Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento
282
ISSN 1517-4964
Dezembro, 2010
Passo Fundo, RS

Imagem: Alfredo do Nascimento Junior

Cultivar de triticale BRS Saturno

Alfredo do Nascimento Junior1, Márcio Só e Silva1, Eduardo Caierão1, Sandra Patussi Brammer1, Lisandra Lunardi2, Mauro César Celaro Teixeira1, Douglas Lau1, Márcia Soares Chaves1, Martha Zavariz de Miranda1, Osmar Rodrigues1, Pedro Luiz Scheeren1

Os grãos de triticale são utilizados principalmente para a alimentação animal e, em menor quantidade, na alimentação humana. Como cultura de cobertura, contribui para manutenção do sistema agrícola, principalmente no plantio direto, proporcionando cobertura vegetal para a cultura sucessora, mesmo em áreas com baixa fertilidade e/ou solos arenosos.

De bom potencial produtivo, é altamente tolerante à acidez nociva dos solos e ao déficit hídrico. Áreas para semeadura e metodologias destinadas ao triticale normalmente não são adequadas ou não permitem desenvolvimento satisfatório do trigo e/ou da cevada, por limitarem a produção dessas espécies, reduzindo a lucratividade.

Atualmente, o triticale é cultivado nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Minas Gerais. Entretanto, nas informações disponibilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (LEVANTAMENTO..., 2010), Mato Grosso do Sul e Minas Gerais não são citados. Paraná e São Paulo colheram as maiores áreas, tendo São Paulo também apresentado o maior rendimento médio de grãos em 2009. Juntos, Paraná e São Paulo respondem por 86% da produção nacional de grãos de triticale.

Anualmente, são introduzidas dezenas de linhagens de triticale para testes no Brasil. Apesar dessa prática ter proporcionado a seleção de materiais de grande valor agronômico, os produtores carecem de materiais que combinem as melhores características para a máxima expressão fenotípica em nosso ambiente. A melhor combinação genética de triticale para o sul do Brasil somente será obtida, por meio da geração de variabilidade, através de cruzamentos com materiais identificados como superiores, e a seleção de plantas em nossas condições de cultivo, obtendo, assim, materiais com elevada adaptação e com melhores respostas em rendimento.

A busca de genótipos superiores tem sido realizada na Embrapa Trigo por quase três décadas. Recentemente, tem-se enfatizado o desenvolvimento de germoplasma específico no País.

Diversos fatores bióticos e abióticos conferem grande pressão de seleção limitando a produtividade das plantas de triticale como, por exemplo, as doenças foliares com maior importância atual, ao contrário do passado. É possível que práticas culturais, como o plantio direto, tenham favorecido a disponibilidade de inóculos e permitida a sobrevivência dos patógenos por períodos maiores nos restos de cultivo, exigindo maior resistência das plantas aos patógenos.

No sul do Brasil, a ocorrência de chuvas e maior temperatura do ar durante a fase reprodutiva das plantas de triticale, favorecem, a ocorrência da fusariose da espiga (giberela), sendo um dos fatores mais limitantes da produção de grãos de triticale e de outros cereais de inverno. A busca de genótipos menos suscetíveis à doença é constante nos programas de melhoramento.

 

Relatório técnico do processo de seleção

A cultivar BRS Saturno é proveniente do cruzamento “PFT 512 / CEP 28 - Guará”, realizado pela Embrapa Trigo, em 1995. O desenvolvimento e a seleção das populações segregantes foram realizados em Passo Fundo/RS, através do método genealógico a partir de 1997. Em 2000, o genótipo fez parte de coleção interna da Embrapa Trigo para avaliação agronômica e biológica, ao mesmo tempo em que era cultivado em parcela de multiplicação de espigas para produção de semente genética. Em 2001, o genótipo foi denominado “PFT 112”, participando na avaliação preliminar de rendimento de triticale (EPRTCL) em Passo Fundo/RS. Entre 2002 e 2004, foram realizadas produção e a purificação de sementes desta linhagem, passando novamente pela seleção de fileira por espigas e posterior multiplicação massal. De 2003 a 2010, participou dos ensaios de Valor de Cultivo e Uso de Triticale (VCUTCL) em vários locais do Sul do Brasil, destacando-se por suas características de rendimento de grãos, peso do hectolitro e menor suscetibilidade à giberela. A linhagem “PFT 112” foi avaliada em ensaios de Distinguibilidade, Homogeneidade e Estabilidade (DHE) em 2003, 2004 e 2005 na Embrapa Trigo em Passo Fundo-RS.

