MAPA
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ISSN 1517-4964
Dezembro, 2008
Passo Fundo, RS

Imagem: Liciane Bonato
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Zoneamento agroclimático de canola para o Rio Grande do Sul

Genei Antonio Dalmago1, Gilberto Rocca da Cunha1, Gilberto Omar Tomm1, João Leonardo Fernandes Pires1, Anderson Santi1, Aldemir Pasinato2, Evandro Schweig3, Alexandre Luis Müller4

Introdução

Definir os melhores locais e épocas para semeadura de uma espécie é fator fundamental para o sucesso do seu cultivo e para o estabelecimento de políticas de crédito e seguro agrícola para o agricultor. A canola, espécie conhecida originalmente no Sul do Brasil pelo nome de colza, apesar de ter histórico de cultivo e de pesquisa, ainda não dispõe deste instrumento importante para ser viabilizada como alternativa de cultivo durante o inverno. Isso se explica pelo fato do máximo de cultivo da canola, no passado, ter ocorrido antes da efetiva implementação das políticas públicas de crédito e seguro agrícola para as principais culturas de grãos, baseadas em zoneamentos agroclimáticos e/ou agrícolas. Além disso, apesar do histórico de pesquisa com esta espécie no Estado, existiam poucos resultados específicos que pudessem subsidiar o estabelecimento de épocas de semeadura e regiões de cultivos adequados, na forma que é exigido pelos órgãos governamentais que regulam e estabelecem as políticas de crédito e seguro agrícola.

A definição de locais e épocas de semeadura adequados para canola é feita considerando dois critérios básicos: a necessidade da espécie e a disponibilidade de recursos do ambiente. Com isso, consegue-se dimensionar o risco associado à cultura, posicionando-a nos melhores ambientes, ou seja, com menor risco de perdas de produtividade.

A canola é uma espécie de clima frio que se desenvolve melhor em locais com temperaturas do ar amenas, com média de 20 ºC durante o ciclo. Geadas são prejudiciais nos estádios de plântula e na floração, podendo comprometer totalmente a lavoura. Durante a floração, temperaturas do ar acima de 27 ºC causam abortamento de flores e redução na produção de grãos. Déficit hídrico na germinação/emergência das plantas e durante a floração comprometem o desempenho da cultura. Por outro lado, o excesso de umidade do solo também é prejudicial, dificultando o desenvolvimento das plantas. A canola também sofre prejuízos com precipitações pluviais intensas e ventos fortes quando as síliquas estiverem maduras, devido à elevada deiscência natural das mesmas.

Considerando as necessidades da canola e a diversidade de riscos associados à produção desta cultura, foi elaborado o zoneamento agroclimático para a mesma (DALMAGO et al., 2008). O objetivo desta publicação é apresentar o respectivo zoneamento, bem como o período de cultivo de canola em cada município do Rio Grande do Sul.

Metodologia utilizada para elaboração do zoneamento agroclimático

Para definir as regiões e épocas de semeadura da canola, foram considerados como fatores prioritários a necessidade térmica da cultura, o risco de geada no estabelecimento da mesma (da emergência até 30 dias após) e o risco de temperatura elevada e de déficit hídrico na floração.

Baseado-se em resultados de pesquisas em campo, conduzidas pela Embrapa Trigo e seus parceiros entre os anos de 2002 a 2006, foram definidos os ciclos precoce, médio e tardio (130, 140 e 150 dias, respectivamente) para os genótipos de canola mais cultivados (TOMM, 2007). A definição das épocas de semeadura seguiu as indicações de pesquisas recentes (TOMM, 2007) e da década de 1980 (SISTEMA..., 1981; COLZA, 1984; DIAS, 1992), concentrando os estudos entre abril e junho, em períodos decendiais.

Com dados de temperatura mínima e máxima do ar e de precipitação pluvial de diversos pontos de coleta no Estado, definiu-se a disponibilidade térmica (acima da temperatura base de 5 ºC), o risco de geada (abaixo de 0 ºC no abrigo meteorológico), o risco de temperatura elevada (acima de 27 ºC de temperatura máxima) e o risco de deficiência hídrica na floração e enchimento de grãos, conforme ISNA (Índice de Satisfação das Necessidades de Água), que é a relação entre a evapotranspiração real (ETr) e a evapotranspiração máxima da canola (ETm).

A disponibilidade térmica foi determinada para cada ciclo e para todos os decêndios do período estudado. Também, para cada decêndio, foi calculado o risco de geada entre a emergência e 30 dias após (DALMAGO et al., 2007), estabelecendo-se o limite máximo de 5% de risco de geada dentro do período de 30 dias iniciais de crescimento para indicação de semeadura (ou seja, admitindo-se, no máximo, dois dias com temperatura inferior ao limite crítico estabelecido). O risco de temperatura elevada na floração foi calculado com base na temperatura máxima do ar igual ou superior a 27 ºC (MORRISON, 1993) e considerando períodos de floração de 20 e 30 dias, admitindo-se risco máximo de 20% para indicação de área potencial de cultivo de canola neste critério. O risco de déficit hídrico na floração e início de enchimento de grãos foi calculado para as Capacidades de Armazenagem de Água (CAD), de 35 mm, 50 mm e 75 mm, correspondendo, respectivamente, aos solos Tipo 1 (textura arenosa), Tipo 2 (textura média) e Tipo 3 (textura argilosa). Para este risco, foram estabelecidas as classes: ISNA > 0,7 – favorável, com pequeno risco; 0,7 > ISNA > 0,5 – intermediária, com médio risco e ISNA < 0,5 – desfavorável, com alto risco. Os valores de ISNA foram estabelecidos considerando a freqüência mínima de 80% dos anos utilizados, em cada estação pluviométrica.

