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Dezembro, 2010
Passo Fundo, RS

Resultados e discussão

A Tabela 1 expõe os resultados relativos ao rendimento de grãos dos tratamentos milho solteiro e milho consorciado com braquiárias, bem como ao da fitomassa da parte aérea das braquiárias, nas safras agrícolas 2005/2006, 2006/2007, 2007/2008, 2008/2009, 2009/2010 e na média destas safras. Os resultados evidenciam que o rendimento de grãos de milho não diferiu estatisticamente entre os tratamentos, tanto nas cinco safras avaliadas como na média das safras.

A discrepância entre o rendimento de grãos de milho observada ao longo das cinco safras, que, na média, variou de 6,648 Mg ha-1, na safra 2005/2006, a 14,110 Mg ha-1, na safra agrícola 2009/2010, possivelmente, resultou das oscilações da quantidade e da distribuição pluvial ocorridas no período correspondente ao ciclo da cultura de milho. Enquanto nas safras agrícolas 2005/2006 e 2008/2009 a precipitação pluvial foi, respectivamente, de 628 e 854 mm, com déficit hídrico no mês de dezembro (precipitação pluvial abaixo da média mensal), e na safra agrícola 2007/2008 foi de 768 mm, com déficit hídrico no mês de janeiro, nas safras agrícolas 2006/2007 e 2009/2010 a precipitação pluvial foi, respectivamente, de 1.004 e 1.241 mm, com valores mensais nunca inferiores a 106 mm. Denota-se que a ocorrência de déficit hídrico nos meses de dezembro e janeiro proporcionou considerável redução no rendimento de grãos de milho. Contudo, esse efeito não foi perceptível no rendimento de fitomassa da parte aérea das braquiárias, corroborando o fato destas espécies terem sido selecionadas para integrar o Sistema Santa Fé ou o consórcio milho safrinha-braquiária no Cerrado brasileiro, por sobreviver ao longo e intenso déficit hídrico característico desta região (KLUTHCOUSKI; AIDAR, 2003; KLUTHCOUSKI et al., 2004; BORGHI; CRUSCIOL, 2007; CECCON, 2008)

É possível deduzir dos resultados obtidos que as braquiárias, independentemente das condições de precipitação pluvial, não interferiram no rendimento de grãos de milho. Resultados semelhantes foram obtidos por Borghi; Crusciol (2007) que, na média de duas safras agrícolas, não encontraram diferença significativa para o rendimento de grãos de milho, quando da inserção da braquiária em consórcio.

Em referência à produção de fitomassa da parte aérea das braquiárias no momento da colheita de milho (Tabela 1), destaca-se o baixo rendimento da Brachiaria ruziziensis, cultivar Ruziziensis, na safra agrícola 2005/2006 em relação ao rendimento da Brachiaria brizantha, cultivar Arapoti, nas demais safras agrícolas. Embora essa percepção tenha por base o cultivo da Brachiaria ruziziensis em apenas uma safra agrícola (2005/2006), Serrão; Simão Neto (1971) e Bogdan (1977) evidenciam inferioridade desta espécie no potencial de rendimento de fitomassa, quando comparado à Brachiaria brizantha. O maior rendimento de fitomassa da parte área da Brachiaria brizantha em relação à Brachiaria ruziziensis também é evidenciada por Jakelaitis et al. (2005). Esses autores destacam que o rendimento de fitomassa da parte aérea das braquiárias é superior quando em cultivo solteiro, porém, Ceccon (2008) ressalta que a consorciação resulta em maior rendimento de matéria seca do que milho ou braquiária em cultivos solteiros. Assim, a partir dos resultados auferidos, é possível inferir que o consórcio milho-braquiária contribuiu para o incremento de aporte de fitomassa ao solo, sem interferir, significativamente, no rendimento de grãos de milho.

Comparando-se os valores médios de rendimento de grãos de milho e de fitomassa da parte aérea de braquiária produzidos neste estudo com aqueles da região de clima tropical do Brasil, gerados por Kluthcouski; Aidar (2003) e Ceccon (2008), observa-se que, na região de clima subtropical úmido, enquanto a produtividade de milho tem sido, praticamente, o dobro, a produtividade de braquiária tem sido similar, oscilando entre 2,0 a 2,5 Mg ha-1.

Tanto a Brachiaria ruziziensis como a Brachiaria brizantha, mostraram-se altamente sensíveis à geada, sendo, em todas as safras, erradicadas das unidades experimentais por este fator climático, permitindo, desse modo, o cultivo de qualquer cereal de inverno em sequência, sem a necessidade de herbicidas dessecantes.

Em decorrência desses resultados, denota-se que o consórcio milho-braquiária apresenta potencial para reproduzir, na região de clima subtropical úmido do Brasil, benefícios semelhantes àqueles gerados pelo Sistema Santa Fé ou consórcio milho safrinha-braquiária, na região de clima tropical do país. As vantagens da intensificação de modelos de produção, mediante a adoção do consórcio milho-braquiária, na região de clima subtropical úmido do Brasil, podem ser vislumbradas através dos seguintes aspectos: ampliação do período de pastejo anual, em cerca de três meses por ano, pois a gleba de terra cultivada com o consórcio milho-braquiária é disponibilizada ao pastejo, imediatamente, após a colheita de milho, que ocorre em fins de janeiro e início de fevereiro, condição que: promove a braquiária como segunda safra agrícola de verão ou como terceira safra agrícola anual; supressão da entressafra verão/outono, correspondente ao período que transcorre entre a colheita de milho e o estabelecimento da pastagem de outono/inverno, pois, a partir da colheita de milho, a pastagem de braquiária já se encontra plenamente estabelecida e disponível para pastejo; viabilização de cultivo de qualquer cereal de inverno em sequência à dessecação da braquiária por geada, a partir do mês de maio ou junho; manutenção do solo permanentemente coberto com plantas vivas e/ou mortas durante todo o ano; adição permanente de material orgânico ao solo, em quantidade superior ao que a biologia do solo potencialmente decompõe anualmente; e, possivelmente, geração de benefícios econômicos, decorrentes da otimização do sistema integração lavoura-pecuária.

Portanto, os resultados produzidos pelo consórcio milho-braquiária, na região de clima subtropical úmido do Brasil, além de inferirem que a braquiária constitui opção de destaque entre as espécies cultivadas com potencial para promover melhoria à estrutura do solo, em razão da quantidade, da qualidade e da frequência de aporte de fitomassa ao solo (DENARDIN et al., 2009), poderá assumir relevância de cunho econômico como segunda safra agrícola de verão ou terceira safra agrícola anual, ao ampliar o período de pastejo por cerca de três meses ao longo do ano, quando comparado aos modelos de produção atualmente praticados. Destaca-se o aspecto de que, se a cultura de milho, ao invés de ser conduzida à produção de grãos, seja colhida como silagem em fins de dezembro, o período de pastejo poderá ser ampliado em até quatro meses, elevando, ainda mais, o potencial econômico do sistema integração lavoura-pecuária.


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