 

Resultados e discussão

A cultivar de triticale BRS Saturno apresenta-se em relação a fatores bióticos e abióticos, como:

Resistente / tolerante ao crestamento, à ferrugem da folha (Puccinia triticina) e ao oídio (Blumeria graminis). Obs.: a avaliação de oídio foi realizada a campo, em condições naturais de cultivo do sul do Brasil. Há casos de ocorrência de oídio em triticale na Europa, entretanto BRS Saturno não foi testado para esse patógeno específico ao triticale, podendo apresentar reação distinta da caracterização atual.

Moderadamente resistente às manchas foliares (Bipolaris sorokiniana, Drechslera spp. e Stagonospora nodorum) e ao vírus do mosaico (SBWMV);

Moderadamente suscetível à germinação na espiga, ao vírus do nanismo amarelo (BYDV) e às bacterioses das folhas (Xanthomonas tanslucens e Pseudomonas spp.);

Suscetível à brusone (Pyricularia grisea) e à giberela ou fusariose da espiga (Fusarium graminearum), com nível de suscetibilidade à fusariose levemente inferior as demais cultivares de triticale no Brasil.

BRS Saturno é triticale hexaplóide, apresenta ciclo médio de 70 a 85 dias da emergência ao espigamento e 135 a 150 dias à maturação, e estatura de planta alta, com média de 117 cm em Passo Fundo-RS.

A pigmentação antociânica no coleóptilo é forte a muito forte, e nas aurículas é fraca a média. Cerosidade da bainha da folha bandeira é forte. As espigas são longas, completamente aristadas e claras na maturação. A densidade da pilosidade do pedúnculo é alta.

Devido à menor suscetibilidade à giberela em relação às demais cultivares de triticale como, por exemplo, Embrapa 53, BRS 148, BRS Ulisses e IPR 111, à excelente qualidade de grãos, ao peso do hectolitro superior às variedades em indicação, e à ampla adaptabilidade com resultados em produtividade, BRS Saturno destaca-se das demais cultivares permitindo o uso por agricultores que utilizam triticale em seus sistemas de produção.

Em ensaios de Valor de Cultivo e Uso (VCU) conduzidos no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo, no período de 2003 a 2005, BRS Saturno teve rendimento de grãos de 3.946 kg ha-1, superando em 12,3% a produtividade média de duas melhores cultivares de triticale por local (Embrapa 53, BRS 148, BRS 203 ou Iapar 23   Arapoti), independentemente do estado, utilizadas como padrões.

BRS Saturno, apesar de ser triticale primaveril, tem seu desempenho produtivo favorecido com a ocorrência de temperaturas baixas durante o desenvolvimento vegetativo desta cultivar. Desta forma, ambientes com déficit hídrico e temperaturas elevadas não permitem a máxima expressão da produtividade da cultivar. Entretanto, ambientes com disponibilidade hídrica adequada e temperaturas mais baixas durante o ciclo do desenvolvimento da cultivar evidenciam o potencial de rendimento de BRS Saturno, superando os principais materiais em indicação no Brasil, principalmente em anos com excesso de pluviosidade com ocorrência de fusariose da espiga durante a fase reprodutiva, devido à menor suscetibilidade de BRS Saturno a essa doença.

BRS Saturno foi registrada no Registro Nacional de Cultivares – RNC, sob número 26744 em 21/05/2010, para comercialização visando à produção de grãos em todas nas regiões tritícolas sul e centro-sul do Brasil (RS, SC, PR, MS e SP), em cultivo de sequeiro na estação fria. É a segunda cultivar brasileira de triticale desenvolvida por cruzamentos realizados no Brasil, tendo sido a cultivar BRS Minotauro a primeira, lançada em 2006. Todas as demais cultivares de triticale até o presente momento indicadas para cultivo no Brasil foram frutos de introduções em ações cooperativas com o Centro Internacional de Melhoramento de Trigo e Milho (CIMMYT) com sede no México.

Os grãos de BRS Saturno podem ser utilizados na alimentação humana e animal e a farinha extraída dos grãos pode ser usada para a fabricação de biscoitos e massas alimentícias.

 

Multiplicação de sementes

BRS Saturno é cultivar protegida, sendo a multiplicação de semente básica de responsabilidade da Embrapa através do Serviço de Negócios para Transferência de Tecnologia da Embrapa (SNT) e a multiplicação de sementes certificadas é realizada em parceria com a Fundação Pró-Sementes de Apoio à Pesquisa.


1 Pesquisador da Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS. E-mail para correspondência: alfredo@cnpt.embrapa.br.
2 Analista da Embrapa Trigo. E-mail: lisandra@cnpt.embrapa.br.


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