Os fatores de risco foram associados à localização geográfica da respectiva estação meteorológica e/ou pluviométrica e espacializados com o sistema de informações geográficas (SPRING/INPE). Com a utilização da Linguagem Espacial para Geoprocessamento, foram feitos os cruzamentos das informações e gerados os mapas de zoneamento da canola. Usando o mesmo suporte de informática e de geoprocessamento, foram estabelecidos os períodos de cultivo de canola em cada município, de acordo com o ciclo do genótipo e tipo de solo.

Épocas e regiões indicadas para semeadura de canola no Estado

O período indicado para semeadura no Rio Grande do Sul é do segundo decêndio de abril ao terceiro decêndio de junho em, praticamente, todo o Estado (Fig. 1, 2 e 3). A partir de 15 de abril até 25 de junho, ocorre redução da área indicada para semeadura para a canola de ciclo precoce, médio e tardio em qualquer tipo de solo. No entanto, o maior potencial de rendimento ocorre quando semeada no início do período indicado.

Nas regiões de maior altitude, especialmente no extremo Nordeste do Estado, a semeadura é indicada até o primeiro decêndio de maio, sendo limitada, posteriormente, pelo aumento progressivo de risco de geada. No extremo Oeste do Rio Grande do Sul, a limitação de semeadura de canola, a partir do segundo e terceiro decêndios de maio, é conseqüência da possibilidade de deficiência hídrica e de temperaturas elevadas (acima de 27 ºC), que são prejudiciais à cultura. A limitação é maior para solos com baixa capacidade de retenção de umidade do que para solos mais profundos, que são os preferidos por essa espécie.

As partes Leste e Sudeste do Rio Grande do Sul são as regiões que apresentam os maiores períodos indicados para a semeadura. Destacam-se as regiões que envolvem parte da Serra Gaúcha e do Planalto Médio, com período de semeadura mais longo. Contribuem para isso o fato da temperatura média do ar ser mais amena do que nas outras regiões e o déficit hídrico ser amenizado, pois são as regiões de maior precipitação do Rio Grande do Sul. Entretanto, parte da área, principalmente na região Serrana, apresenta solos pouco profundos, podendo dificultar o cultivo de canola.

Considerações sobre áreas de semeadura de canola e utilização de genótipos

Com relação à utilização de genótipos e de acordo com os resultados do zoneamento agroclimático, deve-se dar preferência para iniciar a semeadura com genótipos de ciclos mais longos, que têm períodos mais curtos de semeadura, seguidos por aqueles de ciclo mais precoce, que apresentam períodos mais longos para serem semeados. Os genótipos tardios (ciclos mais longos) têm maior capacidade de emissão de novas flores se forem atingidos por geada na floração do que aqueles de ciclo precoce.

Com relação às áreas para semeadura de canola visando reduzir danos causados por geada, deve-se evitar o cultivo em locais de acúmulo de frio, como áreas de baixada, áreas com fluxo preferencial de ar frio e/ou com estruturas que represem o ar. Nestes locais, o frio é mais intenso à noite e a temperatura do ar atinge valores menores do que em áreas mais expostas. Neste sentido, as melhores áreas são aquelas que permitem escoamento natural do ar frio (não acumula ar frio) e aquelas que apresentam exposição Norte (maior incidência de radiação solar). Também, devem ser evitados solos com grande probabilidade de encharcamento durante o ciclo da cultura, como áreas de baixada e de várzea, pois o excesso hídrico diminui o rendimento de grãos por reduzir o número de síliquas por planta e o número de grãos por síliqua.

Período indicado para semeadura de canola em cada município.

Os períodos indicados para semeadura de canola no Rio Grande do Sul são apresentados nas tabelas 1, 2 e 3, considerando-se os ciclos e tipos de solos.


1 Pesquisador da Embrapa Trigo, Caixa Postal 451, 99001-970 Passo Fundo, RS. E-mail: dalmago@cnpt.embrapa.br; cunha@cnpt.embrapa.br; tomm@cnpt.embrapa.br; pires@cnpt.embrapa.br; anderson@cnpt.embrapa.br.
2Analista da Embrapa Trigo. E-mail: aldemir@cnpt.embrapa.br.
3Acadêmico do Curso de Engenharia Ambiental da Universidade de Passo Fundo-UPF – Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/CNPq.
4Acadêmico do Curso de Agronomia da Pontifícia Universidade Católica - PUC, campus Toledo, PR.


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