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Dezembro, 2011
Passo Fundo, RS

Resultados e discussão

Entre os genótipos avaliados, não se observou diferença significativa para rendimento de grãos (Tabela 1), apesar das diferenças significativas do MMG (massa de mil grãos) da cultivar BRS Taura e BRS Tertúlia, em relação a BRS Pampa RR (Tabela 2). Da mesma forma, o número de legumes/m2 na cultivar BRS Pampa e o número de grãos/legume na cultivar BRS 255 RR, foram significativamente elevados, o que contribuiu para uma compensação entre os componentes de rendimento das cultivares, propiciando a ausência de diferença significativa no rendimento de grãos (Tabela 2).

Com relação a média geral de cada componente de rendimento avaliado (Tabela 2), a massa de mil grãos (MMG), legumes/m², grãos/legume e grãos/m², bem como o índice de colheita (IC), todos apresentaram diferenças significativas entre os genótipos. Sendo que a cultivar BRS Tertúlia apresentou o melhor índice de colheita (IC) e massa de mil grãos (MMG). Já para os itens de grãos/m² e legumes/m² a cultivar BRS Pampa RR apresentou o melhor resultado. As cultivares BRS Taura e BRS 255 RR apresentaram os melhores resultados quanto ao número de grãos/legume.

Com relação ao IAF dos genótipos (Tabela 3), a cultivar BRS 255 RR apresentou menor índice que a cultivar BRS Tertúlia RR. Mesmo assim, os quatro genótipos mostraram índices acima do mínimo desejado (3,5 a 4,0) (BOARD; HARVILLE, 1992), independente do arranjo e da densidade utilizada.

Com relação ao efeito da densidade e espaçamento entre linhas no rendimento de grãos dos genótipos, não se observou interação entre densidade e espaçamento no presente estudo. Também não foram observadas diferenças significativas no rendimento de grãos entre as densidades utilizadas (20 e 30 plantas/m2) (Tabela 4). Portanto, considerando que os genótipos em estudo têm apresentado tendência ao acamamento nas semeaduras de novembro, estação de grande crescimento no Planalto Médio do RS, a população de 20 plantas/m2 se constitui na melhor estratégia para aumentar a resistência ao acamamento, sem perder potencial de rendimento. Adicionalmente, esta estratégia poderá contribuir para a redução dos custos de produção, tendo em vista a ausência de diferença significativa no rendimento de grãos entre as densidades estudadas (Tabela 4). Esta é a tendência atual na cultura da soja, onde densidades menores vem sendo recomendadas como estratégia para reduzir o custo com sementes (TOURINHO et al., 2002). Por outro lado, diferenças significativas foram observadas entre os espaçamentos utilizados (Tabela 4), sendo que o espaçamento de 75 cm entre linhas apresentou o menor desempenho em rendimento de grãos. Esta superioridade em rendimento de grãos em espaçamentos menores (25 e 50 cm), pode ser atribuída à reduzida competição intraespecífica, pela melhor distribuição de plantas na área e pela mais rápida consecução do IAF crítico, com máxima interceptação de radiação solar (BOARD; HARVILLE, 1992). Essa condição favorece um incremento na taxa de crescimento, que pode estar sustentando um maior estabelecimento de destinos (maior número de legumes por área). Por outro lado, Parcianello et al. (2004), atribui o aumento do rendimento de grãos em espaçamento entre linhas de 20 cm, ao aumento no número de legumes/m2 em decorrência do aumento da incidência de luz no interior do dossel. No entanto, se a maior incidência de luz no dossel fosse a causa principal, o espaçamento de 75 cm teria um desempenho em termos de legumes/m2, pelo menos semelhante aos espaçamentos de 25 e 50 cm, o que não ocorreu no presente estudo (Tabela 5). Ao contrário, o baixo rendimento de grãos no espaçamento de 75 cm entre linhas esteve associado ao baixo número de legumes/m2 e ao baixo número de grãos/m2 (Tabela 5).

Com relação aos espaçamentos de 25 e 50 cm entre linhas, não se observou diferença significativa em termos de rendimento de grãos. Contudo, apesar de maiores produtividades de soja terem sido obtidas com a redução dos espaçamentos entre linhas (TOURINHO, et al., 2002; PARCIANELLO, et al., 2004), em decorrência da maior e mais rápida interceptação da radiação incidente (HAILE, et al., 1998; RAMBO et al., 2004), o espaçamento de 50 cm se constitui na melhor escolha para as condições do Planalto Médio do RS. Tal escolha decorre do fato de que espaçamentos menores (25 cm), são mais exigentes em disponibilidade de água, e não se constitui em anormalidade pequenos períodos de estresse hídrico durante o ciclo da cultura da soja no Planalto Médio do RS. Ainda, na presença da ferrugem asiática, o espaçamento de 50 cm em comparação ao de 25 cm, pode melhorar as condições de arejamento diminuindo a pressão da doença (DEBORTOLI et al., 2006). Tal vantagem, pode ser considerada a favor do espaçamento de 50 cm, uma vez que não houve diferença significativa no rendimento de grãos quando comparado ao espaçamento de 25 cm. Contudo, essa possibilidade não pode ser considerada para o espaçamento de 75 cm, uma vez que tal condição provocou alterações fisiológicas, implicando em perdas significativas no rendimento de grãos, apesar de melhorar as condições fitopatológicas da cultura. Finalmente, os rendimentos de grãos menores no espaçamento de 75 cm, para os genótipos em estudo (Tabela 4), evidenciam que a tendência de aumentar o espaçamento para melhorar a eficiência dos tratamentos com fungicidas, correntemente difundida na região, pode em alguns anos, provocar uma perda significativa no rendimento de grãos, com um custo superior a várias aplicações de fungicidas.

O baixo desempenho em rendimento de grãos do espaçamento de 75 cm, foi decorrente do baixo número de legumes/m2 o que se refletiu também no número de grãos/m2, comparativamente aos demais espaçamentos (Tabela 5). Ainda, em relação ao IC e os componentes de rendimento (MMG, legumes/m², grãos/legume e grãos/m²), não se observaram diferenças significativas entre as densidades de 20 e 30 plantas/m².

Não foram observadas diferenças significativas no número de grãos/legume, em função do espaçamento utilizado, provavelmente por que o número de grão/legume possui um forte componente genético determinante, não sendo afetado diretamente por estresses climáticos (KANTOLIC; CARMONA, 2006). Da mesma forma, não foi observado efeito do espaçamento entre linhas na MMG. Ausência de resposta desses componentes (grãos/legume e MMG) à variação do espaçamento entre linhas também foi relatada por Tourinho et al. (2002) e Parcianello et al. (2004).

Com relação ao IAF, observou-se que tanto nos tratamentos de densidades utilizados como nos espaçamentos, os valores foram acima dos valores críticos indicados para máxima interceptação da radiação (Tabela 6). Contudo, à exceção da densidade de 20 plantas/m2, que apresentou o menor IAF, os demais tratamentos apresentaram IAF superiores ao crítico (Tabela 6), oferecendo risco de auto sombreamento ou de favorecimento ao desenvolvimento de microclima propício à enfermidades (MADALOSSO, 2007). Assim, nas condições do estudo, a escolha da população de 20 plantas/m2 apresenta um IAF compatível com a máxima produção, independente do espaçamento utilizado.


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