíbrio indica o rendimento mínimo para cobrir o custo, a um determinado preço de venda unitário do produto) e relação benefício/custo (unidade monetária de receita a cada unidade monetária de gasto). A análise desses indicadores foi realizada considerando cenários de variação - 20% e + 20% do rendimento esperado para a localidade e de variação de – 10% e + 10% sobre o preço de médio do produto, além do preço mínimo de referência.

 

Resultados: estimativas de custo e análise de indicadores econômicos

Descrição dos sistemas modais de cultivo de canola

A Tabela 1 apresenta uma descrição geral dos sistemas modais considerados para elaboração das estimativas de custos de produção. Os coeficientes dos sistemas estabelecidos para os municípios de Passo Fundo (RS) e de Giruá (RS) são similares, havendo variação no principio ativo de alguns agroquímicos considerados. Os sistemas de cultivo definidos para Candói (PR) e para Cascavel (PR) diferenciam-se dos anteriores pelo número de aplicações de inseticida e principio ativo de agroquímicos e, no caso de Cascavel, há diferenciação em termos de fertilização de base e ausência de fertilização em cobertura.

Atualmente, somente há registro de um inseticida para a cultura da canola9, sendo que na coleta de preços de produtos, não havia disponibilidade do mesmo nos diferentes estabelecimentos contatados. A necessidade de produtos de proteção com registro para a cultura tem sido um dos problemas enfrentados no cultivo da oleaginosa.

Custos por hectares e composição por item e fase de cultivo

As tabelas 2, 3, 4 e 5 apresentam a estimativa de custo total de produção para as localidades de Passo Fundo (RS), Giruá (RS), Candói (PR) e Cascavel (PR), detalhando por item de gasto. O custo total de produção de canola foi estimado em R$ 1.796,09/ha em Giruá (RS), R$ 1.832,24/ha em Passo Fundo (RS), R$ 1.890,25/ha em Candói (PR) e R$ 1.948,17/ha em Cascavel (PR). Os custos variáveis, desembolsos diretos no cultivo e pós-colheita da oleaginosa, responderam por 50,84% (Cascavel, PR) a 58,15% (Giruá, RS) do custo total.

No Rio Grande do Sul, os custos variáveis foram de R$ 1.027,06/ha (56,05% do custo total), em Passo Fundo, e de R$ 1.044,39/ha (58,15%), em Giruá. Embora os sistemas de cultivo sejam similares, o preço dos fertilizantes foi, na média, 3,6% menor em Passo Fundo do que o observado em Giruá, podendo ser considerado o fator de maior influência no menor custo, mesmo havendo variações de preços dos diferentes princípios ativos, no caso dos produtos de proteção e herbicidas.

No Paraná, os custos variáveis foram de R$ 990,53/ha (50,84% do custo total) em Cascavel, menor custo variável por hectare dentre os locais analisados, e de R$ 1.087,49/ha (57,53%) em Candói, maior custo variável por hectare estimado. O maior número de aplicações e o perfil de produtos utilizados (herbicidas e inseticidas) resultaram em maiores custos no PR (gasto médio de R$ 117,81/ha com este grupo de itens10) do que no RS (gasto médio de R$ 76,62/ha), podendo ser considerado o principal fator de diferenciação dos custos variáveis entre os sistemas conduzidos nos dois estados. No entanto, no caso de Cascavel, embora o valor de gasto com fertilizante de base (R$ 415,95/ha) tenha sido o maior dentre as localidades, o não uso de adubação de cobertura reduz o custo de produção em Cascavel em 15,6% a 20,8% em relação às demais localidade quando agregados os gastos com fertilizante de cobertura e custos variáveis da operação de distribuição de ureia.

