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Dezembro, 2007
Passo Fundo, RS

Produção Integrada de Trigo – PIT

A triticultura é um setor no qual a comercialização de produtos diferenciados favorece a qualificação, considerando que podem ser segregados lotes de acordo com a classe comercial, a umidade, o peso hectolítrico, o número de queda, entre outros parâmetros que definem a aptidão tecnológica e a qualidade. Esses parâmetros apresentam considerável variabilidade de acordo com a cultivar, as condições climáticas e a região produtora. Essa segregação possibilita agregar valor ao trigo nacional favorecendo a minimização das perdas, devido ao melhor planejamento da produção, desde a escolha da cultivar até a definição de lotes no armazenamento e na comercialização. Além disso, poderá colaborar para o incremento da competitividade e para a redução da dependência, frente aos produtos importados, que representam atualmente mais da metade do consumo interno. Dessa forma, visando contribuir para a competitividade e a consolidação da produção de trigo nacional, a Embrapa Trigo, juntamente com outras instituições, está desenvolvendo trabalhos que objetivam elaborar normativas para orientar a produção integrada de trigo (PIT) e implementar um sistema de rastreabilidade nos elos de produção agrícola e de armazenamento.

O sistema de produção integrada preconiza a elaboração de documentos orientadores para a produção e para o armazenamento: normas para a produção; relação de agroquímicos; caderno de campo e de pós-colheita; além da padronização dos critérios para a avaliação da conformidade por certificadoras, através das listas de verificação.
As normas da PIT estão sendo elaboradas a partir das indicações técnicas de trigo, da legislação disponível para a cultura e das tecnologias consolidadas nas diferentes áreas. A norma é composta de 16 áreas temáticas (Fig. 1).Os requisitos de manejo são classificados como obrigatórios, recomendados, permitidos com restrição e proibidos, conforme sua relevância na promoção da sustentabilidade do sistema produtivo e na garantia de qualidade e de segurança dos produtos.

O manejo do solo deve ser realizado de acordo com as tecnologias consolidadas pelo plantio direto na palha, que preconiza: mobilização do solo apenas na linha de semeadura, manutenção da cobertura vegetal permanente no solo e planejamento da rotação de culturas. O controle químico de pragas e de doenças deverá ser justificado por dados de monitoramento da incidência, pelo estádio fenológico da cultura e pelas condições climáticas, compilados através de modelos de simulação dinâmicos que consideram as previsões climáticas correntes e de prognóstico. Na colheita e no transporte deverá ser mantida a identificação das cargas de trigo. Para tanto, podem-se utilizar planilhas que padronizem o compartilhamento de informações na fase de colheita, de transporte e de recepção na unidade armazenadora de grãos. Como exemplo, poderá ser utilizado um selo com informações da procedência do trigo, que deverá ser afixado na nota de carga do transportador (Fig. 2).

As unidades armazenadoras de trigo deverão estar de acordo com a Instrução Normativa nº 33, que trata do Sistema Nacional de Certificação de Unidades Armazenadoras (Brasil, 2007). A prevenção e o manejo dos contaminantes nas unidades armazenadoras deve ser realizado de acordo com a metodologia definida pelo manejo integrado de pragas de grãos armazenados. Para a segregação dos lotes de trigo poderão ser considerados o histórico da lavoura e o resultado das análises físico-químicas realizadas no recebimento. Para manter a identidade e prevenir misturas, os lotes formados serão conduzidos isoladamente nas diferentes etapas na unidade armazenadora (moega, elevador e silo).

Na PIT, poderão ser utilizados agroquímicos registrados para trigo, priorizando aqueles mais eficientes, mais seletivos e com menor toxicidade para humanos, animais e ambiente.

O caderno de campo deverá ser específico para cada gleba, deve ser atualizado e conter as informações do manejo adotado na lavoura, como: identificação, resultado de análise química do solo, planejamento de rotação de culturas, preparo do solo e semeadura, tratamento de sementes, adubação de base e de cobertura, controle de plantas invasoras e aplicação de reguladores de crescimento, monitoramento e controle de doenças, monitoramento e controle de pragas, aplicações de fungicidas e de inseticidas, regulagem de pulverizador e colhedora, registros meteorológicos e planilha de acompanhamento da colheita e do transporte. As glebas podem ser georeferenciadas e as informações poderão ser coletadas através de equipamentos móveis como o Palm top, que possibilitam a transmissão automática para o banco de dados (Fig. 3).

O caderno de pós colheita deverá ser específico por lote, poderá ser informatizado e conter os procedimentos técnico-operacionais da fase de armazenamento, como: identificação, secagem, aeração, monitoramento e controle de pragas no armazenamento, aplicações de inseticidas, controle de qualidade dos grãos armazenados, limpeza e higienização das instalações, controle de roedores e classificação do trigo.

Os lotes deverão ser segregados conforme os parâmetros de interesse, para tanto, a seleção das cultivares a serem semeadas em determinada região produtora deverá ser criteriosa, para obter a maior similaridade possível, possibilitando a formação de lotes homogêneos. Através do número do lote, que corresponde a um silo, poderão ser acessadas as informações contidas no caderno de campo e de pós-colheita, que incluem também análises de qualidade tecnológica e de inocuidade dos grãos.

As listas de verificação definem os parâmetros que deverão ser observados e confirmados pela certificadora no momento da auditoria na lavoura e na unidade armazenadora de grãos, visando conferir os atestados de conformidade da PIT.

O projeto PIT, coordenado pela Embrapa Trigo, vem sendo implementado diretamente em cooperativas de produtores, envolvendo todos os segmentos da produção e do armazenamento do trigo. Na safra 2007, foram produzidos aproximadamente sete mil toneladas de trigo, segregados de acordo com características de interesse: uma cultivar da classe pão, com coloração de farinha amarela, que será destinada para fábricas de macarrão; e outra cultivar 'branqueadora' que será utilizada na indústria panificadora. De acordo com as cooperativas, os benefícios observados nesse projeto-piloto foram principalmente o incremento do valor agregado e a alta liquidez desses produtos diferenciados no mercado.

Nesse projeto, para o ano de 2008, estão previstos ajustes e complementos dos documentos da PIT, capacitação e treinamento de colaboradores, além da divulgação do sistema para a cadeia produtiva do trigo, visando ampliar o volume de produtos obtidos de acordo com as normas da produção integrada.


Circular Técnica Online Nº 24 Publicações OnlinePublicações Online