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Dezembro, 2011
Passo Fundo, RS

Introdução

A utilização inadequada de cultivares nas diferentes épocas é um dos fatores que pode limitar o rendimento de grãos. Isso pode afetar o crescimento, tanto vegetativo como reprodutivo, pelo efeito da temperatura e do fotoperíodo sobre a duração destes subperíodos (RODRIGUES et al., 2006a). Cultivares mais precoces (GM V) estabelecidas em época de baixo crescimento e cultivares mais tardias (GM VIII) estabelecidas em épocas de grande crescimento, são exemplos mais comuns de tais inadequações. Nas cultivares de grupo maturação mais baixo (por exemplo: GM V), a redução do tempo para o florescimento pode ter um reflexo negativo no desenvolvimento da área foliar e consequente otimização do aproveitamento dos fatores primários da produção orgânica (radiação solar, fotossíntese). Por outro lado, cultivares mais tardias (GM VIII), expostas a maior duração para o florescimento, também poderão ter reflexos negativos na produção de grãos, decorrente de uma maior área foliar provocando auto-sombreamento (acamamento) e reduzindo a eficiência de conversão da radiação interceptada. A eficiente utilização da radiação por uma cultura, requer a máxima absorção da radiação fotossinteticamente ativa (RFA) pelos tecidos fotossintetizantes. Neste contexto, as folhas constituem-se nos principais órgãos. Portanto, o rápido estabelecimento e manutenção de um ótimo índice de área foliar (IAF) são importantes para maximizar a interceptação da RFA e consequentemente, a fotossíntese no dossel.

A área foliar em soja é determinada pelo tamanho, pelo número de folhas e pela taxa de senescência. O número de folhas por sua vez, depende da taxa de desenvolvimento e da manutenção destas folhas verdes no caule e ramos laterais. O incremento de carbono na planta de soja, não está somente relacionado à taxa de troca de CO2 (TTC) das folhas individualmente, mas também à área total de folhas da planta e à duração da área foliar (BEGONIA et al., 1987). A interceptação de luz pelo dossel deveria aumentar até certo valor de IAF no qual a interceptação da RFA fosse máxima (IAF crítico). Na cultura de soja, este valor pertence ao intervalo 3,5-4,0, quando a cultura encontra-se no estádio R1 (BOARD; HARVILLE, 1992). O tempo que a soja tem para atingir esse IAF crítico depende dos fatores de ambiente, principalmente fotoperíodo e temperatura (RODRIGUES et al., 2006b). Há indicativos, dependendo da temperatura e de outras condições de crescimento, da necessidade mínima de 42 a 58 dias para que uma cultivar com hábito de crescimento determinado, atinja o estádio R1 e proporcione produção de grãos aceitável. Durações de fotoperíodos muito curtos provocam indução precoce à floração, limitando o número de nós, a área foliar máxima, o estabelecimento dos destinos e o acúmulo de matéria seca nos grãos de soja (HANSON, 1985; BOARD; SETTIMI, 1986; CAFFARO et al., 1988).

Um melhor aproveitamento do IAF como ferramenta de potencialização do rendimento de grãos, pode ser obtido através do manejo de genótipos de diferentes grupos de maturação (RODRIGUES et al., 2006b). Por outro lado, dentro de cada genótipo, o melhor IAF poderia ser obtido através do manejo do espaçamento e da população (densidade de plantas). Várias estratégias têm sido usadas para aumentar o IAF, entre elas, a redução do espaçamento entre fileiras. Neste tipo de arranjo, o aumento da produção de grãos tem sido atribuído à grande interceptação de luz (SHIBLES; WEBER, 1966; TAYLOR et al., 1982), decorrente do aumento do IAF e/ou do aumento da interceptação da radiação por unidade de área (Eficiência do Uso da Radiação - EUR), devido a um arranjo mais adequado das plantas. Ainda, sob espaçamentos menores, há um acúmulo de área foliar mais rápido do que sob espaçamentos mais amplos, e o IAF parece ser o fator principal para interceptação de luz (BOARD; HARVILLE, 1992). Por outro lado, nas condições do Planalto Médio do RS se tem observado uma tendência de utilização de espaçamento mais amplos do que mais estreitos. Tal situação decorre do avanço da ferrugem da folha, enfermidade que reduz sensivelmente a área foliar e tem forçado os produtores à utilização de medidas de manejo para minimização do seu dano. Nesse sentido, o aumento do espaçamento entre linhas de soja poderia se constituir em estratégia que melhoraria a penetração de luz no dossel, dificultando o avanço dessa enfermidade (DEBORTOLI et al., 2006; MADALOSSO, 2007), bem como melhorando a penetração e persistência dos fungicidas utilizados no controle dessa enfermidade (BALARDIN; MADALOSSO, 2006). Contudo, tal estratégia poderá implicar em redução da interceptação da radiação por unidade de área (EUR) e consequente redução no rendimento de grão, podendo superar o custo da utilização de fungicidas.

Assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar o comportamento produtivo de cultivares de soja, submetidas a variações de densidade e espaçamento entre linhas.


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