Conforme pode ser observado nas figuras 1, 2, 3 e 4, a fase de semeadura responde pelo maior percentual de gastos variáveis. No caso de Passo Fundo e de Giruá, no RS, e de Candói, no PR, a etapa de semeadura consome 48,2% (em média) dos custos variáveis e é seguida pelas etapas de tratos culturais (22,8%), de pós-colheita (17,6%), de colheita (7,0%) e de correção, preparo e sistematização (4,4%). Em Cascavel (PR), a etapa de semeadura tem o maior percentual dos custos (61,9% dos custos variáveis pelo perfil da fertilização de base). Os insumos agrícolas propriamente ditos (semente, fertilizante, corretivo, herbicida, inseticida e coadjuvantes) representam em média 62,0% dos custos variáveis, sendo o fertilizante o item de maior importância relativa perfazendo, em média, 45,2% dos custos variáveis. Neste sentido, ressalta-se a importância de estratégia de planejamento de compra de insumos, em especial dos fertilizantes, visando à redução de custos e a garantia da nutrição das plantas para a expressão do potencial de rendimento dos híbridos.

As operações de lavoura compõem, em média, 12,4% dos custos variáveis e uma correta regulagem e manutenção preventiva garantem a eficiência das operações mecânicas e redução de custos. Os custos com controle de plantas daninhas (produto + aplicação) representam, em média, 4,5% dos custos variáveis (R$ 47,32/ha) nos locais do RS, sendo maiores que os custos de controle de insetos (percentual médio de 4,0% sobre custos variáveis com valor médio de R$ 41,87/ha). Já nos locais paranaenses, os custos de controle de insetos, estimado em R$ 79,66/ha (7,7% do custo variável em média), são maiores que os custos de controle de plantas daninhas, estimado em R$ 55,61/ha (5,3% dos custos variáveis).

Os custos fixos, gastos estimados com depreciação, encargos e remuneração de capital, correspondem de 41,85% (Giruá, RS) a 49,16% (Cascavel, PR) do custo total estimado, variando de R$ 751,70/ha (Giruá, RS) a R$ 957,63/ha (Cascavel, PR). No caso de Cascavel, o perfil da estrutura de máquinas e o valor da terra constituíram em fatores que determinam o maior custo fixo com relação às demais localidades.

O custo operacional do cultivo de canola por hectare, que engloba os custos variáveis e os gastos de depreciação de equipamentos e infraestrutura e encargos, variou de R$ 1.484,03 (Cascavel, PR) a R$ 1.543,15/ha (Giruá, PR), sendo que na média das quatro localidades, 56,8% representam custos variáveis de implantação e condução de lavoura propriamente ditos; 12,2% correspondem a custos variáveis de pós colheita e os 31,0% restantes, custos fixos de depreciação e encargos.

Custos médios e pontos de equilíbrio

Na Tabela 6 são apresentados os custos médios por saca (60 kg) do produto, com base no rendimento estimado para cada localidade, bem como, o ponto de nivelamento, ou seja, os rendimentos necessários para cobertura do custo de produção considerando o preço médio de R$ 58,62/saca (60 kg), valor correspondente à cotação média do mês de janeiro no estado do Paraná, segundo DERAL/SEAB (PREÇOS..., 2013).

Considerando-se um rendimento médio de 26,7 sacas (60 kg)/ha ou 1.600 kg/ha para Passo Fundo (RS) e Giruá (RS) e de 25,0 sacas (60 kg)/ha ou 1.500 kg/ha para Candói (PR) e Cascavel (PR), o custo variável médio foi estimado entre R$ 38,51/saca (60 kg) (Passo Fundo, RS) a R$ 43,50/saca (60 kg) (Candói, PR). O custo médio operacional variou de R$ 55,85/saca (60 kg) (Giruá, RS) a R$ 61,73/saca (60 kg) (Candói, PR) e o custo médio total oscilou de R$ 67,35/saca (60 kg). (Giruá, RS) a R$ 77,93/saca (60 kg) (Cascavel, PR). Esses valores servem de referência como preço atrativo mínimo, para cada horizonte de análise (de reembolso de desembolsos no curto prazo; de reembolso e manutenção de atividade no médio prazo e de lucratividade no longo prazo, respectivamente) e, conforme se observa nas figuras 5, 6, 7 e 8 (item b), esses valores representam preços a partir dos quais, as margens de retorno (bruta, operacional e líquida) obtidas são positivas.

