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Dezembro, 2009
Passo Fundo, RS

 


Resultados e discussão

Os dados dos atributos físicos de solo, selecionados como indicadores de fertilidade física do solo – densidade, porosidade total, microporosidade e macroporosidade do solo –, no âmbito dos quatro tratamentos e dos três subtratamentos estudados, estão expostos nas figuras 1, 2, 3 e 4 e na Tabela 2.

Todos os atributos físicos do solo analisados, independentemente dos tratamentos, mostraram-se eficazes em detectar a heterogeneidade física do solo entre as camadas amostradas. Contudo, no tratamento “entrelinha de plantas”, possivelmente em decorrência da ausência de raízes, apenas a microporosidade do solo evidenciou diferenças entre as camadas amostradas (Tabela 2). A heterogeneidade determinada pelos tratamentos nas linhas das culturas e na entrelinha de semeadura da cultura de soja foi evidenciada por todos os atributos físicos de solo analisados, exceto pela microporosidade do solo (figuras 1, 2, 3 e 4). De modo similar, Araújo et al. (2004), trabalhando com solos de lavoura e de mata natural, que apresentavam diferenciado teor de carbono orgânico, encontraram valores de porosidade total e de macroporosidade do solo, significativamente menores no solo cultivado do que no solo sob mata natural, porém não detectaram diferença significativa para a microporosidade do solo. Silva & Kay (1997) enfatizam que a microporosidade do solo é fortemente influenciada pela granulometria e pelo teor de carbono do solo e muito pouco afetada por outros fatores, como elevação da densidade do solo decorrente do tráfego de máquinas e implementos agrícolas. Esses aspectos ratificam os resultados obtidos para microporosidade do solo em evidenciar apenas diferenças significativas entre as camadas de solo, que possivelmente apresentam variações de textura e de teor de carbono orgânico. Contudo, é importante destacar que no tratamento “linha de semeadura de braquiária” esse atributo de solo se manteve sem variação entre as camadas amostradas, possivelmente em decorrência do maior teor de carbono proporcionado pela elevada densidade de raízes dessa cultura (Tabela 2).

Os dados explícitos nas figuras 1, 2 e 4 denotam que apenas a braquiária e o milho foram eficazes em imprimir melhoria à fertilidade física do solo, ao reduzir a densidade do solo e elevar a porosidade total e a macroporosidade do solo na camada de 0 a 5 cm de profundidade. A cultura de soja, embora tenha proporcionado redução da densidade do solo na camada de 0 a 5 cm de profundidade em relação a camada de 5 a 20 cm de profundidade (Fig. 1), manteve valor similar ao da camada de 20 a 30 cm de profundidade, não evidenciando melhoria à fertilidade física do solo equivalente à imprimida pelas culturas de braquiária e de milho. Essa ausência de influência foi ainda mais pronunciada pelos atributos porosidade total e macroporosidade do solo (Fig. 2 e 4), sendo similar a do tratamento “entrelinha de plantas”, que não detectou heterogeneidade entre as camadas amostradas. Portanto, infere-se que o sistema radicular das culturas de braquiária e de milho destacaram-se em relação ao sistema radicular de soja e à entrelinha da cultura de soja na melhoria das condições físicas do solo percebidas pela densidade, porosidade total e macroporosidade do solo. Esses dados são corroborados por Reinert (1993) ao concluir que diferentes espécies vegetais inferem variações às propriedades físicas do solo, podendo contribuir ou não para a conservação ou a restauração da estrutura do solo. Confirmando essa assertiva, Pasqualetto et al. (1999) constataram que as sucessões de culturas constituídas por sorgo e milheto (Pennisetum glaucum (L.)) reduziram a resistência do solo à penetração quando comparadas à sucessão que contemplava girassol (Helianthus annuus). A esse efeito, possivelmente esteja associada a quantidade e a qualidade do material orgânico aportado ao solo, principalmente pelo sistema radicular dessas espécies vegetais, as quais determinam a taxa de mineralização e o tipo de matéria orgânica formada.

Durante a análise do perfil cultural para a definição das camadas de solo a serem amostradas, era notória a diferença entre os tratamentos em referência ao estado de decomposição das raízes. Enquanto no tratamento “entrelinha de plantas” não havia raízes a ser decomposta, no tratamento “linha de semeadura de soja” as raízes presentes já se encontravam em elevado estado de decomposição ou decompostas e nos tratamentos “linha de semeadura de braquiária” e “linha de semeadura de milho” era evidente a presença de raízes em menor grau de decomposição em relação às raízes de soja. Essas percepções inferem que a melhoria da fertilidade física do solo imposta pelas culturas braquiária e milho, deverá ser ainda maior do que a observada quando todo o material orgânico aportado ao solo por estas espécies estiver plenamente decomposto. Nesse contexto, é possível inferir que modelos de produção que incluem a cultura de milho ou a consorciação das culturas milho-braquiária apresentam maior potencial para imprimir fertilidade integral ao solo do que modelos de produção restritos ao cultivo da cultura de soja.

Do exposto, é possível afirmar que a heterogeneidade de solos manejados sob sistema plantio direto, decorrente do tipo de cultura que compõe o modelo de produção e do posicionamento recorrente das linhas de semeadura no terreno safra após safra, constitui fator decisivo no processo de avaliação da fertilidade integral de um solo, requerendo o abandono de estratégias de amostragem de solo sustentadas pela teoria da aleatoriedade. Nesse sentido, o emprego da técnica do perfil cultural, que avalia a heterogeneidade horizontal e vertical da estrutura do solo, torna-se evidente como estratégia, tanto para definir as camadas a serem amostradas, como para definir o posicionamento dos pontos de coleta de amostras de solo ao longo da superfície de áreas manejadas sob sistema plantio direto.


 

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