No entanto, esses custos unitários podem variar conforme o rendimento obtido (figuras 5, 6, 7, 8 item a). Por exemplo, em Passo Fundo, um rendimento 20% inferior ao esperado (21,2 sacas (60 kg) ou 1.278 kg/ha), resultaria em um custo operacional unitário de R$ 70,26 (superior ao preço de mercado observado) e as margens operacional (- R$ 248,38/ha) e líquida (- R$ 581,68/ha) seriam negativas somente resultando em margem bruta positiva (R$ 223,50/ha). Ou seja, restituindo os desembolsos de condução de lavoura e contribuindo parcialmente para a reposição da estrutura produtiva e não sobrepondo os custos de oportunidade. Já um rendimento 20% superior (32,0 sacas (60 kg) ou 1.920 kg/ha), o custo operacional unitário seria de R$ 46,84/saca (60 kg), inferior ao preço de mercado, e o cultivo da oleaginosa resultaria em margem líquida positiva (R$ 43,60/ha). Nesse sentido, é importante que o produtor, para a tomada de decisão, observe o rendimento médio da região para estabelecer os preços atrativos mínimos para cada horizonte de análise e estabeleça uma faixa de variação para definir os limites de variação de preço para obtenção de margens positivas.

Considerando o preço médio de mercado de R$ 58,63/saca (60 kg) (cotação de janeiro de 2013 no Paraná) como referência, observa-se que o rendimento necessário para garantir o reembolso dos gastos estimados de condução e comercialização da canola variam de 16,92 sacas (60 kg) ou 1.014 kg/ha (Cascavel, PR) a 18,55 sacas (60 kg) ou 1.113 kg/ha (Candói, PR). Tais rendimentos estão abaixo dos rendimentos médios observados no PR (1.220 kg/ha) e no RS (1.287 kg/ha) na safra de 2012. Para que a receita obtida supere os desembolsos e contribua para reposição dos equipamentos produtivos no médio prazo (custos operacionais), o rendimento médio necessário varia de 25,32 sacas (60 kg) ou 1.520 kg/ha (Cascavel, PR) a 26,32 sacas (60 kg) ou 1.580 kg/ha (Candói, PR). Já para que o lucro seja igual ou superior ao custo total (computando o custo de oportunidade do capital), o rendimento necessário é de 30,64 sacas (60 kg) ou 1.839,6 kg/ha (Giruá, RS) a 33,23 sacas (60 kg) ou 1.994 kg/ha (Cascavel, PR). Tais pontos de nivelamento (ou rendimento de cobertura) podem ser observados nas figuras de 5 a 8 (item a) e representam pontos a partir dos quais as margens obtidas passam a ser positivas considerando o preço de R$ 58,60/saca (60 kg) de produto. Ressalta-se que variações no preço resultam em necessidades específicas de rendimento e constituem exercício a ser desenvolvido pelo produtor considerando a realidade local.

Margens obtidas e variações de rendimento e de preço

A Tabela 7 apresenta estimativas de receita bruta, margem bruta, margem operacional e margem líquida de cultivo de canola para as diferentes localidades simulando variações de rendimento e de preço. As figuras 5, 6, 7 e 8 complementam a análise dos cenários formulados.

Para exemplificação da análise dos dados contidos na Tabela 7, considerando o preço médio de mercado de R$ 58,63/saca (60kg) como referência e o rendimento médio esperado de 26,7 sacas (60kg)/ha (1.600 kg/ha), em Passo Fundo (RS), a receita bruta estimada, por hectare, é de R$ 1.563,20, sendo as margens bruta (R$ 536,14/ha) e operacional (R$ 64,26/ha) positivas e a margem líquida negativa (- R$ 269,04/ha), indicando que a receita obtida supera os desembolsos e a reposição dos equipamentos produtivos no médio prazo (depreciação, seguro e encargos), mas não supera os custos de oportunidade. Mantido o preço, um rendimento 20% superior (32,0 sacas (60kg) ou 1.920 kg/ha) resultaria em margem líquida positiva de R$ 43,60/ha e um rendimento 20% inferior (21,3 sacas (60kg) ou 1.278 kg/ha) permite a obtenção de margem bruta positiva, porém impacta nas margens operacional (-R$ 248,38) e líquida (-R$ 581,68), tornando-as negativas. Mantido o preço, para que a margem líquida seja positiva, o rendimento necessário é de 31,26 sacas (60kg)/ha (1.875,6 kg/ha), como comentado anteriormente, e pode ser observado na Figura 5a.

Com relação à variação de preços, observa-se que em um cenário negativo (preço 10% inferior – R$ 52,76/saca (60kg)) obtêm-se margem bruta positiva (R$ 379,82) e margens operacional e líquida negativas (- R$ 92,06/ha e – R$ 425,36/ha, respectivamente) em Passo Fundo (RS) (Tabela 7 e Figura 5b). Neste caso, é necessário rendimento de 28,4 sacas (60 kg)/ha (1.704 kg/ha) para pagar os custos operacionais estimados. Em um cenário positivo de preço 10% superior à cotação de janeiro (R$ 64,48/saca (60kg)), a margem operacional obtida foi estimada em R$ 220,58/ha e a margem líquida foi negativa (-R$ 112,72/ha), sendo necessário um rendimento de 28,41 sacas (60kg)/ha (1.705 kg/ha) para obter margem líquida positiva.

De uma maneira geral, considerando o preço médio atual de mercado de R$ 58,63/ saca (60kg) como referência e a estimativa de custos calculada e rendimento médio estabelecido, a receita bruta variou de R$1.465,50/ha a R$ 1.563,20/ha. Em todos os locais, a margem bruta foi positiva e variou de R$ 378,01/ha (Candoi, PR) a R$ 536,14/ha (Passo Fundo, RS). Em Passo Fundo (RS) e Giruá (RS), as margens operacionais estimadas são positivas (R$ 64,26/ha e R$ 73,81/ha, respectivamente). Os custos operacionais maiores em Candói (PR) e os menores rendimentos em Candói (PR) e em Cascavel (PR) resultam em margens operacionais negativas de – R$ 77,65/ha e – R$ 18,53/ha, respectivamente. Em nenhum dos locais, a margem líquida é positiva, variando de - R$ 232,89/ha (Giruá, RS) a - R$ 482,67/ha (Cascavel/PR), ou seja, o produtor recupera os custos associados à implantação e comercialização da produção da lavoura, com relações médias de benefício/custo variável e benefício/custo operacional de 1,46 e 1,01, respectivamente, mas não remunera a renda dos fatores fixos (terra e benfeitorias), o que torna a atividade economicamente menos atrativa quando comparada a outras atividades econômicas ou aplicações financeiras.

Conclusões

Os custos variáveis de cultivo de canola estimados variaram de R$ 990,53 a R$ 1.087,49/ha. Já os custos operacionais oscilaram de R$ 1.484,03 a R$ 1.543,15/ha e os custos totais, de R$ 1.796,09 a R$ 1.948,17/ha. Os custos médios por unidade de produto estimado são: (a) custo variável médio de R$ 40,20/saca (60 kg); (b) custo operacional médio de R$ 58,29/saca (60kg); e (c) custo total médio de R$ 72,40/saca (60 kg). Esses valores podem ser considerados referência para a análise de atratividade de cultivo, confrontando-os com os preços de mercado, conforme o horizonte de curto, médio e longo prazo.

As estimativas apontam para uma condição mais favorável a obtenção de margens positivas e relações benefício/custo melhores nos municípios do RS para a cultura da oleaginosa. Questões relacionadas ao maior número de aplicações de produtos fitossanitários, preço de insumos, potencialidade de rendimento e maior valor da terra resultam em estimativa de menor rentabilidade da cultura nos locais paranaenses. Cabe ressaltar que aspectos relacionados ao manejo adotado por cada produtor afetam a obtenção de maiores rendimentos impactando em maior receita e que a decisão de cultivo deve considerar efeitos indiretos do cultivo da oleaginosa, como influencia no rendimento e no controle de doenças de culturas subsequentes.

A tomada de decisão do produtor deve considerar o horizonte de análise, sua necessidade de caixa em curto prazo e outras opções financeiras a sua disposição. Considerando o preço de R$ 58,63/saca (60 kg), nos cenários formulados, o cultivo de canola obtém margens brutas positivas variando de R$ 378,01 a R$ 536,14/ha com rendimento de cobertura médio de custo variável ao redor de 1.100 kg/ha. Em determinadas situações, obtém-se margens operacionais positivas, garantindo a manutenção e reposição da estrutura de máquinas, equipamentos e instalações sendo, para tanto, necessário obter rendimentos médios superiores a 1.540 kg/ha. Para garantir margem líquida positiva, o rendimento médio deve ser superior a 1.920 kg/ha. Nesse sentido, a condução da lavoura deve primar pela obtenção do maior potencial de rendimento aplicando as recomendações técnicas. Em boa parte dos cultivos, a inexperiência do produtor e a não observação das práticas recomendadas tem resultado rendimentos inferiores ao potencial de rendimento dos híbridos e das práticas de manejo indicadas. O uso de sementes híbridas de alta qualidade e sanidade; o respeito a melhor época de semeadura (início do período), evitando período de limitação hídrica ou incidência de geada; a garantia de uma população mínima de 40 plantas/m2 uniformemente distribuídas, o que se obtém com o uso de equipamentos e regulagem adequados; o emprego de adubação adequada em quantidade e qualidade, aplicada no momento certo; e a redução de perdas na colheita são fatores fundamentais para obtenção de bons rendimentos e de rentabilidade econômica no cultivo da oleaginosa.

 

Agradecimentos

Os autores expressam agradecimento especial às seguintes pessoas e instituições que compartilharam experiências e apoio que resultaram na elaboração deste trabalho: André Luft e Wilson Groff (Advanta Sementes), Reni Renato Resener (Banco do Brasil), Ezequiel Castioni e Fábio Júnior Benin (BS Bios), Carlos Zimmermann, Leocir Backes, Kelly Costa e Vantuir Scarantti (Celena Alimentos), Alaor Sebastião Teixeira Filho, Eduardo Miranda D’Ávila Pereira, Geovani de Col Teixeira e Sebastião Hollandini (Grupo AG Teixeira), Alessandro Lacerda e Alzemir Luis Dirings (Oeste Insumos), além daquelas que, embora não citadas, de uma forma ou outra, contribuem para o desenvolvimento do cultivo da canola no Brasil.


1Engenheira Agrônoma, Dr. em Engenharia de Produção, Pesquisadora da Embrapa Trigo, Passo Fundo, RS, claudia.de-mori@embrapa.br
2Engenheiro Agrônomo, Engenheiro Segurança do Trabalho, Mestrando em Fitotecnia, Analista da Embrapa Trigo, Passo Fundo, RS, paulo-ernani.ferreira@embrapa.br
3Engenheiro Agrônomo, Ph.D. Sistemas de Produção - Manejo de Cultivos, Pesquisador da Embrapa Trigo, Passo Fundo, RS, gilberto.tomm@embrapa.br
4A produção global das principais oleaginosas copra, algodão, palma, amendoim, canola, soja e girassol é estimada em 466,80 milhões de toneladas na safra 2012/2013 (USDA, 2013).
5Segundo levantamento, realizado pelo pesquisador Gilberto O. Tomm, junto as principais empresas que fomentam a produção de canola no Brasil em agosto de 2012, a área de cultivo da oleaginosa no Brasil foi de 48.704 hectares na safra 2012.
6Cálculos efetuados com base nos dados da FAO (2013).
7Os juros de credito rural (custeio e investimento), no caso de recursos controlados, variam de 5,00 a 8,75%, dependendo do perfil do empréstimo e do produtor agrícola.
8Para cálculo do capital fixo estabeleceu-se um valor base por hectare a partir da definição de um conjunto de máquinas e equipamentos e edificação para uma propriedade de 100ha.
9O princípio ativo inseticida Bifenthrin (Capture 400 EC, FMC) é indicado e registrado para o controle de traça das crucíferas (Plutella xylostella) na cultura da canola com máximo de uma aplicação por ciclo da cultura.
10Valor médio de gasto somado os desembolsos de produto (herbicida e inseticida) e de operação de aplicação (combustível, lubrificantes, etc. e mão de obra).


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